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sábado, 17 de novembro de 2018

Kalapalo

Toy Art da etnia Kalapalo


#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
79Kalapalo
Karib
UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
MT467Ipeax 2011






Algumas semelhanças entre mitos kalapalo e ye´cuana sugerem que os ancestrais dos Karib xinguanos deixaram a região das Guianas em tempos recentes, certamente depois de contatos com espanhóis, intensificados na região durante a segunda metade do século XVIII. No entanto, parece haver, do ponto de vista cultural, pouco em comum entre os Kalapalo e os povos karib setentrionais, sendo difícil distinguir qualquer característica propriamente "Karib" nos aspectos de seu modo de vida e visão de mundo.

Permanece incerto quando o grupo conhecido como Kalapalo foi contatado por estranhos pela primeira vez. Indivíduos identificados à aldeia que portava este nome foram medidos pelo antropólogo alemão Hermann Meyer durante um estudo antropométrico dos povos do Alto Xingu, realizado no final do século XIX. Em 1920, o Major Ramiro Noronha, da Comissão Rondon, realizou pesquisas na região do Rio Kuluene e fez a primeira visita registrada às aldeias dos Kalapalo, Kuikuro e Anagafïtï (Naravute, na literatura). Os últimos, particularmente, sofreriam as conseqüências dessa visita, que suscitou a primeira de uma série de epidemias que destruiu a integridade de sua comunidade.
Homens da etnia Kalapalo

O nome Kalapalo, inicialmente atribuído ao grupo por não-índios, tem como referência uma aldeia com esse nome abandonada provavelmente há menos de cem anos. Naquele tempo, pessoas mudaram de Kalapalo para um sítio vizinho chamado Kwapïgï, que, por sua vez, foi sucedido pela aldeia Kanugijafïtï, abandonada em 1961. Todos esses sítios estão localizados a cerca de meio dia de caminhada na direção leste do Kuluene, ao sul da confluência com o Rio Tanguro. Os últimos remanescentes de um grupo Karib importante, chamado Anagafïtï, juntaram-se aos habitantes de Kanugijafïtï depois da epidemia de gripe na década de 1940 e, naquele momento, havia Kuikuro, Mehinako, Kamayurá e Waujá vivendo entre os Kalapalo.
Ensinamentos Kalapalo

O que chamamos hoje de "Kalapalo" é, então, uma comunidade composta de uma gente cujos ancestrais foram associados a diferentes comunidades, com uma maioria oriunda ou descendente de pessoas que viveram em Kanugijafïtï.

Localização

Atualmente, os Kalapalo vivem em oito aldeias Aiha (que significa algo "acabado", "pronto"), Tanguro, Agata, Caramujo, Kunue, Lago Azul e Kaluane todas no Rio Kuluene e seus afluentes e na aldeia Tupeku, no limite sudeste do Parque. Além dessas aldeias, alguns Kalapalo vivem na Coordenação Técnica Local Kuluene da Funai (CTL). O CTL Tanguro localiza-se nas margens do rio de mesmo nome, no limite do Parque, e o PIV Kuluene nas margens desse rio, também no limite.

Território Indígena Kalapalo


As antigas aldeias kalapalo localizavam-se mais ao sul, em ambas as margens do Rio Kuluene. Os Kalapalo mudaram-se com relutância para a sua localização recente, depois que, em 1961, foram formalmente estabelecidas as fronteiras do Parque Indígena do Xingu e outros grupos foram encorajados a se mover para as proximidades do Posto Leonardo, de maneira a controlar o contato com estranhos e a obter ajuda médica em caso de epidemias. Ainda assim, constantemente retornam ao seu território tradicional para colher pequi nas formações arbustivas encontradas em torno das velhas aldeias, ou para procurar caramujos para confeccionar ornamentos de conchas (uma especialidade deste grupo), pescando e fazendo roças de mandioca, batata doce e algodão em vários lugares no curso do Rio Kuluene.

Devido a surtos de sarampo e gripe ao longo do século XX, a população dos Kalapalo diminuiu significativamente, começando a se recompor novamente só na década de 1970. Se em 1968 sua população era de 110 pessoas vivendo em seis casas, em 1982, esta havia crescido para 185 pessoas vivendo em 13 casas. Em 1999, a população das aldeias kalapalos foi estimada em aproximadamente 362 pessoas e, em 2002, esse número chegou a 417, segundo dados da Unifesp (universidade Federal de São Paulo).

A atual população kalapalo inclui descendentes de um grupo Karib importante, chamado Anagahïtï, que se uniram a eles depois de uma epidemia de gripe ocorrida na década de 1940. Também vivem nas aldeias pessoas das etnias Kuikuro, Matipu, Nahukuá, Mehinako, Kamayurá e Waurá, em razão de casamentos.

Organização Social

A organização social kalapalo é extremamente flexível, com uma variação considerável na identificação de indivíduos a grupos específicos. Os Kalapalo costumam ter algumas opções para conformar grupos, porém suas escolhas são mais dependentes das relações pessoais entre indivíduos do que do pertencimento a um clã, filiação religiosa ou direitos e obrigações para com os ancestrais. O seu sistema de terminologia de relações parece acomodar essa flexibilidade e fornecer um meio para nomear precisamente a relação entre indivíduos em um sentido ao mesmo tempo social e emocional.

Tanto a aldeia como a casa servem de parâmetro para a realização de atividades econômicas e cerimoniais. Assim, os habitantes de cada aldeia limpam a terra para as roças de mandioca, colhem a cana-de-açúcar, coletam frutas silvestres e outros vegetais, além de explorar recursos dos lagos e riachos da região. Integrantes de outras etnias não exploram o território, a menos que estejam vivendo ali temporariamente e tenham sido explicitamente convidados para tanto.

Do mesmo modo, integrantes de um grupo doméstico devem distribuir a comida entre si. Embora todo adulto seja responsável pelo suprimento contínuo de comida, um Kalapalo tem garantia da partilha mesmo quando não pode contribuir. No entanto, a obrigação de compartilhar não inclui os membros das outras casas, sendo considerado falta de polidez explorar a boa vontade de pessoas de outros grupos. Apesar dessa forma corporativa de organização, o pertencimento a aldeias e casas muda de tempos em tempos e há um movimento ocasional de algumas pessoas de um grupo para outro.
Aldeia Kalapalo no Xingú

É central para a vida social um ideal de comportamento chamado ifutisu, que remete a um conjunto de argumentos éticos pelos quais os Kalapalo distinguem os povos do Alto Xingu de todos os outros seres humanos. Em um sentido mais geral, ifutisu pode ser definido como uma ausência de agressividade pública - por exemplo, ser habilidoso para falar em público e não provocar situações que causem desconforto aos outros – e pela prática da generosidade – como a hospitalidade e a predisposição para doar ou partilhar posses materiais. Os Kalapalo acreditam que a viabilidade da sociedade depende do cumprimento desse ideal.

Em graus variados, esse conceito se estende para todas as áreas da vida social, sendo aplicado para relações entre grupos locais, consangüíneos, afins, homens e mulheres, e mesmo entre humanos e não-humanos. A demonstração do comportamento ifutisu também confere prestígio e, portanto, é importante na distribuição do poder político. Esse ideal é manifesto em um complexo singular de comportamentos e concepções que os Kalapalo afirmam ser distinto do de seus vizinhos tradicionais.

Antes do estabelecimento das fronteiras do Parque e do contato permanente com os brasileiros, povos indígenas agressivos rodeavam a bacia do Xingu e ocasionalmente confrontavam-se com os grupos locais. Relações entre os Kalapalo e alguns desses grupos – especialmente os Jaguma, que viviam ao leste do rio Tanguru (tributário do Alto Kuluene) – eram ocasionalmente amigáveis, porém mais freqüentemente conflituosas. Os Kalapalo chamam esses povos e, de modo geral, quaisquer índios que não fazem parte da sociedade alto-xinguana, anikogo, "gente feroz" (de aniko, comportamento "feroz" ou "selvagem"). Essa categoria de "seres humanos" é concebida primariamente em termos de um tipo de comportamento rotulado como itsotu, que se refere à raiva e à violência. O comportamento itsotu é geralmente contrastado explicitamente com o comportamento pacífico e generoso, ifutisu, que é, para os Kalapalo, uma característica importante e distintiva da categoria "gente da sociedade do Alto Xingu" (kuge, ser humano).

O segundo meio importante pelo qual os Kalapalo distinguem os kuge de outros seres humanos é um conjunto de práticas alimentares que refletem o comportamento ifutisu. O aspecto mais significativo disso é um sistema em que as "coisas viventes" (ago) são classificadas de acordo com um critério de comestibilidade. Os Kalapalo geralmente rejeitam animais terrestres "peludos", que eles chamam de nene, e comem aqueles que eles chamam de kana, criaturas aquáticas (especialmente os peixes). Além desse princípio geral, há restrições específicas para pessoas em situações de crise de vida, particularmente os adolescentes. A importância desse sistema alimentar é reforçada pela idéia kalapalo de que a aparência física é uma marca dos sentimentos internos; assim, a beleza física, acompanhada pela obediência a restrições alimentares e práticas médicas, é um sinal de beleza moral. Nos mitos kalapalo, meninas e meninos na puberdade freqüentemente encenam papéis de perfeição moral que contrastam com o mau comportamento de suas relações adultas.

 Papéis sexuais

Há uma distinção cultural fundamental na vida kalapalo entre homens e mulheres. Essa oposição se dá tanto no plano das relações psicológicas, sociais e econômicas, como também se manifesta na configuração espacial da aldeia, na gestão dos assuntos internos da casa e, mais dramaticamente, na vida ritual da comunidade.

No centro de toda aldeia alto-xinguana, costuma haver uma construção (designada kwakutu pelos Kalapalo) em que são guardadas flautas que os Kalapalo chamam de kagutu, as quais são tocadas exclusivamente pelos homens. As mulheres não podem nem olhá-las, pois poderiam ser estupradas. O kwakutu serve de armazém para guardar os apetrechos utilizados pelos homens em performances rituais e, sobretudo, é o lugar onde os homens se juntam para trabalhar, para fofocar, para pintarem-se uns aos outros antes das cerimônias e para receber pagamentos em ocasião de performances cerimoniais. A presença de kagutu impede a entrada das mulheres no kwakutu e ao mesmo tempo leva os Kalapalo a pensar a praça como "posse dos homens". Espacialmente, a aldeia é concebida em termos de uma oposição entre a praça masculina, esfera da atividade pública, e o círculo das casas, espaço feminino, esfera da atividade doméstica.

Embora sejam os instrumentos proibidos às mulheres, a linguagem usada pelos Kalapalo para falar sobre as flautas kagutu é caracterizada por metáforas de sexualidade feminina. Mitologicamente, as flautas são descritas como fêmeas. Descobertas em uma rede para peixes junto a uma flauta menor chamada kuluta e outro instrumento chamado meneuga, não mais fabricado, kagutu é designada como a "irmã mais nova". Sua forma e aparência são semelhantes às do órgão sexual feminino: sua boca é chamada de vagina (igïdï) e quando são guardadas no alto das vigas, durante períodos em que não são tocadas, diz-se que estão "menstruando". Além disso, muitas das canções acompanhadas por kagutu são femininas, inventadas por mulheres no passado e, em outras ocasiões, cantadas por mulheres no presente (mas elas não podem cantar enquanto as flautas estão sendo tocadas). Tais canções refletem claramente um ponto de vista feminino, pois se referem a tabus alimentares que as mulheres devem seguir quando suas crianças estão doentes, às relações com seus amantes e maridos, bem como a rivalidades femininas.

Já no ritual feminino conhecido como Yamurikumalu - semelhante ao kagutu em muitos aspectos –, mulheres decoradas com ornamentos de penas e chocalhos nos tornozelos, que normalmente são usados por homens, entoam canções nas quais se referem à sexualidade masculina. Há vários tipos diferentes de canções, algumas mencionam os eventos de origem dessa cerimônia, muitas reproduzem a estrutura das performances masculinas com as flautas kagutu, e outras simulam explicitamente a sexualidade agressiva dos homens diante de certas mulheres.

A origem mitológica do Yamurikumalu descreve como as inventoras originais da música adquiriram pela primeira vez o pênis, a destreza para atrair outras mulheres e a habilidade para controlar o poder sobrenatural por meio da aplicação de várias substâncias masculinas em seus corpos. Essas "mulheres monstruosas", como são designadas, transformaram-se em seres poderosos que, depois de rejeitar seus papéis femininos (sedutoras de homens, provedoras, guardiãs e pagens de crianças), tocam as flautas proibidas, caçam e pescam como homens e, geralmente, exibem emoções e vocações que são masculinas.

Os atributos sexuais aos quais se refere esse ritual são aqueles considerados repelentes e perigosos para pessoas do sexo oposto. Para os homens, são esses os órgãos femininos insaciáveis e seus processos menstruais misteriosos e temerosos (inclusive, as mulheres seguem vários tabus menstruais, incluindo a evitação da carne de peixe e a preparação de alimentos cozidos.) Para as mulheres, perigos masculinos estão presentes na forma de uma substância seminal potencialmente perigosa (a quantidade excessiva de sêmen advinda de um grande número de homens pode apodrecer no interior de uma mulher e torná-la seriamente doente, pois não é possível aglutiná-la para formar uma criança), e, ainda pior, a sexualidade agressiva masculina é uma ameaça que pode se transformar em estupro.

Assim, nos rituais, representantes de cada gênero encenam as qualidades perigosas de um modelo imaginado de sexualidade do sexo oposto, que incluem sentimentos sexuais incontroláveis, substâncias sexuais venenosas e sentimentos que emergem no curso da vida social (ciúme, modéstia excessiva, medo do sexo oposto, paixões absurdas).

Rituais

Tanto no Yamurikumalu como no Kagutu, é sobretudo pela música que se enfatizam as diferenças e os antagonismos entre os sexos, mas, ao mesmo tempo, a música promove uma comunicação entre os que tocam e os que escutam (que devem ser do sexo oposto), promovendo uma situação de controle sobre esses poderes perigosos. Assim, na mitologia kalapalo, a música é tratada como ao mesmo tempo manifestação de metamorfoses agressivas de seres perigosos (itseke) e como um meio acessível a pessoas para o controle dessas forças.
Mulheres performance o Jamurikuma

Dessa forma, os Kalapalo usam a música ritualmente como meio de comunicação entre domínios que eles definem como absolutamente separados ou entre categorias desiguais de seres: homens e mulheres, seres humanos e seres poderosos, adultos e crianças pequenas. Essa comunicação é feita não tanto pelo estabelecimento de um clima de solidariedade, mas principalmente para mostrar aos ouvintes o poder desses seres, assim como para usar os poderes dos ouvintes para desarmá-los temporariamente.

O uso ritual mais importante da música ocorre em eventos coletivos públicos que duram semanas ou meses durante o período da estação seca (isoa-), compreendido entre maio e setembro. Quando principia essa estação, os Kalapalo ocupam-se intensamente em esforços coletivos complexos que envolvem ao mesmo tempo performances musicais e atividades econômicas.

Paralelamente, enquanto se dão as execuções musicais, outros eventos têm lugar, envolvendo sobretudo atividades econômicas. A comunidade (chamada sandagi, "seguidores") é conduzida por oficiais rituais com atribuições hereditárias e especializadas conhecidos coletivamente como aneta~u, “líderes”, que planejam, organizam e gerenciam, o processo ritual. Praticamente metade da população da aldeia recebe essa designação, incluindo pessoas de ambos os sexos e de todas as idades, mas somente conserva de modo consistente esse ofício o mais velho e mais experiente.

Tarefas menores são comumente confiadas aos aneta~u mais jovens nos eventos mais complexos, que demandam mais que dois ou três organizadores. No caso dos rituais Egitsu, quando cerca de cinco outras aldeias são convidadas, a cada uma delas é confiado um líder que serve de mensageiro (t~iñ~i) e que se torna responsável pelo bem-estar de seus convidados. Esse líder espera, não obstante, pagamento (tais como ornamentos feitos de conchas ou vasos de cerâmica waujá) por parte do grupo visitante em questão. Em um contexto de encenação de papéis, esses líderes são referidos como taiyope ("associados com conversação") ou tagioto ("mestres da conversação").

Como planejadores, tais oficiais do ritual programam e coordenam séries inteiras de trabalhos: limpar os espaços da aldeia, especialmente a praça central, o caminho de entrada principal e o atalho que conduz ao lugar do banho; organizar as atividades de coleta, processamento e distribuição da comida que é revertida em pagamento para os participantes, ou mesmo destinada a alimentar os convidados em um momento posterior; coletar matérias-primas como urucum, cera, conchas e palmeira de buriti para fazer adornos. Essas atividades dependem de tarefas específicas associadas ao envio de convites para outras aldeias e à preparação dos acampamentos fora da aldeia para abrigar os convidados.

Em contextos rituais, portanto, a programação e coordenação do trabalho envolvem relações entre líderes e seguidores. Já nas atividades cotidianas, a sociedade kalapalo tende a ser organizada em torno de grupos domésticos e redes flexíveis de parentes cognáticos e afins. Na medida em que a vida ritual kalapalo toma tanto tempo e envolve relações produtivas mais complexas, ela não deve ser pensada como oposta à rotina e sim como um modo de vida complementar àquele verificado na estação chuvosa não-ritual. Dessa maneira, a estrutura social é ordenada de acordo com as estações, de forma que no período de chuva contínua e pesada a comida é escassa e a performance pública é quase impossível, e, na seca duradoura, a comida é abundante e variada, sendo as condições ambientais perfeitas para os cerimoniais intra e intercomunitários.

Os Kalapalo classificam seus rituais públicos em dois tipos gerais: egitsu e undufe. O termo egitsu se refere a eventos que envolvem a participação de convidados de outras aldeias alto-xinguanas. Estão incluídos nessa categoria o Egitsu propriamente dito, que celebra a figura de líderes hereditários (aneta~u) mortos; o Ipoñe, ou ritual masculino de perfuração dos lábios; o Yamurikumalu das mulheres e os Kagutu dos homens; o Katugakugu, que designa um objeto feito com seiva da mangabeira e envolve o jogo de bola; Tawkaga, que é composto com instrumentos do mesmo nome; finalmente, o Ifagaka, cerimônia do jogo de dardos.
Cama de Gato Kalapalo

Todos esses eventos envolvem a execução repetida de música na comunidade anfitriã durante um longo período, anterior à performance na qual participam os visitantes. Além disso, devido ao fato de os Egitsu envolverem competição atlética entre convidados e anfitriões, por alguns meses antes da chegada dos convidados os anfitriões devem aprimorar suas habilidades (e os convidados devem fazer o mesmo em suas próprios aldeias). Em linhas gerais, lutar parece ser um modo de diminuir temporalmente, e de modo simbólico, a distância social entre pessoas de aldeias diferentes.

Entre os rituais chamados undufe, estão as performances que incluem apenas os membros de uma aldeia particular. Esses rituais incluem os kana undufegi, "undufe dos peixes"; os Eke undefegï, “undufe das cobras”; Fugey oto, ou "ritual do mestre dos arcos"; Agë, o “ritual da mandioca” realizado no momento da colheita, quando as Plêiades tornam-se visíveis; Afugagï; e outros que envolvem a manufatura e o uso de máscaras associadas aos itseke, "donos" da música: Kafugukuegï (“ritual do macaco bugio”); Afasa (“ritual canibal da floresta”); Zhakwikatu, Kwambï e Piju (“seres aquáticos poderosos”); e Atugua (“undufe do redemoinho”).

Lingua

Os Kalapalo e três outros grupos do Alto Xingu – Kuikuro, Matipu e Nahukuá – falam dialetos de uma língua que pertence ao ramo da Guiana Meridional da família lingüística Karib. Seus parentes lingüísticos mais próximos são os Ye'cuana (ou Makiritare) e os Hixkaryana. Os primeiros encontram-se no sul da Venezuela e no norte de Roraima, enquanto os últimos estão na região das Guianas que fica no norte do Pará.

Saude!!! - Hequitele uihü!

Vocabulário calapalo

"A língua falada pelos Kalapálos é bastante pobre, e os nomes quase nunca se encontram na forma absoluta. Os substantivos, os verbos e os adjetivos, ao que parece, não se flexionam, bem como não há preposição, nem conjunção. De sorte que duas ou três palavras dizem muito, expressam longos pensamentos, como, por exemplo: 'inháve tuanca' não só quer dizer 'venha cá, vamos tomar banho', mas também 'dê-me água', 'traga-me água', ou 'quero beber água'.
"Demais, uma que outra palavra tem vários significados. Por exemplo: 'apílo' quer dizer 'surrar', 'matar', ou então 'derrubar'; 'uangutá', 'serétundá' e 'zangutá' significam 'dormir' ou 'descansar'. "Além disso, dificílima é a combinação dos sons, ou prosódia. É porque os silvícolas falam, geralmente, ora entre os dentes, ora com a boca quase fechada, o que dificulta anotar-se a pronúncia das sílabas, ou a correta transcrição dos vocábulos."

Português Calapalo
CORPO HUMANO
antebraço - umbúaro ânus - voátaro barba - aiçú-pisso boca - untáro braço - unhícuo barriga - utévuro cabeça - uítero cabelos - unhacávuro, vacávuro costas - utúvero carne - tenhélo cabelo do corpo - uí-pôro cabelo das axilas - uiatá-piço cabelo do púbis - uin-buviço dedos - unhátero dente - uíro joelhos - uiripãnharo lábios - uiráteso língua - unhúro mão e dedos - uinhátero nariz - uinátaro olho - uínho ombros - uátaro osso - surupé orelha - vãnaro pestanas - uinhopiso pescoço - uitínharo peitos - uanátru perna - vútso pênis - vúri pé - tapru queixo - uícro rosto - uímoto sangue - uoo-amátso sobrancelhas - uitápeso testa - vínito unha - uanhambiro umbigo - vónito vagina - irúru
ELEMENTOS
água - túnha areia - tunáquinhe aldeia da mata - éthe aldeia, taba - furóro algodão - toróquie barro - inhá-quilo barranco - rína buriti - quínhe casa - úne casa das flautas - kuácutu cabaça - párugo campo - ânha caracol - hínho céu - cáfu chuva - cunhôvo concha d'água - vête córrego, rio - avúaro, fangúnha dia - éroti estrela - tandinhocô fogo - híto fumaça - liticé habitações - furóro ilha - araquetôvo jatobá - uáre lua - húne lua-cheia - sacânuro lua-nova - múviço lago - fáro lagoa - hípa manhã - mítote mato - etisune, hí mata, floresta - hitsune noite - cóco nuvem - camundo pau - hí praia - nhétune pedra - tévu rio - fanfúnha raio - híto sol - riti taquara - nívu terra - nôgoo timbó - híthe, timó trovão - cilo vara, pindaíba - zízitu vento - víto
ANIMAIS SELVAGENS
anta - diáli ariranha - táro capivara - vacúriza cervo - assá-cuéro caititu - ato macaco - cadiú macaco cuatá - cavúgo onça - quére preá - acúre paca - rênari porco-do-mato - áto, atuvuêro rato - umbé tatu - carútava veado - arátara, assã
AVES
avestruz - tó arara - tavítse bem-te-vi - hí-ti-vi beija-flor - tolungu colhereiro - carúto coruja - apuchuá corvo - cúari gavião-real - locuêro gavião médio - acútso galo - itçú galinha - cuacãra gavião pequeno - tolocuero garça - urízo gaivota - curísoca jaó - acã jacu - tuála jaburu - acára jacutinga - tuála martim-pescador - caçaquero macuco - ponózo maracanã - tidiuquéra marrecão - anagãa mutum - cussú mutum-de-castanha - pãnhe papagaio - cuáco pato - covôngo periquito - ninhô, curitse, tio perdiz - itivi pomba - táva passarinho - tolonguro quero-quero - téru-téru saracura - cótoro socó - aritanhôa seriema - frári tucano - cávoca urutau - quaquáro
PEIXES
arraia - maé, tivári barbado - cadiarima bicuda - dioví cachorra - ávi cascudo - varáru grumatá - quátari jaú - canaquero jaraqui - dianápa lambari - tavúri piranha - vênhi pintado - trúvi pacu - uquívari poraquê - anhãmo traíra - vézoco tucunaré - savúndo trairão - tânhe
RÉPTEIS
cobra - êque camalhão - ônho jacaré - távinha jibóia - quecuero lagarto - uvíti lagartixa - áruta lagartixa pequena - tamúci sucuri - ocóto sapo - carívuro tracajá - vicútava
INSETOS
aranha - zóti abelha - acúzo borboleta - vótoto besouro grande - mimútse cascudo - feúluri carrapato - carínheque cigarra - cátaro formigão - zigue formiga - cráque gafanhoto - inhô-toto marimbondo - ocõn muriçoca - táque mosquito - núgue mosca - arúa piolho - háu pulga - ânro
OBJETOS DE CULTURA MATERIAL - ARMAS- ENFEITES - ADORNOS E UTENSÍLIOS DOMÉSTICOS
arco - taváco abanador de fogo - aturinha aparelho de fazer tatuagem - vínhe canitar, capacete - ripo, cavocóvuro banco de madeira - urí brincos de penas - fanápulo braceletes de penas - banai cordas de algodão - amburaáitso cesta quadrada - atáu cesta de buriti - avúrica cesta redonda - atâno cestinha de buriti - akangavi cesto grande para farinha - asságu cestinha - sátaro cabaça pequena - tumizéporo cesta redonda - avúrica cesto de buriti - canaví colar de unhas de onça - quére-inhombiro colar de caramujo - undivérico cinto de algodão - uetícoro chapa de barro, redonda - aláto cuia grande para óleo - cutívaro cabaça de guardar pequi e urucu - fá cesto comprido, cônico - avúritsa colar fino, de concha - urúca colheres feitas de cabacinhas - tuvéguinhe desenterrador de mandioca - tuquilo esteira de espremer mandioca - tuaví flecha - furé flecha do Iawari - ifáraca fuso de fiar algodão - vôla mão de pilão - covérele machado de pedra - tévu-húu madeira de fazer arco - icégui madeira do arco - madiávi novelo de fios de algodão - étinhe propulsor - narítovo panela grande - avúcuro panela média - onhotêrovo panela média [pequena?] - equítsvo pente - vanda peneira - manáre perneiras de embira - lacúmiso panelinha - távinha-vútovo panela pequena - atanhe-cusere pequeno indumento das mulheres - hehúnhe pilão - côvo rede de dormir - hétire ralo para mandioca - inháro secador de mandioca - canaritáu trempre de varas, tripé - hóro tábuas ou suportes - tuápavi talos de buriti, unidos - wacá tábua de fazer beiju - cutíro
INSTRUMENTOS DE MÚSICA
flautões de madeira - carrúto flautas longas de taquara - atããga flautinhas de taquara - kulúta flautinhas de taquari, unidas - tíveve flautas grossas - tuátanaru maracá - hângue máscara de madeira - diacuicáto flautinha - turuá
MATERIAL DE PESCA
cesto cilíndrico - cuzo cesto de vime, oval - hútu remo - têne canoa - éfu, éfu cesto comprido - táca (cônico) cesto curto - cúndu (cônico)
VERBOS
caminhar, andar - vôio, uacutundá subir - ucãnho bater - apílo nadar - uiênere mergulhar - suborocaríts correr - usácule, sáculo quebrar - motoróque, suvênero rebentar - eliquênero cortar - quênero, sámie voar - hálu deitar - uitíquinhum deitar-se de costas para o ar - lámidio levantar-se - ticáidio sentar-se - uacánere alcança-me - inquéte guspir [cuspir] - uitacú-tilo abrir - avunítilo surrar, matar - apílo vomitar - cuéticinharo falar, conversar - uitárinhundá, uitárinho sacudir - ipémilo cantar - rinhundá-uírinho gritar - véto, téliça, etérie assobiar - votânho espirrar - tínhilo morder - quéri-tilo cair - vúnguilo queimar-se - uanênoro, uatutá dormir - uangutá, uângulo, zangutá, sonhar [assim no orig.] serétundá, uénitundaá acordar - váquilo olhar, observar - tarênero, uinhano ir embora, afastar-se - telengo, televien acabar, terminar - timbu-quilo chorar - vonundá, votonundá coçar - queritã-quídio bater - avúnero dançar - uágun pular - nanávero, uanávero comer - tiambálo beber - tanônero nascer - marundá morrer - titi-leva, ânha, taponhelevá rir - utéro defecar - uíquilo urinar - uítilo brigar - toráco apertar, abraçar - sécunúnoro, aúquilo jogar, pôr fora - arílo fechar - tingócuie lamber - nunínoro derramar - rápio rir alto - uítero espirrar - tínhilo fumar - tanínho agarrar, apanhar - inúro, inhó-nenero abrir - tingário cansado - uacutúgho caçar - vôlunia pescar - canáque-tetá trabalhar - cassuandá, satundá descer - uítelo assoprar - uídio chegar - uendá, uênoru sair - niátelo
ADVÉRBIOS
longe - iváque perto - váquila aqui - ânde ali, aqui - â-ande lá - ãnhe muito, bastante - acúnhi dentro - híde-uissane pouco - acunhilá alto - cáperre baixo - caperrelá em cima - inhariporá atrás - inzavo em frente - zacôrra fora - uquirátelo não - avôto; votuéla sim - hôze; aitesevá
ADJETIVOS
bonito - atúto feio - fécinho pequeno - zônho grande - sêquero duro - tuvílinho mole - tucúrinha branco - taláquinho preto - tuvuzeuque vermelho - tupizorinho verde - tcumininho [assim, no orig.] amarelo - tucuví-zinho alto - cáperre baixo - caporrônho; fúnho gordo, grande, grosso - sêquero magro, fino - húngo; tíviro frio - ipurélo quente, calor - virãgo; unúndane; tatu-minhã homem velho - févu mulher velha - farú redondo - tiruaquinho quadrado - tucóvitinho
INTERJEIÇÃO
oh! ah! bonito! - hênhe ai! ui! he! - hethê gritos de alegria - huá, huááá! apelo, venha cá - inháve!
FAMÍLIA
homem - tôto mulher - itãoo marido - vítso esposa - inho noiva - darátovo criança - comunquéto menino - cãnhã-múque casar - vitso pai - apáio; hápa mãe - amãnho-âma filho - munguêto; méri irmão - vizunga cunhado - vamé-tiro avô, avó - aivuálo sogro, sogra - votí-so-vo; votísivo
TEMPO
manhã, clarear do dia - mitotê; nácanum amanhã, de manhã - cógueti; mítote de tarde, pela tarde - corrótese meio-dia - cápora noite - cóco hoje - ânde ontem - lépene um mês, uma lua - hágate úne dois meses, ou duas luas - táquecó úne três luas - tílaco úne inverno - súruto verão - cávu-vecúene estação chuvosa - cunhóvu
NÚMEROS
1 - hágate 2 - tílaco 3 - táquicó 4 - tatacrêne 5 - inhá-toi 6 - hágati-unguretôvo 7 - táquicó-unguretôvo 8 - tilaco-ungurê-tôvo 9 - talacrene-ungurê-tôvo 10 - tí-moro 11 - hágate-augurê-tôvo 12 - táquicó-angurê-tôvo 13 - tílaco-guetôvo 14 - tatácrene-vanguretovo 15 - inhá-toi-guêtovo 16 - hágati-hátoi 17 - táquico-hátoi 18 - tilaco-hátoi 19 - tatacrene-hátoi 20 - tímovo
ALIMENTOS
milho - aná abóbora - tópu batata - aniza beiju - quine pequi - inze, zêne mangaba - catúa mel - hínhe feijão - cumanai buriti - quínhe mingau de mandioca - idizinho beiju de polvilho - tilí-zinho beiju dissolvido n'água - carúpe mingau ou farinha de mandioca dissolvida n'água - cuílico massa de mandioca, em forma de pão - ipíza beiju grosso - equíne melancia - párugu
DANÇAS
turuá - um jovem guerreiro, coberto da cabeça aos pés com uma túnica de palhas de coqueiro, vai pedir alimento, de casa em casa, soprando uma flautinha.
hára - dança das máscaras, executada pelos homens.
aúrovi - dança dos guerreiros. Um homem atrás do outro, em fila; executam passos para frente e para trás; ao lado deles, os "pajés" da tribo tocam os seus maracás, de pé.
sanacaví - dança das taquaras, executada por grupos de três a cinco homens.
diacuicáto - máscara de madeira, para as danças cerimoniais.
carrúto - flautas de madeiras, grandes e grossas. Dança a que as mulheres não podem assistir.
atããga - dois homens, soprando compridas flautas de taquara, vão de casa em casa, entram e, no interior das habitações, executam a dança. Às vezes, duas mulheres os acompanham.
diamuicumálo - dança das mulheres.
iawari - dança dos homens, ou luta simbólica entre duas tribos inimigas.
ivát - dança de máscaras realizada pelos homens
taruanã - dança executada por dois rapazes em frente a um pajé batedor de bastão.
tavíte - sepultura dos caciques. Dança em torno da sepultura.
uca-uca - luta corporal desportiva.
urutaví - dança e toques de pequenas flautas de taquara, executada pelos rapazes da tribo.
anguvi - dança dos homens, em homenagem ou culto aos mortos.
quarupe - cerimônia religiosa, em homenagem aos antepassados, sobretudo em memória dos caciques falecidos.

FRASES
bom-dia - aváquique, rena-voítse como te chamas? - tomai-tí toi? como vais? - uérenicalérei?; rena-voitse? vens cá depressa - inháve-téte traz aqui, alcança-me - inguéte-uinha vamos embora; vá embora - quê-te-vá até logo - téleva espera aí; espera-me - ocangue-vóvo não tem; não há - inhálo acabou; terminou - votúleva que é isto? - titôme? vamos tomar banho - tuanca quéte venha cá, vamos ao banho - inhave, tuanca quéte calapalo chegou aqui - kalapálo uendá hina alcança-me o arco - inguéte taváco eu - hugue você - huére ele - héle meu - huénho teu - énho-cavire seu - huére eu gosto de você; eu te amo - húgue iútandu; uitson huére alcança-me isso - inhave inguéte traz aqui - inguêteva dá-me; dá para mim - uínha-túngue assopra o fogo - uídio híto ali; está ali - ânde-váquila calapalos, venham cá, todos, depressa, vamos trabalhar! - kalapálos, inháve-téte, cotóte, qué-te-vá ucásandome vóve! vamos trabalhar - qué-te-vá ucásandome vôve o que foi? - omaiça?; oamaiçá? o que é?; que é isso? - túo, tú tome? o que vais fazer?; aonde vais? - unametetá?; unhetetá? venha cá!; vens aqui? - uégu-téte! chega - aivá mais - opúruin venha cá, vamos comer - inháve-téte, tianbátome quem deu para você? - toundôvoro?; toundôvoro-huére? foi você - huére úndovoro que está fazendo? - uamaissá? nada - vôto traz água - iênculo tuã-cualupenhe mentira - aundá vais buscar água - tuã éguete inha, tuã-voveta preguiça - uéreçundá sono - temamáquelo, uito-véque-uivenero saudades - uótonundá traz; alcança-me - hinguéte brabo - sotundá, hucóto eu estou brabo - húgue-cotundá ruim, miserável, mau - canhínha, caínha doente - uoranundá coito - uéticuna, ticutá vá embora - téquevá não sei - cóoo quebrou; rebentou - motoróque muito brabo - ucóto-acúnhe; cotundá todos; tudo - cotóte amigo - visuãro inimigo - vuisuvaravano dor de dente - uiroitunundá dor de barriga - tévuruitunundá dor no estômago - tevurucuilo dor de cabeça - uitoroitunundá dor de ouvido - vánaroitunundá bonito - atúto
MISCELÂNEA
tonsura sobre a cabeça dos homens - uipôare; uipoquetôvoro cercado, ou reclusão dos jovens de ambos os sexos, quando atingem a puberdade - húa; huandêporo casa - húne trempe tripé, para assar peixes - hóro madeira do arco - mandiávi; sédie flecha rombuda, para jogar o "iawari" - iíaráca caramujo grande, para fazer colares - oíque canitar feito de penas de arara - furéco ovo de pássaros - caçaravuin suporte com que as mulheres forram a cabeça para conduzir panelas e cestos - tá folha vegetal com que os "pajés" fazem seus longos cigarros - tuvánero arranhão - icúciporo urucu - mãgue cinto e fios de algodão, que os homens usam em torno da cintura - uetícoru dança das taquaras - sanacaví [já cit. antes] novelo de linha de al- godão - toróquie abanador de fogo - túrinha [cit. antes como aturinha] peneira - manáre [já cit. antes] vassoura feita de talos de buriti - équiza talo vegetal com que fazem flechas - furé mingau de massa de mandioca - carúpe tabuinha de fazer beiju - cútiro mingau de peixe cozido - alílo pequena panela - tânhe massa de mandioca - cúinhe esteirinha de espremer mandioca - tuávi; vânharo (também de guardar penas) cabaça; cuia - táva; capávuro; cutivoro pão de mandioca, pequeno - regue pão de mandioca, grande - pisáregue pulseiras de fios de algodão, que os homens usam no antebraço - bonaitso jirau para secar mandioca - tibuco; pisaregue



Fontes de informação
CUNHA, Ayres Câmara. Entre os índios do Xingu. São Paulo: Livr. Exposição do Livro, 1960. p. 277-92.BASSO, Ellen B. La biografía de los Kalapalo como historia. In: --------; SHERZER, Joel (Coords.). Las culturas nativas latinoamericanas a traves de su discurso. Quito : Abya-Yala ; Roma : MLAL, 1990. p. 17-46. (Colección 500 Años, 24).
--------. A história na mitologia : uma experiência dos Avoengos Calapalos com europeus. In: COELHO, Vera Penteado (Org.). Karl von den Steinen : um século de antropologia no Xingu. São Paulo : Edusp/Fapesp, 1993. p.311-46.
--------. A husband for his daughter, a wife for her son : strategies for selecting a set of in-laws among the Kalapalo. In: KENSINGER, Kenneth M. (ed.). Marriage practices in lowland South America. Urbana : University of Illinois Press, 1984. p. 33-44.
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--------. A Kalapalo testimonial. L’Homme, Paris : École des Hautes Études en Sciences Soc., v. 33, n. 126/128, p. 379-407, abr./dez. 1993.
--------. A musical view of the universe : Kalapalo myth and ritual performances. Filadélfia : Univ. of Pennsylvania Press, 1985. 359 p.
--------. O que podemos aprender do discurso Kalapalo sobre a “história Kalapalo”? In: FRANCHETTO, Bruna; HECKENBERGER, Michael (Orgs.). Os povos do Alto Xingu : história e cultura. Rio de Janeiro : UFRJ, 2001. p.293-307.
--------. The use of portuguese relationship terms in Kalapalo (Xingu Carib) enconunters : changes in a central Brazilian communication network. Language and Society, n.2, 1973.
--------. Xingu Carib kinship terminology and marriage : another view. Southwestern Journal of Ant., Albuquerque : Univ. of New Mexico, v.26, n.4, p.402-16, 1970.
GALVÃO, Eduardo. Diários do Xingu (1947-1967). In: GONÇALVES, Marco Antônio Teixeira (Org.). Diários de campo de Eduardo Galvão : Tenetehara, Kaioa e índios do Xingu. Rio de Janeiro : UFRJ, 1996. p. 249-381.
HIEATT, Marcela Stockler Coelho de Souza. Faces da afinidade : um estudo do parentesco na etnografia xinguana. Rio de Janeiro : UFRJ-Museu Nacional, 1992. 154 p. (Dissertação de Mestrado)
VILLAS BÔAS, Orlando. Encontro com os Kalapalo. In: --------. A vida de Orlando Villas Bôas : depoimento. Rio de Janeiro : Editora Rio, s.d.. p.29-34.
WÜRKER, Estela (Org.). A saúde da nossa comunidade : povos Matipu, Kalapalo e Nahukua - Livro de Ciências-Saúde. São Paulo : ISA, 1999. 38 p.

domingo, 2 de setembro de 2018

Kaxinawá - Huni Kuin

Toy Art Kaxinawá ou Huni Kuin

#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
105KaxinawáCashinauá, Caxinauá, Huni Kuin, huni kuinPano
UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
AC7535Funasa 2010
Peru2419INEI 2007




Os Kaxinawá pertencem à família lingüística Pano que habita a floresta tropical no leste peruano, do pé dos Andes até a fronteira com o Brasil, no estado do Acre e sul do Amazonas, que abarca respectivamente a área do Alto Juruá e Purus e o Vale do Javari.

Os grupos Pano designados como nawa formam um subgrupo desta família por terem línguas e culturas muito próximas e por terem sido vizinhos durante um longo tempo. Cada um deles se autodenomina huni kuin, homens verdadeiros, ou gente com costumes conhecidos. Uma das características que distinguem os huni kuin do resto dos homens é o sistema de transmissão de nomes. Este sistema existe tanto entre os Kaxinawá quanto entre os Sharanawa, os Mastanawa, os Yaminawa e outros nawa.
Aldeia Kaxinawá

Nos primeiros relatos de viajantes na área aparece uma confusão de nomes de etnias que persiste até hoje. Isto porque os nomes não refletiam um consenso entre os denominadores e os denominados. O denominador Pano chama (quase) todos os outros de nawa, e a si mesmo e seus parentes de huni kuin. Assim, os Kulina eram chamados de pisinawa (“os que fedem”) pelos Kaxinawá, enquanto que os Paranawa chamavam os próprios Kaxinawá de pisinawa. O próprio nome Kaxinawá parece ter sido originalmente um insulto. Kaxi significa morcego, canibal, mas pode significar também gente com hábito de andar à noite.

Hoje em dia os Kaxinawá chamam todos aqueles grupos aparentados de “Yaminawa”; tanto aqueles que mantém contato com os brancos quanto os grupos Pano que vivem nas cabeceiras dos rios entre o Alto Juruá e o Purus e continuam afastados e escondidos, sem contato “pacífico” com a sociedade nacional.

Localização

Os Kaxinawá habitam a fronteira brasileira-peruana na Amazônia ocidental. As aldeias Kaxinawa no Peru se encontram nos rios Purus e Curanja. As aldeias no Brasil (no estado do Acre) se espalham pelos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus.
Território Kaxinawá - Huni Kuin

Realizei pesquisa de campo nas aldeias Cana Recreio, Moema e Nova Aliança, no rio Purus, próximo à fronteira com o Peru. Os Kaxinawa peruanos e brasileiros foram separados no começo do século XX, quando um grupo que havia sido concentrado num seringal no rio Envira se mudou para as cabeceiras do rio Purus, no Peru, após uma rebelião contra um seringalista (McCallum, 1989a: 57-58; Aquino, 1977; Montag, 1998). Os grupos oriundos do Peru ligaram-se por casamento aos Kaxinawa brasileiros, porém observa-se até os dias de hoje diferenças no estilo de vida entre os dois grupos.

Há grupos Kaxinawa que migraram do rio Envira, onde estavam engajados no trabalho da seringa, para o Purus. A maioria destes Kaxinawa do Envira se estabeleceram na aldeia de Fronteira e em vários núcleos (centros, colocações) próximos. Durante estas duas décadas o movimento migratório não cessou, outros Kaxinawa provenientes do Peru, do Envira e do Jordão foram se estabelecer em aldeias no Purus.

Na Terra Indígena do Alto Purus, os Kaxinawa também coabitam com seus vizinhos tradicionais, os Kulina, para os quais esta reserva foi originalmente criada.

Historico

Os primeiros relatos de viajantes na área do Alto Juruá que falam dos Kaxinawá consideram os rios Muru, Humaitá e principalmente o Iboiçu, três afluentes do Envira (por sua vez afluente do Juruá), como o habitat “original” dos Kaxinawá, antes da chegada dos seringueiros. Destes rios eles ocuparam a margem direita, sendo a margem esquerda ocupada pelos Kulina (McCallum, 1989; Tocantins, 1979). Ao que parece, já no século XVIII os colonizadores organizaram excursões à procura de escravos nesta região. Mas deste primeiro contato não se tem nenhum registro. Estas primeiras incursões foram muito fragmentárias e de curta duração.

No final do séc XIX, a partir de 1890, inicia-se uma onda de invasões de caucheiros peruanos e que não demorou mais que vinte anos. Para conseguir o caucho, as árvores precisam ser cortadas e a região ficou logo esgotada. Já a borracha, Hevea brasiliensis, é extraída dos cortes feitos com uma regularidade que preserva a árvore. Por isso a chegada dos seringueiros brasileiros não foi passageira, apesar dos altos e baixos do mercado.

Nesse violento contato os grupos indígenas locais sofreram violência por parte dos exploradores que trouxeram, dentre outras coisas, doenças. Em 1913 a região do Juruá contava com 40 mil migrantes (em sua maioria cearenses), e o Purus 60 mil. A violência era organizada. A função dos mateiros não era somente abrir estradas de seringa, era também limpar a área de índios brabos. A reação dos Kaxinawá era roubar e assaltar, porém alguns grupos deixaram-se amansar pelos seringalistas. Foi o que aconteceu com o grupo de Kaxinawá de Iboiçu, que aceitou trabalhar para Felizardo Cerqueira em troca de mercadorias. Felizardo levou-os do Iboiçu para o Alto Envira e de lá, em, 1919, para o Tarauacá, onde foram usados no massacre dos Papavó (McCallum, 1989). Em 1924 chegaram ao rio Jordão, onde estão até hoje, muito tempo depois da morte do patrão. Os Kaxinawá mais velhos deste rio ainda estão marcados com as iniciais FC (Felizardo Cerqueira) do nome do patrão.

Até 1946, os Kaxinawá do Peru ficaram lá, na mata virgem, longe dos rios navegados pelos comerciantes. Eles preferiam a independência e o isolamento à dependência que implicava maior acesso às armas e utensílios de metal. Através dos Yaminawa eles conseguiram algumas coisas, mas parece que em meados dos anos 1940 eles decidiram que precisavam de mais e mandaram uma equipe de seis homens para o Rio Taraya para negociações diretas.

Com o tempo os Kaxinawá tomaram a decisão de procurar o contato com a civilização, uma decisão de profundas conseqüências, e questionada pelos próprios Kaxinawá.

O contato pode ser inevitável a longo prazo. A curto prazo, no entanto, ele depende da iniciativa do grupo, que em uma geração anterior tinha escolhido a posição contrária. Isto, numa região onde, ainda hoje, vivem etnias, grupos de língua Pano e Arawak, que evitam qualquer contato com a sociedade não-indígena.

Em 1946, quando um visitante brasileiro visitou os huni kuin, eles sabiam o que queriam dele: as mercadorias industrializadas, machados de metal, espingarda etc. O comerciante levou madeira e caucho em troca, mas levou também alguns jovens para trabalhar com ele, o que não estava previsto (Kensinger, 1975:10-11).

Depois, em 1951, chegaram os viajantes alemães Schultz e Chiara: “Encontramos ao todo oito aldeias, com um número de habitantes que variava entre vinte e 120 indivíduos. Calculamos o número total de indivíduos kaxinawá entre 450 e 500”(Schultz, 1955). Em conseqüência desta visita morreu de 75 a 80% da população adulta numa epidemia de sarampo. Os Kaxinawá, porém, consideravam as filmagens da equipe como causadores da onda de mortes: segundo Deshayes e Keifenheim (1982), para os Kaxinawá, que naquela época tentavam dar uma explicação para a tragédia, o filme reduzia a imagem da pessoa e assim, com seu yuxin yuda diminuído, a pessoa morria.

Os sobreviventes fugiram para o Envira e o Jordão no Brasil, onde moravam seus parentes empenhados no trabalho nos seringais. Mas, já na época seca do ano seguinte, a maior parte dos refugiados resolveu voltar para o Curanja, onde não tinha nem seringa, nem patrão.

Balta, a maior comunidade Kaxinawá no Peru, é uma criação do SIL (Sociedade Internacional de Lingüística). Com a chegada dos missionários foi construída uma pista de pouso para o transporte de bens de Pucallpa e instalado um rádio que mantinha contato com a base do SIL em Yarinacocha. No início dos anos 1970 Balta tinha atraído tanto Kaxinawá que seu número chegava a 800 indivíduos.

A segunda maior aldeia Kaxinawá no Peru, Conta, foi construída no Purus perto de Puerto Esperanza, em 1968, por Kaninawa vindos do Envira. Em 1985 Conta tinha superado Balta em número de habitantes, basicamente graças à migração de Kaxinawá de Balta e Santarém, aldeia acima de Balta, que deixaram o Curanja à procura de novos caminhos para conseguir os produtos que até então eram fornecidos pelos missionários.

Conta mantém relações comerciais com Puerto Esperanza, pequeno porto construído ao redor de um posto militar de fronteira. Alguns Kaxinawá de Conta têm feito serviço militar neste porto, experiência marcante e em alguns casos traumática.

As duas aldeias Kaxinawá onde fiz minha pesquisa de Campo, Cana Recreio e Moema, no alto rio Purus, representam a junção destas duas tradições Kaxinawá do último século: a peruana e a brasileira. A primeira, que manteve sua autonomia por mais tempo e viu sua vida aldeal interrompida por menos tempo, é considerada mais " tradicional " (culturalmente mais indígena), apesar de ser marcada pelos missionários e o contato com os militares peruanos, (e) a segunda viveu durante anos de forma mais dispersa e se familiarizou com a cultura seringalista pelo trabalho de duas gerações para o patrão, mas vive hoje em dia um profundo processo de retomada das " tradições ".

As histórias de vida dos Kaxinawá de Cana Recreio e Moema contam a longa viagem entre o Envira e o Jordão no Brasil e o Alto Purus e o Curanja no Peru até parar em Cana Recreio, no Purus do lado brasileiro.

Em abril de 1989, um terço da população de Cana Recreio fundou uma nova aldeia: Moema. Durante minha estadia lá a nova aldeia tinha sete casas.

Fronteira é a terceira comunidade Kaxinawá na área indígena do Alto Purus. Ela é a mais antiga no rio Purus do lado brasileiro e foi fundada pelos Kaxinawá seringueiros do Envira. O líder desta aldeia, Mário Domingos, mudou-se do seringal Vista Alegre, no Envira, para o seringal Triunfo, no alto Purus, no início dos anos 1970, a pedido do dono do referido seringal, Chico Raulino.

O posto da Funai foi instalado em Fronteira, que ganhou uma pista de pouso, hoje em desuso, uma escola, uma farmácia, um rádio ligado à intendência da Funai em Rio Branco e uma casa para o chefe do posto, que acabou servindo de casa para a família do líder Kaxinawá, Mário.

Em 1978 os voluntários do Cimi convenceram um grupo de umas 32 pessoas em Santa Rosa, na fronteira com o Brasil, que desceram durante o ano anterior o Curanja e o Purus, vindo de Balta, a se mudarem para o posto da Funai em fronteira. Este grupo tinha como líder Francisco Lopes da Silva, Pancho, que fundaria dois anos mais tarde a aldeia de Canoa recreio, a uma hora e meia de descida de Fronteira.

O realdeamento em Fronteira é um processo que até hoje não foi totalmente concluído. As famílias parecem prezar mais sua independência umas das outras do que nas aldeias de Moema e Cana Recreio. As casas ficam um pouco mais distantes umas das outras, há umas dez cabeças de gado pastando entre as casas, e as famílias mantêm uma economia relativamente independente. Há, por exemplo, intercâmbios individuais com os marreteiros que navegam o rio e vendem mercadorias em troca de borracha, couro de gado e galinhas. Enquanto essas transações tendiam a ser controladas pela coletividade e os líderes nas outras aldeias do Purus, o líder de Fronteira não tinha, na época da minha pesquisa, a intenção de controlar estas transações e não existia uma cooperativa responsável pela economia da comunidade como um todo, como acontecia em Cana Recreio.

Uma série de trabalhos, no entanto, são feitos em conjunto: as pescarias coletivas no lago ou nos igarapés com timbó (barbasco), a abertura de novos roçados e as expedições de caça por ocasião de grandes festas. Um problema para a realização destas festas é que Fronteira não tem líderes de canto para “puxar” o canto.

A ausência de pessoas idosas que tenham vivido uma vida aldeada (no Peru) quando adultos, provocava um relativo esquecimento de elementos da cultura ao nível dos rituais, da língua e na cultura material. Assim como não tinha nenhum homem ou mulher que soubesse todos os cantos do katxanawa, ritual da fertilidade e do txirin, ritual de iniciação da criança; não tinha mulher que soubesse tecer ou desenhar kene kuin, o estilo Kaxinawá de desenho geométrico. Apesar desta situação marcar também a especificidade e o orgulho deste grupo, que dominava muito mais os códigos da sociedade brasileira do que seus visinhos e que era respeitado por causa de seus poderosos tomadores de cipó, na minha última visita vi que também em Fronteira (como tinha acontecido no Jordão) se procurava aumentar " a ciência dos antigos " com a chegada de parentes do Peru."

A tendência à cisão de aldeias é comum entre os Pano e reflete a base democrática que constitui a comunidade. Todo pai de família pode decidir, por quaisquer motivos, mudar-se para outro lugar a fim de construir uma nova comunidade, se tiver habilidade de persuadir outros a segui-lo. Não existe coerção nestes casos; cada indivíduo, mulher ou homem, escolhe onde ou com quem mora. A única pressão é afetiva; ninguém gosta de morar longe dos seus parentes mais próximos.

Xamanismo

Os Kaxinawa afirmam que os verdadeiros xamãs, os mukaya, aqueles que tinham dentro de si a substância amarga e xamânica chamada muka, morreram, mas este fato não os impede de praticar outras formas de xamanismo, consideradas menos poderosas mas que parecem igualmente eficientes. Somente a retirada do duri, equivalente do muka, entre os Kulina, parece ter sido o privilègio do mukaya. Outras capacidades, como a de saber se comunicar com os yuxin, são do domínio de muitos adultos, especialmente os mais velhos.

Dessa maneira poderíamos tanto dizer que não existem xamãs quanto dizer que existem muitos. Uma característica saliente do xamanismo kaxinawá é a importância da discrição com relação à possivel capacidade de curar ou causar doença. A invisibilidade e ambigüidade deste poder é ligada a sua transitoriedade. Sugiro portanto que a afirmação de que não se tem mais xamãs tão poderosos quanto antigamente seja interpretada à luz de uma desenfatização da figura do xamã. Xamanismo é mais um evento do que um papel ou uma instituição cristalizada. Este fato se deve também às severas regras de abstinência que incidem sobre a prática do xamã na sua forma de mukaya, que não podia comer carne nem ter contato com mulheres.

O uso da ayahuasca, considerado privilégio do xamã em muitos grupos amazônicos, é uma prática coletiva entre os kaxinawa, praticada por todos os homens adultos e adolescentes que desejam ver "o mundo do cipó". O mukaya seria aquele que não precisa de nenhuma substância, nenhuma ajuda exterior para se comunicar com o lado invisível da realidade. Mas todos os homens adultos são um pouco xamãs na medida que aprendem a controlar suas visões e interações com o mundo dos yuxin.
Ritual Xamânico dos Kashinawás -os xamãs tomam a Ayahuasca, bebida feita com a mistura das folhas da Chacrona (Psychotria viridis) rica em DMT - Dimetiltriptamina, um composto psicodisléptico que libera grande quantidade de neurotransmissores no cérebro, com os cipós de Jagube (Banisteropsis Caapi) que contem três alcalóides, a harmina, harmalina e a tetrahidroharmina, que funcionam bloqueando a enzima monoasmina oxidase (IMAO), uma combinação que faz as fendas sinapticas ficarem enxarcadas com neurotransmissores, que não são degradados, permitindo que o xamã fique horas sob os efeitos da "medicina".

Dois fatos facilmente observáveis que apontam nessa direção são o uso freqüente e público da ayhauasca (aproximadamente duas ou três vezes por mês) e as longas caminhadas solitárias de alguns velhos sem o objetivo de caçar ou de buscar ervas medicinais (explicação geralmente dada). Estas duas atividades mostram uma procura ativa de estabelecer um contato intenso com a yuxindade.

Yunxidade é uma categoria que sintetiza bem a cosmovisão xamânica dos Kaxinawá, uma visão que não considera o espiritual (yuxin) como algo sobrenatural e sobre-humano, localizado fora da natureza e fora do humano. O espiritual ou a força vital (yuxin) permeia todo o fenômeno vivo na terra, nas águas e nos céus.

Na vida diária vemos um lado da realidade onde este parentesco universal das coisas vivas não se revela: vemos corpos e sua utilidade imediata. Em estados alterados de consciência, porém, o homem se defronta com o outro lado da realidade, em que a espiritualidade que habita certas plantas ou animais se revela como yuxin, huni kuin, “gente nossa”. Por se manifestar tanto como força vital quanto como alma ou espírito com vontade e personalidade próprias, nenhum termo capta bem este caráter efêmero e polivalente do yuxin.

Na região do Purus, os próprios Kaxinawá traduzem yuxin por alma quando se referem aos yuxin que aparecem de noite ou no crepúsculo da mata em forma humana. O uso desta palavra vem da convivência com os seringueiros, que também vêem e falam de almas. Quando se fala do yuda baka yuxin ou do bedu yuxin da pessoa, usa-se mais espírito: “É o espírito da gente que vê, né?, e que fala”. Outra tradução usada pelos Kaxinawá é “encantado”.

A atividade do xamã que procura conhecer e relacionar-se com os yuxin é indispensável para o bem estar da comunidade. A causa última de todo mal-estar, doença ou crise tem suas raízes neste lado yuxin da realidade, em que o xamã, como mediador entre os dois lados, é necessário. O xamã trabalha com o que tem de yuxin no mundo, com a categoria que chamo de yuxindade. Os lugares com maior concentração de yuxin são os barrancos (onde moram os mawam yuxibu, identificados pelo lugar onde moram), o lago e as árvores.
Pintura facial da mulher Huni Kuin - foto de Amir Leron

Para os Kaxinawá, a pessoa é formada por carne (ou corpo) e yuxin. Os animais têm um lado corporal e um lado yuxin, assim como as plantas. Entre os animais há aqueles com yuxin forte e perigoso, e outros com yuxin de poder negligenciável. A qualidade do yuxin do animal influencia o regime e os tabus alimentícios dos seres humanos. Os yuxin das plantas geralmente não são nocivos ou perigosos. Em muitos jejuns banana e amendoim, por exemplo, são permitidos, apesar dos yuxin destas plantas serem mencionados regularmente como fazendo parte das almas que aparecem na aldeia a pedido do xamã para curar. Dentro de toda essa ambigüidade, os yuxin podem aparecer “como gente mesmo”, huni kuin, assim como na forma de certos animais.

Muka: o poder dos yuxin e do xamã

O poder dos yuxin, que se revela por sua capacidade de transformação, é chamado muka. Muka é uma qualidade xamânica, às vezes concretizada como substância. O ser com muka tem o poder espiritual de matar e curar sem usar força física ou veneno (remédio: dau). O ser humano pode receber muka dos yuxin, o que lhe abre o caminho para se tornar xamã, pajé, mukaya. Mukaya significa homem com muka, ou na tradução de Deshayes “pris par l’amer” (‘pego pelo amargo’). O xamã tem um papel ativo no processo de acumulação de poder e conhecimento espiritual, mas sua iniciação acontecerá somente a partir da iniciativa dos yuxin. Se os yuxin não o escolhem, não o pegam, pouco adiantam seus passeios solitários na mata. Uma vez pego porém, o aprendiz torna-se doente nos olhos dos humanos (“ficam doidos quando chega mulher perto”). O ponto fraco do yuxin é o corpo, o do homem é seu yuxin; a “yuxindade” ameaça o corpo do homem, e o corpo, o sangue (feminino) ameaça a cabeça dos yuxin.

Se o homem que foi pego quiser seguir o caminho de mukaya, ele se submete a jejuns prolongados e severos (sama) e procura outro mukaya para instruí-lo.

Outra característica do xamanismo kaxinawá, expressa pelo nome mukaya, está na oposição entre o amargo (muka) e o doce (bata). Os kaxinawá distinguem dois tipos de remédio (dau): os remédios doces (dau bata) são folhas da mata, certas secreções e animais e os adornos corporais; os remédios amargos (dau muka) são os poderes invisíveis dos espíritos e do mukaya.

A especialidade de huni dauya (homem com remédio doce, ervatário) normalmente não se combina com a de huni mukaya (xamã). O processo de aprendizagem do ervatário é bem diferente do xamã. Se não lidar com folhas venenosas o ervatário não é sujeito a jejuns e pode desenvolver suas atividades normais de caça e vida conjugal. Ele adquire seu conhecimento através da aprendizagem com o outro especialista e precisa de uma memória e percepção agudas.

O primeiro sinal de que alguém possui a potência para ser um xamã, uma desenvolvida relação com o mundo dos yuxin, é o fracasso na caça. O xamã desenvolve uma familiaridade tão grande com o universo animal (ou com os yuxin dos animais), conseguindo estabelecer diálogo com eles, que não consegue mais matá-los:

“e anda no mato, bicho está falando comigo, disse. Quando vê o veado, aí chama ‘hei meu cunhado’, disse, aí ficava parado. Quando vem porco, ‘ah’, chamava, ‘ah, meu tio’, aí fica. Aí em nossa palavra disse ‘em txai huaí!’(‘Hei, cunhado!’), aí não come”.
Sendo assim, o xamã não come carne, e não somente por motivos emocionais. A impossibilidade de comer carne também está ligada ao muka, à mudança no olfato e no paladar da pessoa com muka amadurecido no seu coração. O gosto e o cheiro da carne tornam-se amargos.

O Xamã

O xamã é temido por sua capacidade de causar doença e morte sem fazer nada fisicamente. Pode atirar seu muka (que é invisível quando atirado) na vítima a partir de grandes distâncias; ou pode convencer algum dos yuxin com quem está familiarizado a matar uma pessoa.
Pajé Huni Kuin

Quanto maior o número de yuxin aliados do mukaya, maior será o seu poder. Porque seu poder de cura reside, de um lado, na sua capacidade de negociação como agente ativo da cura (quando vai buscar o espírito perdido de seu paciente que se juntou aos yuxin), e de outro, na qualidade e quantidade de yuxin que pode convocar para uma sessão de cura, onde serão os yuxin (seus amigos) os agentes da cura, trabalhando através (ou reunidos ao redor) do corpo do xamã.

Mesmo assim, a viagem xamânica continua sendo, no entanto, uma característica crucial do xamanismo Kaxinawá. O bedu yuxin viaja, livre do corpo, no sonho, ou quando o xamã está em transe sob o efeito do rapé ou do ayahuasca. Estas viagens cumprem objetivos além da cura de um caso concreto. São excursões exploratórias. Procuram entender o mundo e as causas últimas das doenças. Exploram os caminhos que o bedu yuxin do morto terá que seguir para chegar ao céu e fortalecem as relações com o mundo espiritual pelo bem-estar da comunidade.

Existem alguns tipos de doença: uma material (veneno) e outra espiritual (poder). A doença causada por veneno, é por conta do dauya (ervatário), e a doença provocada pelo poder espiritual (muka), tem um mukaya (xamã) inimigo culpado. Existe um terceiro tipo: a doença causada pelos yuxin, que é a perda pelo paciente de seu bedu yuxin. A doença causada pelos yuxin a pedido de um mukaya também significa perda: do xamã pode-se roubar seu muka, de um ser comum sua alma.

Os dois tipos de doenças causadas por homens têm tratamentos diferenciados. O veneno provoca uma perda de líquidos e forças vitais (o paciente vomita, tem diarréias, fica anêmico). Neste caso, o xamã cura com sua força: cheira um tipo de rapé preparado especialmente para a cura e sopra sobre o paciente. No caso da causa ser o muka, o problema não é a perda, mas a presença de uma força negativa que toma a forma de um corpo estranho que age e destrói o corpo por dentro. Doenças provocadas por muka são dores agudas no fígado, no estômago ou no coração (três órgãos importantes na visão kaxinawá do corpo humano). Nesta fase, ainda tem cura. O xamã chupa o local da dor para tirar o objeto intruso. Chupa, tira o muka que o xamã inimigo mandou para o paciente.
Membro da tribo inala o Paricá, administrado pelo Xamã por meio de um Tepi

O pensamento xamânico entre os Kaxinawá atua de forma permanente, onipresente. Embora não se tenha mais sessões de cura e rituais públicos, como houvera no passado, é preciso considerar sua cosmovisão no âmbito maior das práticas de seus vizinhos (Yaminawa, Kulina, Kampa), com quem mantêm relações cada vez mais intensas, porque deixaram de ser inimigos declarados. O intercâmbio ali é grande e pode se tornar um estímulo para os Kaxinawá revitalizarem seus poderes espirituais, guardados na memória da floresta.

A pessoa Humana para os Kaxinawá é concebida por três partes: o corpo ou a carne (yuda), o espírito do corpo ou a sombra (yuda baka yuxin) e o espírito do olho (bedu yuxin). A carne ou qualquer corpo vivo transforma-se em pó quando seu aspecto yuxin lhe é tirado.

Iniciação Xamânica

Existem várias maneiras de iniciar-se no xamanismo. Algumas resultam de uma procura deliberada por parte do aprendiz, outras ocorrem espontaneamente devido à iniciativa dos yuxin que pegam o escolhido desprevenido. A presença do muka no coração do aprendiz, condição sine qua non para qualquer exercício de poder xamânico, depende em última instância da vontade dos yuxin.

Há dois caminhos que o aprendiz pode seguir para favorecer um encontro com os yuxin que possam lhe dar o germe de seu muka: ele pode aumentar sua experiência onírica dormindo muito e tomando remédios (gotas do sumo de certas folhas no olho e banhos) para sonhar mais e para lembrar-se dos sonhos; ou pode pegar o caminho da mata, enfeitar-se com envira ou brotos de murmuru (pani xanku) e folhas cheirosas, cantar, assobiar para chamar os yuxin.

O gosto das coisas também fornece informações sobre a qualidade yuxin das coisas. Há coisas que só yuxin ou animal come: husu, borboleta da noite que chupa sangue, é uma das comidas preferidas; mai xena, minhoca, também. Mas homem tem horror a comer isto. A pessoa em transe, sob o efeito dos yuxin, come folhas como se fosse comida.

Outra característica relacionada ao gosto, é que o homem não come nada cru: no máximo um fruto da floresta, ou no caso de crianças, uma banana madura quando não agüentam a fome até a hora da refeição. Também é excepcional tomar água. Os yuxin, pelo contrário, caracterizam-se pelo hábito de comerem coisas cruas e especialmente pela sede de sangue cru: todos os animais e insetos que chupam sangue são yuxin.

O povo Kashinawá tem como costume inalar o rapé (também chamado de Paricá) no final da tarde, após o trabalho para resfriar o corpo e relaxar, ou antes do ritual xamânico da Ayahuasca, seguido de um banho de rio. O rapé tem energia predominante da terra. Por ser uma energia densa, quando sob o efeito forte do rapé, a forma mais simples e rápida de diminuir o efeito é banhar-se com água fria.

A palavra rapé vem do francês “râper” (raspar). É um pó constituído por substâncias naturais, consideradas plantas de poder: o Tabaco Xamânico é cultivado pelo próprio povo (o feitio é cerimonial, com cantos e orações em suas fases: plantio e colheita), cinzas de cascas de árvores medicinais, Pau-pereira, Canela de Velho, Murici, Cumaru, ervas aromáticas e entre outras variações.

Possuem profundos efeitos nos estado de equilíbrio energético, físico e principalmente psicológico, um poderoso alterador de consciência (enteogêno), pode expandir muito a consciência e a mediunidade xamã. É elaborado da forma tradicional, em conformidade com as tradições ancestrais.
Existem basicamente dois utensílios utilizados no costume inalar o rapé (Paricá) - ó Tepí, utilizado pelo xamã para assoprar a medicina no membro da tribo e o Kuripe, utilizado pelo próprio usuário. Pode ser utilizado por meio dos quatro elementos: 1-Fogo: é o tabaco queimado em cachimbos e apenas baforado, sem tragá-lo. Utilizado por meios de ritualizações e rezas. Considera-se que a fumaça lançada ao ar carrega a oração até o Grande Espírito; 2-Terra: é o tabaco seco mascado e cuspido; 3-Água: preparado pela sua infusão em água a dias e inalado via nasal ou oral(de acordo com o ritual); e o 4-Ar, usado no ritualístico do rapé (aspirado via nasal)

Se usado inadequadamente o rapé pode ter efeitos colaterais danosos, quando isso acontece o pajé tratas os membros da tribo com o Kampô (vacina do sapo), seguida de dieta (sem açúcar, sexo e rapé). Segundo os Kaxinawás, o kampô que limpa toda a energia do rapé e renova a energia sutil.

O jovem xamã ao ser iniciado deve seguir os caminhos indicados por cheiros, sons e imagens que levam ao contato com os yuxin. É preciso ter o coração forte, senão morre, pois a morte é conseqüência do colapso do coração com medo. O colapso na iniciação (morte ou loucura) pode ocorrer devido à incapacidade do iniciado/chamado/vítima de fazer a ponte entre os dois lados da realidade.

No período que começa com o primeiro “assalto” dos yuxin e termina quando o muka está maduro, o xamã iniciante mostrará sinais de fraqueza, mas esta fase liminar é necessária para o processo de aprendizagem com os yuxin. O aprendiz está desinteressado das obrigações sociais e dos processos corporais, porque sua mente está voltada para o mundo espiritual. Ele fica a maior parte do tempo deitado na rede, ou caminha aleatoriamente na mata. Estes “sintomas”, no entanto, não são interpretados como doença.

Mitos

A maior parte dos mitos de origem ligados a um bem cultural (o roubo do fogo, a tecelagem, o desenho, a cerâmica, o plantio etc.) contam como este bem, ou a arte de produzi-lo, foi dado aos humanos por um animal. Mas não era um animal qualquer. Este animal “é huni kuin encantado”. Sendo assim, o yuxin que estava nesse animal comunicou aos homens suas qualidades. Não por acaso, foi o esquilo que ensinou ao homem a arte de plantar (sabemos que o esquilo se caracteriza por guardar, estocar comida durante muito tempo, o que é necessário para plantar). O macaco prego ensinou o ser humano a copular. Este macaco adota uma posição face a face no coito, uma posição excepcional entre os animais. Quando se tratou de “traduzir” este hábito animal em comportamento humano, os yuxin transformaram-se em gente para a percepção humana. Desta maneira viveram durante algum tempo entre os homens, sob forma humana, a rata parteira (xuya), a aranha tecelã (Baxem pudu) e outros.

 Organização social

A divisão entre os sexos é fundadora da sociedade Kaxinawá e marca mais a vida cotidiana do que qualquer outra divisão em metades, seções ou idades. A diferença entre as gerações é medida a partir de uma divisão básica em que crianças e pessoas idosas aproximam-se pelo compromisso menor que têm com os papéis relacionados à construção da sua identidade em termos de gênero, e diferenciam-se enquanto grupo de homens e mulheres engajados nas atividades produtivas sexuadas.

A divisão da sociedade em metades rituais e matrimoniais, e em seções de transmissão do nome próprio não permeia todas as atividades, já que maior parte das atividades é feita no grupo de mulheres de um lado e no grupo de homens de outro. Durante os rituais, porém, a divisão da sociedade em metades é importante, assim como em poucas atividades coletivas dos homens, como a brocada de roçados.

A socialização da criança em termos de gênero começa desde muito cedo. A partir do momento em que sabe andar sozinha, aprende as tarefas mais fáceis de seu gênero. A criança recebe o nome logo depois do nascimento, mas é preciso o tempo de infância para ligá-los aos poucos ao corpo do novo portador. Isto acontece nos primeiros anos de vida, pelo uso repetido do nome pelos pais e depois também pela aprendizagem por parte da criança do uso correto dos termos de parentesco. À medida que vai dominando estes termos de referência e vocativos, seus parentes vão deixar de chamá-la pelo nome próprio para chamá-la somente em termos de parentesco.

 Rituais

O conjunto de rituais que acontecem cada três ou quatro anos no xekitian, tempo do milho verde (dezembro e janeiro), é chamado de nixpupimá, “batismo” Kaxinawá. O nixpupimá é um rito de iniciação. A partir do momento em que “comemoram” pela primeira vez nixpu, os bakebu (crianças) tornam-se txipax e bedunan, meninas e meninos. Eles são diferenciados pelo sexo e aptos a serem iniciados nas tarefas e nos papéis específicos de seu sexo.

O nixpu é uma planta da mata cujo talo quebrado é batido repetidamente contra os dentes, tingindo-os de um preto brilhante. Este efeito é belo, estético para os Kaxinawá. Na mitologia Isa hana (pássaro de sete cores) é chamado nixpupia hawendua (lindo porque comeu nixpu): tem o bico preto. Isa hana é um pássaro muito preocupado com a beleza. Sua própria plumagem já é bonita: azul com a cauda vermelha. Isa hana viu que Bixku txamini tinha o corpo coberto de perebas tão fedorentas que sua mulher o abandonou. Ixmi (o urubu rei) veio para comê-lo mas Bixku se defendeu e ixmi perdeu um monte de suas penas brancas. Aí chegou Isa hana, que curou Bixku com plantas medicinais em troca das penas brancas que ixmi perdeu. Com as penas brancas Isa hana se fez um lindo cocar para usar nixpupima.

Os dentes enegrecidos fazem parte do make-up para festas e rituais, assim como desenhar o corpo com jenipapo e pintar-se o corpo todo com a pasta vermelha de urucum (maxe), com óleo de amendoim (tama xeni) ou de pupunha (bani xeni), misturado com perfume (ininti), um hábito que se tornou, pelo uso de roupa, mais raro hoje em dia. O nixpu é considerado crucial para a saúde dos dentes; os Kaxinawá dizem que seu sumo os fortalece e protege.

Txidin

O txidin acontece anualmente no xekitian, tempo do milho verde, ou depois de um rito funerário por uma morte importante (um chefe ou xamã). A saudade e a tristeza provocadas pela perda podem ameaçar a vitalidade e o bem-estar da comunidade, e o txidin serve para reforçar a fé na vida e levantar o ânimo: sua finalidade é proteger os vivos.

O txidin caracteriza-se pelos cantos dewe (que contam a criação do mundo), pela dança do líder de canto (txana xanen ibu) e seu acompanhante, aprendiz, sapateando de costas com búzios nas canelas e pelo vestuário do líder de canto. É a única ocasião em que se usa o cushima, um vestido comprido, todo keneya (com desenho), um cocar (maite) de penas brancas e penas vermelhas da cauda da arara, o hawe (adorno pendurado nas costas), com penas de gavião e caudas feitas das penas do corpo de vários pássaros (kuxu dani, hana dani etc.) e com a cauda do coatipuru (kapa hina).

O líder de canto, assim enfeitado, representa o Inca e seus aliados: o gavião (tete), o urubu rei (ixmin), o txana. O inca é ligado à metade dos inubakebu (filhos da onça) e há todo um conjunto de associações simbólicas que giram ao seu redor: o milho, o frio, a vida eterna, o jenipapo e o sol.

A metade dos duabakebu (filhos do brilho), por outro lado, é ligada à cobra, ao vermelho, à ciclicidade, ao apodrecimento, à lua. Trata-se porém de complementaridades contextualizadas, o que faz com que o significado de cada elemento no par mude segundo a situação.

O txidin faz parte da seqüência do ritual do nixpupimá. O líder de canto no nixpupimá sapateia ao redor do fogo aceso perto do lugar, na casa, cercado com esteiras, onde estão os reclusos nas suas redes. Ele é vestido com as roupas do Txidin, do Inka, e as canções da primeira parte do ritual nixpupimá contam a visita dos homens (dua) à aldeia dos Inká (inu). O jovem informante de Capistrano contou-lhe que fazem parte da preparação da festa e Omã (nixpupimá), a caça coletiva, a fabricação dos banquinhos (kenan) a armação dos tene (o suporte para o adorno de pena de gavião), enfeite que caracteriza o txidin. Depois são colhidos o nixpu e os espinhos de pupunha (banin muxa) para fazer a perfuração do lábio inferior e das narinas. A primeira parte desse rito de iniciação é uma corrida exaustiva de um lado ao outro do pátio, o dia todo; na mão da mãe, quando menina, e do pai, quando menino. Os meninos correm com as penas de gavião nas costas.

Katxanawá

O Katxanawá, ritual da fertilidade, existe em várias versões e pode iniciar o “festival” do nixpupimá. Normalmente o katxanawá acontece várias vezes por ano. Visualmente o ritual é caracterizado pela dança dos yuxin da floresta (cobertos dos pés à cabeça com a palha da jarina e pintados, nas partes que aparecem por baixo da palha do urucum) ao redor do tronco oco da paxiúba (tau pustu, katxa). O tronco foi cortado, descascado e esvaziado dentro da mata, pelos homens da metade que ficou com o papel ritual de invasor.

Antes da campanha dos missionários contra o uso de bebida alcoólica, a caiçuma era guardada durante seis dias no tronco da paxiúba (tampada com folhas de bananeira) para fermentar. A aldeia dançava durante cinco dias ao redor do katxa, e no sexto dia chegavam os convidados das outras aldeias para juntos tomarem a bebida fermentada (muxetan). Somente uma pessoa me falou que a fermentação era acelerada pelo cuspe (costume ainda em uso entre os Katuquina e Yaminawa).

Com as visitas, o conteúdo do katxa era esvaziado, dançando e bebendo a noite toda. Depois de vazio, o mesmo katxa servia para receber o vômito: “vomitar é bom para a gente não ficar mole; é que nem o nixi pae (o cipó), aí a gente vomita também para limpar a barriga e ficar forte. Vomita e agüenta de novo, né? Aí pode tomar mais, tomar sempre”. De madrugada o katxa é levado de volta para a mata e destruído.

O katxa é o símbolo do útero, e referência ao tronco oco onde foram criados os primeiros Kaxinawá. Este elemento feminino é enfeitado com tubos de macaxeira e banana, símbolos masculinos. Um grupo de homens, todos da mesma metade, começa a dança saindo da mata como yuxin da floresta, que invadem a aldeia, cantando ho ho, ho ho. Este é o elemento central do rito: os invasores da floresta são inicialmente recebidos com hostilidade: a outra metade, que não foi para a mata, representa o “interior”, os huni kuin, e pega suas armas para receber os inimigos. Mas logo depois de se aproximar dos yuxin da floresta, as aramas são deixadas de lado e os dois grupos dançam juntos ao redor do katxa, chamando todas as plantas cultivadas pelos nomes.

Além da dança e do canto por uma safra abundante com a ajuda dos yuxin da floresta, o katxanawá implica a troca ritual de caça e peixe entre as metades. Assim um verdadeiro katxanawá é precedido pela caça coletiva, por cada metade separadamente, de dez dias a duas semanas. De manhã é uma metade que dá, de noite, a outra. O mesmo acontece com a dança. No primeiro dia os inubakebu vêm da mata e os duabakebu recebem. No segundo dia os papéis são invertidos.

O katxanawá tem a característica de complementaridade entre os sexos. Ambos os sexos participam do ritual e esta participação tem conotações sexuais explícitas. Depois de ter chamado todos os tipos de banana, de mandioca e de milho, os homens começam a cantar insultos e provocações ritualizadas para as mulheres. Estas são respondidas imediatamente pelas mulheres, que formam uma linha de dança, com o braço segurando o ombro da vizinha, e correm em direção ao círculo dos homens tentando rompê-lo. Os cantos das mulheres têm um outro ritmo e um tom bem mais alto do que os cantos dos homens e elas tentam desafinar assim o canto dos homens. Esta troca competitiva de insultos é chamada de kaxin itxaka (insultar o “morcego-vampiro” – uma metáfora para a vagina) e hina itxaka (insultar a cauda – o pênis), uma brincadeira que provoca muita hilaridade.

Festa do fogo novo

Esta festa acontecia com o katxanawá mais do que uma vez por ano, e consistia em apagar o fogo velho e acender o fogo novo de forma ritualizada, precedido de uma caçada coletiva, que fornecia carne moqueada suficiente para vários dias de festa. Jogava-se os restos do fogo velho fora e no dia de acender o fogo todo mundo ia tomar banho na madrugada. Hoje em dia a festa perdeu a sua razão de ser. Como os antepassados, os Kaxinawá agora fazem um fogo novo todos os dias.

Nixpupima

À noite, as crianças são chamadas para se reunir na casa do líder. Somente as crianças que perderam os dentes da infância e cujos dentes definitivos já cresceram estão prontas para a iniciação. Suas redes são penduradas num canto da casa e cercadas de estiras para não verem nada.

Suas mães sentam-se ao lado da rede de seus filhos e começam a balançá-las, cantando “kawa, kawa”. As crianças têm que ficar esticadas e não podem se mover. Se alguma delas tiver que sair da rede, só pode olhar para os pés. Se olhar para o céu ou para as árvores, uma cobra ou uma formiga com picada tão forte quanto a de uma cobra, podem picá-la. Os pais das crianças dançam ao redor do fogo e cantam pakadim, rezas específicas para seus filhos “ficarem fortes e aprenderem ligeiro”.De manhã cedo, as crianças tomam banhos medicinais para crescerem, ficarem trabalhadoras (dayadau), e as meninas recebem um banho especial para aprenderem o desenho (kenedau). Além disso, meninas e meninos cortam o cabelo nessa ocasião.

As crianças são pintadas de preto com jenipapo, depois do banho. Lava-se também os dentes com pedrinhas chatas e areia para tirar as impurezas. Depois da lavagem, as crianças podem tomar caiçuma (mabex) de milho.

Ainda de madrugada tem a corrida. Os homens pegam os meninos pela mão e correm com eles de um lado ao outro do pátio. Quando param para descansar, é a vez das meninas que correm de mão dada com as mulheres. E assim acontece o dia inteiro e durante os dois dias seguintes. “Quem cair não vai viver muito tempo, quem não cair vai sobreviver”. Nas noites depois da corrida, os homens cantam os pakadim, como na primeira noite, e as mulheres balançam a rede, cantando “kawa, kawa”. As crianças não comem nada, só tomam mabex.Entre as corridas, os meninos descansam nos banquinhos (kenan) feitos pelos pais para esta ocasião. A mãe do menino pinta o banco com o sumo da folha e da madeira do txaxuani, que dá tingimento preto, e com maxepa (urucum bravo), que tinge a madeira d

uma cor avermelhada. Entre os motivos que usa é o xunu kene (desenho de sumaúma). O banco é feito da sacupima (raiz aérea, bema) da sumaúma (xunu), uma madeira leve e branca. O xunu é uma árvore muito grande e considerada poderosa pelos Kaxinawá. Ela hospeda yuxin gigantes (os nixu, hida yuxin).

As mulheres não ganham bancos, assim com não tomam o nixi pae (a bebida alucinógena- ayhauasca). O costume feminino é sentar com as pernas cruzadas numa esteira, enquanto os homens sentam num banco (kenan, tsauti), numa casca de jabuti, num xaxu virado com a parte oca para baixo ou, quando o homem é o mais velho da casa ou uma visita importante, na rede de sentar (hisin).Na noite do último dia das corridas, as crianças recebem um prato com nixpu ao se deitarem na rede. Mastigam o nixpu e cospem num prato. Mastigam até seus dentes fiarem pretos. Depois fazem jejum (samake) durante cinco dias: só podem tomar caiçuma de milho. Podem comer de novo quando o preto tiver saído dos dentes, ou seja, depois de terem saído da fase liminar, marcada pelo preto.

Dau

A categoria dau inclui remédios do branco, adornos e cuidados corporais, e fitoterapia. Para ser atraente e bonita, a pessoa Kaxinawá lava-se muito (duas vezes por dia), tira todo o pelo do corpo, pinta-se de vermelho com a pasta de urucum com óleo (não sobrecarregando na cor, senão parece Kulina, o que é feio) e deixa desenhar-se com jenipapo. Limpá-se e cortá-se as unhas com uma pedra fina, escova-se os dentes com areia e pedra, lava-se o cabelo e o rosto com argila branca. Para fazer a barba os homens passam cinza no queixo e tiram a barba com uma concha (informação que não pude verificar pela observação). Antigamente as mulheres depilavam as sobrancelhas.

Homens, mulheres e crianças usavam, antes da entrada de roupas, faixas de algodão branco (huxe) nos pulsos, nos tornozelos e nos braços (puxte), colares (teuti) no pescoço feitos com contas pretas (meimatsi) e linhas de algodão ou colares cruzados no peito (mane haxkanti). Os homens usavam um cinto fino (tinetxi) que segurava o pênis, as mulheres uma saia de algodão (xanpana) pintada de urucum perfumado. Homens e mulheres usavam enfeites nas perfurações do lábio inferior (algodão, contas ou um pedaço fino de madeira: mane keu), nas orelhas (pau), no nariz (uma ou várias contas brancas ou azuis: dexu), um fio de algodão entre o nariz e orelhas (dedi). Nas festas os homens usavam ainda penas de arara nas narinas (demu) e cocares. Nas faixas, nos colares e no cinto (ou na saia) pendurava-se vários tipos de dau: folhas cheirosas, dentes de macaco, de onça e de jacaré (o dente de jacaré é tido com proteção contra cobras), vários tipos de contas, conchas e pedaços de couro.

Casamento

A partir da primeira menstruação o interesse dos homens da aldeia pela jovem é legítimo. Os pretendentes começam a aparecer e, cedo ou tarde, ela deve se casar. Para o primeiro casamento, os pais da jovem consideram suas relações de parentesco com os homens jovens e solteiros da comunidade. É importante que o marido seja um primo cruzado próximo, de preferência da mesma aldeia.

Antes do casamento a mãe consulta a filha, o pretendente consulta a mãe, ela fala com o marido, depois com a mãe do pretendente e finalmente o pretendente pede a mão da moça diante dos pais. O passo do namoro para o casamento dá-se a partir do momento em que o jovem deixa a casa dos pais e vai dormir na casa dos sogros. Se ele já tem outra mulher, o homem constrói uma casa para si, perto da casa do sogro, onde vai morar com suas mulheres.

Na manhã que se segue à primeira noite, o novo casal e os respectivos pais vão para a casa do líder. Este fala ao noivo sobre seus deveres de bom marido: tem quem fazer um roçado para sua mulher, plantar muita banana, macaxeira e milho, ser bom caçador, cuidar bem dos filhos, dar carinho à mulher. Para a noiva o líder fala que tem que cuidar bem do marido, fazer comida para ele, oferecer comida para suas visitas, tecer sua rede, lavar sua roupa, dar-lhe carinho, cuidar bem dos filhos. Depois do sermão, e depois de ter tomado o mingau que a mulher do líder lhes oferece, o casal volta para casa com os pais da noiva; os pais do noivo vão par sua casa.

Casamento não é razão para festa, nem para uma cerimônia maior que esta. Desde o momento em que um homem e uma mulher moram na mesma casa, a esperança é que ela fique logo grávida. Somente depois de ter o primeiro filho o casamento é considerado consumado (infertilidade entre o casal é razão suficiente para desfazer a união). A partir do momento em que é mãe, e não a partir do casamento, a moça deixa de ser adolescente (txipax) e torna-se mulher.

 Arte

O Kene Kuin, desenho verdadeiro, é uma marca importante da identidade Kaxinawá. Os povos vizinhos (Kulina, Yaminawa, Kampa) não têm um estilo de desenho comparável ao kene kuin. Para os Kaxinawá o desenho é um elemento crucial na beleza da pessoa e das coisas.

O corpo e o rosto são pintados com jenipapo por ocasião de festas, quando há visitas ou pelo simples prazer de se arrumar. Crianças muito pequenas não recebem desenho, mas são enegrecidas dos pés à cabeça com jenipapo. Meninos e meninas têm só uma parte do rosto coberto com desenho e os adultos têm o rosto todo pintado.

A pintura com jenipapo é uma atividade exclusivamente feminina. Em dias sem festa muitos andam sem desenho, mas quando um dos homens da casa traz jenipapo da mata, sempre há alguém que se anima a preparar tinta e chamar os outros para pintá-los. As pessoas que mais andam pintadas são as mulheres jovens; os homens menos, a não ser que sejam hóspedes.

O estilo do kene kuin contém uma variedade de motivos que têm nomes. Quando um motivo tem dois ou mais nomes, isto geralmente se deve à ambigüidade, típica do estilo Kaxinawá, entre fundo e figura. Os mesmos motivos, ou desenhos básicos, usados na pintura facial, são encontrados na pintura corporal, na cerâmica, na tecelagem, na cestaria e na pintura dos banquinhos.

Assim como nem sempre e nem todos os corpos são pintados, também nem todos os objetos keneya têm desenho. Panelas para cozinhar comida não são pintadas, mas pratos para servir comida podem sê-lo. A pintura é associada a uma fase de novidade na vida do objeto ou da pessoa, uma fase na qual é desejável enfatizar a superfície lisa e perfeita do corpo em questão. O desenho chama a atenção para as novidades na experiência visual, que anunciam eventos cruciais da vida. O desenho desaparece com o uso e só é refeito por ocasião de uma festa. Assim, coisas com o desenho ocupam um lugar especial na cultura Kaxinawá, como em outras culturas do ocidente amazônico.

Abaixo, assista ao curta "BIMI, Mestra de Kenes" dirigido por Zezinho Yube. O vídeo, com produção do projeto Vídeo nas Aldeias , mostra a história de Bimi, uma das grandes mestres da arte da tecelagem Hunikui. Ela fala da sua aprendizagem e dos resguardos que uma tecelã deve respeitar.

Atividade Produtiva

A culinária Kaxinawá é bem diversificada. Um mingau é feito pelas mulheres amassando grandes quantidades de banana madura e doce para o mingau - mani mutsa; prepara a macaxeira, às vezes com a folha verde da macaxeira amassada ou com nawanti ou xiwan, folhas do mato com gosto parecido com a chicória, um pouco ácido, ou ainda com amendoim tostado e moído, ou mesmo sem condimento. Ela cozinha também banana verde, e, se tiver milho, faz caiçuma (mabex) de milho tostado e moído, com ou sem amendoim.

Quando um dos homens da casa chega da caça, as mulheres queimam o pelo do animal e cortam-no na hora. Algumas partes são assadas, outras fervidas. No caldo são misturadas várias ervas, um tipo de coentro, um tipo de asafroa, um tipo de gengibre (xawaxuanti, xiada), pimenta (yutxi), às vezes urucum (maxe), outras não identificadas e sal. O peixe pode ser assado quando é grande, mas geralmente é preparado em caldo, ou quando miúdo, assado numa folha de bananeira com cogumelos. Outro prato da culinária Kaxinawá é beten, uma pasta feita de farinha (dudu) de milho, macaxeira ou banana assados e moídos, misturada com o caldo e a carne de caça pequena e, se tiver, palmito.A cozinha Kaxinawá é laboriosa e exige várias horas de trabalho por dia. As meninas entre oito e doze anos participam nas tarefas menores da cozinha, como descascar macaxeira ou cuidar do fogo, tendo que deixar os nenês com as irmãs menores. Outra tarefa comum para as meninas desta idade é pegar água no poço.

Além de preparar, durante o dia, a refeição para o final da tarde, a mulher vai diariamente ao igarapé, com seus filhos, sua mãe e uma ou duas das suas irmãs com seus respectivos filhos (meninos somente até a idade de sete anos; depois desta idade eles tomam banho com os homens no rio). As mulheres lavam as roupas, enquanto as crianças brincam na água.

Cada dois ou três dias a mulher vai, com outras mulheres que têm roçados vizinhos ao seu, colher banana e macaxeira. A mulher derruba a bananeira com alguns cortes de seu machado, depois de tirar o cacho. Para tirar a macaxeira, corta a planta, solta a terra ao redor da raiz com o machado, e tira com a mão, cuidando para não quebrá-la na metade. Depois de tirar as raízes ela corta dois pedaços e 15 cm do caule da planta, que enterra (este tipo de plantio não se chama bana, é plantar de novo, kaban); as folhas são levadas para casa para servir de condimento. Outros vegetais, como batata, inhame e outros tubérculos dependem da estação e não fazem parte da alimentação básica.

O plantio do amendoim é o único feito por homens e mulheres juntos. Normalmente o plantio é feito pelos homens e a colheita pelas mulheres. Outras exceções a esta regra são o algodão, o urucum e o feijão, que são plantados pelas mulheres. O plantio do amendoim na praia é uma festa. A metade da aldeia vai; crianças, homens e mulheres. Depois de limpar o terreno, os homens, em linha reta, enfiando um amendoim em cada buraco. Durante o trabalho canta-se os pakadin para o amendoim.

Além do roçado, da roupa e da cozinha, a mulher trabalha o algodão. Cheguei quando algodão já tinha sido colhido e assisti aos processos de secar ao sol, abrir, bater, fiar, tingir e tecer. Nas semanas de trabalho feminino coletivo, todas (ou quase todas) as mulheres da aldeia aparecem de madrugada na casa da mulher cujo algodão será fiado neste dia. O tratamento preparatório do algodão terá sido feito antes por cada mulher individualmente ou com as mulheres de sua casa. Num dia é fiado todo o algodão de uma casa. Nestas semanas outras atividades ficam quase paradas, dependentes do desempenho das meninas. As mulheres explicaram-me que este ritmo puxado não era legal, que era para a venda senão o fariam com mais calma.

As txipax (adolescentes iniciadas) participam da atividade coletiva somente depois de terem aprendido em casa a arte de fiar. “Senão as outras riem”. Kensinger (antropólogo que trabalhou junto aos Kaxinawá nos anos 1950 e 60) diz que na época que aprende a fiar a txipax não come arraia (Kensinger, 1981).

Outra atividade feminina é o fabrico de cesto (txuxan), abanos (paiati) e esteiras (pixin). São cestos de uso doméstico: uns para guardar e servir comida, outros, grandes e abertos, para colocar o algodão, e outros ainda para guardar coisas pessoais: agulhas, fios, brincos, pasta de urucum, perfume, etc. Os motivos usados nestes cestos, têm o mesmo nome de alguns dos motivos usados na rede e na pintura facial e corporal.

Nem todos os cestos, porém, são feitos pelas mulheres. Os kakan, para transportar lenha, e o kuki, para transportar banana e macaxeira, ambos os modelos grandes, para pendurar na testa e carregar nas costas, são feitos pelos homens, apesar e usados pelas mulheres. O kunpax é uma cesta provisória, feita de folhas, no lugar onde a caça foi achjada pelo caçador. E o bunanti é uma caixa redonda de folhas de cana brava (hewe tawa) feita pelos homens para guardar suas penas.Os Kaxinawá fazem uma distinção fundamental entre “plantado” e “da mata”. Esta distinção aplica-se também ao material do qual o cesto é feito: “cesto que homem faz é com cana brava, que pega na mata; mulher só trabalha com cana plantada”. A mulher e para seu uso interno: “mulher não faz cestos para o uso externo da mulher e para seu uso inter

no: “mulher não faz o cesto para homem guardar suas penas de jeito nenhum. Não pode!” (Antônio).

Há uns vinte anos, a cerâmica ainda fazia parte das tarefas freqüentes da mulher e do aprendizado da menina. Agora as panelas de barro foram substituídas por panelas de alumínio. “Panela de alumínio é mais leve e não quebra”, é o argumento, “mas é caro e nunca é tão grande quanto a panela que a gente usava antigamente para fazer caiçuma. Não é bom para festa, panela assim tão pequena” (Maria D.).

Trabalhos masculinos

A principal atividade aprendida pelos meninos é a caça. Em 1955 Kensinger (1975:28) encontrou os Kaxinawá usando somente arco e flecha. Em 1963 todo mundo já estava usando espingarda, mas sempre com o arco ao lado. Era comum ver meninos, a partir de dois anos de idade, exercitarem-se com arco e flecha, feitos no tamanho deles pelo pai ou txai (avô materno). Vi poucos meninos com arco. Mas os velhos continuam levando arco e flecha nos seus passeios pela mata e cada casa tem seus arcos e os três tipos de flechas. Em muitas casas, os homens dividem uma espingarda. Vi um caso onde três homens usavam a mesma espingarda, porque um dos três tinha trocado a sua por um toca-discos.

Quando um menino chega na idade de oito ou nove anos ele começa a acompanhar o pai na caça. Somente depois da iniciação, o bedunan (adolescente iniciado) pode se aventurar sozinho ou na companhia de um irmão ou cunhado. A caça tem mais segredos que a pontaria e o olhar agudo. O rapaz aprende a observar os hábitos de cada tipo de animal, a reconhecer seus rastros (kene), a imitar os gritos e assobios.

Quando o rapaz aprende a caçar certo tipo de animal, deixará de comê-lo durante o período desta iniciação específica. O caçador também deve evitar comer a carne da parte inferior do animal: a cabeça é o melhor, mas não se come a cabeça do animal que se matou, somente a cabeça que o txai lhe dá. O aprendiz não come da primeira caça que matou, senão ficará panema; e somente depois de ter matado um animal grande, anta, veado ou queixada, ele é considerado um caçador de verdade. Nesta ocasião ele é espargido com o sangue do animal que matou (Kensinger, 1975: 29).

A sorte na caça é crucial para o prestígio, e as causas da falta de sorte nem sempre são claras. Por isso, existem muitos remédios (dau) e práticas ritualizadas para conseguir a condição de marupiara (bom caçador). O arco (kanu) é tratado com certa reverência: “Só mulher feliz pode tocar no arco”. Depois de ter morto uma caça grande, o caçador costumava passar o sangue do animal no arco; “com espingarda a gente não faz isso”.

Antes do plantio a terra é brocada (derrubada da vegetação) e queimada, ambas as atividades feitas em grupo. A derrubada é um confronto direto com os yuxin da floresta, por isso nesse processo são dados gritos de guerra, os homens se pintam com urucum (vermelho é a cor dos yuxin da floresta), e cheiram rapé para ficarem mais fortes e corajosos. Enquanto os homens tocam fogo e gritam, com os rostos pintados de vermelho, uns cem metros afastados do lugar, as mulheres cantam para os yuxin, que lhes dêem fogo forte e roçados abundantes. Depois é oferecido um jantar coletivo com muita comida.

A maior parte das técnicas de pesca pertence igualmente ao domínio do homem. Os Kaxinawá usam dois tipos de timbó: a folha puikama e a raiz sika. O mais usado é o puikama, um arbusto plantado cujas folhas e flores colhidas pelas mulheres e amassadas pelos homens num pilão que serve somente a este fim. Desta pasta são feitas bolas (tunku) de um quilo que são guardadas em bolsas impermeabilizadas com borracha, ou em cestos cobertos com folhas de bananeira.

É este tipo de pesca feita também pelas mulheres. Quando as mulheres e avós da casa preparam uma pequena expedição com seus filhos, elas amassam uma quantidade para duas ou três bolas no pilão e vão até um igarapé pequeno. As bolas são diluídas (mutsa) na água e o veneno tem um efeito quase instantâneo sobre os peixes que, intoxicados, começam a pular e surgem à superfície. Crianças, velhos e mulheres andam na água com puçá e batem com força na água (kuxawe!:bate), pegam os peixes maiores com a mão, o que exige certa agilidade.

A pesca no lago é mais arriscada e feita somente por grupos de homens, e é utilizada a sika uma raiz altamente venenosa capaz de matar. O lago é o habitat de muitos animais e yuxin poderosos: o jacaré (kape), a anaconda (dunuan), a piranha (make), o yuxin kudu, monstro da água e o kuxuka, o boto, “que chora como gente, tem cara de gente, é gente, yuxin”.

A pesca com anzol era tradicionalmente feita pelos Kaxinawá. Mesmo antes do contato com os não-índios o anzol era cortado da junção do cúbito e do rádio do tatu, e a linha de pesca de envira.

No tempo que os Kaxinawá habitavam as terras mais altas e afastadas dos rios, a pesca era uma atividade secundária se comparada com a caça. Hoje em dia, porém, a pesca é tão importante quanto a caça e igualmente apreciada. O jacaré (kape), caçado de canoa no rio durante a noite (de lua nova ou minguante, por que a lua cheia – uxe badi: lua sol- ilumina demais) com bin (lanterna de caucho) e, quando tem pilha com nawan bin (lanterna), é uma carne muito apreciada assim com a carne mole e oleosa da arraia.

A coleta de frutos silvestres pode ser feita pelas mulheres, ou, se for preciso contar ou subir numa árvore, pelo homem, sua mulher e alguns filhos. Assim acontece com a coleta de açaí (pana), patoá (isa), sapota (itxibin), jaci (kuti), aricuri (xebum), bacaba (pedi isan) e palmito. Outros frutos são comidos quando encontrados no caminho: xena e xakapei: tipos de feijão silvestre que cresce em cipó, com uma polpa branca e doce ao redor das sementes. Comi também uma fruta de cor laranja (bumpe) e a fruta do murmuru (panikwa), além dessas existem outros frutos e cogumelos diversos que são coletados.

Os homens trazem frutas para casa geralmente quando não conseguem matar nada. O cacau é uma fruta muito apreciada. Não se usa a semente, somente a polpa branca e doce ao seu redor. O homem traz também o jenipapo, que as mulheres precisam para preparar a tinta para a pintura corporal.

Quanto a produção de borracha, os Kaxinawá produzem muito menos do que os seringueiros que vivem da borracha com dedicação exclusiva. Para os Kaxinawá do Purus (o que é diferente no Jordão e no Envira) a borracha só serve como pequena fonte de renda para, de vez em quando, poderem comprar munição ou sal quando passar um marreteiro (o que não é muito freqüente). A maior fonte de renda em Cana Recreio e em Moema é a tecelagem das mulheres. É com a venda de redes e capangas em Rio Branco, que a liderança abastece a cantina da comunidade.

 Nota sobre as fontes

Os Kaxinawa são os Pano mais conhecidos e sobre eles existe copioso material etnológico e histórico. Os primeiros escritos sobre os Kaxinawa apareceram no início do século da pena do padre francês Constantin Tastevin (1919, 1920, 1925a, 1925b, 1925c, 1926; Rivet & Tastevin, 1921), que descreve os costumes dos Kaxinawa que encontra durante suas viagens pela bacia do Juruá-Purus. Ainda durante as primeiras duas décadas deste século, aparece uma coleção extremamente valiosa de narrativas e mitos Kaxinawa, uma transcrição e tradução interlinear, produzida por Capistrano de Abreu (1913, 1941, 1969).

Kenneth Kensinger foi o primeiro antropólogo a viver com os Kaxinawa, no Peru. Kensinger produziu uma vasta coleção de trabalhos e artigos sobre virtualmente todos os tópicos que dizem respeito à vida e sociedade Kaxinawa. A geração de antropólogos que sucedeu a Kensinger deu continuidade às questões tratadas em seus trabalhos.

Igualmente no Peru, os Kaxinawa foram estudados por Keifenheim e Deshayes (1982, 1990, 1992, 1994). Ambos autores privilegiaram os temas de identidade e alteridade e sistemas classificatórios. Marcel D’Ans (1973, 1978, 1983) estudou o sistema de nominação e classificação das cores e elaborou um compêndio sobre mitologia.

No Brasil os Kaxinawa foram estudados por Aquino (1977), Iglesias (1993) e Lindenberg (1996), no rio Jordão, que centraram suas pesquisas nos temas de relações interétnicas e educação.

Os Kaxinawa do Alto Rio Purus, o mesmo grupo com quem obtive os dados para a realização de minha pesquisa etnográfica, foram estudados por McCallum. O estudo de McCallum focaliza a organização social e as relações de gênero. No contexto das relações de gênero a autora analisa o ritual Katxanawa.

Os estudos de Kensinger, Deshayes e Keifenheim e McCallum enquadram etnograficamente e etnologicamente este trabalho. Portanto, esta tese é o resultado do que aprendi de seus escritos somado às minhas próprias observações de campo, que procurei direcionar para áreas de interesse que até então não tinham sido suficientemente exploradas.

Em minha tese de mestrado – Uma etnografia da cultura Kaxinawá: entre a Cobra e o Inca, de 1991 – procurei dialogar com a literatura sobre os Kaxinawa e outros grupos Pano amarrando ponto a ponto as minhas contribuições às dos autores referidos acima. Já em minha tese de doutorado – Caminhos, duplos e corpos. Uma abordagem perspectivista da identidade e alteridade entre os Kaxinawa, de 1998 – procurei construir uma etnografia estruturada pelos próprios conceitos e reflexões Kaxinawa. Embora use a literatura sobre os Kaxinawa, em particular, e sobre os Pano, em geral, como referência, este trabalho foi concebido enquanto uma etnografia baseada e construída sobre o material proveniente de minha própria pesquisa.

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Aldeia Kaxinawa encontra saida na psicultura (Selecao Tropical). Dir.: Renato Barbieri. Video cor, VHS, 1996. Prod.: Carmem Figueiredo; MMA.
A estrada da autonomia. Dir.: Siã Kaxinawá; Vicente Kubrusly. Vídeo cor, S-VHS/VHS, 15 min., 1992. Prod.: CPI-SP.
Kaxinawá : the real people. Dir.: Siã Kaxinawá. Vídeo cor, S-VHS, 10 min., 1993. Prod.: Interlab.
Os povos do Tinton-Rene. Dir.: Sia Kaxinawa. Vídeo Cor, VHS, 25 min., 1992. Prod.: Interlab
Sous les grands arbres. Dir.: Michel Regnier. Filme cor, 16 mm, 58 min., 1991. Prod.: Jean-Marc Garand; ONF.