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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Umutina

Toy Art Umutina

#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
210UmutinaBarbados, OmotinaBororo
UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
MT445Associação Indígena Umutina Otoparé 2009



No início do século XX os Umutina foram vítimas da violência do homem branco. Foram descritos e tidos pelos não índios como indígenas agressivos e violentos que impediam, pela força, a invasão de seu território tribal. Apesar dos efeitos desagregadores advindos do contato, como a perda da língua nativa, de sua terra tradicional e das doenças que causaram um grave decréscimo populacional, esse povo possui um forte sentido de identidade étnica, reconhecendo-se como tradicionais moradores do alto-Paraguai, envolvidos atualmente na recuperação de suas manifestações sócio-culturais tradicionais.

 Nome

Os Umutina foram inicialmente denominados pelos não-índios de 'Barbados', devido ao uso, por parte dos homens, de barbas confeccionadas a partir do cabelo de suas mulheres ou do pelo do macaco bugio. O grupo se autodenominava Balotiponé, cujo significado é 'gente nova'. Somente após o contato e convivência com os índios Paresí e Nambikwara, em 1930, passaram a ser conhecidos por ‘Umotina’, 'Omotina', ou 'Umutina' (grafia utilizada desde a década de 40), que significa 'índio branco'.

 Língua

Os Umutina não falam mais a língua indígena, classificada como pertencente ao tronco lingüístico Macro-Jê, da família Bororo. Sua perda está associada à violência do contato deste povo com os não índios, ocorrido a partir de 1911. Após alguns anos muitas epidemias assolaram a região, provocando a morte de quase todos os Umutina. Os sobreviventes passaram a viver junto aos pacificadores do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) que atuavam na região e foram educados em uma escola para índios, que ensinava somente a cultura dos brancos, sendo proibidos de falar sua língua materna e praticar qualquer tipo de atividade relacionada à sua cultura material e imaterial.

Atualmente o Português é a língua predominante, porém os membros da comunidade lutam, por meio do conhecimento dos idosos, de professores e universitários indígenas, para recuperar a língua Umutina.

 População

Em 1862, os Umutina representavam um contingente de cerca de 400 indivíduos. Depois da pacificação ocorrida em 1911, passaram a contar com 300 pessoas, mas oito anos depois, um surto de sarampo reduziu a população para 200 índios, vivendo em difíceis condições

Guerreiros Umutina
Em 1923, um relatório do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) registrou um número superior a 120, e já em 1943 não passavam de 73 indivíduos, cinqüenta deles vivendo no posto 'Fraternidade Indígena', que até hoje é sede e principal núcleo habitacional.  Nesta mesma época viviam 23 índios na última aldeia existente no alto do rio Paraguai, norte de Mato Grosso, que ficaram conhecidos como “os independentes”, por recusarem qualquer tipo de contato com os não-índios.

Em apenas dois anos, contudo, uma violenta epidemia de coqueluche e bronco-pneumonia reduziu seu número para 15 indivíduos, e pouco mais tarde, os poucos sobreviventes se encaminharam também ao posto, onde aconteceu uma série de casamentos intertribais. Segundo a Associação Indígena Umutina Otoparé, sua população em 2009 era estimada em 445 pessoas.

 Localização

Os Umutina viviam antigamente na margem direita do rio Paraguai, aproximadamente entre os rios Sepotuba e Bugres. Sua área de domínio, entretanto, estendia-se desde aquelas paragens até o rio Cuiabá. Com a chegada dos não-índios os Umutina deixaram a região do Sepotuba e migraram mais para o norte, passando a viver às margens do rio Bugres, por eles denominado Helatinó-pó-pare, afluente do alto Paraguai.Estão distribuídos em duas aldeias, uma de nome ‘Umutina’, onde vivia a maioria de sua população (420 indivíduos), e a outra, mais recente, é chamada de ‘Balotiponé’, onde moram as outras 25 pessoas, divididas em cinco famílias [dados de 2009]. As aldeias estão localizadas na Terra Indígena Umutina, em uma área de 28.120 hectares homologada em 1989, nos municípios de Barra do Bugres e Alto Paraguai, entre os rios Paraguai e Bugres, em Mato Grosso. A TI está situada em uma faixa de transição da Amazônia e do Cerrado, sendo que este último compreende a maior parte do território.
Território Umutina

 História do contato

Antes da pacificação ocorrida em 1911 pelo paulistano Helmano dos Santos Mascarenhas, a mando do SPI e do general Candido Mariano Rondon, os Umutina eram descritos e tidos pelos não índios como indígenas agressivos e violentos, que impediam, pela força, a invasão de seu território tribal. Suas armas ofensivas eram o arco e as flechas e um tipo especial de maça, denominado tacape-espada. Os ataques eram realizados à noite, não se poupando nem mulheres ou crianças. Após a vitória, celebravam-na com cânticos, exaltando as virtudes guerreiras do povo e rememorando vitórias passadas. Há menções à antropofagia ritual.

Foi a partir de fins do século XIX que os contatos dos Umutina com a sociedade nacional em expansão tiveram seus lances mais dramáticos, havendo lutas e mortes de parte a parte. Segundo o padre salesiano Nicolau Badariotti, escrevendo em 1898, era intenção do governo de Mato Grosso organizar uma expedição de extermínio contra esses índios, dada a resistência que impunham à penetração de não índios em suas terras.

Os Umutina também foram vítimas da violência e da incompreensão do homem dito civilizado. Mesmo quando se aproximavam com intenções pacíficas, foram recebidos à bala por aqueles. Tal reação talvez fosse devida ao modo pelo qual os Umutina saudavam os recém-chegados: a chamada “saudação agressiva”, quando os guerreiros se aproximavam com os arcos retesados, prestes a soltar as flechas, saltando de um lado para o outro e da frente para trás, batendo os pés no chão e gritando.

Embora pacificados em 1911, durante muito tempo continuaram a existir ataques de seringueiros e posseiros contra os Umutina, revidados pelos índios. Em 1919 foram atingidos por uma epidemia de sarampo, que contribuiu para a depopulação do grupo e seu enfraquecimento físico. Outras epidemias apareceram, liquidando grande parte do contingente tribal. Os órfãos foram recolhidos pelo pessoal do posto indígena e por eles educados. Hoje são casados, seus filhos não falam mais o idioma de seus pais e freqüentam a escola do posto, localizada na aldeia Umutina.
Guerreiro Umutina

Contatos entre outros grupos tribais e os Umutina, antes da chegada do homem branco na área, assumiam caráter belicoso, como com os Paresí, ou cordial, com os Habusé, por exemplo, que pelos relatos dos Umutina exerceram grande influência sobre sua cultura.

As principais descrições sobre os costumes e modos de vida dos Umutina foram feitas pelo pesquisador e etnólogo Harald Schultz que, na década de 1940, esteve entre eles por três diferentes momentos, totalizando um período de 8 meses de convivência com aqueles 23 índios ainda aldeados. Estes deram origem aos sobrenomes utilizados atualmente por este povo: Amajunepá, Amaxipá, Waquixinepá, Uapodonepá, Boroponepá, Kupodonepá, Soripa, Ariabô, Torika, Atukuaré, Pare, Bakonepá e Manepá.

 Adornos

Na década de 1940, época em que esteve entre os Umutina, Schultz conta que as mulheres tinham o costume de usar o cabelo cortado rente, cobrindo suas nádegas com a ametá, uma saia tubular de algodão fiado manualmente e fabricado em tear vertical muito primitivo. Os homens usavam estojo peniano e tinham cabelo comprido, que atavam em nó no alto da cabeça, enrolando uma faixa de algodão, ligeiramente parecida com um turbante pequeno.

Outros adornos preferidos pelas mulheres eram os colares de dentes de macaco e conchas fluviais, e cordões de cabelo humano. Elas usavam às costas pendentes de colares, feitos com bicos de variadas aves, unhas de animais, ossos, pele emplumada de aves, pequenos crânios e mandíbulas de peixes, além de pequenas cabaças que eram amuletos protetores contra maus espíritos, doenças e que propiciavam longa vida às suas portadoras.

Os homens preferiam os colares de dentes de onça. Aos rapazinhos novos perfuravam o lábio inferior, introduzindo um tembetá proveniente do caule de uma pequena museacea. Este enfeite devia ser renovado com breves intervalos, pois se decompunha.

A prática da pintura corporal era constante, para a qual usavam tanto o jenipapo, que era preferencial, quanto o urucum. Os homens utilizavam temas que representavam o tamanduá-bandeira, a ariranha, a lontra e o macaco bugio, ao passo que as mulheres tinham os corpos pintados com representações de peixes, como o cachara e o pintado, entre outros. Às crianças eram reservadas as pinturas de peixes pequenos, como a piaba banana, a piaba de três pintas, o cará-açu e o peixe-cachorro, além de borboletas e folhas.

Em diversas ocasiões formais, como em festas e cerimônias, os homens usavam couros de animais às costas, denominados akariká, cujo uso Schultz diz parecer estar relacionado a questões sócio-religiosas.

 Alimentação

Os Umutina são, tradicionalmente, índios da mata, lavradores, caçadores e pescadores. Schultz observou que apesar de terem vivido sempre perto de rios, não sabiam fabricar canoas e navegar. Atravessavam os cursos d’água a vau.

De acordo com o etnólogo, estes índios não consumiam bebida fermentada e desconheciam o tabaco, seja para fumar ou como rapé, chegando, inclusive, a detestar o seu uso.

A base da alimentação dos índios Umutina era o milho, que transformavam em pães, beijus, mingaus, milho assado ou cozido e chicha não fermentada. Ao lado do milho cultivavam principalmente a mandioca, cará, feijão-fava e miúdo, bananas, melancias, pimenta, algodão, urucum e alguns outros.

A mata lhes fornecia frutos, tubérculos, cogumelos e mel de abelhas silvestres. A caça em seu território havia sido muito prejudicada, já na década de 1940, pela entrada de caçadores profissionais, que matavam os animais para aproveitar somente os couros. A pesca, entretanto, continuava ser de suma importância. Desconheciam o preparo de armadilhas, barragens ou redes grandes. Para a pesca de rio utilizavam-se unicamente de arco e flechas, em cujo manejo eram mestres. Nos numerosos lagos piscosos pescavam com o cipó-timbó de seiva saponífera.

A maior parte da TI Umutina encontra-se atualmente em um bom estado de conservação e lá praticam as roças de toco, de onde retiram alguns alimentos de sua subsistência, como arroz, milho, feijão, cará, batata doce, mandioca, banana, melancia, entre outros. O roçado, a plantação e a colheita são feitos por meio da utilização das técnicas tradicionais. A pescaria nos lagos e córregos existentes na região também fornece parte da alimentação. Cerca de 90% da população é de pescadores. Esta atividade é praticada o ano todo, com o timbó, método tradicional passado de geração em geração. A proximidade da cidade facilita a compra dos produtos industrializados, que garante a maior parte do consumo alimentício.

Na TI Umutina também são encontradas muitas frutas nativas e algumas plantas medicinais, dentre elas a poaia, cujo manejo está sendo feito atualmente. Além disso, alguns tipos de mel, como o europa, o jataí e o borá, são extraídos para complementar a alimentação deste povo.

 Organização social
Suas aldeias, compostas de 3 a 5 casas, eram localizadas na faixa de mata, não muito longe do rio em local alto e seco e sempre perto de um córrego com água limpa e fresca.

No início da década de 40, os remanescentes Umutina viviam em grupos de famílias nucleares em três casas comunais. Os moradores femininos de cada casa eram parentes consangüíneos. O casamento era tratado e resolvido pelos pais da moça. O pretendente deveria ser, antes de tudo, bom caçador, senão seria rejeitado pelo futuro sogro. Se aceito, o noivo deveria dar provas de sua perícia como caçador e pescador. Quando os homens se casavam passavam a residir na casa de sua esposa, devendo obediência ao sogro. Na maior casa visitada por Schultz, havia quatro gerações reunidas desta maneira sob o mesmo teto.

Casa e roçado eram de propriedade da mulher. Em caso de viuvez, se o homem contraísse novas núpcias, o índio deixava a casa de sua esposa falecida. Os filhos do casal permaneciam, entretanto, com a família da índia falecida, sendo educados e mantidos pela mesma.

Os Umutina afirmaram ao etnólogo que obedeciam a um chefe somente em tempos de guerra, e de fato a figura de um chefe não foi observada por ele durante seu tempo de permanência na aldeia. Normalmente os grupos de famílias pareciam ser orientados por uma índia velha. Ao lado desta, no maior grupo familiar, havia um índio respeitado e cuja opinião era geralmente acatada.

 Cosmologia, mitologia e aspectos rituais

A medicina umutina se baseava em certo número de ervas medicinais. Temiam diversos espíritos que lhes transmitiam doenças e evitavam o consumo de carne de capivara e paca, pois acreditavam que a 'sombra' destes roedores lhes causaria 'ataques e cãibras'. Entre os grupos remanescentes não havia mais médicos-feiticeiros, que parecem ter sido considerados maus na maioria das vezes. Quando se tornavam uma ameaça ao grupo, eram eliminados, conforme se deduz das histórias que os índios contaram a respeito.

Encontramos em seus mitos a figura de Haipuku, ancestral de cujas 'barrigas das pernas rachadas' nasceu um casal de índios Umutina e outro de índios Habusé. Sol (Míni) e Lua (Hári) eram companheiros cujas aventuras narravam com espírito e humor. Destacavam Míni como inteligente, às vezes mau, e Hári como imprudente, que procurava imitar as peripécias de seu companheiro o sol, vindo a falecer, vitimado por sua incapacidade. Míni recolheu a lua morta, enrolando seus despojos em uma esteira de palha que 'colocou de lado'. Depois de algum tempo passado, a lua ressuscitou.

A esta esteira de palha mencionada diversas vezes nos mitos dos índios Umutina, atribuiam o poder de fazer ressuscitar os mortos. Trata-se da mesma esteira de palha de palmeira buriti, que os índios descritos por Schultz na década de 1940 usavam para assento, cama e mortalha, não cedendo-a a estranhos, um objeto de importância religiosa. As esteiras eram confeccionadas somente da palha usada nas indumentárias das danças-rituais da festa mortuária. Numerosas lendas explicam as origens dos rios, dos peixes, dos animais, dos produtos da lavoura e das doenças.

Os Umutina acreditavam serem dotados de três almas: uma delas ia para o céu, a segunda se encarnava em animais, de preferência aves, mas também em mamíferos e até em onças, e a terceira não foi verificada. A respeito da reencarnação, o índio via em sonhos o animal que sua alma escolheria quando morresse. Comunicava-o aos parentes que, em caso de sua morte, providenciavam o tal animal, que deveria ser o 'portador da alma'. A preguiça e a mentira acreditavam ser males que impediriam o repouso e descanso eterno da alma, que ficaria errando sobre a mata, sem comida, bebida e tranquilidade.

No período que esteve entre eles, Schultz conta que em suas casas viviam diversas aves, jaburus, mutuns, jacus, gaviões e araras que, conforme explicaram, eram portadoras das almas de parentes falecidos. Estas aves eram enterradas com os mesmos cerimoniais dos índios, porém em menor escala.

O índio morto era enrolado em uma esteira de palha e enterrado dentro da própria casa. Os parentes dormiam em cima da sepultura. Não abandonavam facilmente casas onde havia sepulturas. Forçados a isto, entre outros motivos o de acompanhar seus novos roçados cada vez mais distantes, transformavam tais casas em cemitérios, dos quais cuidavam algum tempo, até que suas moradas se distanciavam cada vez mais.

No começo da estação chuvosa, por ocasião do 'milho verde', começavam a preparar uma grande festa mortuária, denominada adoé e que durava de 5 a 6 semanas, consistindo de 18 danças-rituais.

Derrubavam um trecho de mata e preparam um terreiro de 25m x 35m. Em uma das extremidades costumavam construir uma casa de palha, chamada zári, destinada a 'albergar os espíritos dos antepassados convidados'. Esta casa era vedada às mulheres. Os índios preparavam nela as indumentárias de dança.

Na extremidade oposta erigiam uma nova casa de morada. Outros grupos de famílias, que participavam da festa, mudavam suas casas para perto do terreiro de danças, chamado bodod’o. Só participavam das danças-rituais os índios que assistiam os funerais de um parente no último ciclo anual. Durante os festejos, os protagonistas das danças representavam ou encarnavam um ou vários espíritos de parentes simultaneamente.

Cada dança tinha um nome. Canções, indumentárias e coreografia variavam sempre. Para o preparo das indumentárias usavam somente palha da palmeira buriti. Algumas danças eram aparentemente dedicadas aos espíritos protetores da caça, pesca, lavoura e outros, que veneravam como ancestrais.

As festividades eram dirigidas por um chefe que recebia após cada ritual a palha de buriti com a qual foram feitas as indumentárias, e da qual mandava preparar esteiras de palha pelas mulheres de sua família.

 Fontes de informação

Demarquet, Sônia de Almeida, 1982 - Informação indígena básica IIB n. 041/82-AGESP/Funai sobre os Umutina


Lima, Abel de Barros, 1984 - Avaliação da situação Umutina


Prêmio Culturas Indígenas – Edição Xicão Xukuru, 2008, São Paulo, SESC-SP:


----------Projeto ‘Os Filhos de Haipuku’


----------Projeto ‘Ixipá Jukupariká - Casa de Farinha’, enviado pela Associação Indígena Umutina Otoparé (Mulheres Valentes)


----------Projeto ‘Noysuka (babaçu) na Cultura Umutina’, enviado pela Associação Indígena Umutina Otoparé (Mulheres Valentes Guerreiras)


----------Projeto ‘Zári - Casa dos Homens’, enviado pela aldeia Balotiponé


Povos Indígenas no Brasil 2001/2005, 2006 - Instituto Socioambiental


Schultz, Harald, 1952 - Vocabulário dos índios Umutina – Journal de la Societé des Américanistes, N.S., 41:81-137;


----------1953 - Vinte e três índios resistem à civilização, Edições Melhoramentos

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