tag:blogger.com,1999:blog-23095080677373923062024-03-14T01:52:42.608-07:00Povos Indígenas BrasileirosEnciclopédia online sobre povos indígenas do Brasil, com ilustrações de Luiz Pagano, promovendo divulgação e amor pela cultura ancestral. Textos e referências de fontes confiáveis, como ISA, Blemya e Ame o Brasil. As Ilustrações lúdicas tem fins pedagógicos, sem estigmatizar culturas e fazer referencias a um único indivíduo, livre de direitos autorais, visa informar estudantes e acadêmicos.Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.comBlogger245125tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-62236595518564565662024-02-04T10:27:00.000-08:002024-02-06T10:55:13.850-08:00Fermentação de Frutas Indígenas e As Guerras do Cajú<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQu-zdUmXapKxkl6K08amNnD1yT4FAuvwU52cVsRZliIfWNtkxayCcFaoRAu-ELB8uYsIDpkEXx5Uk3RfwU9Zi8Jd9QBKJF_pBmcYldVWeI_L965r-EDaXaupA-ofxrkxk9pa4t4UabLwxFyg-Idb2bPxkED0v76by130EMCkM3tKuXyHXBSLGWVPQLF4/s1600/Guerras%20do%20Caju.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQu-zdUmXapKxkl6K08amNnD1yT4FAuvwU52cVsRZliIfWNtkxayCcFaoRAu-ELB8uYsIDpkEXx5Uk3RfwU9Zi8Jd9QBKJF_pBmcYldVWeI_L965r-EDaXaupA-ofxrkxk9pa4t4UabLwxFyg-Idb2bPxkED0v76by130EMCkM3tKuXyHXBSLGWVPQLF4/w640-h640/Guerras%20do%20Caju.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Todos os anos, nos meses de agosto a janeiro, os Aimorés, Tremembés e Goitacás e outros indígenas da etnia Jê, invadiam as terras litorâneas, de onde foram expulsos no passado, para entrar em conflito com os Caetes, Tupinaba e outras etnias do tronco Tupi-Guarani - motivo ? - O Caju!</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div style="text-align: left;"><div><b>As Guerra e os Caju - Dois Prazeres Ancestrais</b></div><div><br /></div><div>Segundo Lawrence H. Keeleyem seu livro War Before Civilization, relata que entre os povos indígenas das Américas, somente 13% não se envolvia em guerras com os vizinhos pelo menos uma vez ao ano. </div><div><br /></div><div>As chamadas "guerras do caju" eram uma das guerras cíclicas, como a Guerra do milho (guerra do avati) ou a época da desova de algum peixe, como a tainha (guerra da piracema). que foram ricamente documentadas, evidenciando uma ligação entre a natureza e os conflitos étnicos. </div><div><br /></div><div>A relação dos indígenas com o caju transcende o aspecto alimentar, ao contrário do cauim, o caju não precisava de processo de fermentação nem de ritual de preparo - o calor e a umidade permitiram que esse fruto fermentasse ainda na árvore, como um rico presente dos Deuses, transformando-se em símbolo estratégico em contextos de guerras frequentes entre aldeias de etnias do grupo étnico Tupi-Guarani que ocuparam a força todo o litoral, contra so do grupo Jê que foram expulsos para o interior. </div><div><br /></div><div>Nos mêses de agosto a janeiro, período que é marcado pela safra deste fruto, marcava o tempo propício para empreender batalhas, a mobilização militar indígena envolvia assembléias compostas por homens adultos, decidindo questões bélicas. </div><div><br /></div><div>A logística incluía a construção de canoas, preparação de flechas, cozimento de farinha e consulta ao pajé, que interpretava sonhos. As mulheres desempenhavam papel vital, carregando alimentos, cuidando da logística e acompanhando os guerreiros, enquanto os guerreiros, liderados pelos "roncadores," marchavam em fila indiana, sendo instigados pelo som da inúbia. </div><div><br /></div><div><div>Uma descrição de Thevet revela um pouco da divisão de tarefas:</div><div><br /></div><div>Seguem as esposas a seus maridos na guerra, não porque vão combater, a exemplo das amazonas, mas porque precisam carregar os alimentos e deles cuidar, assim como transportar outras munições necessárias à guerra (pois, algumas vezes, empreendem viagens, que duram de cinco a seis meses). E, quando partem para essas longas guerras, os selvagens lançam fogo às suas palhoças, ocultando, na terra, os bens de maior valor, que só tornam a buscar quando regressam da empresa.</div><div><br /></div><div>Na ato da partida (também em todas as ocasiões em que levantam acampamento), os “roncadores” fazem soar a inúbia, espécie de oboé destinado a alvoroçar e a incentivar os guerreiros. Cada guerreiro transporta suas armas, a rede e sua porção de farinha. Os líderes são acompanhados pelas mulheres. Marcham em fila indiana, os mais valentes na dianteira. No mar, não se afastam muito da costa. Assim que se atingem terras alheias, o espia trata de abrir o caminho ao exército.</div><div><br /></div><div>Com relação à capacidade de mobilização, para a guerra de cerco, André Thevet relata expedições militares que duram até um semestre. Hans Staden testemunha um cerco de quase um mês. José de Anchieta testemunha operações militares dos tamoios envolvendo quarenta e oito canoas, o que na média significava uma tropa de quase quinhentos guerreiros.</div></div><div><br /></div><div>O uso de plumas e adornos destacava-se como parte integrante do aparato militar. As expedições militares, muitas durando meses, testemunhavam a resistência e mobilização significativas das tribos, revelando uma complexa estrutura social e militar entre os povos indígenas.</div><div><br /></div><div>Durante a safra de caju os indígenas macro-jês do interior realizavam incursões ao litoral dominado pelos tupis para colher a fruta. A resistência tupi levava à expulsão de muitas etnias macro-jês para o interior do Brasil.</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDCXdIAOxm-SoOoIBkV4GQqDxYfTeDJGXLzG_J9b2xmZZwzDr5mFXRYV-TGMTYn_IK_FC0yHqKBHmFW3tz9Yki9EXQqEqQJDp38PUXBuDweldaqrwHnsPUzYwCdmAfaq9w5G1ySotj88TdjFAjs28BewzMmRZ2rc0m2pTxSw2eyeyJ5sahitIlw1mIADM/s974/hevet%20acajou.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="974" data-original-width="592" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDCXdIAOxm-SoOoIBkV4GQqDxYfTeDJGXLzG_J9b2xmZZwzDr5mFXRYV-TGMTYn_IK_FC0yHqKBHmFW3tz9Yki9EXQqEqQJDp38PUXBuDweldaqrwHnsPUzYwCdmAfaq9w5G1ySotj88TdjFAjs28BewzMmRZ2rc0m2pTxSw2eyeyJ5sahitIlw1mIADM/w388-h640/hevet%20acajou.jpg" width="388" /></a></div><br /><div>No entanto, algumas aldeias macro-jês, como os tremembés, aimorés e goitacás, conseguiram resistir e permanecer na costa brasileira. Os goitacás, por exemplo, foram derrotados somente em 1631, dispersando-se pelo interior dos atuais estados brasileiros de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, passando a ser conhecidos como puris, coroados e coropós.</div><div><br /></div><div>As etnias macro-jês ofereceram grande resistência à colonização portuguesa, sendo responsáveis pela morte de colonos e pelo fracasso de várias capitanias hereditárias. Algumas aldeias jês se aliaram aos neerlandeses durante a invasão do nordeste brasileiro no século XVII, como a nação tarairiu.</div><div><br /></div><div>Além disso, as aldeias específicas, como os tremembés, eram originalmente nômades e ocupavam extensas regiões litorâneas. Eram pescadores, cultivavam mandioca e algodão, e apreciavam o caju. Os aimorés, por sua vez, resistiram aos colonos portugueses e foram responsáveis pelo fracasso de capitanias como Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo.</div><div><br /></div><div>Os registros históricos destacam a agressividade dos macro-jês, como os Aimorés (botocudos), considerados pelos colonizadores como muito agressivos. A descrição dos aimorés como inimigos formidáveis, "gente esquisita e agreste", destaca a beligernâcia entre etnias antigas do Brasil.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_27UGZB_cNzE1yDd_GmImJyDJrbSrME756wePiSmq9GjEuk3YXwJtghSN0o7Fof9V4iqIhT4AyqMsfyhqFSq7tho14wMiS0UXXrhTO0IvNkfY28ZFwMnUvx_rEIL2EM2C6TH_XK35yGXQfFyHFdjH-EUckusOAapVptZzJXGYIl8n4B93Dl5Vm_bWkjo/s1600/Frutas%20de%20Fermentac%CC%A7a%CC%83o%20Exponta%CC%82nea%20%20Apreciadas%20pelos%20Indi%CC%81genas.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_27UGZB_cNzE1yDd_GmImJyDJrbSrME756wePiSmq9GjEuk3YXwJtghSN0o7Fof9V4iqIhT4AyqMsfyhqFSq7tho14wMiS0UXXrhTO0IvNkfY28ZFwMnUvx_rEIL2EM2C6TH_XK35yGXQfFyHFdjH-EUckusOAapVptZzJXGYIl8n4B93Dl5Vm_bWkjo/w640-h640/Frutas%20de%20Fermentac%CC%A7a%CC%83o%20Exponta%CC%82nea%20%20Apreciadas%20pelos%20Indi%CC%81genas.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">O caju (Anacardium occidentale) era sem dúvida a fruta mais adorada pelos antigos indígenas, a pontao de guerrearem por ela. No entanto, outras frutas como o Kumbaru, chamado Chañar na Argentina e no Chile (Geoffroea decorticans) e a Algaroba (Prosopis juliflora) também ofereciam bebidas fermentadas naturalmente bastante apreciadas.</span></td></tr></tbody></table><br /><div><b>Presente dos Deuses</b></div><div><div><br /></div><div>Além do caju, outras frutas tiveram grande impacto nas comunidades indígenas por fermentarem ainda presas às árvores, como o chañar, que é citado como uma fruta que desempenha um papel na culinária indígena. Vamos abordar algumas das frutas citadas:</div><div><br /></div><div><b>Kumbaru (Chañar no sul):</b></div><div><b><br /></b></div><div>Outra fruta que fornecia o tal presente dos Deuses era o Kumbaru (<i>Geoffroea decorticans</i>), chamado pelo argentinos e chilenos de Chañar, que eram esmagados e misturados com água, passando por um processo de fermentação para criar uma variedade de bebida.</div><div><br /></div><div>É uma árvore típica da região Sul do Brasil, muito apreciada pelos Carijós e Charruas, que amadurecia durante o verão. Esses frutos, de odor forte e farinhentos, semelhante ao cheiro de percevejos na opinião do autor, eram esmagados, misturados com água e deixados ao calor para fermentação (Florian Paucke, 2010, p. 308). </div><div><br /></div><div>Ao contrário das outras variedades de bebida, essa não parece ter um preparo ou consumo especial.</div><div><br /></div><div><b>Algarroba:</b></div><div><br /></div><div>Temos também a bebida realizada a partir do fruto da algarroba, conhecida como amap para indicar a árvore específica. Com coloração amarelada, essa fruta era coletada em fevereiro nos bosques e consumida apenas quando madura. Após ser seca ao sol e esmigalhada usando os pés, era colocada em um couro, similar ao processo de preparação do mel. </div><div><br /></div><div>Água era adicionada e, em seguida, a mistura era deixada ao sol para fermentar. Essa bebida exalava um odor tão forte que era possível identificar a casa onde era feita de longe. </div><div><br /></div><div>Florian Paucke destaca aspectos positivos dessa variedade, como sua capacidade de alimentar bem, expulsar umidades ruins do corpo, trazer boas forças e encorpar o indivíduo. Essa específica variedade também era chamada de chicha por outros povos, e pelos mocovies, era denominada latoga, sendo o ñapé o couro utilizado no processo de preparo (Florian Paucke, 2010, p. 308). </div><div><b><br /></b></div><div>Utilizada na preparação de uma bebida específica, essa fruta era colhida nos bosques durante determinada época do ano. A algarroba, após secar ao sol e ser fermentada, resultava em uma bebida com propriedades alimentares e energéticas.</div></div><div><div>A algarroba era frequentemente adicionada à bebida de milho na preparação de bebidas fermentadas pelos indígenas na região da Bacia do Prata.</div><div><br /></div><div><div><b>Aluá – Abacaxi e outros </b></div><div><br /></div><div>O aluá, fermentado de abacaxi é dos fermentados de frutas no Brasil, uma fascinante fusão de influências culturais, com imigrantes e colonizadores desempenhando papéis significativos nesse desenvolvimento. </div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcGz_icILMIekyQh5w7Rj0HcNmuSUroTVCg2xpyVDLusQffHuH2sLgxJeu56L0i_r36TsnCilTNlHr8QvUjH9dr1tNeaBnaVhNDjN7xay_mDPij64U2ilTcXENn201ptwFVGb9EYTQ-evmSi2g9c_2LViFp3abugLozXf0FII_-8kSwshGMguZF1Zxa70/s1600/Alua%CC%81.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcGz_icILMIekyQh5w7Rj0HcNmuSUroTVCg2xpyVDLusQffHuH2sLgxJeu56L0i_r36TsnCilTNlHr8QvUjH9dr1tNeaBnaVhNDjN7xay_mDPij64U2ilTcXENn201ptwFVGb9EYTQ-evmSi2g9c_2LViFp3abugLozXf0FII_-8kSwshGMguZF1Zxa70/w640-h640/Alua%CC%81.jpg" width="640" /></a></div><br /><div>O refinamento desses processos, exemplificado pelo método de enterrar garrafas do aluá para assegurar temperaturas adequadas, destaca não apenas a habilidade técnica, mas também a valorização da fermentação espontânea. Essa forma de fermentação ocorre naturalmente, quando os açúcares presentes nas frutas entram em contato com fungos suspensos no ar e nas cascas das frutas. É interessante notar que alguns grupos indígenas consideravam essa fermentação espontânea como um presente dos deuses, enfatizando a ligação cultural e espiritual com esses processos.</div><div><br /></div><div>A preparação do Aluá de abacaxi envolve fermentação, resultando em uma bebida refrescante e gaseificada. Aqui está uma receita básica:</div><div><br /></div><div><b>Ingredientes:</b></div><div><br /></div><div>Casca de abacaxi (pode incluir a polpa, mas geralmente é focado na casca para evitar que a bebida fique muito doce)</div><div>Açúcar ou rapadura para adoçar</div><div>Gengibre para sabor e picância</div><div>Água potável</div><div>Milho, que é o agente fermentador</div><div><br /></div><div><b>Instruções:</b></div><div><br /></div><div>Limpe bem a casca do abacaxi.</div><div><br /></div><div>Corte a casca em pedaços pequenos.</div><div><br /></div><div>Em um recipiente grande, adicione a casca de abacaxi, gengibre ralado, açúcar ou rapadura a gosto e milho.</div><div><br /></div><div>Cubra os ingredientes com água potável.</div><div><br /></div><div>Deixe a mistura descansar em local fresco e escuro por alguns dias. O tempo de fermentação pode variar, geralmente de 2 a 5 dias, dependendo da temperatura ambiente.</div><div><br /></div><div>Mexa a mistura ocasionalmente para garantir uma fermentação uniforme.</div><div>Coe a mistura para remover os sólidos, resultando no líquido fermentado.</div><div>Engarrafe o líquido e deixe descansar por mais alguns dias para desenvolver gás natural.</div><div><br /></div><div>Mantenha refrigerado e sirva frio.</div><div><br /></div><div>Outras frutas podem ser adicionadas para experimentar diferentes sabores, como maçã, pêssego ou morango. O Aluá é uma bebida bastante versátil, permitindo variações conforme as preferências regionais e pessoais.</div><div><br /></div><div><b>Enterra da Garrafa</b></div><div><br /></div><div>A prática de enterrar garrafas está associada a métodos tradicionais de fermentação e maturação de bebidas, como o Aluá. Enterrar as garrafas serve a diversos propósitos no processo de produção.</div><div><br /></div><div><b>Isolamento Térmico e Controle Ambiental:</b> Ao enterrar as garrafas, cria-se um ambiente mais estável termicamente, protegendo a bebida de variações de temperatura. Isso contribui para o desenvolvimento de sabores e aromas característicos.</div><div><br /></div><div><b>Proteção contra Luz:</b> A ausência de luz no subsolo evita reações químicas indesejadas causadas pela exposição à luz, mantendo a integridade dos compostos presentes na bebida.</div><div><br /></div><div><b>Pressão Controlada:</b> A fermentação pode gerar dióxido de carbono, resultando em uma bebida gaseificada. Enterrando as garrafas, é possível controlar a pressão gerada durante esse processo.</div><div><br /></div><div><b>Simbolismo Cultural: </b>Além dos benefícios técnicos, o ato de enterrar as garrafas pode ter significados simbólicos ligados a práticas culturais e rituais locais, tornando-se uma parte integrante da tradição.</div><div><br /></div><div>Essa prática ancestral não apenas influencia as características organolépticas da bebida, mas também destaca a riqueza cultural e a ligação com as práticas tradicionais de comunidades específicas.</div><div><br /></div><div><b>Preservação e Maturação:</b> Enterrar as garrafas proporciona condições ambientais consistentes, mantendo uma temperatura mais estável e protegendo a bebida contra variações climáticas. Isso contribui para uma fermentação mais controlada e maturação adequada, resultando em um Aluá com sabores aprimorados.</div><div><br /></div><div><b>Microflora do Solo:</b> O contato com o solo acrescenta uma dimensão única à fermentação. Os microrganismos presentes no solo podem influenciar a composição e o sabor do Aluá, criando características terrosas distintas. Essa prática não apenas conserva, mas também enriquece a bebida com elementos do ambiente local.</div><div><br /></div><div><b>Rituais e Celebrações:</b> Além dos benefícios práticos, enterrar as garrafas assume um significado ritualístico. Desenterrar a bebida em momentos específicos, como festividades ou rituais, simboliza a transformação e renovação. É uma maneira de conectar a bebida à vida comunitária e destacar seu papel em eventos significativos.</div><div><br /></div><div><b>Transmissão Cultural: </b>A decisão de enterrar as garrafas foi transmitida ao longo das gerações como parte do conhecimento cultural indígena. A prática reflete a sabedoria acumulada sobre a fermentação, respeitando a natureza e incorporando elementos do ambiente ao processo.</div></div><div><br /></div><div><br /></div></div><div><b>Referências Bibliográficas</b></div><div><br /></div><div><div><div>BRANDÃO, Carlos Rodrigues. "Os Guarani: índios do Sul – religião, resistência e adaptação."</div><div><br /></div></div><div>BUENO, Eduardo. "Brasil: uma História." São Paulo: Ática, 2002.</div><div><br /></div><div>BUENO, Eduardo. "Capitães do Brasil – A Saga dos Primeiros Colonizadores." Coleção Terra Brasilis. Objetiva, 1999.</div><div><br /></div><div>CLASTRES, Pierre. "A Sociedade Contra o Estado," p. 48.</div><div><br /></div><div>FIGUEIRA, José Joaquín. "Breviario de Etnología y Arqueología del Uruguay."</div><div><br /></div><div>GALVÃO, R.. "Arte Tremembé." Fortaleza: SEBRAE-CE.</div><div><br /></div><div><div>KEEGAN, John. (2006). Uma História da Guerra. São Paulo: Companhia das Letras.</div><div><br /></div><div>KEELEY, Lawrence H. (1996) War Before Civilization. New York: Oxford University Press.</div></div><div><br /></div><div>KOK, Glória. "Descalços, violentos e famintos." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. pp.23 a 24.</div><div><br /></div><div>MONTEIRO, John. "Bandeiras Mestiças." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. pp.17 a 21.</div><div><br /></div><div>NEVES, Erivaldo Fagundes. "Guerra aos Tapuias." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. p.35.</div><div><br /></div><div>NEUMANN, Eduardo Santos. "Vale o escrito." Dossiê Jesuítas in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 7, nº 81, p. 19.</div><div><br /></div><div><div>PERUSSET, Macarena; Rosso, Cintia N. Guerra. "Canibalismo y Venganza Colonial: Los Casos Mocoví y Guaraní."</div><div><br /></div></div><div>RESENDE, Maria Leônia Chaves de. "Sertão mineiro loteado à força." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. p.37.</div><div><br /></div><div><div>PAUCKE, Florian. Hacia allá y para cá. Ministerio de Innovación y Cultura de la</div><div>Provincia de Santa Fe, 2010.</div></div><div><br /></div><div>SILVA, Isabelle Braz Peixoto da. "Vilas de índios no Ceará Grande: dinâmicas locais sob o diretório pombalino." Campinas: Unicamp, 2003.</div><div><br /></div><div><div>SILVA, Reginaldo Miranda da. "Piauí de paulista." Dossiê Bandeirantes in Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, nº 34. p.36.</div></div><div><br /></div><div>STADEM, Hans. "Duas Viagens ao Brasil."</div><div><br /></div><div>Web:</div><div><br /></div><div>Dialetico – "Tapuias"</div><div>Jornal A União – "A origem siberiana dos Tarairus."</div><div>Olimpiadas Nacionales de Contenidos Educativos en Internet – "La cultura Guaraní: ¿Un Paraíso Terrenal?"</div><div>Villarrica, seção Folklore – "Los Guaraníes"</div><div>Povos Indígenas no Brasil – "Tupiniquim," "Potiguara," "Tremembé"</div><div>Blog Família Naves – "Cidade de São Paulo (458 anos), Berço da família Naves no Brasil"</div><div>IBGE, Brasil 500 – "Os números da população indígena."</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-51710181868665189342023-09-15T08:16:00.007-07:002024-01-17T09:14:05.236-08:00A Importância Espiritual do Morro Careca do Inhapuambuçu<div style="text-align: left;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD0QKRutbTto_1O9HLBHhbFwnFftKl-eBOeErgmJ0KWx0wS2y-KfUkfLZr8ZH2S01Slcd4sDh1hZP09yp3DMJVK3NvVySA1pl0EtKIdpuBDsI2MTZD8yhkTos2AvVPMe1-YRCFXsFlpEXX2nSynhRCslu43Gs7QFTZfcPVV0iQ9Jn5gWJtV5VmlM8rybo/s1310/INHAPUAMBUC%CC%A7U.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD0QKRutbTto_1O9HLBHhbFwnFftKl-eBOeErgmJ0KWx0wS2y-KfUkfLZr8ZH2S01Slcd4sDh1hZP09yp3DMJVK3NvVySA1pl0EtKIdpuBDsI2MTZD8yhkTos2AvVPMe1-YRCFXsFlpEXX2nSynhRCslu43Gs7QFTZfcPVV0iQ9Jn5gWJtV5VmlM8rybo/w640-h582/INHAPUAMBUC%CC%A7U.jpg" width="640" /></a></div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaIZCNnyp6oM8YOn4aHDaZMEx6yuol3o3S59UyYY13eipWG00mPFV804FUwE21B-kvpOjF6UzAIEvt9Di3TpUzehiZr6iQZMFeg3kySCnZ_TrhllAsEiae7JVlm6QZW5ue9G3FfTFC3UYplb73qiSDrwHWCoHLIgcPX083dNAiBoIJGI5qxMb4VokBzfQt/s1600/Piratininga%20-%20Copy%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br class="Apple-interchange-newline" /><br /></a></div></div><div>A maior parte das aquarelas de Debret foram feitas para retratar o Rio de Janeiro, no entanto, para meu prazer há algumas em São Paulo - uma delas chama especial atenção por retratar uma pedra calva no que era a Vila de Inhapuampbuçu.</div><div><br /></div><div><b>O Enigma da Aquarela de Debret</b></div><div><br /></div><div>Há algum tempo tentei identificar onde estava esta pedra e acreditei, por influência de alguns biógrafos, geógrafos e historiadores, que a pedra ficava próxima do Mosteiro de São Bento.</div><div><br /></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaIZCNnyp6oM8YOn4aHDaZMEx6yuol3o3S59UyYY13eipWG00mPFV804FUwE21B-kvpOjF6UzAIEvt9Di3TpUzehiZr6iQZMFeg3kySCnZ_TrhllAsEiae7JVlm6QZW5ue9G3FfTFC3UYplb73qiSDrwHWCoHLIgcPX083dNAiBoIJGI5qxMb4VokBzfQt/s1600/Piratininga%20-%20Copy%20(2).jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="866" data-original-width="1600" height="346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaIZCNnyp6oM8YOn4aHDaZMEx6yuol3o3S59UyYY13eipWG00mPFV804FUwE21B-kvpOjF6UzAIEvt9Di3TpUzehiZr6iQZMFeg3kySCnZ_TrhllAsEiae7JVlm6QZW5ue9G3FfTFC3UYplb73qiSDrwHWCoHLIgcPX083dNAiBoIJGI5qxMb4VokBzfQt/w640-h346/Piratininga%20-%20Copy%20(2).jpg" width="640" /></a></div><div><br /></div><div>Era quase uma unanimidade em dizer que a aquarela panorâmica de São Paulo de Piratininga tinha proporções erradas. Como ilustrador que admira muito o trabalho e a precisão do Debret, tenho certeza que ele jamais cometeria um erro tão grosseiro. </div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUMp-KV6d_-9v2pJR3lu_17oguntwmuhRnKczQvmcq9Qq7MYYWE3YJz_xdBF6_ssyenqegwTtZ-bMCdr5PssSqhXGLCehXAGhnRd4rguDOrM4S6XK7_a1TeWrl48a3Iyp3G62v_oVf7VsExtgH6K7zpy3j_ftD6NNxegiI4brBY8avA4f5pGknEsHF9EEr/s1200/Obras%2023%20de%20maio.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUMp-KV6d_-9v2pJR3lu_17oguntwmuhRnKczQvmcq9Qq7MYYWE3YJz_xdBF6_ssyenqegwTtZ-bMCdr5PssSqhXGLCehXAGhnRd4rguDOrM4S6XK7_a1TeWrl48a3Iyp3G62v_oVf7VsExtgH6K7zpy3j_ftD6NNxegiI4brBY8avA4f5pGknEsHF9EEr/w640-h480/Obras%2023%20de%20maio.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Hoje é muito difícil perceber os relevos da Acrópole Piratiningana, mas quando olhamos as fotos da época das obras de canalização do córrego Itororó e construção da avenida 23 de Maio, podemos perceber a grande elevação do terreno da antiga Praça da Forca (vide torre Capela Santa Cruz das Almas dos Enforcados do lado esquerdo)</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Mas de fato, algo sempre parecia estar errado, a pedra não se encaixava na paisagem.</div><div><br /></div><div>Ao andar pelas minha desconfiança só aumentava, ficava cada vez mais claro que aquela região não suportaria uma pedra daquele tamanho naquelas dimensões. Pesquisei bastante, andei pela cidade mais algumas vezes, olhei em vários ângulos e notei que a aquarela do Debret estava sendo vista do ponto errado.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFTx1u2o1D4XeymZXZbRQzFsyqBobUzVuggjCfHmbbCsx5VhS0reB5uX8pBHBDVJvgqjMLHzxTdQaELXHfK1ceLCMgOXrpjsQ72tda0nV0rhxMnc7wOdiUtdsfu5Ut5nkibQvcUXxvwMVBMnHrmdYnzehCg-kRBSiC0UUzb9f2OiZTBsDzudGpC79r_jpL/s1792/Correspondencia%20entre%20os%20pre%CC%81dios.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1792" data-original-width="1550" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFTx1u2o1D4XeymZXZbRQzFsyqBobUzVuggjCfHmbbCsx5VhS0reB5uX8pBHBDVJvgqjMLHzxTdQaELXHfK1ceLCMgOXrpjsQ72tda0nV0rhxMnc7wOdiUtdsfu5Ut5nkibQvcUXxvwMVBMnHrmdYnzehCg-kRBSiC0UUzb9f2OiZTBsDzudGpC79r_jpL/w554-h640/Correspondencia%20entre%20os%20pre%CC%81dios.jpg" width="554" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">A correspondência entre os prédios, o ângulo e suas localizações é inegável, a fortificação foi colocada adicionamento só para ajudar como referência - na época de Debret, obviamente, já não havia mais as muralhas.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><b>A Várzea do Carmo</b></div><div><br /></div><div>Para que a pedra realmente ficasse próxima ao Mosteiro de São Bento seria necessário que Debret estivesse fazendo uma aquarela em alguma região do Parque do Carmo, mas como sabemos o parque é um alagadiço plano, e na aquarela há uma elevação e uma árvore, que da vista para o vale, o que induz queo o artista estva em num ponto alto. Na parte oeste do Vale do Anhangabaú, existem vários pontos altos. </div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif7FffwiHkRulfrytGFnI2v_Gzu-u1FP3qA1qq1lS2KiKIF292ov-BA7tEWwawn2W3XXPBynPfwGjns0ZIGakE3faTpDsEeyWzZiCVaNsrDHb0k3Gr0VRcISLZuh-4k1VjWweEengXbOxNy9xwRAWRj2UHgFIIDbBVtY_w3FZRx3P7n01coKKmgTPbdyEx/s1600/Inhapuambuc%CC%A7u%20noite.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif7FffwiHkRulfrytGFnI2v_Gzu-u1FP3qA1qq1lS2KiKIF292ov-BA7tEWwawn2W3XXPBynPfwGjns0ZIGakE3faTpDsEeyWzZiCVaNsrDHb0k3Gr0VRcISLZuh-4k1VjWweEengXbOxNy9xwRAWRj2UHgFIIDbBVtY_w3FZRx3P7n01coKKmgTPbdyEx/w640-h640/Inhapuambuc%CC%A7u%20noite.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">A Pedra Careca do Inhapuambuçu tinha grande importância espiritual para a Aldeia de Tibiriça </span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQkqYLRs_4jhrh8qw3fD9pluMDPD14GHIYWl_ydmP4jwgtYVkb1woqFjbZxUyvhMbITR--26WsX2fQe6CnBVxpYifSnS7Gw8QPL-q3-m7Q_X5i0Q1geoSTDoxcA6r7rSmV2rJyLUy2rny_a5NvULlx1OBmeB81xOoS64TUUpYlH-6bQ5FQuW0cHFZ2qVJ3/s1600/Inhapuambuc%CC%A7u%202.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQkqYLRs_4jhrh8qw3fD9pluMDPD14GHIYWl_ydmP4jwgtYVkb1woqFjbZxUyvhMbITR--26WsX2fQe6CnBVxpYifSnS7Gw8QPL-q3-m7Q_X5i0Q1geoSTDoxcA6r7rSmV2rJyLUy2rny_a5NvULlx1OBmeB81xOoS64TUUpYlH-6bQ5FQuW0cHFZ2qVJ3/w640-h640/Inhapuambuc%CC%A7u%202.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Se a cidade não tivesse mudado tanto sua paisagem, essa seria a vista que teríamos hoje da Pedra Careca do Inhapumabuçu.<br /><br /></span></td></tr></tbody></table><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6sYpubx1tcaluSVjBuHbX9_xqLCdXdKre0TYGfEEe0JYq9mohVzYpeu3sG1R9UU_wY-z7x2_qoH8Inz88KHIqjHZNt3RiXpVYV3gBi7bkt4lXFcQYfID7cITGGVD0bti1tRvqz56yldAmdEHa61dFEUQ-Ora5DlqMxAZRR36ZNqaJTj7AON9BDHdmsSkk/s1600/Jardim%20Oriental%20Liverdade%201.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6sYpubx1tcaluSVjBuHbX9_xqLCdXdKre0TYGfEEe0JYq9mohVzYpeu3sG1R9UU_wY-z7x2_qoH8Inz88KHIqjHZNt3RiXpVYV3gBi7bkt4lXFcQYfID7cITGGVD0bti1tRvqz56yldAmdEHa61dFEUQ-Ora5DlqMxAZRR36ZNqaJTj7AON9BDHdmsSkk/w640-h640/Jardim%20Oriental%20Liverdade%201.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Vista atua do Jardim Oriental da Liberdade, onde foi a Pedra Careca do Inhapuambuçu.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Assim que descobri isso, fui procurar pontos altos da cidade que dessem vista para a acrópole piratiningana, tarefa considerada quase impossível devido à enorme quantidade de prédios, o relevo da cidade fica escondido no meio de tantas construções - só conseguimos conhecer o relevo subindo e descendo as varias ladeiras da cidade.</div><div><br /></div><div>Com tantas avenidas, fica difícil enxergar onde realmente era acrópole piratiningana.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6dHEuMDzVLFAlDzESdCVtg_4aEKTD3APgU-xiGZEMIf7PwMhgHcMDEuix-rimiIYyxMnbZakCUhroQw_RZ5vj7SDmjIeZjS6-u_-rl5CfxHCzgpdhgbaXAVCRHzHUrJhvSEXYOegEiPcHiOwsIPy4dH6zzPHslJBDsdx5mNFauOWqk_35WMCqcMrY4zXl/s941/Sao%20paulo%20de%20Debret%201.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="659" data-original-width="941" height="448" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6dHEuMDzVLFAlDzESdCVtg_4aEKTD3APgU-xiGZEMIf7PwMhgHcMDEuix-rimiIYyxMnbZakCUhroQw_RZ5vj7SDmjIeZjS6-u_-rl5CfxHCzgpdhgbaXAVCRHzHUrJhvSEXYOegEiPcHiOwsIPy4dH6zzPHslJBDsdx5mNFauOWqk_35WMCqcMrY4zXl/w640-h448/Sao%20paulo%20de%20Debret%201.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Uma vez identificado o ângulo onde estava Debret, a posição e o ângulo de observação dos edifícios e igrejas e a passagem do vale, com um trecho de planície alagada próximo à pedra, é fácil extrapolar uma vista aérea da Acrópole de Piratininga...</span></td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXx8R3TuwR0LulyKqrL8ERNQJlPqUJh7fLLuCj1zuCiqUfIo2SUMOW1M5on_68kGWwiUubWB4q86FZzshrecQe6iHSx-7yIcE-cO07bUTrISj-AcN7GJEohpaQKaTIx0iKfOfX9gt31kxVeRNJJGeTl6iXuGL_HEjx8BtjM4ZyKYVUXY43RGx78w1xuDcr/s941/Sao%20paulo%20de%20Debret%202.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="696" data-original-width="941" height="474" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXx8R3TuwR0LulyKqrL8ERNQJlPqUJh7fLLuCj1zuCiqUfIo2SUMOW1M5on_68kGWwiUubWB4q86FZzshrecQe6iHSx-7yIcE-cO07bUTrISj-AcN7GJEohpaQKaTIx0iKfOfX9gt31kxVeRNJJGeTl6iXuGL_HEjx8BtjM4ZyKYVUXY43RGx78w1xuDcr/w640-h474/Sao%20paulo%20de%20Debret%202.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">...e sobrepô-lo ao atual cenário caótico das construções urbanas atuais.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Vendo as fotos da época das obras da Avenida 23 de Maio, sobre o Vale do Itororó, fica claro que Debret estava em algum lugar da rua Conde de São Joaquim, próximo ao viaduto Condeça de São Joaquim.</div><div><br /></div><div>A partir dai, fica tudo mais fácil, tudo o que tenho que fazer é comparar mapas antigos e o panorama da cidade. E confirmando o que eu já esperava, Debret não se equivocou, ele foi preciso.</div><div><br /></div><div>Descreveu a cidade nos mínimos detalhes, os prédios laterais da Sé e do Pátio do Collégio, a quantidade de torres que existiam nas suas na Vila, batia perfeitamente.</div><div><br /></div><div>Tudo estava onde deveria estar, mas ainda assim aquela pedra careca era um mistério, ficava fora das fortificações da vila, próximo ao Aldeia do Tibiriçá. Com isso, percebi que o único lugar plausível para que aquela pedra pudesse estar onde é o hoje o Jardim Oriental da Liberdade.</div><div><br /></div><div>É importante ressaltar que devido à localização do antigo Cemitério dos Aflitos na região, o grande portal xintoísta 'Torii' vermelho que recebe os visitantes no viaduto da Rua Galvão Bueno, cosnstruído para homenagear os primeiros imigrantes japoneses que aqui chegaram em 1912, e a pedra calva do inhapuambuçu, que teve importância espiritual para Tibiriça e para os habitantes da aldeia; tornam aqula região num ponto de grande importância geomântica, que carrega uma enorme egrégora espiritual.</div><div><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></div><div><div><b><span style="font-size: medium;">A Região Espiritual do Inhapuambuçu e Sua Transformação ao Longo dos Anos</span></b></div><div><br /></div><div>A região onde atualmente se encontra o trinagulo histórico e o bairro da Liberdade, em São Paulo, tem uma história fascinante de profunda importância espiritual para os Tupis que a habitavam antes da chegada dos portugueses, passando para a sua época sombria na qual os africanos que aqui foram escravizados tiveram seu cemitério, e por fim, para os japoeneses que chegaram, em contínua tranferência espiritual através do tempo aos Japoneses que lá chegavam, culminando com o qu é hoje o Jarim Orintal e o portal da Liberdade, o Torii, marcando a historica importancia espeititual da regiao. </div><div><br /></div><div><b>História Espiritual do Inhapaumbuçu</b></div><div><br /></div><div>Como vimos anteriormente, a Aldeia de Inhapuambuçu localizava-se aproximadamente onde hoje fica o calçadão do Fórum João Mendes e a pedra careca na quadra do Morro da Forca até o viaduto da cidade de Osaka, onde hoje fica o Jardim Oriental.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0DqQrqi6NUH50b1pRFKlevK72rHeWQxs3IfWe7Lhq5JRydy_RFwYIseQUMqMcUhfJW98CPSyUCZrE0wgeBhCEuSAH9apXhFvWJX4rpEpPXlTR_0BNImQEbDmFqiPX3KR9EJfSdNYEm0UoXJ5YVn-KmtoMvAHUJHJ9dtv4PPKysrs2w-LXVbptiaqAzAdl/s1600/Inhapuambuc%CC%A7u%204.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1202" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0DqQrqi6NUH50b1pRFKlevK72rHeWQxs3IfWe7Lhq5JRydy_RFwYIseQUMqMcUhfJW98CPSyUCZrE0wgeBhCEuSAH9apXhFvWJX4rpEpPXlTR_0BNImQEbDmFqiPX3KR9EJfSdNYEm0UoXJ5YVn-KmtoMvAHUJHJ9dtv4PPKysrs2w-LXVbptiaqAzAdl/w480-h640/Inhapuambuc%CC%A7u%204.jpeg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Jardim Japonês, é um elemento de profundo significado espiritual na região da pedra careca, no bairro da Liberdade. Este jardim é muito mais do que uma mera decoração; ele representa a harmonia, a espiritualidade e a ligação com a cultura japonesa, cada elemento do jardim, desde as carpas coloridas até as lanternas suzurantou, tem um significado especial. As carpas, por exemplo, são símbolos de boa sorte, coragem e determinação, quando nadam contra a correnteza, elas representam a superação de desafios.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Antes da chegada dos colonizadores europeus, essa região era habitada por povos indígenas Tupis, para esses ancestrais, a Pedra Careca do Inhapuambuçu já era um local de grande importância espiritual, embora não tenhamos registros exatos de datas, sabemos que a área já possuía uma carga cultural significativa que remonta à pré-história da região.</div><div><br /></div><div>Nos fins de Agosto de 1553 o Padre Manuel da Nóbrega visitou a recém-criada aldeia Inhapuambuçu, onde os índigenas estavam em processo de conversão ao cristianismo. O local foi escolhido com base em sua topografia e hidrografia favoráveis, tornando-o ideal para a criação de um núcleo de catequese e fudação da Vila de São Paulo de Piratininga.</div><div><br /></div><div>Naquela época, a principal atividade econômica era o fornecimento de gado que percorria algumas estradas, onde ficavam fazendas e alguns casas foram construídas. A Liberdade foi considerada uma zona periférica até ao século XIX, altura em que era conhecido como Bairro da Pólvora, graças à Casa de Pólvora, construída em 1754 no actual Largo com o mesmo nome.</div><div><br /></div><div>Em 1779, próximo ao antigo Largo da Forca, foi estabelecido o primeiro cemitério público em São Paulo, localizado entre as ruas Galvão Bueno, Glória e Estudantes, destinado ao sepultamento de indigentes, escravos e condenados à forca até 1858, quando foi inaugurado o Cemitério da Consolação. </div><div><br /></div><div>A partir de 1810, no então Bairro da Pólvora, houve um aumento na concessão de terras, vendas e divisões de sítios na área, devido ao crescimento populacional em São Paulo. Em 1850, as autoridades pressionaram os proprietários de diversos terrenos na cidade para que melhor aproveitassem suas terras, isso levou muitos latifundiários a abrir ruas, alamedas e largos em suas propriedades, fazendo arruamentos e loteamentos, o que teve um impacto decisivo na transformação da região.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgQ93A6Vozl6pEcpw9EhJ1CjfypRCMVVrua8I3g0gzWXVe3yXcBrZL-xtGuF9TfHaQ2pi0OJpNN47NH2MdsGF4wbKMvO-IbF-1FjCCrt5BY8eaIeLGPGoibCMBp6ao3EwPYMPH6eM3vrXWFW3qoRoFoig57duVeuTCT70R558MFtfNJg4MArBSmFvvyZ3E/s1600/Inhapuambuc%CC%A7u%203.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1202" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgQ93A6Vozl6pEcpw9EhJ1CjfypRCMVVrua8I3g0gzWXVe3yXcBrZL-xtGuF9TfHaQ2pi0OJpNN47NH2MdsGF4wbKMvO-IbF-1FjCCrt5BY8eaIeLGPGoibCMBp6ao3EwPYMPH6eM3vrXWFW3qoRoFoig57duVeuTCT70R558MFtfNJg4MArBSmFvvyZ3E/w480-h640/Inhapuambuc%CC%A7u%203.jpeg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">O centro de São Paulo está localizado em uma região que possui solos predominantemente sedimentares, compostos por diversas camadas geológicas. Na aquarela de Debret, a pedra calva aparece com uma curiosa exposição de rochas riscadas, parte da geologia local, com aspecto de granito. É possível que o granito, rocha ígnea intrusiva, geralmente formada por minerais como quartzo, feldspato e mica, possa estar incluído nas camadas geológicas do acrópole paulistana. As pistas da formação rochosas podem estar presentes nas pedras do jardim, como esta curiosa pedra com marcas verticais, provavelmente extraidas do próprio local onde se encontra.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><div>Em 1912 os imigrantes japoneses passaram a residir na rua Conde de Sarzedas, ladeira íngreme, onde na parte baixa havia um riacho e uma área de mangue.</div><div><br /></div><div>Um dos motivos de procurarem essa rua é que quase todas tinha porões, e os aluguéis dos quartos no subsolo eram incrivelmente baratos. Nesses quartos moravam apenas grupos de pessoas. Para aqueles imigrantes, aquele cantinho da cidade de São Paulo significava esperança por dias melhores. Por ser um bairro central, de lá poderiam se locomover facilmente para os locais de trabalho.</div><div><br /></div><div>Já nessa época começaram a surgir as atividades comerciais: uma hospedaria, um empório, uma casa que fabricava tofu (queijo de soja), outra que fabricava manju (doce japonês) e também firmas agenciadoras de empregos, formando assim a “rua dos japoneses”.</div><div><br /></div><div>Em 1915 foi fundada a Taisho Shogakko (Escola Primária Taisho), que ajudou na educação dos filhos de japoneses, então em número aproximado de 300 pessoas.Em 23 de julho de 1953, Yoshikazu Tanaka inaugurou na rua Galvão Bueno um prédio de 5 andares, com salão, restaurante, hotel e uma grande sala de projeção no andar térreo, para 1.500 espectadores, batizado de Cine Niterói. Eram exibidos semanalmente filmes diferentes produzidos no Japão, para o entretenimento dos japoneses de São Paulo.</div><div><br /></div><div>A rua Galvão Bueno passa a ser o centro do bairro japonês, crescendo ao redor do Cine Niterói, Em abril de 1964 foi inaugurado o prédio da Associação Cultural Japonesa de São Paulo (Bunkyô) na esquina das ruas São Joaquim e Galvão Bueno.Em 1965 foi fundada a Associação de Confraternização dos Lojistas do Bairro da Liberdade, precursora da Associação Cultural e Assistencial da Liberdade – ACAL, sob a presidência de Yoshikazu Tanaka, para defender os interesses do bairro perante as autoridades municipais e estaduais. Com a crescente criminalidade do bairro, promovem encontro com os responsáveis pela Secretaria de Segurança Pública, Polícias Civil e Militar.</div><div><br /></div><div>A Liberdade passa a ser o local de visita obrigatória para todos os visitantes da cidade. Em 1967, o bairro recebeu a visita do então Príncipe Herdeiro Akihito e da Princesa Michiko, hoje o Casal Imperial do Japão.</div></div><div><br /></div><div>O ano de 1968 marca o início das mudanças significativas na Liberdade. A construção da Diametral Leste-Oeste forçou o Cine Niterói, um dos marcos da prosperidade do bairro, a mudar-se para outra localização, a rua Conselheiro Furtado, que era estreita, foi alargada, diminuindo a força comercial do local. Com a construção da estação Liberdade do metrô na década de 70, alguns pontos comerciais das ruas Galvão Bueno e da Avenida Liberdade também desapareceram.</div><div><br /></div><div>Em julho de 1941 região teve outro momento triste importante quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial. O governo brasileiro ordenou a suspensão da publicação de jornais em língua japonesa, o que afetou a comunidade japonesa estabelecida na área, e em 1942, com o início da guerra no Pacífico, o governo de Getúlio Vargas rompeu relações diplomáticas com o Japão, resultando no fechamento do Consulado Geral do Japão em São Paulo. </div><div><br /></div><div>Em 6 de setembro de 1942 a situação atingiu seu ápice quando o governo decretou a expulsão dos japoneses que residiam nas ruas Conde de Sarzedas e Estudantes, alterando profundamente a dinâmica da região.</div><div><br /></div><div><div>Somente em 1945, após a rendição do Japão, é que a situação voltou à normalidade na região.</div><div><br /></div><div>A Liberdade passa a ser o local de visita obrigatória para todos os visitantes da cidade. Em 1967, o bairro recebeu a visita do então Príncipe Herdeiro Akihito e da Princesa Michiko, hoje o Casal Imperial do Japão.</div><div> </div><div>Em 23 de julho de 1953, Yoshikazu Tanaka inaugurou na rua Galvão Bueno um prédio de 5 andares, com salão, restaurante, hotel e uma grande sala de projeção no andar térreo, para 1.500 espectadores, batizado de Cine Niterói. Eram exibidos semanalmente filmes diferentes produzidos no Japão, para o entretenimento dos japoneses de São Paulo.</div><div> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlPrlkhbLnBo5D_l8S_2MHe-kLi4e1w8soZslFaFi85sdOo4-qfoCz4ipoq8U54M9E4aV_CkedlD1X_M694REBQS9Fugaxe-OtbOe4Asq5RRIeQt3nG0YEyweeZNHUI54WCe2ZNWdpBumAq3K5k1y_vPK7EnMZ7FnL1gwWwREUyfiST6--ick0sE-Y4dTS/s1600/Inhapuambuc%CC%A7u%201.jpeg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1202" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlPrlkhbLnBo5D_l8S_2MHe-kLi4e1w8soZslFaFi85sdOo4-qfoCz4ipoq8U54M9E4aV_CkedlD1X_M694REBQS9Fugaxe-OtbOe4Asq5RRIeQt3nG0YEyweeZNHUI54WCe2ZNWdpBumAq3K5k1y_vPK7EnMZ7FnL1gwWwREUyfiST6--ick0sE-Y4dTS/w640-h480/Inhapuambuc%CC%A7u%201.jpeg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Hoje ainda pode-se encontrar este mirante no Jardim Oriental. O Inhapuambuçu, significa “morro que se vê ao longe” em Tupi Antigo. É uma pena que a vegetação local e as construções de prédios, bem como as modificações causadas pelas terraplanagens, tenham feito Inhapumbucu perder a antiga 'bela vista' voltada para o Bixiga, que teve no passado - talvez daí o nome Bela Vista para Brairro do Bixiga.</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div>A rua Galvão Bueno passa a ser o centro do bairro japonês, crescendo ao redor do Cine Niterói, tendo recebido parte dos comerciantes expulsos da rua Conde de Sarzedas. Era ali que os japoneses podiam encontrar um cantinho do Japão e matar saudades da terra natal. Na sua época áurea, funcionavam na região os cines Niterói, Nippon (na rua Santa Luzia – atual sede da Associação Aichi Kenjin kai), Jóia (na praça Carlos Gomes – hoje igreja evangélica) e Tokyo (rua São Joaquim – também igreja).</div><div><br /></div><div>Em abril de 1964 foi inaugurado o prédio da Associação Cultural Japonesa de São Paulo (Bunkyô) na esquina das ruas São Joaquim e Galvão Bueno.</div><div><br /></div><div>Em 1965 foi fundada a Associação de Confraternização dos Lojistas do Bairro da Liberdade, precursora da Associação Cultural e Assistencial da Liberdade – ACAL, sob a presidência de Yoshikazu Tanaka, para defender os interesses do bairro perante as autoridades municipais e estaduais. Com a crescente criminalidade do bairro, promovem encontro com os responsáveis pela Secretaria de Segurança Pública, Polícias Civil e Militar.</div><div><br /></div><div>A Liberdade passa a ser o local de visita obrigatória para todos os visitantes da cidade. Em 1967, o bairro recebeu a visita do então Príncipe Herdeiro Akihito e da Princesa Michiko, hoje o Casal Imperial do Japão.</div><div><br /></div><div>Na década de 60, as atividades e os interesses dos japoneses em São Paulo foram conduzidas pela Associação Cultural Japonesa (hoje Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa) e pela Associação dos Lojistas, pois eram as duas entidades mais representativas da comunidade.</div><div><br /></div><div>O ano de 1968 representou o início das mudanças no bairro. A Diametral Leste-Oeste obrigou o cine Niterói, marco inicial da prosperidade do bairro, a se mudar para a esquina da avenida Liberdade com a rua Barão de Iguape (atualmente funciona no local o Hotel Barão Lu). A rua Conselheiro Furtado, que era estreita, foi alargada, diminuindo a força comercial do local. Além disso, com a construção da estação Liberdade do metrô, na década de 70, alguns pontos comerciais das ruas Galvão Bueno e na Avenida Liberdade desapareceram.</div></div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT0QnJyxdETmF1zCHuHaAhHejqzkTop2enQpM-UV9xdgY9mHJ7m3wv90j_SPO6jIQWHihR1Dfw4Ef-vaK9h5SpmB95lH5hOj417Mwy02RDT5qwbAtOmOdtTF7cypjK0rCTnkzT1MSnBj47Bp_hD0Pun_ddLzHeuICaNFZty_oZ0ZsKz5DDH0GAyL07uZMb/s1000/Torii%20de%201974.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="974" data-original-width="1000" height="624" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhT0QnJyxdETmF1zCHuHaAhHejqzkTop2enQpM-UV9xdgY9mHJ7m3wv90j_SPO6jIQWHihR1Dfw4Ef-vaK9h5SpmB95lH5hOj417Mwy02RDT5qwbAtOmOdtTF7cypjK0rCTnkzT1MSnBj47Bp_hD0Pun_ddLzHeuICaNFZty_oZ0ZsKz5DDH0GAyL07uZMb/w640-h624/Torii%20de%201974.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">O Torii da liberdade, inaugrado erguido em 1974 pela associação de logistas 鳥居 é um símbolo icônico da cultura japonesa com profundo significado espiritual e simbolismo. Ele é frequentemente visto nas entradas de santuários xintoístas e também em alguns templos budistas no Japão. Em sua escrita o 鳥 (Tori): Esta parte do ideograma significa "pássaro", refere-se a algo que voa no céu, simboliza a ligação entre o mundo terreno e o mundo espiritual, e 居 (I) significa "estar" ou "existir". Juntos, "Tori" e "I" formam a palavra "Torii", que pode ser traduzida como "portal onde os deuses estão presentes". Em resumo, o Torii representa a transição do mundo humano para o mundo espiritual, marcando a entrada para um espaço sagrado, onde os deuses podem ser encontrados. </span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Um dos marcos mais emblemáticos na história da Liberdade ocorreu em 1974, quando uma reforma significativa transformou a área, culminando na instalação do Torii, um portal japonês que marca a entrada do bairro e o Jardim Oriental sobre a Pedra Careca, que adicionou uma dimensão espiritual e estética à região.</div></div><div><br /></div><div><b>Egrégora espiritual do Povo Brasileiro</b></div><div><br /></div><div><div>Apedra careca do Inhapumabuçu, hoje Jardim Oriental, é hoje um importante ponto de conexão com os ancestrais Tupis, os primeiros habitantes da região, que ali celebravam suas crenças, honrando os espíritos da terra e dos antigos, dos africanos escravizados, quado essa região testemunhou a mairo tristeza historica brasileira, acarretando uma transformação espiritual significativa. </div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhrHpqlZ3MxBtXotiwRjZTklCmqfPu38U_DtlnwSt3D_Pa_ay1WZpmXJEe0aTYD2vcDLZo5O4i1_LFWrsaQQYVoMdK8F-l2U6IT-xxoIqjMq5_ZlnVndNEb9LqMxeLGdSR8gGrzoPDj0Qi9Hnlle2oV7IhyTEfM4xrpJy-lUCdWck5IV_fTeEvrbJVJrYr/s2448/Chico%20Ghibli%20liberdade.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1632" data-original-width="2448" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhrHpqlZ3MxBtXotiwRjZTklCmqfPu38U_DtlnwSt3D_Pa_ay1WZpmXJEe0aTYD2vcDLZo5O4i1_LFWrsaQQYVoMdK8F-l2U6IT-xxoIqjMq5_ZlnVndNEb9LqMxeLGdSR8gGrzoPDj0Qi9Hnlle2oV7IhyTEfM4xrpJy-lUCdWck5IV_fTeEvrbJVJrYr/w640-h426/Chico%20Ghibli%20liberdade.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Inspirado nas energias espirituais da Liberdade, proximo ao Inhapuanbuçu, fiz há algum tempo, essa ilustração misturando elementos espirituais que formam o Brasil, como se fossem feitas por Hayao Miyazaki (宮崎 駿), co fundador do Studio Ghibli. Na imagem vemos o gigante Anhangá que habita as matas do Anhangabaú, ali próximo, Curupira e o Saci caminhando atrás de uma mulher encarnada, as bolas de fuligem, inevitáveis na cidade de São Paulo, Ootori Sama e o Espírito do Rabanete observando o santo homem do bairro, Chaguinhas. As lanternas japonesas suzurantou, com sua iluminação suave, convidam à contemplação e à meditação. Elas são um símbolo da luz que guia o caminho espiritual. Além disso, o brasão mitsudomoe, que adorna várias partes do jardim, é um emblema que tem raízes profundas na cultura japonesa e pode ter várias interpretações, incluindo a representação do ciclo da vida, morte e renascimento.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Os africanos trouxeram consigo suas tradições espirituais, como o candomblé e a umbanda, e incorporaram essas crenças à terra que pisavam. É curioso ver a grande quantidade de centros espíritas, de coandombé e Umbanda que se formaram na região desde o Largo da Forca até a Vila Mariana, local onde africanos e afro-brasileiros se reuniam para celebrar suas festividades religiosas, tornando-o um ponto vital da herança espiritual afro-brasileira.</div><div><br /></div><div>E a migração da energia espiritual não parou por aí, com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses na virada do século 20, a área viveu outra enorme mudança espiritual, os japoneses trouxeram consigo o xintoísmo e o budismo, enriquecendo ainda mais a tapeçaria espiritual da Liberdade. - O Largo da Forca, outrora palco de punições, transformou-se em um local onde se ergueu um Torii majestoso, símbolo de entrada e transição entre o mundo material e espiritual.</div><div><br /></div><div>Hoje, a região da Pedra Careca do Inhapuambuçu abriga um deslumbrante jardim japonês, com carpas nadando de forma serena sob lanternas orientais. É aqui que todas essas energias espirituais convergem e se misturam, a migração de crenças e tradições, da espiritualidade Tupi à africana e à japonesa, transformou este lugar na área de maior egrégora espiritual na formação do povo brasileiro, é um testemunho da capacidade humana de se adaptar, aprender e crescer espiritualmente, refletindo a diversidade e a riqueza cultural do Brasil.</div></div><div><br /></div><div><b>Referências Blilbiográficas</b></div><div><br /></div><div><div>ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte : Itatiaia/Edusp, 1982. (Coleção Reconquista do Brasil). Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em: 20/07/2012.</div><div>ANCHIETA, José de. Arte de Grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil. Coimbra: Antonio de Mariz, 1595. Disponível em: < http://www .brasiliana.usp. br/bbd/handle/1918/00059200#page /1/mode/1up>. Acesso em: 18/01/2013.</div><div>Anchieta, José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões do Padre Joseph de Anchieta, S,I. (1554-1594). Rio de Janeiro: Publicações da Academia Brasileira - Coleção Afranio Peixoto, 1933. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp .br/bbd/handle/1918/00381630>. Acesso em: 19/01/2013.</div><div>ANCHIETA, José de. Arte de Grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil. Coimbra: Antonio de Mariz, 1595. Disponível em: < http://www .brasiliana.usp. br/bbd/handle/1918/00059200#page /1/mode/1up>. Acesso em: 18/01/2013.</div><div>Anchieta, José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões do Padre Joseph de Anchieta, S,I. (1554-1594). Rio de Janeiro: Publicações da Academia Brasileira - Coleção Afranio Peixoto, 1933. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp .br/bbd/handle/1918/00381630>. Acesso em: 19/01/2013.</div><div>ANCHIETA, José de. Arte de Grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil. Coimbra: Antonio de Mariz, 1595. Disponível em: < http://www .brasiliana.usp. br/bbd/handle/1918/00059200#page /1/mode/1up>. Acesso em: 18/01/2013.</div><div>Anchieta, José de. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões do Padre Joseph de Anchieta, S,I. (1554-1594). Rio de Janeiro: Publicações da Academia Brasileira - Coleção Afranio Peixoto, 1933. Disponível em: <http://www.brasiliana.usp .br/bbd/handle/1918/00381630>. Acesso em: 19/01/2013.</div><div>ANCHEITA,José de. Carta ao Padre Diogo Laines, 16 de abril de 1563, Cap, pg. 194</div><div>BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil colonial: o governo do Morgado de Mateus em São Paulo: 1765-1775. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1979.</div><div>CÂMARA, Marcos P. de Arruda. Exclusão espacial nas cidades coloniais. Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, v. 4, n. 3, p. 584-601, 2012. Disponível em: < http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php /shcu/article/download/469/445>. Acesso em: 20/05/2013</div><div>FERREIRA, Flavio. Cidades coloniais brasileiras e espanholas na América: uma abordagem comparativa. Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, v. 4, n. 3, p. 557-562, 2012. Disponível em: < http://www.anpur.org.br/ revista/rbeur/index.php/shcu/article/download/466/442>. Acesso em: 15/04/2013.</div><div>FLEXOR, Maria Helena Ochi. Os terreiros das aldeias indígenas jesuíticas. Anais: Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, v. 9, n. 2, 2012. Disponível em: < http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/shcu/article/view/1133>. Acesso em: 15/04/2013.</div><div>HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos do Sertão. In Revista de História. São Paulo, no54:69 – III, 1964.</div><div>LONDOÑO, Fernando Torres. Escrevendo cartas. Jesuítas, escrita e missão no século XVI. Revista brasileira de História, v. 22, n. 43, p. 11-32, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbh/v22n43/10908.pdf>. Acesso em: 08/06/2013.</div><div>LUÍS, Washington. Na capitania de São Vicente. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. 410 p. -- (Edições do Senado Federal; v. 24).</div><div>MACEDO, José Rivair. Org. Os Estudos Medievais no Brasil. Catálogo de Dissertações e Teses: Filosofia, História, Letras, (1990-2002) disponível: <www.abrem. org.br copiar.php arquivo=CatalogoTeses.pdf>. Acesso em: 05/05/2013.</div><div>MONTEIRO, Jphn Manuel, Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo, Companhia das Letras, 1994, P. 194</div><div>REIS FILHO, Nestor Goulart dos. Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial.</div><div>São Paulo: FAUUSP/ IPHAN, 2000.</div><div>REIS, P. P. dos. O Caminho novo da Piedade no nordeste da Capitania de São</div><div>Paulo. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1971. p.195</div><div>SAMAPHISTORICA.wordpress.com/2016/02/03/memorias-do-sr-takeda-e-do-itororo/</div><div>WERNET, Augusto. Vida Religiosa em São Paulo: do Colégio dos jesuítas à diversificação de cultos e crenças (1554-1954). In: PORTA, Paula (Org.). História da Cidade de São Paulo, v:1: a cidade colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004. Pags. 191-216.</div><div>WILLEKE, Venâncio. Missões Franciscanas no Brasil (1500-1975). Petrópolis: Vozes, 1974.</div></div><div><br /></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-59565719680916857282023-06-05T13:52:00.010-07:002023-06-09T14:11:58.671-07:00A arte Indígena dos Tecidos e Trançados<div style="text-align: left;"> </div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYBJrPF1flHCfEH6LkC0ThSCqJHYN3VhRkN0c8bolgNbQc-GRO0Wg0PVJdFUQoTF4XU-5H-pn1knD-udsC3BwM3fqfcCxeZJTA9RfNAKsLOMo6r7sta3IzjNzfitcGpm-tclu9kj-G8JaR9ON9vDXTT9Q_B5MNRIJiOIc73Hr0eFQ6KFM04isShWjVvQ/s1600/A%20arte%20Indi%CC%81gena%20dos%20Tecidos%20e%20Tranc%CC%A7ados%2011.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYBJrPF1flHCfEH6LkC0ThSCqJHYN3VhRkN0c8bolgNbQc-GRO0Wg0PVJdFUQoTF4XU-5H-pn1knD-udsC3BwM3fqfcCxeZJTA9RfNAKsLOMo6r7sta3IzjNzfitcGpm-tclu9kj-G8JaR9ON9vDXTT9Q_B5MNRIJiOIc73Hr0eFQ6KFM04isShWjVvQ/w640-h640/A%20arte%20Indi%CC%81gena%20dos%20Tecidos%20e%20Tranc%CC%A7ados%2011.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Kushma, vestimenta tradicional Ashaninka, observe que os homens usam listras verticais e gola "V", enquanto as mulheres usam listras horizontais e gola "U".</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Os trançados, cordões e tecidos trançados desempenham um papel fundamental na vida cotidiana das comunidades indígenas, são utilizados tanto para funções práticas, como o armazenamento de objetos pessoais e alimentos, quanto para expressar a estética corporal, estabelecendo conexões entre diferentes grupos sociais.</div><div><br /></div><div>Na vida da aldeia são essenciais para transportar e processar os alimentos necessários à subsistência diária. Cestos trançados são utilizados para colher, armazenar e transportar frutas, raízes e outros produtos da natureza. Esses objetos desempenham um papel central nas atividades de sustento da comunidade, permitindo a organização e o compartilhamento dos recursos alimentares.</div><div><br /></div><div>Além de sua função prática também desempenham um papel significativo na expressão da identidade cultural e na estética corporal das comunidades indígenas. Eles contribuem para a individualização sexual e etária, definindo papéis de gênero e marcando diferentes fases da vida, como rituais de iniciação e funerários.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxbXlfhpaPy45_xHibKNCQChdI-LQuaZBRB4Y4HXd1wNFyzdXT_XNGDSGC_XXCJCOt1wvCETsez3e27CNjzXyXxuvIlOUHHSkuOfU1rMFuxpWQUpK2ZM99wLS2YASP6AJPFxE-mRqbhT7-L7nBo0InnYTwm7I316QGw_lGJyRaL5wZb7kGWXIIebs65w/s1600/tranc%CC%A7ados.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxbXlfhpaPy45_xHibKNCQChdI-LQuaZBRB4Y4HXd1wNFyzdXT_XNGDSGC_XXCJCOt1wvCETsez3e27CNjzXyXxuvIlOUHHSkuOfU1rMFuxpWQUpK2ZM99wLS2YASP6AJPFxE-mRqbhT7-L7nBo0InnYTwm7I316QGw_lGJyRaL5wZb7kGWXIIebs65w/w640-h640/tranc%CC%A7ados.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Alguns exemplos de trançados indígenas: arapuca Tenetehara, caniçado Tenetehara, trançado costurado espacejado dos Canela-Ramkokamekra, trançado costurado com falso nó e trançado costurado com ponto longo.</span></td></tr></tbody></table><div><br />Os objetos trançados, como cintos, tipóias ou suportes para ornatos plumários, são adornos utilizados para realçar a beleza e transmitir símbolos culturais. Eles refletem a conexão profunda entre a sociedade e o corpo de seus membros, intermediando a ação social e transmitindo significados culturais.</div><div><br /></div><div>A preservação e valorização desses tecidos trançados são importantes para as comunidades indígenas. No entanto, a inserção desses artefatos nos museus, que remonta ao século XIX, muitas vezes não representa a totalidade da produção cesteira das sociedades indígenas. A seleção dos objetos exibidos nos museus é influenciada por interesses individuais e logísticos, resultando em coleções que podem não refletir a diversidade e a riqueza cultural dessas comunidades.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNANiMgGW3MSuTsoBa5ve4kNeuH6Ahf1DivgZ_yOsQlnh6uhV6ggDrCKRdQFJ2s1zIWC-QuiVSE-pcb9SCsyt3SV-Y09eCqD6DlbQ4Y5vwlioZEuR8Gwz87hKhFSim8ybFdh0Ybn4EGwgX--NxM_phzYAksYmQXCvjx0V5VCFexQvrkobGVUYbIYLj/s1600/Exemplos%20de%20te%CC%81cnicas%20de%20tranc%CC%A7ado.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNANiMgGW3MSuTsoBa5ve4kNeuH6Ahf1DivgZ_yOsQlnh6uhV6ggDrCKRdQFJ2s1zIWC-QuiVSE-pcb9SCsyt3SV-Y09eCqD6DlbQ4Y5vwlioZEuR8Gwz87hKhFSim8ybFdh0Ybn4EGwgX--NxM_phzYAksYmQXCvjx0V5VCFexQvrkobGVUYbIYLj/w640-h640/Exemplos%20de%20te%CC%81cnicas%20de%20tranc%CC%A7ado.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Exemplos de técnicas de trançados - quadriculado dos Makuxi; sarjado - casa de abelha dos Kaiaby; sarjado - espinha de peixe com folíulos de buriti, dos Kuikuro; sarjado gradeado (quadricular diagonal) dos Taurepang; a seguir vemos elementos de cores diferentes podem ser utilizados, formando padrões gráficos que simulam a aparência de animais, (Berta Ribeiro 1988:61) chama essa técnica de marchetado. marchetado: hexagonal reticular dos indígenas do Rio Branco; enlaçado embricado dos indígenas do Alto Rio Negro, enlaçado com grade dos Makuxi e torcido vertical dos Xavante. </span></td></tr></tbody></table><br /><div>A abordagem museológica dos tecidos trançados muitas vezes foca apenas na técnica produtiva dos artefatos, desconsiderando outras dimensões importantes, como a material-prima utilizada, a forma de confecção, a decoração e a função de cada objeto. É essencial considerar a visão e a categorização indígena dos tecidos trançados, reconhecendo sua importância como expressões culturais e não apenas como peças artesanais.</div><div><div><br /></div><div><b>Trançados de Fibras e Palhas</b></div><div><br /></div><div>Trançados de fibra de palha são comumente encontrados em comunidades indígenas, onde as plantas nativas fornecem matéria-prima abundante. Essas fibras são extraídas das plantas, geralmente por meio de um processo de secagem e tratamento, para garantir a maleabilidade e resistência necessárias para a tecelagem. Os trançados com fibras de palha podem ser usados para criar uma variedade de objetos, como cestos, esteiras, bolsas e chapéus. Esses materiais naturais conferem aos produtos um aspecto rústico e uma conexão com a natureza.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-xtPZ6vN0JrO62hjA0PL4wTlJ4ZAmI0TV8zCJKr6a20tU8s66b3cvoWiROWKRvhS6y6q3y7VFldtAAI48LU5zsa9woIjmvZxKUhVgmxUX2fiv0G5yFC0Lj8m2lQ6vj1IkjUyKfelQ03w8ti232Lj9Alv7_C8yOV3y0azP74-bibtDS6l8Npc_qmdNYA/s1600/001%20Tranc%CC%A7ados%20de%20fibra%20e%20palha.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-xtPZ6vN0JrO62hjA0PL4wTlJ4ZAmI0TV8zCJKr6a20tU8s66b3cvoWiROWKRvhS6y6q3y7VFldtAAI48LU5zsa9woIjmvZxKUhVgmxUX2fiv0G5yFC0Lj8m2lQ6vj1IkjUyKfelQ03w8ti232Lj9Alv7_C8yOV3y0azP74-bibtDS6l8Npc_qmdNYA/w640-h640/001%20Tranc%CC%A7ados%20de%20fibra%20e%20palha.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Trançados de fibras e palha, aqui vemos um cesto platiforme Tikuna da comunidade AMATÜ, detalhe do arremate de borda com reforço entretraçado</span> </td></tr></tbody></table><br /><div>A fibra de arumã (<i>Ischnosiphon polyphyllus</i>) é uma planta da família das matantáceas; uma espécie de cana de colmo liso e reto, que oferece superfícies planas, flexíveis, que suportam o corte de talas milimétricas; </div><div><br /></div><div>Esse colmo é descascado, raspado, ariado e pode ser tingido ou mantido na cor natural; também usado com casca, que lhe confere maior resistência e uma cor pardo clara laqueada. O arumã, ou guarimã é utilizado pelos povos indígenas amazônicos, a partir do Maranhão, onde a planta, que tem várias espécies, cresce em regiões semi-alagadas.</div><div><br /></div><div>É um material extremamente importante para os Ticuna e Baniwa, entre outros. A Associação das Mulheres Artesãs Ticuna de Bom Caminho, AMATÜ, por exemplo, foi criada com a finalidade de organizar a produção e comercialização dos artesanatos de mais de 120 artesãos, visando a valorização e divulgação da cultura Ticuna. </div><div><br /></div><div>Os Ticuna possuem um profundo conhecimento sobre as plantas da região e têm habilidades tradicionais de extração e processamento da fibra de arumã.</div><div><br /></div><div>Os artesãos Ticuna dominam a técnica de trançado dessa fibra, produzindo cestos, bolsas, esteiras e outros objetos utilitários. O trançado da fibra de arumã é uma tradição transmitida de geração em geração e desempenha um papel cultural importante.</div><div><br /></div><div>Além de garantir retorno financeiro à aldeia, o uso da fibra de arumã na comunidade Ticuna está intimamente ligada à sua relação com a natureza e ao respeito pelos recursos naturais. Os Ticuna têm um profundo conhecimento sobre as plantas e suas propriedades, incluindo as características da fibra de arumã e as melhores formas de usá-la. Eles seguem práticas sustentáveis de coleta, garantindo a preservação das plantas e a renovação dos recursos naturais.</div><div><br /></div><div><div><b>O Umbigo</b></div><div><br /></div><div>O termo "umbigo" é utilizado para descrever o início do trançado de cestos, inspirado na nomenclatura dos índios Tiriyó (Frikel 1973:15), o "umbigo" simboliza o centro e nascedouro do artefato trançado.</div><div><br /></div><div>De acordo com a classificação proposta por Adovasio (1977), os "centros dos cestos" são classificados em três categorias principais: sarjado, torcido e costurado. No entanto, o autor não atribui nomes aos tipos mais comuns, considerando que há tantas variantes que uma taxonomia universalmente aplicável e aceitável é impossível.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5e7p0au3H2dCulf3pdSvTp1EKEdrgZAHq6ZLTQ8IhaT6RSIMaBB5JKiuVoyE8rASbqprNS3OejJlnkKQEK3wYxxY1JxIDcWkZ-PcTRZNqhYxkShQsCzbNU4n-UnBAaB6By8lp1JUjky_pqFX89aRTh3jS80suFc-Nc3X0GAh8N2V1AXvHesVV9ao8SQ/s1600/Umbigos.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5e7p0au3H2dCulf3pdSvTp1EKEdrgZAHq6ZLTQ8IhaT6RSIMaBB5JKiuVoyE8rASbqprNS3OejJlnkKQEK3wYxxY1JxIDcWkZ-PcTRZNqhYxkShQsCzbNU4n-UnBAaB6By8lp1JUjky_pqFX89aRTh3jS80suFc-Nc3X0GAh8N2V1AXvHesVV9ao8SQ/w640-h640/Umbigos.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Cestos Yanomami, Xotehe, Mororohima e Wii, são cestos trançados de cipó titica (Heteropsis flexuosa) com fios de fungo negro com um rizomorfo de fungo preto chamado uxixi kɨkɨ (Marasmius yanomami) na região do Rio Demini e tiras de raízes da palmeira paxiubinha; Umbigo asterisco dos Makú; asteriscos multiplos dos Sanumá; Umbigo vitória régia, da comunidade de Barcelos, AM; Umbigo diamante dos Sanumá e Umbigo radial, paradigma indigenas do Brasil.</span></td></tr></tbody></table><br /><div>No caso dos trançados entretorcidos, o tipo "umbigo asterisco" é obtido colocando os elementos da urdidura em posição radial e envolvendo-os com uma trama, adicionando gradualmente novas talas ao urdume. O trabalho continua seguindo o esquema de trançado torcido.</div><div><br /></div><div>Segundo as três categorias principais em que divide o trançado: sarjado, torcido e costurado, procedimento que também adoto. Entretanto, ele não atribui nomes aos tipos mais correntes que</div><div>seleciona como paradigmas, mesmo porque considera que as</div><div>variantes são tantas que " . . . o estabelecimento de uma taxonomia universalmente aplicável e aceitável é impossível".</div></div><div><br /></div><div>Dessa forma, a fibra de arumã desempenha um papel significativo na cultura Ticuna do Bom Caminho, representando sua conexão com a natureza, suas tradições ancestrais e a preservação de suas práticas artesanais.</div><div><br /></div><div><b>Trançados com Fios e Tecidos</b></div><div><br /></div><div>Por outro lado, os trançados feitos com fios de tecidos, como algodão e linho, geralmente envolvem a utilização de técnicas de tecelagem mais complexas. Nesse caso, os fios são obtidos por meio de processos de fiação e tingimento, muitas vezes com uso de corantes naturais. Os tecidos são então trabalhados em padrões específicos, como padrões de trama e urdidura, para criar peças de artesanato, como tapetes, mantas, roupas tradicionais e objetos decorativos. A tecelagem com fios de tecidos permite uma maior variedade de cores, texturas e padrões, proporcionando um aspecto mais refinado ao artesanato.</div><div><br /></div><div>As escolhas entre o uso de fibras de palha ou fios de tecidos podem depender de vários fatores, incluindo a disponibilidade dos materiais locais, as tradições culturais e as preferências estéticas das comunidades indígenas. Ambos os tipos de trançados têm um valor cultural significativo, preservando técnicas tradicionais e transmitindo conhecimentos ancestrais de geração em geração.</div></div><div><br /></div><div><div>Já os Makuxi fazem grande uso do bacuri (<i>Platonia insignis</i>), uma planta amplamente utilizada, principalmente pela comunidade da região do Planalto das Guianas, na fronteira entre o Brasil, a Guiana e a Venezuela. Essa planta é altamente valorizada devido à sua versatilidade, sendo tanto a palha quanto o coquinho aproveitados na confecção de artefatos e utensílios.</div><div><br /></div><div>Eles extraem as fibras da palha e as trabalham meticulosamente para criar cestos, esteiras, chapéus e outras peças artesanais. Os artesãos Makuxi possuem habilidades tradicionais de trançado, transmitidas de geração em geração, e a palha do bacuri desempenha um papel importante nesse processo.</div><div><br /></div><div>Eles também coletam os frutos maduros do bacuri, chamados de coquinhos e o utilizam como matéria-prima para a criação de objetos decorativos, como colares, pulseiras e enfeites. Os Makuxi têm grande conhecimento sobre as propriedades do coquinho e sua utilização na confecção de artefatos que possuem significado cultural e estético para a comunidade.</div></div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEqVsh-tUpWdNwfVIEhYwg4oIEm0yLcaa-Q8rckTfiYbOFXmpBS0SHJg6yLSMNnTdBYbtDE__bCth6rlhEWGfpSWoSLX-K5y3L0KndOJFRJG92MH-FbTrarQZYEdKEpXhmofHDNAFlwxjgNPIFMC09pVlbZNdK75alRrdWvG8S_BCoOmg3O8oQa5RbeQ/s1063/002%20makushi.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1063" data-original-width="1062" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEqVsh-tUpWdNwfVIEhYwg4oIEm0yLcaa-Q8rckTfiYbOFXmpBS0SHJg6yLSMNnTdBYbtDE__bCth6rlhEWGfpSWoSLX-K5y3L0KndOJFRJG92MH-FbTrarQZYEdKEpXhmofHDNAFlwxjgNPIFMC09pVlbZNdK75alRrdWvG8S_BCoOmg3O8oQa5RbeQ/w640-h640/002%20makushi.png" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Os Macuxi fazem um trabalho interessante com a palha do buriti, como este interessante cesto bosliforme, em que usam o talo para estruturar o trançado sarjado de folhas, em padrão de espinha.</span></td></tr></tbody></table><div><b><br /></b></div><div><div><b>Ourikuri</b></div><div><div><br /></div><div><div><div>A palmeira do ouricuri, conhecida cientificamente como Syagrus coronata, desempenha um papel fundamental na cultura e na história dos povos indígenas Fulnio. Essa espécie de palmeira é nativa do nordeste do Brasil e é especialmente valorizada pelos Fulnio, que a consideram sagrada e a utilizam em diferentes aspectos de sua vida cotidiana.</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8FTYHXbBTIsSRd4ZQ6l0iFi2J3bLpnveknS-IVD-UugePjOl-RlTBg44vQyyEj6o-FMT0Vrvw5aFsMmFM9NgLYyTirDDczxioIBBJ5AQfX1c3LRNtf_HVbR6VhOCyjcZcDyBHOr3xLJNWoY7mBq34w3DAVyitwjJRDiD5hGRQK_35ekhalWtJxYwu/s1881/Pinturas%20rupestres%20da%20Serra%20do%20Cavalo.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1022" data-original-width="1881" height="348" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8FTYHXbBTIsSRd4ZQ6l0iFi2J3bLpnveknS-IVD-UugePjOl-RlTBg44vQyyEj6o-FMT0Vrvw5aFsMmFM9NgLYyTirDDczxioIBBJ5AQfX1c3LRNtf_HVbR6VhOCyjcZcDyBHOr3xLJNWoY7mBq34w3DAVyitwjJRDiD5hGRQK_35ekhalWtJxYwu/w640-h348/Pinturas%20rupestres%20da%20Serra%20do%20Cavalo.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">O local chamado de Foklasá que significa "o lugar de muitas pedras" é uma elevação com pedras e pinturas rupestres. Na pedra principal da Serra dos Cavalos, com desenhos dos elementos da Tartaruga (Txokhlaya) e da Esteira (provavelmente de Ouricuri) comumente usados na pintura corporal.</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div>Um dos aspectos mais marcantes da importância do ouricuri para os Fulnio é encontrado nas pinturas rupestres de esteira de ouricuri na Serra do Cavalo, também conhecida como Foklasá. Essas pinturas são uma expressão artística única e uma manifestação cultural que revela a relação profunda entre os Fulnio e a palmeira do ouricuri. As esteiras feitas a partir das folhas do ouricuri são utilizadas pelos Fulnio para diversos fins práticos, como a construção de casas tradicionais e a confecção de cestas, redes e outros utensílios. As pinturas rupestres retratam essas esteiras e representam a importância da planta na vida e na identidade do povo Fulnio.</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFbbpWx3egayJ3kw0WgHsDgnpYPbLgvPkAoTFjELZ4mVjwJpSwCVB13MmitlrK8OilRO8r9dSWzvFinY6p3oHpH39shsRNO4GRQoiYzJGgHYGRsiuoScFzR0Z47WjRwPxRxK8qVoYyoa1F8sUtToEA_dsbuq20xA8OBpTCbPwshEKeoKBZeZqiQOMV/s1102/coqueiro%20ouricuri.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1102" data-original-width="755" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFbbpWx3egayJ3kw0WgHsDgnpYPbLgvPkAoTFjELZ4mVjwJpSwCVB13MmitlrK8OilRO8r9dSWzvFinY6p3oHpH39shsRNO4GRQoiYzJGgHYGRsiuoScFzR0Z47WjRwPxRxK8qVoYyoa1F8sUtToEA_dsbuq20xA8OBpTCbPwshEKeoKBZeZqiQOMV/w438-h640/coqueiro%20ouricuri.jpg" width="438" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Coqueiro Ouricurí - um dos elementos mais fortes da cultura Fulni-ô</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div>Além disso, o ouricuri desempenha um papel central no ritual sagrado dos Fulnio, também chamado de "ouricuri". Esse ritual é realizado anualmente e envolve a coleta do ouricuri e a extração do óleo da palma, que é utilizado em diversas práticas tradicionais, como rituais de cura e cerimônias religiosas. O ouricuri é considerado uma fonte de vida e fertilidade pelos Fulnio, e o ritual do ouricuri é um momento de renovação e conexão com suas raízes culturais.</div><div><br /></div><div>A palmeira do ouricuri é um símbolo de resistência e resiliência para os Fulnio. Ao longo dos séculos, enfrentaram desafios e adversidades, mas a ligação com o ouricuri permaneceu forte e intacta. A planta desempenha um papel crucial na subsistência, no artesanato, na espiritualidade e na transmissão de conhecimento ancestral. Através do ouricuri, os Fulnio mantêm vivas suas tradições, sua identidade e sua conexão com a natureza.</div><div><br /></div><div>É importante reconhecer e valorizar a importância da palmeira do ouricuri para os Fulnio e para a preservação da diversidade cultural e biológica. A proteção desse recurso natural e o respeito pela cultura e sabedoria dos Fulnio são fundamentais para garantir a continuidade dessa rica herança e para promover a sustentabilidade ambiental e cultural da região.</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7t6xaSQWkkd-WO0LMHLhzV7gZETYAvtfjH4Dpd8BD5v1mPfb6OWqjFaxtmCUAzY2-Sq3J4f6gSP_oeC8G0vL2p0sAdm3gv43dPVTy5aKBiXO3bww67sh978wmReK5PlVpZiOagbh2Tn_o24V6uEnasmaRed4rE2p1ghK3Rmt4bpj3Q745nTx-Rgzl/s1881/Arte%20Fulnio.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1022" data-original-width="1881" height="348" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7t6xaSQWkkd-WO0LMHLhzV7gZETYAvtfjH4Dpd8BD5v1mPfb6OWqjFaxtmCUAzY2-Sq3J4f6gSP_oeC8G0vL2p0sAdm3gv43dPVTy5aKBiXO3bww67sh978wmReK5PlVpZiOagbh2Tn_o24V6uEnasmaRed4rE2p1ghK3Rmt4bpj3Q745nTx-Rgzl/w640-h348/Arte%20Fulnio.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Além de sua grande importância espiritual, o ouricuri é fonte de diversas artes e artesanatos, com os quais são feitos tapetes, vassouras e até casas - Até os anos 1930 as casas da aldeia eram feitas de ouricuri, uma das palavras em Yaathe para casa é ke'tutʃia (lugar para ser feliz).</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div>Em suma, a palmeira do ouricuri desempenha um papel central na vida e na cultura dos Fulnio. Suas pinturas rupestres, suas esteiras e o ritual sagrado do ouricuri são exemplos claros da importância dessa planta sagrada para a identidade e a subsistência desse povo indígena. Reconhecer e valorizar a importância do ouricuri é essencial para preservar a história, a cultura e a relação harmoniosa entre os Fulnio e o ambiente natural que os cerca.</div></div><div><br /></div></div></div><div><b>O Tipiti</b></div><div><br /></div><div>Tipiti é um utensílio tradicional utilizado em diferentes regiões do Brasil, principalmente por comunidades indígenas e agricultores familiares. Existem dois tipos principais de Tipiti: o Tipiti de Peso e o Tipiti de Torção.</div><div><br /></div><div>O <b>Tipiti de Peso</b> é usado como uma espécie de peneira e recipiente para colocar a massa de mandioca ralada em seu interior. É aplicada uma força para esticá-lo, seja através de um puxão com as mãos, da colocação de um objeto com determinada massa ou até mesmo com o peso de uma ou duas pessoas sentadas em uma haste de madeira que está atravessada em uma das extremidades. O Tipiti de Peso pode ser feito com diversos materiais, dependendo da disponibilidade da matéria-prima local. Por exemplo, no Piauí, é comum utilizar a fibra de coco babaçu, uma palmeira da espécie <i>Attalea speciosa</i>, que possui frutos com sementes oleaginosas e comestíveis amplamente utilizados na culinária regional. A fibra é colhida durante o período de preparo das roças para o plantio de legumes.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsAELZBDD-CB74_7YBYzLjsBuV1EPQfI3d0YlJl9j0yQxew6K4QxlshsPfKWICSu6f4oMEPTQxWTZh4hUJ9ltlbuBaV-LSfMno-EDgsDIAybASjZGtd_SIoolzGsxAWwlJ63UO0v7Z4JeaOVpljasA5eSd9qe-W4VOEq3JLAH7mMl4xlGgSVeN30mZYw/s1600/003%20tipiti%20de%20peso.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsAELZBDD-CB74_7YBYzLjsBuV1EPQfI3d0YlJl9j0yQxew6K4QxlshsPfKWICSu6f4oMEPTQxWTZh4hUJ9ltlbuBaV-LSfMno-EDgsDIAybASjZGtd_SIoolzGsxAWwlJ63UO0v7Z4JeaOVpljasA5eSd9qe-W4VOEq3JLAH7mMl4xlGgSVeN30mZYw/w640-h640/003%20tipiti%20de%20peso.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">À esquerda, a prensa do tipiti, ao puxar a alavanca, as fibras forçam a massa a expelir todo o tucupi, que escorre por entre as fibras em uma gamela. No canto superior direito, observe que quando o tipiti está estendido, exercendo pressão sobre a massa, as fibras ficam com tendências verticais, quando está em repouso, as fibras ficam com tendências horizontais.</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Já o <b>Tipiti de Torção</b> é feito de talas da palmeira jacitara (<i>Desmoncus polyacanthos</i>). Consiste em um tubo flexível de fibras que é operado por meio de torção pelas mãos. Esse tipo de Tipiti tem a função de espremer a massa de mandioca, permitindo a extração do líquido amido conhecido como "tucupi" em algumas regiões. A torção aplicada ao Tipiti comprime a massa, liberando o líquido.</div><div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUyAz2H1WHMewR4jDLz5whCe2MzAyd1XcRyAkXzruHHI8tO-qU66HJ_KlhR-ALz-tmFZ9quxV-Beoyzr52QHX5mk-m0R3yuYbofWb4KF2ccjYoKPZuYSZkjI5-R0u2kCgUprHoUh_IcVio86woodAg-StiBkGM5fV5K6xYIFH42QvMkEOS9wMDE5lQSw/s1600/002%20tipiti%20de%20torc%CC%A7a%CC%83o.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUyAz2H1WHMewR4jDLz5whCe2MzAyd1XcRyAkXzruHHI8tO-qU66HJ_KlhR-ALz-tmFZ9quxV-Beoyzr52QHX5mk-m0R3yuYbofWb4KF2ccjYoKPZuYSZkjI5-R0u2kCgUprHoUh_IcVio86woodAg-StiBkGM5fV5K6xYIFH42QvMkEOS9wMDE5lQSw/w640-h640/002%20tipiti%20de%20torc%CC%A7a%CC%83o.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Tipiti de Torção é feito de talas da palmeira jacitara (Desmoncus polyacanthos)</span></td></tr></tbody></table></div><div><br /></div><div>Tanto o Tipiti de Peso quanto o Tipiti de Torção são exemplos de tecnologias tradicionais que demonstram a criatividade e o conhecimento dos povos indígenas e agricultores na utilização de materiais disponíveis na natureza. Esses utensílios desempenham um papel importante no processamento da mandioca, uma cultura alimentar fundamental em várias partes do Brasil, especialmente na produção de farinha e outros derivados. Além disso, o uso desses utensílios também contribui para a preservação das técnicas tradicionais e o fortalecimento da identidade cultural dessas comunidades.</div></div><div><br /></div><div><b>A física do Tipiti</b></div><div><br /></div><div><div>A aplicação de força em um tipiti com massa de mandioca num tipiti de peso é consideravelmente grande, observando as mudanças no volume e na pressão interna. É interessante notar que a pressão interna na massa da substância segue as características da mecânica dos fluidos.</div><div><br /></div><div>Analisando os dados experimentais fornecidos no trabalho academico de Raimundinha Nunes Gomes Vilanova A FÍSICA DO TIPITI: ESTUDO DA PRESSÃO EM ALAVANCAS INDÍGENAS, observamos que a força aplicada é medida em Newton (N), enquanto o volume é expresso em centímetros cúbicos (cm³). Para uma análise mais adequada, podemos converter as unidades de força de Newton para quilogramas por centímetro cúbico (kg/cm³), considerando que 1 N é equivalente a 0,102 kg/cm³.</div><div><br /></div><div>Essas foram as medidas realizadas no experimento:</div><div><br /></div><div>Tipiti sem massa inserida:</div><div>Volume: 2260,8 cm³</div><div><br /></div><div>Tipiti com massa inserida (Medida 1):</div><div>Volume: 3235,45 cm³</div><div>Força: 8,66 N (0,884 kg/cm³)</div><div><br /></div><div>Tipiti com massa inserida (Medida 2):</div><div>Volume: 2923,34 cm³</div><div>Força: 22,22 N (2,267 kg/cm³)</div><div><br /></div><div>Tipiti com massa inserida (Medida 3):</div><div>Volume: 2911,03 cm³</div><div>Força: 41,34 N (4,219 kg/cm³)</div><div><br /></div><div>É importante destacar que a resistência das fibras do tipiti é fundamental para evitar o rompimento durante a aplicação da força, essa resistência é necessária para suportar a pressão exercida pela massa fluida, garantindo que o tipiti seja capaz de extrair os líquidos desejados de forma eficiente.</div></div><div><br /></div><div><b>Arte Indígena em Cordões, Tecidos e Nós</b></div><div><b><br /></b></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhee4lNEzusaUnUMQ5_VNLlQfkvjkNZ-ELgFRnAqlWD_OVQ86unb96T2pyl-XLgOg2CWQXPP89EUW1_Ine8GLUSY9fnY4oOoz74S8XlvZIs9GaboW051KQaheLkqav15bAJFhgLbjx8gPpxOYgdC19N9nze-WNGLiXnKY66f-_UB5wyX1DcUX0zU95gBg/s1600/001%20te%CC%81cnica%20de%20acoplamento%20manufatura%20de%20rede%20sobre%20duas%20estacas%20Ind%20Warau.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhee4lNEzusaUnUMQ5_VNLlQfkvjkNZ-ELgFRnAqlWD_OVQ86unb96T2pyl-XLgOg2CWQXPP89EUW1_Ine8GLUSY9fnY4oOoz74S8XlvZIs9GaboW051KQaheLkqav15bAJFhgLbjx8gPpxOYgdC19N9nze-WNGLiXnKY66f-_UB5wyX1DcUX0zU95gBg/w640-h640/001%20te%CC%81cnica%20de%20acoplamento%20manufatura%20de%20rede%20sobre%20duas%20estacas%20Ind%20Warau.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Técnica de acoplamento. Manufatura de rede sobre duas estacas fincadas no chão com fibras de burití: tear de varas alçadas. Apud Roth 1924, etnia Warao<br /><br /></span></td></tr></tbody></table></div><div>Sem dúvida, o povo mais talentoso para a arte da tecelagem são os Ashaninka, eles têm uma rica tradição de tecelagem, que é considerada uma forma de arte e expressão cultural.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjxAmOSHTPFVaIRJb8i8ogKuO0oZvGxT6pXg4aKuw21xI9-6n6LWUQ-omS_2Zb2lz5eyWz5cmCN023a_2yRqn88IKX6hrwc6H1I8-SwVaexH709hIO7TGbcUiXYey_txrzPLlRYJzcdgPM0vwau5HPZoqa6Ap_nS6PzPmvJe1-yg6FompWs5SCh5w1bw/s1600/003%20contratorcido%20alternado%20com%20bobinas.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjxAmOSHTPFVaIRJb8i8ogKuO0oZvGxT6pXg4aKuw21xI9-6n6LWUQ-omS_2Zb2lz5eyWz5cmCN023a_2yRqn88IKX6hrwc6H1I8-SwVaexH709hIO7TGbcUiXYey_txrzPLlRYJzcdgPM0vwau5HPZoqa6Ap_nS6PzPmvJe1-yg6FompWs5SCh5w1bw/w640-h640/003%20contratorcido%20alternado%20com%20bobinas.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Contratorcido alternado com o uso de bobinas, rede de dormir feita por indígenas Guianas e Indigens Urbanos do Vale do Urucuí </span></td></tr></tbody></table><br /><div>A tecelagem tradicional dos Ashaninkas envolve o uso de teares manuais e técnicas ancestrais transmitidas de geração em geração. Eles utilizam materiais naturais, como algodão e fibras vegetais, para criar tecidos intricados e coloridos. Eles produzem uma variedade de peças tecidas, incluindo roupas tradicionais, como saias e vestidos, mantas, bolsas, cestos e outros objetos utilitários. Cada peça é única e reflete a identidade cultural e a criatividade do artesão.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFWkv8VK-NJVy2REJM_u7rgC4CIWJRESR0T14RziKIN5jVWudKuL6VH65G3IbHk8FAV0rlq6PMcTaIbokOUpMNPm_V5E5g3dwQyy0wO_EEsJ2e7qpHI45u-gd8trICyLxqHKVXeYWMDbE3buBoar7sFXhReDKzRECXxahmvcsT0uOlt4_Au5r_iFHGHA/s1600/004%20Kushma%20vestimenta%20Ashaninka.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFWkv8VK-NJVy2REJM_u7rgC4CIWJRESR0T14RziKIN5jVWudKuL6VH65G3IbHk8FAV0rlq6PMcTaIbokOUpMNPm_V5E5g3dwQyy0wO_EEsJ2e7qpHI45u-gd8trICyLxqHKVXeYWMDbE3buBoar7sFXhReDKzRECXxahmvcsT0uOlt4_Au5r_iFHGHA/w640-h640/004%20Kushma%20vestimenta%20Ashaninka.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Tecelagem do Kushma, vestimenta Ashaninka. </span></td></tr></tbody></table><br /><div>A arte de tecer dos Ashaninkas é valorizada não apenas dentro de sua comunidade, mas também reconhecida internacionalmente como um exemplo de habilidade e conhecimento tradicional. É uma forma de preservar sua cultura e promover o orgulho e a identidade indígena. Conta uma antiga Lenda Ashaninka que uma mulher lua enterrou sua Kushma branca e daquele ponto cresceu o algodão pela primeira vez. A Kushma é a vestimenta tradicional Ashaninka, são tingidas com a Catuaba, Trichilia catigua, chamada pelos Ashaninka de kamanporiki e Abiu-de-cacho, chamada, Pouteria sp de kitsapiki. <br /><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1H_2vEX08XS5GDP0vyNg8k1ef5LbuN3Vp9gO9-AQePRaODruxaqZ2U062HShrAH-x5FrueE_nrEWW51AdjDegX_D9OGvXlBZel3IKtClZ-4I_vc5ukVBiVx3zMbOsl0r3S_To-iCMaEr4VAI86pnaCa1pVZ4_cl-etEOYUbirI-uGjfdIVwNa9ElaSw/s1600/006%20Kushma%20vestimenta%20Ashaninka.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1H_2vEX08XS5GDP0vyNg8k1ef5LbuN3Vp9gO9-AQePRaODruxaqZ2U062HShrAH-x5FrueE_nrEWW51AdjDegX_D9OGvXlBZel3IKtClZ-4I_vc5ukVBiVx3zMbOsl0r3S_To-iCMaEr4VAI86pnaCa1pVZ4_cl-etEOYUbirI-uGjfdIVwNa9ElaSw/w640-h640/006%20Kushma%20vestimenta%20Ashaninka.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Aqui vemos um tear pré-colombiano utilizado pelos Ashaninka, com urdume na horizontal, e tramas passadas por uma laçadeira. Observe o gabarito que alinha as carreiras do entretorcido.</span></td></tr></tbody></table><br /><div>A seguir discorreremos sobre uma categoria de artefatos que inclui cordames, nós e tecidos para múltiplos usos, incluindo adorno corporal, porém com pouca ornamentação. Ornamentos feitos de conchas, cocos, sementes, miçangas, garras de animais, tabocas e, principalmente, penas, são classificados em diferentes categorias.</div><div><br /></div><div>Adornos de materiais ecléticos, indumentária e toucador, e parcialmente na categoria de Trançados. Para evitar confusões com ornamentos semelhantes feitos com diferentes materiais e técnicas, utilizamos o termo "tecido" como modificador nos descritores. Por exemplo: tipoia tecida, saia tecida, aro tecido, pabeira tecida, abano tecido, etc.</div><div><br /></div><div>Incluímos definições genéricas os termos para os tratamentos da matéria-prima que a tornam utilizável nessa indústria, tais como: fio de duas pernas, fumada, laçada em volta seca, almofada, etc... Além disso, as técnicas básicas são explicadas em sua forma verbal no infinitivo, por exemplo: a técnica genérica de acoplar e o processo de manufatura específico: acoplado, expresso por um adjetivo e/ou acoplado com malha saltada, etc.</div><div><br /></div><div>É importante destacar que algumas técnicas de tecelagem, como entrelaçar e entretorcer, recebem a mesma denominação que suas equivalentes no trançado. A técnica de entretecer é equivalente à de entrecruzar nessa categoria de artefatos. No entanto, esses termos homônimos são facilmente identificáveis, pois as variações aplicáveis são especificadas no tópico Processos de manufatura. Portanto, nos trançados, utilizamos o termo enlaçado e suas variações na técnica básica de entrelaçar. Já nos tecidos, usamos o termo enlace (com ou sem enodapio) como equivalente. Para diferenciar a técnica de entretorcer no trançado e no tecido, utilizamos a forma adjetivada "torcido" no primeiro caso e "entretorcido" no segundo.</div><div><br /></div><div>Buscamos evitar confusões ao utilizar essa abordagem, tornando a nomenclatura inclusiva e específica ao mesmo tempo, em outras palavras, é possível diferenciar categorias distintas de artefatos, mesmo que compartilhem elementos estruturais significativos.</div><div><br /></div><div>Mencionamos também as principais fibras têxteis utilizadas pelos indígenas brasileiros, destaca-se o uso do algodão, da família das malváceas, além de fibras de palmeiras e bromélias. Embora raro, também ocorre o uso do linho obtido de plantas de outras famílias botânicas.</div><div><br /></div><div>Os corantes vegetais utilizados para tingir o fio são discriminados, excluindo corantes de origem animal. Há menção do uso de barro preto (tejuco) como pigmento para tingir fibras entre os Tiriyó, observado também entre os Jurúna e os Tukina, combinado com corantes vegetais ainda não identificados.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIRsQ5TjvJs4i7tud5TNagqfIigB7l8nhey0zOMSfAncfQIP2uI6NFMv9JERDI16PM6paLVSguv4Sa3vFwNhoG5YKU-1REfSJqS6wQF112GhiRXq7cN85VwMeLL96mduJEeJpElXIxQzsb8FJeoAcVBY9ETBZH6X55WUGNSC6Y_N-nqg7DxHaKrPu_Vw/s1600/003%20Entretecido%20si%CC%81mples%20com%20no%CC%81s%20bolsa%20Guajajara%20de%20algoda%CC%83o%20ornada%20com%20sementes.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIRsQ5TjvJs4i7tud5TNagqfIigB7l8nhey0zOMSfAncfQIP2uI6NFMv9JERDI16PM6paLVSguv4Sa3vFwNhoG5YKU-1REfSJqS6wQF112GhiRXq7cN85VwMeLL96mduJEeJpElXIxQzsb8FJeoAcVBY9ETBZH6X55WUGNSC6Y_N-nqg7DxHaKrPu_Vw/w640-h640/003%20Entretecido%20si%CC%81mples%20com%20no%CC%81s%20bolsa%20Guajajara%20de%20algoda%CC%83o%20ornada%20com%20sementes.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Bolsa Guajajara feito com fibra bacuri, usando a técnica de entretecido símples com nós, de adornos tem-se os coquinhos de bacuri (<i>Platonia insignis</i>), semente de saboneteira (<i>Sapindus saponaria L</i>) e olho de cabra (<i>Ormosia arborea</i>)</span></td></tr></tbody></table><br /><div>O tópico Implementos especifica os objetos utilizados nos processos de fiação e tecelagem. </div><div><br /></div><div>Como mencionado, o adjetivo "tecido" é utilizado no item relacionado a vestuário e adorno pessoal para distinguir das vestimentas e adornos feitos de outros materiais, como contas de sementes, cocos, conchas, miçangas, cascos, garras e dentes de animais, além de élitros de coleópteros, canudos, palhas, talas e cascas de árvores. </div><div><br /></div><div>Essa classificação e taxonomia foram baseadas no estudo sobre artes têxteis indígenas do Brasil realizado por B. G. Ribeiro (1956), que se baseou em trabalho de campo com os Jurina, Kayabí, Asurinfe Anweté, além de consultas bibliograficas.</div><div><br /></div><div><b>Tingimento dos Tecidos</b></div><div><br /></div><div><div>Tecer e tingir tecidos é uma prática ancestral que tem sido realizada por comunidades indígenas no Brasil ao longo de séculos. Essas culturas nativas desenvolveram técnicas e conhecimentos específicos para extrair pigmentos naturais de plantas, insetos e minerais, que são utilizados para tingir suas roupas e acessórios de forma vibrante e duradoura. Esses pigmentos naturais não só conferem cores aos tecidos, mas também carregam significados culturais e simbólicos profundos.</div><div><br /></div><div>Um dos pigmentos mais conhecidos e utilizados pelos indígenas brasileiros é o urucum (Bixa orellana). Essa planta, nativa da região amazônica, possui sementes de cor avermelhada que são amplamente utilizadas como corante natural. O urucum é rico em carotenoides, compostos químicos responsáveis por sua coloração intensa. Os indígenas extraem os pigmentos das sementes, que podem ser usados para tingir tecidos de tons que variam do vermelho ao laranja. Além de sua utilidade prática, o urucum também tem significados simbólicos para muitas culturas indígenas, representando a vitalidade, a proteção e a conexão com a natureza.</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF9TB7KcKVD-AdZAXouxTvYEIEcAwSwNziOEUDdpOfI8ZKF__HXi97ZUsVALLOpRZ8oNf9FSDJtoOqrZ9b9893uHav1Ug3ikDkdnI_niW3bgVFEzlpUAoinF-fgCIKl8OUnjn_l7Mas2SBaskRHcj352jAsqtMP-DEg3Lm9vd-8ISajZgR7Wnaxg7hhA/s1600/008%20Pigmentos%20para%20tecidos.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF9TB7KcKVD-AdZAXouxTvYEIEcAwSwNziOEUDdpOfI8ZKF__HXi97ZUsVALLOpRZ8oNf9FSDJtoOqrZ9b9893uHav1Ug3ikDkdnI_niW3bgVFEzlpUAoinF-fgCIKl8OUnjn_l7Mas2SBaskRHcj352jAsqtMP-DEg3Lm9vd-8ISajZgR7Wnaxg7hhA/w640-h640/008%20Pigmentos%20para%20tecidos.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Mulher Araweté separando sementes de urucum. Foto: Eduardo Viveiros de Castro/ISA. Os Ashaninka usam pigmentos de Catuaba, chamada de kamanporiki por eles e Abiu-de-cacho, Pouteria sp (chamada por eles de kitsapiki) para tingir seus tecidos que normalmente se chama catuaba, diferencia-se em duas plantas, a Eriotheca candolleana e a Trichilia catigua, ambas com pigmentação vermelha. </span></td></tr></tbody></table><br /></div><div>Outra planta bastante utilizada pelos indígenas para tingir tecidos é a genipapo (Genipa americana). Essa árvore, encontrada em várias regiões do Brasil, produz um fruto de casca escura que contém um suco de cor azulada. Os indígenas extraem o suco do genipapo e o utilizam para tingir tecidos, geralmente produzindo um tom azul ou preto. Além de seu uso estético, o genipapo também possui significados culturais, simbolizando o luto, a espiritualidade e a renovação.</div><div><br /></div><div>Outro pigmento amplamente utilizado é o açafrão-da-terra (Curcuma longa), também conhecido como cúrcuma ou açafrão-da-índia. Essa planta, nativa da Ásia, foi introduzida no Brasil por meio do contato com os povos indígenas. O açafrão-da-terra produz uma raiz de cor amarelo-alaranjada intensa, que pode ser utilizada para tingir tecidos. Além de sua utilização como corante, o açafrão-da-terra é apreciado por suas propriedades medicinais e é uma importante planta na medicina tradicional indígena.</div><div><br /></div><div>Além dos pigmentos de origem vegetal, os indígenas também utilizam pigmentos de origem mineral para tingir seus tecidos. O barro e o caulim são exemplos de minerais que podem ser transformados em pigmentos naturais e utilizados para tingir tecidos. Esses pigmentos minerais geralmente produzem cores terrosas, como o marrom e o ocre. O uso desses pigmentos está muitas vezes associado a rituais e cerimônias específicas, carregando significados espirituais profundos para as comunidades indígenas.</div><div><br /></div><div>É importante destacar que a prática do tingimento de tecidos com pigmentos naturais é muito mais do que uma técnica de coloração. Ela representa um conhecimento ancestral transmitido de geração em geração, refletindo a conexão das comunidades indígenas com a natureza e com suas tradições culturais. O processo de obtenção dos pigmentos naturais geralmente envolve um profundo conhecimento das plantas, minerais e técnicas de extração, bem como um profundo respeito pelo ambiente em que vivem.</div><div><br /></div><div>Ao utilizar pigmentos naturais, os indígenas valorizam a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. Ao contrário dos corantes sintéticos, que podem ser prejudiciais à saúde humana e ao ecossistema, os pigmentos naturais são biodegradáveis e não poluem o meio ambiente. Além disso, as plantas utilizadas para a extração dos pigmentos geralmente são cultivadas de forma sustentável ou coletadas de maneira consciente, evitando a exploração excessiva e o impacto negativo sobre a biodiversidade.</div><div><br /></div><div>O tingimento de tecidos com pigmentos naturais também desempenha um papel importante na preservação da identidade cultural das comunidades indígenas. As cores e padrões presentes nos tecidos são elementos fundamentais para a expressão de suas tradições, mitos e valores. Cada cor pode representar uma conexão com a natureza, uma manifestação espiritual, um momento histórico ou um símbolo de pertencimento a um determinado grupo étnico.</div><div><br /></div><div>Além disso, a produção de tecidos tingidos com pigmentos naturais muitas vezes envolve técnicas artesanais tradicionais, como o tingimento manual, o uso de teares manuais e a aplicação de padrões por meio de técnicas como a pintura ou o bordado. Essas habilidades artesanais são transmitidas de geração em geração, contribuindo para a preservação das técnicas tradicionais e gerando fontes de renda para as comunidades indígenas.</div></div><div><br /></div><b>O Preparo do Genipapo</b></div><div><br /></div><div><div>A preparação da tinta de Genipapo varia de acordo com as práticas e tradições de cada comunidade indígena. No entanto, aqui está uma descrição geral do processo utilizado para obter a tinta a partir do Genipapo:</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoS8PvGLsXT1w1v9HE2_80sTIUgh_e8uERnHkDF8ywNiiVt6wtpX7NeGAqVCv1qAf_brGVkwdgwZN08X2KTGulpaoTZdgcT7fVK4O0d82esRLa9-ikaVmFEQDRjJIuoq4B9I_dy6QgchyqwlEsj9kUZ8lFX4edqvfll9DhUVAXapLFh4ZhMlro65Jvog/s1600/Pigmentos%20indigenas%20jenipapo.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoS8PvGLsXT1w1v9HE2_80sTIUgh_e8uERnHkDF8ywNiiVt6wtpX7NeGAqVCv1qAf_brGVkwdgwZN08X2KTGulpaoTZdgcT7fVK4O0d82esRLa9-ikaVmFEQDRjJIuoq4B9I_dy6QgchyqwlEsj9kUZ8lFX4edqvfll9DhUVAXapLFh4ZhMlro65Jvog/w640-h640/Pigmentos%20indigenas%20jenipapo.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="text-align: left;"><span style="font-size: xx-small;">O preparo da tintura de genipapo varia de acordo com as práticas e tradições de cada comunidade indígena.</span></span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>1- Coleta do fruto: Os indígenas procuram frutos maduros de Genipapo (Genipa americana) em suas áreas naturais. O Genipapo é uma árvore comum em várias regiões do Brasil e seus frutos têm uma casca verde escura que se torna marrom ou preta quando madura;</div><div><br /></div><div>2 - Preparação da polpa: Os frutos de Genipapo são abertos e a polpa interna é removida. Essa polpa é macerada ou esmagada para extrair o suco contido no fruto.</div><div>Fermentação: Em alguns casos, a polpa do Genipapo é deixada para fermentar por alguns dias, o que ajuda a intensificar a cor do suco obtido. Esse processo de fermentação pode variar de acordo com as práticas tradicionais de cada comunidade;</div><div><br /></div><div>3 - Extração do suco: A polpa macerada ou fermentada é colocada em recipientes, como cabaças ou potes de barro, e água é adicionada para extrair o suco do Genipapo. A mistura é então mexida e agitada cuidadosamente para garantir a liberação completa da cor do Genipapo na água;</div><div><br /></div><div>4 - Filtragem: Após a extração do suco, ele é filtrado para remover resíduos sólidos da polpa do Genipapo. Isso pode ser feito usando um filtro de pano ou peneira fina para obter um líquido limpo e uniforme;</div><div><br /></div><div>5 - Aplicação da tinta: O suco do Genipapo obtido é utilizado como tinta para tingir tecidos. O tecido é mergulhado ou imerso na tinta e agitado para garantir que a cor se espalhe uniformemente. Dependendo da intensidade desejada, o tecido pode ser submergido por mais tempo na tinta; </div><div><br /></div><div>6 - Fixação da cor: Para garantir que a cor do Genipapo seja duradoura, algumas comunidades indígenas realizam um processo de fixação após o tingimento. Isso pode envolver a exposição do tecido ao sol ou ao calor, ou a aplicação de substâncias fixadoras naturais, como açafrão-da-terra.</div><div><br /></div><div>É importante destacar que essas etapas podem variar de acordo com as práticas e tradições específicas de cada comunidade indígena. Cada grupo pode ter suas próprias variações no processo de preparação da tinta de Genipapo, adaptando-o de acordo com sua cultura, recursos disponíveis e conhecimentos tradicionais transmitidos ao longo das gerações.</div><div><br /></div><div><div><b>Referências:</b></div><div><b><br /></b></div><div><div>ABREU, Regina. (2014) Dez anos da Convenção do Patrimônio Cultural Imaterial: Ressonâncias, apropriações, vigilâncias. e-cadernos ces [Online], n° 21, 2004. Disponível: http://journals.openedition.org/eces/1742; DOI: 10.4000/eces.1742. Acesso em: 15 dez. 2017.</div><div><br /></div><div>ALVAREZ, Sonia E.; DAGNINO Evelina & ESCOBAR, Arturo, organizadores. Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras. Belo Horizonte: Editora UFMG. 2000, 538 </div><div><br /></div><div>ANJOS, Moacir dos. Local/global: arte em trânsito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2005</div><div><br /></div><div>ARAGÃO, João Carlos Medeiros. Parlamentos comparados: Visão Contemporânea. Brasília: Edições Câmara. Câmara dos Deputados, 2011.</div></div><div><br /></div><div>ADOVASIO, J. M., Basketry Technology: a guide to identification and analysis. Chicago, Aldine Manuals in archaeology, 182.p., 1977</div><div><br /></div><div>ATHAYDE, Simone Ferreira. (Org.). Arte indígena Parque do Xingu: catálogo de divulgação cultural e comercial. São Paulo: ISA-PPIX/ATIX, 2001. 35p.</div><div><br /></div><div>BARABAS, Alicia M. El pensamiento sobre el territorio en las culturas indígenas de México. Dossier - territorios, procesos socio-espaciales y territorialidad. Avá Revista de Antropología. Argentina: Universidad Nacional de Misiones, 2010.</div><div><br /></div><div>BARBOSA, Wallace de Deus. La artesánia indígena y el tráfico simbólico. Revista del CIDAP – Artesanías de América (Artesanias del Brasil), Cuenca, p.131-152, ago., 1995.</div><div><br /></div><div>FRIKEL, Protásio. Os Tiriyó: seu sistema adaptativo. Hannover: Kommissionsverlag Munstermann Druck. 1973. 323p.</div><div><br /></div><div>FOCK, Niels. Waiwai: religion and society of na Amazonian tribe. Copenhagen: The National Museum, 1963.</div><div><br /></div><div>GALLOIS, Dominique Tilkin. Arte iconográfica Waiãpi. In: Vidal, Lux. Grafismo indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel, Edusp, FAPESP, 1992. p. 209-230.</div><div><br /></div><div>GEERTZ, Clifford. L’ art en tant que système culturel. In: Geertz, Clifford. Savoir local, savoir global: es lieux du savoir. Paris: PUF, 1986. p.119-151.</div><div><br /></div><div>GUSS, David M. To weave and sing: art, symbol, and narrative in the south american rain forest. Berkeley: Universitu California Press, 1989. 274 p.</div><div><br /></div><div>HENLEY, Paul; Mattéi-Muller, Marie-Claude. Panare basketry: means of commercial exchange and artistic expression. Antropológica, Caracas, v. 49, p. 29-130, 1978.</div><div><br /></div><div>HUGH-JONES, S. Useful arts: artful utensils. Journal of the Anthropological Society of Oxford, v.24, n.1, p.71-74, 1993.</div><div><br /></div><div>KENSINGER, Keneth M. et al. The Cashinahua of eastern Peru. [s.l.]: Haffenherffer Museum of Anthropology, 1975. 237</div><div><br /></div><div>MENEZES, Ulpiano T. Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da história: a exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, Nova Série, São Paulo, v.2, p. 9-42, 1994.</div><div><br /></div><div>MUNN, Nancy. Walbiri iconography: graphic representation and cultural symbolism in central autralian society. London: Oxford Univ. Press, 1973</div><div><br /></div><div>MULLER, Regina Aparecida Polo. Os Asuriní do Xingu: história e arte. Campinas: UNICAMP, 1990. 349 p.</div><div><br /></div><div>O’NEALE, Lila M. Cestaria. In: Suma etnológica brasileira. Petropólis: Vozes, 1986. p. 323-350.</div><div><br /></div><div>PIERCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Ed. Perspectiva,</div><div>1977. REICHEL – DOLMATOFF, Gerardo. Basketry as metaphor: arts and crafts of the Desana indians of the Northwest Amazon. Los Angeles: University of California, 1985. 100 p. (Occasional Papers of the Museum of Cultural History, 5).</div><div><br /></div><div>RIBEIRO, Berta G. O , Dicionário do Artesanato Indígena, 3a Ed. , Editora Itatiaia1988.</div><div><br /></div><div>RIBEIRO, Berta G. O artesanato cesteiro como objeto de comércio entre os índios do alto rio Negro, Amazonas. América Indígena, v.61, n.2, p. 289-310, 1981.</div><div><br /></div><div>RIBEIRO, Berta G.; Velthem, Lúcia Hussak van. Coleções etnográficas: documentos materiais para a história indígena e a etnologia. In: Cunha, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.103-111.</div><div><br /></div><div>RICARDO, Beto. Arte Baniwa: cestaria de arumã. São Paulo: ISA/FOIRN, 2000, 64 p. Roe, Peter. 1995. Basketry: inspired by the Dragon. In: Arts of the Amazon. London: Thames and Hudson, 1995. p.30-35.</div><div><br /></div><div>ROTH, Walter E. An introductory study of the arts, crafts and customs of the Guiana Indians. Annual Report of the Bureau of American Ethology 1916-1917, p. 25-145,1924.</div><div><br /></div><div>VELTHEM, Lúcia Hussak van. Arte indígena: referentes sociais e cosmológicos. In: Grupioni, Luis Donisete Benzi (Org.). Índios no Brasil. Brasília, Ministério da Educação e do Desporto, 1992. p.83-92</div></div><div><br /></div><div>VILANOVA, Raimundinha Nunes Gomes. A FÍSICA DO TIPITI: ESTUDO DA PRESSÃO EM ALAVANCAS INDÍGENAS: Orientador: Antônio Francisco Ramos, Co-orientador: Antônio Carlos Ferreira de Abreu - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Piauí</div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-7759780180449623902023-04-18T16:16:00.009-07:002023-04-18T16:38:35.854-07:00Kapinawa<div style="text-align: left;"> </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKtniGCXsTfgqTRBtt9ELNWlIZV9q8rRKc4rmyHt35IHq1_d05lchDfRFKvH8Ez81hj3T1fbIn4JOdvC7wPeO7QbtTEso1WIUKzBsFumV2x3MKfqjQJv_y_aCqqkws173EupRt7lAuRTK5BRom08RC3d9EFGF8D_ljneVG5H806GWZM-I6Qg0i9kUz/s1310/Toy%20Art%20Kapinawa.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKtniGCXsTfgqTRBtt9ELNWlIZV9q8rRKc4rmyHt35IHq1_d05lchDfRFKvH8Ez81hj3T1fbIn4JOdvC7wPeO7QbtTEso1WIUKzBsFumV2x3MKfqjQJv_y_aCqqkws173EupRt7lAuRTK5BRom08RC3d9EFGF8D_ljneVG5H806GWZM-I6Qg0i9kUz/w640-h582/Toy%20Art%20Kapinawa.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Toy Art Kapinawá</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">88</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Kapinawá</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Capinawa</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="Arial, Helvetica, sans-serif">Capinawa</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">PE</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">3702</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2009</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="background-color: white;"><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;">O povo Kapinawá se reconhece como “a rama nova, isto é, descendentes diretos, de índios que foram aldeados na Serra do Macaco ainda no século XVIII.” </span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2TX2kTLEfY2rCnqxhPCDS__NdBImmrYpvV6aFLg881vEsJJRlB7P73dYVI34h70q1jhB2YzkKoqTW9_ud8GL5Gm0m5KwVqd90qRRB9K7Nm6tPU5uSl7l_pvmFLrM3-hYNeLcomgeTO8KNc06iPkCN0gXCWtUzhbqq9LU-ghZk1WjnPSufACAOWKcM/s2570/Territorios%20indigena%20Kapinawa%CC%81.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2TX2kTLEfY2rCnqxhPCDS__NdBImmrYpvV6aFLg881vEsJJRlB7P73dYVI34h70q1jhB2YzkKoqTW9_ud8GL5Gm0m5KwVqd90qRRB9K7Nm6tPU5uSl7l_pvmFLrM3-hYNeLcomgeTO8KNc06iPkCN0gXCWtUzhbqq9LU-ghZk1WjnPSufACAOWKcM/w640-h304/Territorios%20indigena%20Kapinawa%CC%81.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;">“Até o começo dos anos 80 não eram reconhecidos oficialmente como índios, ocupando de forma livre e tradicional as terras que se estendem entre os municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim, na área de transição entre o Agreste e o Sertão de Pernambuco, no Vale do Ipanema, no sertão do Moxotó” (Palitot, 2002). Em fins dos anos setenta, os Kapinawá “começam a ser pressionados pelo avanço de uma frente latifundiária e procuram, então, se organizar para conseguir a regularização de suas terras.</span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsswE6vj-mJcaxc5-j2YiVtui3dddQvzS6EYCpkYQmVgFZD6-AGAd89oKBf2R1NBUsCjZYRnwQBXYcvCCFB19dwrLBn7X6i_9Juf6sJMo66lnTAgn6zM3Sysx4HsydjGdF5uXXIXdguXM01OqMIsAHW8HUc9Pqm65SwILJsPeb8rB7xfyY7lKMCpkN/s1280/kapinawa.jpg" style="font-size: medium; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsswE6vj-mJcaxc5-j2YiVtui3dddQvzS6EYCpkYQmVgFZD6-AGAd89oKBf2R1NBUsCjZYRnwQBXYcvCCFB19dwrLBn7X6i_9Juf6sJMo66lnTAgn6zM3Sysx4HsydjGdF5uXXIXdguXM01OqMIsAHW8HUc9Pqm65SwILJsPeb8rB7xfyY7lKMCpkN/w640-h360/kapinawa.jpg" width="640" /></a></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"> O reconhecimento do grupo foi longo e marcado por vários conflitos, tanto com posseiros e fazendeiros, como entre os próprios índios que vivenciaram um doloroso processo de faccionalismo. </span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;">Resultado desses conflitos foi a demarcação da área, que contemplou apenas uma parte do seu território tradicional.” (Palitot, 2002)</span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif"><span style="color: #333333;"><div><span style="font-size: 14.85px;"><b>Parque eólico: povo Kapinawá contra os negócios do vento</b></span></div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">O povo indígena Kapinawá, localizado nos municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim, na divisa das regiões do Agreste e Sertão de Pernambuco, trava uma longa e intensa luta para defender seu território tradicional, que foi homologado em 1998 de forma diminuta. Isto é, apenas 12.403 hectares, sendo muitas áreas de ocupação tradicional excluídas da demarcação. Relatam que, por diversos momentos na história, enfrentaram fazendeiros poderosos e seus jagunços para garantir sua terra de ocupação tradicional, libertando o território dos interesses econômicos, cortando os arames das fazendas, debaixo das ameaças de rifles, para que hoje consigam desfrutar com liberdade dessa parcela do território que foi demarcada.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Sempre enfrentaram diversos empreendimentos e violações de seu território, como o desmatamento da Caatinga, a pressão de fazendas, os processos de reintegração de posse contra o povo, e, em 2002, com a criação do Parque Nacional (PARNA) do Vale do Catimbau, várias aldeias indígenas Kapinawá foram sobrepostas pela área do parque. Além da sobreposição de território, o PARNA também significa várias dificuldades para o povo, como a desproteção do território e dos sítios arqueológicos, a proibição de construção de moradias, de fornecimento de energia elétrica e do uso sustentável da Caatinga para reforma das casas e estradas.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Desde 2013 o povo Kapinawá enfrenta dois processos de reintegrações de posse, onde são acusados de invadir violentamente duas fazendas. Todavia, acusações que distam da realidade dos fatos e dizem respeito, em verdade, a área de ocupação tradicional do povo que é reivindicada e restou fora da demarcação. Em outubro de 2021, o povo Kapinawá denunciou um grande desmatamento que atingiu a área inserida dentro do PARNA do Vale do Catimbau.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDjOEN4jrkIscr1I2DBy0iVk2Q_sGXAITlHEBEGckCLdZTeo_weeAYMXLRfR6cknUEm8DdD_Mt5B25rYPYy6EQ45t3rvcOh3skR5uOCxjLw8ek2ojzFvNrx_YMnE864ZCeOX7kyfk0vu4LSYySeRdFGV_ozIs6Su52B0aMtxH5hQDWuqbVLaaqDvMF/s883/PARQUE-EOLICO-KAPINAWA-FOTO-POVO-KAPINAWA-2-e1653332111943.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="463" data-original-width="883" height="336" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDjOEN4jrkIscr1I2DBy0iVk2Q_sGXAITlHEBEGckCLdZTeo_weeAYMXLRfR6cknUEm8DdD_Mt5B25rYPYy6EQ45t3rvcOh3skR5uOCxjLw8ek2ojzFvNrx_YMnE864ZCeOX7kyfk0vu4LSYySeRdFGV_ozIs6Su52B0aMtxH5hQDWuqbVLaaqDvMF/w640-h336/PARQUE-EOLICO-KAPINAWA-FOTO-POVO-KAPINAWA-2-e1653332111943.jpg" width="640" /></a></div><br /><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">No final do mês de fevereiro deste ano, o povo foi surpreendido com a notícia de uma iniciativa de implementação de um grande parque eólico nos limites da terra indígena demarcada e dentro da área reivindicada pelo povo para ampliação territorial. De pronto, o povo Kapinawá protocolou uma denúncia junto aos órgãos responsáveis, como a Defensoria Pública da União (DPU) no Estado de Pernambuco, o Ministério Público Federal (MPF) do município de Garanhuns/PE, o Ministério Público do Trabalho – MPT – GT de Povos Originários e Comunidades Tradicionais e a Fundação Nacional do Índio (Funai) , com uma série de reivindicações de que o povo necessita para seu Bem-Viver.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">O projeto de construção do parque eólico é uma iniciativa privada, encabeçada por um fazendeiro autor de uma das ações de reintegração de posse citadas, o qual prevê a instalação de 70 turbinas eólicas em uma área estimada em mais de 3.000 hectares. Embora a energia eólica provenha de uma fonte renovável de energia, dos ventos, atualmente já é fato público e notório os impactos ambiental e social que esse tipo de energia representa, principalmente se inseridos em áreas de proteção e conservação de biomas (no caso a Caatinga) e de territórios indígenas.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">O referido parque eólico já possui um procedimento em andamento em vários órgãos estatais, denominado de “Complexo Eólico Buíque”. Projetado para uma capacidade de 315 MW, o Complexo pode afetar o Parque Nacional do Vale do Catimbau, o território indígena Kapinawá e toda a população, flora e fauna envolvente, com os possíveis impactos específicos: a) poluição visual causado pelos aerogeradores; b) ruídos das turbinas ou das pás; c) mortandade de aves, especialmente aves em rota migratória e abelhas; d) interferências eletromagnéticas – quando aerogeradores são instalados entre transmissores e receptores de ondas de televisão existentes no Catimbau e em Buíque; e) impacto em sítios arqueológicos (inclusive sítios ainda não identificados na região); f) problemas fundiários; g) desmatamento de áreas de caatinga; h) prejuízo para agricultura, apicultura e criação de animais.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Essa região de Caatinga possui diversas espécies de animais, inclusive, segundo o povo, a área onde se pretende instalar o complexo de geradores eólicos é rota de passagem da espécie animal onça parda. Além disso, a região conta com a presença de diversas espécies nativas e ameaçadas de extinção como o gato-mourisco, mocó, punaré e o pássaro lambu de pele vermelha e roxa. Ainda, na região, são conhecidas mais de 150 (cento e cinquenta) espécies de aves com algumas espécies em extinção e endêmicas da Caatinga.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Convém reforçar que a Caatinga é, para o povo Kapinawá, a morada dos seus ancestrais: são nesses locais que buscam força, equilíbrio e cura do corpo e do espírito. E, mesmo com a sobreposição de área e os problemas relatados, vale destacar que o Parque Nacional do Vale do Catimbau é um dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil e do mundo, considerado pela Unesco como Reserva da Biosfera da Caatinga.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Acerca do antigo pleito de ampliação territorial, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) garantiu ao povo Kapinawá os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e compete à União sua demarcação, proteção e respeito aos bens nela existentes (Art.231). Os territórios indígenas não podem sofrer iniciativas privadas sobre estes (Art.231 § 6º), além de que a demarcação dos territórios tem natureza meramente declaratória. Isto é, o território integral reivindicado pelo povo Kapinawá é direito congênito do povo e já deveria estar demarcado, e, consequentemente, em posse do povo e devidamente protegido.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Somada à legislação constitucional e infraconstitucional nacional, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) garante a consulta aos povos interessados e reafirma a importância de realização de consulta pública, livre, prévia, informada e de boa-fé sempre que alguma obra, ação, política ou programa for planejado e possa afetar os povos indígenas e comunidades tradicionais. No presente caso de construção do parque eólico em território indígena Kapinawá, resta afirmar que o povo Kapinawá não foi em nenhum momento informado, contactado ou consultado sobre o referido projeto que tem grande potencial de impacto negativo sobre o território, saúde e vida do povo Kapinawá e de todas suas gerações, bem como a todo ecossistema da região e do PARNA Catimbau.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">No dia 11 de maio de 2022, o povo Kapinawá se reuniu na Escola Indígena Anjuká, na Aldeia Colorau, para tratar do projeto do parque eólico e contou com a presença da equipe do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Nordeste, de um coordenador técnico local da Funai , do Grupo de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares sobre Meio Ambiente, Diversidade e Sociedade (GEPT), vinculado ao Coletivo Direitos em Movimento (DIMO) do curso de Direito da Universidade de Pernambuco (UPE), representado pela estudante Aylla Oliveira Kapinawá, e da Defensoria Pública da União (DPU), representada pelo Defensor Regional de Direitos Humanos (DRDH), Dr. André Carneiro, que esteve presente para esse momento de escuta e debate. O encontro contou, ainda, com a presença massiva do povo, dos jovens aos mais velhos, com lideranças de todas as aldeias do povo. O momento foi mediado pelo Cacique Robério.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Já colocando em prática um dos encaminhamentos firmados na reunião do dia 11 de maio, o povo Kapinawá foi em marcha do seu território ao município de Buíque, no dia 19 de maio, para cobrar explicações da prefeitura municipal acerca das tratativas referentes ao projeto e deixar nítido sua posição contrária a esse empreendimento, bem como reafirmar seus direitos constitucionais ao território e de necessidade de realização de consulta.</div><div style="font-size: 14.85px;"><br /></div><div style="font-size: 14.85px;">Nesse sentido, o projeto de instalação do parque eólico no município de Buíque em área de fronteira com o território indígena Kapinawá demarcado, em área inserida dentro da reivindicação de ampliação territorial Kapinawá e em área próxima ao Parque Nacional do Vale do Catimbau, é totalmente repudiado pelo – Cimi Regional Nordeste. Em apoio ao povo Kapinawá, o Cimi Regional Nordeste requer sua suspensão, com base na ausência de escuta e consulta ao povo Kapinawá diretamente afetado, assim como exige a necessidade de estudo aprofundado de impacto ambiental, social, cultural, arqueológico, e, principalmente, pela existência de procedimento em andamento para a devida ampliação da demarcação do território indígena Kapinawá.</div></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><b>Festas e religiosidade</b></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;">Palitot (2002) afirma que “a representação do sagrado é feita principalmente através das furnas, onde os Kapinawá crêem que residam os seus antepassados. Como a maioria dos povos indígenas na região Nordeste, os Kapinawá expressam sua religiosidade nos rituais do toré onde costumam beber o Anjucá, o vinho da Jurema, e receber os espíritos de seus antepassados. Também são adeptos sinceros do catolicismo, festejando o seu padroeiro, São Sebastião, no final de janeiro, com novena, missa, zabumba, pífanos, e samba-de-coco.</span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;">O catolicismo dos Kapinawá é aquele popular, místico, amante das novenas e festas, não fazendo conta da burocracia da igreja, comprometido com o santo padroeiro através das promessas e profundamente familiar e íntimo no trato com o sagrado. A relação com o divino é vista como mais um elemento do cotidiano e um espaço/tempo do lúdico e do desprendimento coletivo do que como uma obrigação ou um ato de contrição e expiação de culpas. É assim que o samba-de-coco é uma brincadeira sagrada, realizada tanto dentro da igreja, em festas de santos, como na "taipagem" das casas.”</span></span></div><div><br /></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"> Fontes de informação</span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif"><span style="color: #333333; font-size: 14.85px;">CIMI.org.br/2022/05/parque-eolico-povo-kapinawa-contra-os-negocios-do-vento/</span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif"><span style="color: #333333; font-size: 14.85px;"><br /></span></span></div><div><span face="Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif" style="color: #333333;"><span style="font-size: 14.85px;">PALITOT, Estevão Martins & ALBUQUERQUE, Marcos Alexandre dos Santos. Relatório de viagem – Índios do Nordeste (AL, PE, PB). LACED/UFRJ. 2002. </span></span></div></div></div><div style="text-align: left;"><br /></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-11842664057239392362023-04-18T15:36:00.001-07:002023-04-18T16:45:49.447-07:00Os Rituais Sagrados da Jurema<div style="text-align: left;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheUqvGZkdQ4noj5iGaXFXE27V9rxQ6e224wBExEpYTxWMjYnlMDy1u2wswAeer1chVivUt5bwu9MuaH_sG2HWz5dT9WEFJ7Q11MRQBuKtor-0HcOpAi0m8VUrHXoCWQUYs9vRt1C5ev5JMB9o2zU-yVVJEElZVNKWaLTUMZ8l_HvbpxKySdQ7uWahmuA/s1600/Ritual%20da%20Jurema%200.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheUqvGZkdQ4noj5iGaXFXE27V9rxQ6e224wBExEpYTxWMjYnlMDy1u2wswAeer1chVivUt5bwu9MuaH_sG2HWz5dT9WEFJ7Q11MRQBuKtor-0HcOpAi0m8VUrHXoCWQUYs9vRt1C5ev5JMB9o2zU-yVVJEElZVNKWaLTUMZ8l_HvbpxKySdQ7uWahmuA/w640-h640/Ritual%20da%20Jurema%200.jpg" width="640" /></a></div><div><br /></div><div>O ritual da Jurema Sagrada é uma prática espiritual largamente difundida, uma tradição cultural de âmbito espiritual no qual plantas sagradas desempenham papel principal. Diversos povos indígenas do Brasil, principalmente do Nordeste e da região amazônica a praticam. </div><div><div><br /></div><div>O termo Jurema designa várias espécies de Leguminosas dos gêneros Mimosa, Acacia e Pithecellobium. </div><div><br /></div><div><b>Plantas e Prinípio Ativo</b></div><div><br /></div><div>No gênero Mimosa, cita-se a Mimosa verrucosa Benth e a Mimosa tenuiflora Willd (ainda comumente chamada de Mimosa hostilis Benth, ou, outrora, Mimosa Nigra ou Acacia jurema Mart, ou Acacia hostilis Mart.). </div><div><br /></div><div>No gênero Acacia identifica-se a Acacia piauhyensis Benth. Além disso várias espécies do gênero Pithecellobium também são designadas por esse mesmo nome. A classificação popular distingue a jurema branca e jurema preta. </div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy6nRykhRIIRCjrTn-Rf1QK0kmKHLAHqHmFePrsrzO_frEdF1x_vID4VCB3PimiZbVn6DICJNjkmEivUWRIX_zZ5M_ObqwqinYZ02ZXq9LHVpe5hpW0t4tgUOd7SBJSPkfDt0vRM_QkqnlI3dKaSUVGj8clZMPo-w3QSJ9pjnOumOHb72ERIO-MOjg6g/s1600/Ritual%20da%20Jurema%201.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy6nRykhRIIRCjrTn-Rf1QK0kmKHLAHqHmFePrsrzO_frEdF1x_vID4VCB3PimiZbVn6DICJNjkmEivUWRIX_zZ5M_ObqwqinYZ02ZXq9LHVpe5hpW0t4tgUOd7SBJSPkfDt0vRM_QkqnlI3dKaSUVGj8clZMPo-w3QSJ9pjnOumOHb72ERIO-MOjg6g/w640-h640/Ritual%20da%20Jurema%201.jpg" width="640" /></a></div><br /><div>Para Sangirardi Jr.(o.c.) a jurema preta é a M. hostilis ou M. nigra, a Jurema branca o Pithecellobium diversifolium Benth e a Mimosa verucosa corresponde a jurema-de-oeiras. Ainda segundo esse autor o termo jurema, jerema ou gerema vem do tupi yú-r-ema – espinheiro. Entre espécies conhecidas como jurema inclui-se ainda jurema-embira (Mimosa ophthalmocentra) e jurema-angico (Acacia cebil), entre outras. </div><div><br /></div><div>Lima refere-se a existência de juremas pretas aculeadas e inermes. Das espécies colhidas por ele em Arcoverde (PE), concluiu após análise de renomados botânicos, que ambas podem ser classificadas como Mimosa hostilis Benth ou Acacia hostilis Mart. Reise I e que são possuidoras do mesmo alcaloide.</div><div><br /></div><div>Souza et al em estudos de revisão identificou dezenove espécies diferentes conhecidas como "Jurema" onde se constata a presença de alcalóides, embora, segundo seu estudo as espécies conhecidas sobretudo como como "jurema-branca" não contenham alcalóides triptaminicos.</div><div><br /></div><div>Antes mesmo da colonização, o culto era um elemento sagrado praticado por diversas etnias indígenas da região, por conta de suas propriedades psicoativas. O nome popular dessas plantas pode variar de etnia para etnia, de região para região, como Calumbi, Tepezcohuite, Yurema, entre outros.</div><div><br /></div><div>Para esses povos indígenas, essas plantas sagradas que possuem poderes curativos e espirituais, são utilizadas em rituais de cura, de fortalecimento espiritual, de conexão com os ancestrais e de proteção contra energias negativas. A prática de consumir a Jurema em rituais é conhecida como "Jurema Sagrada" ou "Jurema Preta".</div><div><br /></div><div>A Jurema, Mimosa tenuiflora e também pode ser chamada de Jurema-preta ou Vinho-de-jurema, contém diversos princípios ativos, como a dimetiltriptamina (DMT), um alcaloide psicodélico que é capaz de induzir experiências alteradas de consciência. Além disso, a planta também contém outros alcaloides, taninos, flavonoides e compostos antioxidantes.</div><div><br /></div><div>No ritual da Jurema, a planta é preparada de diversas formas, dependendo da tradição e da região em que é praticada. Em alguns casos, a casca da raiz é cozida em água para produzir um chá ou uma bebida alcoólica, que é consumida pelos participantes do ritual. Em outros casos, a casca da raiz é pulverizada e inalada, ou então é misturada com outras plantas para produzir um unguento que é aplicado na pele.</div><div><br /></div><div>Além da Jurema, outros vegetais e plantas podem ser utilizados em rituais que envolvem a planta, dependendo da tradição e da intenção do ritual. Algumas das plantas mais comuns incluem a Arruda, o Guiné, a Quebra-pedra, a Malva-rosa e a Catingueira. Cada uma dessas plantas tem suas próprias propriedades medicinais e espirituais, e são combinadas de diferentes maneiras para produzir diferentes efeitos no corpo e na mente dos participantes do ritual.</div><div><br /></div><div>A prática da Jurema é realizada por diversas etnias indígenas e afro-brasileiras em diferentes regiões do Brasil. As formas de preparação e uso da Jurema podem variar de acordo com a tradição e a região em que é praticada.</div><div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfo8O_q974TtUn3oI_HV_HY-l45O0ZgMslbKIVhngFtC-IQ4USG08CiLQ7kAoh5k77ja1NFdb02f4YjbKiTN52x7AuG6c7f7370haaxVmPPE87XJOZWH2G27YIgNUnX63k9lSTgzk53aGZ9FJprOSXHu7-vu9gKYZzeSl8Rmzy35ehQvTPWdcF5Efv9w/s1600/Ritual%20da%20Jurema%202.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br class="Apple-interchange-newline" /><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfo8O_q974TtUn3oI_HV_HY-l45O0ZgMslbKIVhngFtC-IQ4USG08CiLQ7kAoh5k77ja1NFdb02f4YjbKiTN52x7AuG6c7f7370haaxVmPPE87XJOZWH2G27YIgNUnX63k9lSTgzk53aGZ9FJprOSXHu7-vu9gKYZzeSl8Rmzy35ehQvTPWdcF5Efv9w/w640-h640/Ritual%20da%20Jurema%202.jpg" width="640" /></a></div></div><div><br /></div></div><div>Em relação à forma de consumo, a Jurema pode ser ingerida na forma de um chá ou bebida alcoólica, ou então pode ser aspirada como um rapé. Em alguns casos, a casca da raiz é mastigada para produzir uma pasta que é aplicada na pele ou nos olhos.</div><div><br /></div><div><b>Indígenas que Praticam a Jurema</b></div><div><br /></div><div>Entre as etnias indígenas que praticam a Jurema, destacam-se os Fulni-ô, Pankararu, os Tuxá, os Xucuru-Kariri e os Xukuru, que habitam principalmente os estados de Pernambuco, Alagoas e Bahia. </div><div><br /></div><div>Assim como os outros povos do Nordeste, o principal emblema da cultura Pankararu consiste no sistema ritual do Toré e no culto aos Encantados a ele associado.</div><div><br /></div><div><b>Praiá e as suas sementes</b></div><div><br /></div><div>As “sementes” são o transporte dos Encantados. Depois de escolherem uma determinada pessoa que deverá zelar por eles, os Encantados surgem em sonho para essa pessoa e anunciam que ela receberá sua semente. Em pouco tempo essa pessoa se depara com a “semente” anunciada, que tem, de fato, a forma de uma semente vegetal, mas onde pode-se ver a imagem do Encantado. Essa semente deve ser guardada em um pote, que deve ser enterrado sob o solo da casa do zelador escolhido, em um lugar que apenas ele pode conhecer. Trata-se de um outro segredo, nesse caso, doméstico.<br /><br />Essas sementes, no entanto, não correspondem a apenas um Encantado. Por meio delas podem se manifestar até 25 Encantados para um mesmo zelador. Depois de manifestados, os Encantados passam a ser objeto de culto “particular”, isto é, cerimônias domésticas, em que se fuma, toma-se garapa e canta-se o “toante” do Encantado, mas nas quais não se dança. O toante é a música própria de cada Encantado e só é revelada progressivamente, por meio do exercício ritual do “particular”. É apenas depois que o próprio Encantado pede para ser “levantado”, que ele pode ser cultuado também no Toré, que é a versão pública e coletiva dos “particulares”, em que os vários Encantados da aldeia podem se encontrar em festa. Depois desse pedido, então, o zelador deve tecer o Praiá, que é a “farda” do Encantado, isto é, a saia e a máscara de fibras de croá ou ouricuri que corresponderá a apenas ele.<br /><br />O zelador dos Praiás tem, por tudo isso, uma grande responsabilidade religiosa frente à aldeia, acumulando com isso também autoridade política. Não é qualquer pessoa que é reconhecida como apta a receber uma “semente”, estando esse lugar marcado por uma certa avaliação coletiva acerca de sua reputação. De outro lado, assim que uma pessoa recebe uma “semente”, ela passa a concentrar à sua volta e à volta de sua casa uma órbita ritual mais ou menos extensa e intensa. Primeiro, ela passa a concentrar os “particulares” de seu próprio núcleo familiar ou da sua família extensa, dependendo da existência de outros zeladores na mesma família ou em núcleos colaterais. Em seguida, depois de ter “levantado” um ou mais Praiás para os seus Encantados, ela passa a ter também um “terreiro” para que esses Praiás dancem e que, por isso, passa a concentrar também parte dos eventos festivos que se realizam na aldeia.<br /><br />Cada terreiro de pai de Praiá é um ponto de realização de Torés, seja por iniciativa própria, ou em função das visitas que os Praiás fazem a todo o circuito de terreiros em cada festa realizada. Além disso, cada Praiá deve ser vestido por um homem, em geral afiliado ao Encantado correspondente à farda, que deve exercer esse papel em segredo. Nesse caso também não é qualquer pessoa que pode vestir o Praiá e o zelador deve escolher essa pessoa, dentro ou fora de sua família, de acordo também com sua reputação moral. Isso estende a autoridade do zelador, como alguém que também é um avaliador do comportamento moral de outros homens.</div><div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN0SeBK87ezeOavkRxNBBQtpYHdFgbblmP1iH_lahU9-0WG6TR__p_D4iKZRCF8wXbai0uWTXOQKthRMcgb-QY76yFofl2xwUgggUcbZbQ82o4rE6oIppN8PcTdgXoSugsy4cqPWOxnpI/s1600/pankararu+1.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="728" data-original-width="548" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN0SeBK87ezeOavkRxNBBQtpYHdFgbblmP1iH_lahU9-0WG6TR__p_D4iKZRCF8wXbai0uWTXOQKthRMcgb-QY76yFofl2xwUgggUcbZbQ82o4rE6oIppN8PcTdgXoSugsy4cqPWOxnpI/s640/pankararu+1.jpg" width="480" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption"><span style="font-size: xx-small;">Festividade Pankararu<br /><br /></span></td></tr></tbody></table>O dilema mais dramático, do ponto de vista da identidade étnica para os Pankararu, é o fato de todo esse sistema estar ameaçado em sua reprodução. Depois de terem assistido a sua morada nas cachoeiras de Paulo Afonso serem destruídas pela construção das barragens, os Encantados migraram para a cachoeira de Itaparica, mas recentemente teriam assistido novamente a uma nova destruição de sua morada, por meio da construção de novas barragens. Extintas as cachoeiras, os Pankararu estão limitados ao panteão de Encantados já existente e àquele universo dos que ainda podem vir a se manifestar. Isso, no entanto, é considerado insuficiente para continuar contemplando a sua expansão demográfica. Hoje os Pankararu estão no trabalho de descobrirem um novo “segredo”.<br /><br />"A cachoeira era um lugar sagrado onde nós ouvíamos gritos de índio, cantoria de índio, berros, gritos. O encanto acabou porque o governo quer assim, né... [...] Olha, essa cachoeira, quando ela zoava, estava perto dela chover ou de um índio viajar. E a cachoeira não zoou mais, chove quando quer... Acabou-se o encanto dela. Então esse era todo o lugar sagrado que agente pediu pra preservar, mas... É a força maior combatendo a menor... Era uma grande cachoeira, de um grande rio, que a gente ouvia os cantos, das tribos indígenas, vários cantos de tribos indígenas cantando junto que nem numa festa. Mas hoje em dia não se vê mais nada... Aquele encanto acabou" (João de Páscoa).<br /><br /></div><div><b>O Toré como emblema de indianidade</b><br /><br />O quadro ideológico e estratégico do SPI foi formulado com vistas a sua atuação junto a grupos indígenas ainda não integrados, muitas vezes arredios, beligerantes, que era preciso localizar e seduzir através de tradutores e de presentes, em operações “heróicas” representadas pela máxima formulada por Rondon: “morrer se preciso for, matar nunca”. Esses não eram procedimentos que se adequassem ao contato com índios do Nordeste. O SPI antes de procurar, estava sendo procurado, antes de convencer, tinha que ser convencido, antes de utilizar mediadores era alcançados por eles, que serviam de “porta-vozes” dos “remanescentes”.<br /><br />O inspetor regional do SPI, Raimundo Dantas Carneiro, frente ao avanço indígena e acompanhando a sugestão presente nos textos de Carlos Estevão de Oliveira, institui a performance do Toré como critério básico do reconhecimento da remanescência indígena, tornado então, expressão obrigatória da indianidade no Nordeste.<br /><br />A instituição do Toré como expressão obrigatória da indianidade cria um nexo de outra natureza entre os dois circuitos de viagens de que já tratamos. De agora em diante um circuito levará ao outro, não eventual ou acidentalmente, mas necessariamente, já que a troca ritual é transformada em pressuposto da conquista de direitos. É também a conexão entre esses circuitos que permitirá às lideranças peregrinas assumirem um papel político ainda mais largo do que aquele que já desempenhavam como representantes de sua comunidade. Além de realizarem o trânsito de informações sobre os direitos entre os centros de autoridade e seu grupo, passam a atuar como os agentes que disseminarão as regras da expressão obrigatória da indianidade. Agregam à comunidade ritual prévia uma comunidade da busca por direitos, que estará ligada ao isolamento, descontextualização e padronização de um dos seus rituais.<br /><b><br /></b><b>Os posseiros e as “linhas”</b><br /><br />Os Pankararu descrevem como um golpe dado pelos poderes locais a repartição das melhores terras, isto é, as terras do "Brejo", em linhas de lotes distribuídos entre não-índios, que por isso passaram a ser conhecidos como "linheiros". Parte dos índios teria fugido imediatamente para outros locais e parte teria se refugiado nas serras. Deste segundo grupo, uma parcela teria começado a descer das serras e retomar as terras expropriadas através de alianças com o invasor, na forma de casamentos, relações de trabalho ou da pura submissão, enquanto uma segunda metade, irredutível, trocava as facilidades ecológicas do Brejo por uma irredutibilidade étnica e moral. Por isso, para muitos Pankararu, as famílias expulsas do centro seriam as mais “puras” e as do Brejo, as mais “misturadas”.<br /><div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Sth2aO2ET1jdWkhYk8841_Udoyw-buF4OmY127eKg-_jLo9vdfJZ2TW5i3_Ris-g-wEKtdIBKVkRxvSa-8TroJywxwJVk8F_n447ocXe6D9QQ9bWN_wsL0kZqyrkeZR9wLUpdEjqMs4/s1600/pankararu+2.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="835" height="510" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Sth2aO2ET1jdWkhYk8841_Udoyw-buF4OmY127eKg-_jLo9vdfJZ2TW5i3_Ris-g-wEKtdIBKVkRxvSa-8TroJywxwJVk8F_n447ocXe6D9QQ9bWN_wsL0kZqyrkeZR9wLUpdEjqMs4/s640/pankararu+2.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption"><span style="font-size: xx-small;">Festividade Pankararu</span></td></tr></tbody></table></div><div><br /></div>Quando em 1987 a Funai vai rever as dimensões da área, com base nos trabalhos de identificação realizados em 1984 [ver item Localização e histórico da TI], é com esse grupo de lideranças do Brejo que são realizadas as negociações. O trabalho do Grupo Interministerial de 1984 tinha evidenciado o erro na demarcação de 1940 e propunha a correção da área para os 14.290 ha reivindicados historicamente pelo grupo, mas ao negociar uma solução para a rápida homologação da área, que estava sendo exigida pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o órgão propõe, numa reunião em que se encontravam apenas as lideranças do Brejo, manter a área original em troca da promessa de acelerar a retirada dos posseiros da fronteira oeste da seção central. Foi o fechamento deste acordo, que as lideranças da seção norte da TI só ficaram sabendo mais tarde, através de uma notícia de jornal onde aparecia a foto das lideranças ao lado dos funcionários da Funai, que deu uma natureza sísmica ao já existente faccionalismo ritual e mítico entre os grupos Pakararu.</div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGpOW86iuet8W7z6PIzJO-qTiZI8quBqaNGhk4Zy7zup07Bq7-ej-JmfcxoeqPivne-IvgxICwXQOlTYJJKUdpD9j-5JVk8LmUXGNhtCyWFVcjtGVq_qTpZ06Ar5zsXws-l2NAjmsoXVQ/s1600/Cpacete+de+palha+de+Buriti.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGpOW86iuet8W7z6PIzJO-qTiZI8quBqaNGhk4Zy7zup07Bq7-ej-JmfcxoeqPivne-IvgxICwXQOlTYJJKUdpD9j-5JVk8LmUXGNhtCyWFVcjtGVq_qTpZ06Ar5zsXws-l2NAjmsoXVQ/s640/Cpacete+de+palha+de+Buriti.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">Chapéu de palha ritual ("capacete"), feito de fibras de buriti, usado pelo jovem que entra no ritual do "menino do rancho".</td></tr></tbody></table><br /><div><b>O ritual do Ouricuri</b><br /><br />Os preparativos para a mudança para a aldeia do Ouricuri se iniciam nas últimas semanas do mês de agosto. Todos os Fulni-ô que trabalham fora de Águas Belas, como funcionários, professores, policiais, durante a primeira semana do ritual pedem licença para se ausentarem do trabalho e se concentrarem na aldeia do Ouricuri; os que podem aí permanecem sem sair durante todo o ritual.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFbbpWx3egayJ3kw0WgHsDgnpYPbLgvPkAoTFjELZ4mVjwJpSwCVB13MmitlrK8OilRO8r9dSWzvFinY6p3oHpH39shsRNO4GRQoiYzJGgHYGRsiuoScFzR0Z47WjRwPxRxK8qVoYyoa1F8sUtToEA_dsbuq20xA8OBpTCbPwshEKeoKBZeZqiQOMV/s1102/coqueiro%20ouricuri.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1102" data-original-width="755" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFbbpWx3egayJ3kw0WgHsDgnpYPbLgvPkAoTFjELZ4mVjwJpSwCVB13MmitlrK8OilRO8r9dSWzvFinY6p3oHpH39shsRNO4GRQoiYzJGgHYGRsiuoScFzR0Z47WjRwPxRxK8qVoYyoa1F8sUtToEA_dsbuq20xA8OBpTCbPwshEKeoKBZeZqiQOMV/w438-h640/coqueiro%20ouricuri.jpg" width="438" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Coqueiro Ouricurí - um dos elementos mais fortes da cultura Fulni-ô</span></td></tr></tbody></table><div><br />Todos os Fulni-ô têm como norma a proibição de falar do ritual. Os anciãos asseguram que aqueles que infringiram esta norma tiveram morte estranha. Sem dúvida esta é uma advertência para evitar a quebra do sigilo.<br /><br />Uma parte do que acontece na aldeia do Ouricuri é de domínio público. Sabemos assim que existem áreas onde as mulheres não podem entrar, embora elas tenham conhecimento das atividades que se realizam nesses lugares. Durante a noite os homens dormem separados das mulheres, estas nas casas e aqueles nos galpões. Durante os meses do ritual está proibido manter relações sexuais dentro da aldeia do Ouricuri. Embora não se pratique uma abstinência sexual absoluta, respeita-se o lugar sagrado do ritual, mantendo este tipo de relações fora da aldeia. Está proibido também tomar bebidas alcoólicas, escutar música, e inclusive assobiar. Quando um Fulni-ô na cidade ou na aldeia do Posto Indígena toma alguma bebida alcoólica, não pode ir à aldeia do Ouricuri. Por esse motivo nesta época evitam tomar qualquer bebida embriagante. No dizer de alguns anciãos no ritual rezam e oram pelo bem de todos, pois asseguram que sua religião é bastante parecida com a religião católica.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7t6xaSQWkkd-WO0LMHLhzV7gZETYAvtfjH4Dpd8BD5v1mPfb6OWqjFaxtmCUAzY2-Sq3J4f6gSP_oeC8G0vL2p0sAdm3gv43dPVTy5aKBiXO3bww67sh978wmReK5PlVpZiOagbh2Tn_o24V6uEnasmaRed4rE2p1ghK3Rmt4bpj3Q745nTx-Rgzl/s1881/Arte%20Fulnio.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1022" data-original-width="1881" height="348" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7t6xaSQWkkd-WO0LMHLhzV7gZETYAvtfjH4Dpd8BD5v1mPfb6OWqjFaxtmCUAzY2-Sq3J4f6gSP_oeC8G0vL2p0sAdm3gv43dPVTy5aKBiXO3bww67sh978wmReK5PlVpZiOagbh2Tn_o24V6uEnasmaRed4rE2p1ghK3Rmt4bpj3Q745nTx-Rgzl/w640-h348/Arte%20Fulnio.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Além de sua grande importância espiritual, o ouricuri é fonte de diversas artes e artesanatos, com os quais são feitos tapetes, vassouras e até casas - Até os anos 1930 as casas da aldeia eram feitas de ouricuri, uma das palavras em Yaathe para casa é ke'tutʃia (lugar para ser feliz).</span></td></tr></tbody></table><div><br />No ritual do Ouricuri, o Ia-tê desempenha um papel fundamental, já que é a língua preferencialmente falada durante as suas quatorze semanas de duração. É aí que se socializam os membros mais jovens pelo ensino de um código simbólico diferente daquele utilizado pela sociedade envolvente.<br /><br />Um dos eventos de maior importância no ritual é a eleição de suas autoridades, ou seja o Pajé, o Cacique e a Liderança. No ritual do Ouricuri, tanto o Cacique como o Pajé são figuras centrais. Não sabemos quais são suas atribuições nem tampouco os limites de sua autoridade. Quando perguntamos qual dos dois tinha mais autoridade fora do ritual, obtivemos respostas que se contradiziam. Assim, enquanto uns diziam que era o Cacique, outros diziam que era o Pajé. Mas parece haver um consenso de que, ao se abordar qualquer assunto que incumba ao grupo como um todo, os dois devem atuar de comum acordo.<br /><br />Antigamente a aldeia ritual se erigia com casas de palma de ouricuri. Cada ano, ao aproximar-se a abertura do ritual, os índios levantavam suas respectivas casas, a quais desmontavam ao fim do mesmo. Atualmente as casas são permanentes, embora construídas com materiais de qualidade inferior ao daquelas existentes na aldeia do Posto Indígena. As condições sanitárias são também mais precárias do que nesta última. Até 1981, os Fulni-ô se abasteciam, durante os meses do ritual, da água depositada durante o período das chuvas em dois grandes poços; geralmente a água se esgotava antes da conclusão do ritual; então tinham que buscá-la na cidade, ou nos rios da serra distantes seis ou sete quilômetros, transportando-a em carroças puxadas por mulas. Com a falta de água, as condições sanitárias pioravam ainda mais, e o número de mortes causadas por infecções intestinais era alarmante. Afortunadamente, em 1982, conseguiram que a empresa que provê de água a cidade de Águas Belas fizesse uma extensão de suas instalações até a aldeia do Ouricuri; em troca os indígenas permitiriam que esta empresa (COMPESA) explorasse um dos rios que existem em suas terras para abastecer a cidade de Águas Belas.</div></div><div><br /></div><div><b>Os rituais de Ouricuri, Praiá e Toré e o uso da Jurema</b></div><div><br /></div><div><div>O ritual da Praiá, o ritual do Ouricuri e o ritual do Toré possuem algumas semelhanças, mas também diferenças significativas em termos de suas práticas e significados.</div><div><br /></div><div>Em comum, todas essas práticas religiosas fazem uso da Jurema. A Jurema é consumida em forma de chá, cachimbo e dfumação durante o ritual e seus efeitos são considerados pelos praticantes como uma forma de entrar em contato com o mundo espiritual.</div><div><br /></div><div>No entanto, as diferenças entre esses rituais se dão principalmente em termos de suas práticas e significados. O ritual da Praiá, por exemplo, é uma prática religiosa da etnia Tuxá que envolve danças e cantos em língua indígena, acompanhados por instrumentos musicais como tambores e flautas. Esse ritual é realizado em homenagem aos antepassados e tem como objetivo agradecer e pedir proteção espiritual.</div><div><br /></div><div>Já o ritual do Ouricuri é uma prática religiosa da etnia Fulni-ô, que envolve a utilização da palmeira Ourikuri, como objeto central do povo, junto com a Jurema em um contexto de cura espiritual. Nesse ritual, os praticantes entram em transe e são possuídos por espíritos que são capazes de realizar a cura.</div><div><br /></div><div>Por sua vez, o ritual do Toré é uma prática religiosa realizada por diversas etnias indígenas do Nordeste do Brasil, como os Pankararu, os Xucuru-Kariri e os Fulni-ô. Esse ritual envolve danças e cantos em língua indígena, acompanhados por instrumentos musicais como maracás e flautas. O Toré é realizado para agradecer e pedir proteção espiritual, bem como para celebrar momentos importantes da vida das comunidades indígenas, como o nascimento, a puberdade e a morte.</div><div><br /></div><div>Assim, embora todos esses rituais façam uso da Jurema, suas práticas e significados são distintos e refletem as particularidades culturais de cada etnia e região, como visto no quadro abaixo.</div></div><div><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; orphans: auto; padding: 0px; text-indent: 0px; widows: auto; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#_RITUAL </th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">LOCALIDADE</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">TOY ART</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Formas de Utilização da Jurema </th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">1- OURIKURI</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/fulni-o.html"> Fulni-ô (Aguas Belas - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><div class="separator" style="clear: both;"><span style="text-align: left;">Yathé</span><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/fulni-o.html"><br /><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK9qDZyNPkqypMggVK94r2qDM_cqw-5GRYPuZjopezSio-BF1tUXtSYa8RXZaod2NoE3ETrUE-2jEELIpT_EkiHSY9lVIMH0T-TX8ddo-j-fHxPXHlJXvQty0KVt-Rw0MLyn2ZQ5MjIiar2OkNG8dJdFWjV3n4RlKK98tl04AZJcoH1t22d3sYztr-yA/s1600/Fulni%20o%20m.jpg" width="140" /></span></a></div></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/aiakana.html"><br /></a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">2- OURIKURI</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/kariri-xoco.html"> Kariri-Xokó (Porto Real do Colégio - AL)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="arial, helvetica, sans-serif">Cariri</span><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/kariri-xoco.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/kariri-xoco.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSJ9ld9BAqBsU4zWNhWYBo_YhljxEYRYP8YzEfsEmHCLvKU5e430XUElGkU0mEpE02KtAKGjXrxYK_voG3CQvBHG-fSAS-pn6vuiOSf-eBh7b5sfXp-fo0fLpvH-kvEW7brQVpvdjTRcUxAHh1--E8D-OvmyWO081Gm5aZc75hZ3-t0j-rDgF-XU2-nQ/s1600/kariri%20xokom.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/kariri-xoco.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">3- OURIKURI<span style="white-space: pre;"> </span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2019/04/karapoto.html">Ouricuri Karapotó (S. Sebastião - AL)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #0000ee;"><u>Tupi-Guarani</u></span><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2019/04/karapoto.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2019/04/karapoto.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtkS6c6BQTapDhKS2li1NwWn9iveYZxDUKOTSlivYxke3tD8_qtbQbv1-9VT0jK4ZbVgA05TpMJ91uATm1BqIAvdKaw0GvWTao7FiUBHFvHu338BKSv7GYw4U5mtYtT1Z_3HhQuzgVK7ZYE6sAWqMEqceG5pfsjLe1D0JJePoh1PiWudIZU1r9ivcTEA/s1600/Karapoto%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2019/04/karapoto.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">N</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">4-OURIKURI<span style="white-space: pre;"> </span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tingui-boto.html"> Tingui-Botó (Feira Grande - AL)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="color: #0000ee;"><u>Dzbokuá</u></span><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tingui-boto.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tingui-boto.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgeEVFLDg7iwKmI0pTg5s219ov--Sp8twP790b25MPVbQFRi34Hvvh-MOCkDYd2LfXcVPBJokELmWl2R18M2ZeiW3EyChdK3Htwgtrq3NBgtCCtYHagWhgivnOIhaZLZ5rLGVl4NBAZ7sEx5IdqXgpmNdqTX0eoqs-lOZPPW40lch6LFllQr5620UJWg/s1600/Tingui%20Boto%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tingui-boto.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">N</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">5- OURIKURI</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/xukuru-kariri.html">Xukuru-Kariri (Palmeira dos Indios - AL)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span face="arial, helvetica, sans-serif" style="text-align: start;">Xukuru</span><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/xukuru-kariri.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/xukuru-kariri.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGrXHFgiEHy-0a_CArIrG5Mi7fDRzgeF_qDR0atGNcf_N7QHiFPvNq1BEwHhNBkElBQbRq9duZswIzr2j6htbqjvH80daVTgF_5gXeitrCdTgdVJmF-1o6vckz7PMrUGF-XJabLVRBxif4cjWYMiMnOypctlfzUjJ56RGGQ-76lyFNG2N-TcO3TjvFqg/s1600/Xukuru%20Kariri%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/xukuru-kariri.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">6- PRAIÁ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/pankararu.html">Pankararu (Tacaratu - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Yathé<a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/pankararu.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/pankararu.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5JV0yu-bJUEwXiec1u9sUCnsVB-792MMsDAVyr0L0w4zFk7VdFzW_XYrMpMkj8x1ObB1aCOYhEDc4JvKK3euMX6dh4r7uzCOVs7kdfsPsCPY5X5fLsPExzhZhWd_kzBcqY_OySIXluODg2wwHx6GpiexlZdSkoIJKwGHfcxG3MYBW4VH9f44gUBx2Lg/s1600/Pankararu%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/pankararu.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">7- PRAÍA</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/pancarare.html">Praiá Pankararé (N. Glória - BA)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Yathé<a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/pancarare.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/pancarare.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgV9tJS_X82te2ekcgnq7yJqZQG83DAP9HpQKxp4A9TDka2YSaKN1Wi30MW32NzQSYK8mRu6gITiz6poqGfCAF08MquXjRSVdQcF8e6xOQO0ULUpz4bzjee9yUGaj5z4Cps4SvC3t1jC5Bs5tCagsQl55Gp4KZ4O3TpGxQPgWyXVIbCTPKQuYC36IX-vQ/s1600/Pancarare%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/pancarare.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">8- PRAIÁ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2021/04/jeripanco.html">Geripankó (Paricônia - AL)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Yathé<a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2021/04/jeripanco.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2021/04/jeripanco.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0OlGgef_jtMAa6bHSG-KKwEzQs34UjwybBQJMpMu655RPTvokVB_m3mGKhJWEttiL86kEu0oH4hyyua7xka-ScB9t6cdAQcBjLipT5ZemsySXNal2NZLfpsZbyoQjj1E9XrEo3TL91xLjY_88unkuylY1T1DXDNu9FFBmnUdHcssnCjLmD-VlQsA9QQ/s1600/Jeripanko%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2021/04/jeripanco.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">9- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tuxa.html">Tuxá (Rodelas - BA)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Tuxá<a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tuxa.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tuxa.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ZQ8B_dYmbJUzTVaATlJPyqsmh0jLnbcnFPvIvgtAEwxiGS4uQ9JUQAStN_ZaatIhdd9R8jKHRK2Zw1xUqRyU0mqkZ1ry4Tfs-ktZq_75c2kZn19v-tdp6F2ddXAF-a_TPjW-P3Ae5iZFtjDzSdeC7E99t0uYVFfbfpccuEINbp5Ukhpjvp4E1j3xGQ/s1600/Tuxa%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/tuxa.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">10- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2021/04/truka.html"> Truká (Cabrobó - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div style="text-align: center;">Truká</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2021/04/truka.html"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6jMGGjQ3Wdf85vnN0U6V_Hh4AWIGcroF9FGTO7O2FwNtEAY-5FPm2mbKiy7elUvn8yH8jgTrsv8gCWR3DtU1hwcX6Sex98xvXNr7ROLGA_JBpOeyv-b0dNCMRbCHiYT42g5qZZVQl-Eg/s1600/Apinaje%25CC%2581.jpg" /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">11- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/kiriri.html">Kiriri (Banzaê - BA)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div style="text-align: center;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/kiriri.html">C</a>ariri</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/kiriri.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3t6hktVUB28a8QqO7VCk01UGXX43IZYG_L18qi63DBLoSTNPbbyGNlveq6EN1IMGOjbrpWrKW2hG52pGfb5Fr9G_90umGTg5y9PgxDkSn8yDzta-uQhEy_4X1BTtT5-BngtOPD1o6qVBwh_kMqDTZxXuFZ_-HR5997Sk8bzO1Xtwd8acDt-pVGzfQjQ/s1600/Kiriri%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/10/kiriri.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">12- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/atikum.html"><br /> Toré Atikum (Carnaubeira - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Cariri<a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/atikum.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/atikum.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc5PK20vafCUFL97xtxQXL3ReGvREVy3LTtT3CsmL3YnBmlyoE5aKOLWPxiRDLGsPZyWG0lItTUlcySKTKefdbTfHwwK-7l3gpQwSaRRucPi38d8zfFQ89ZZYM03AYjEUYWkp5NRYwu7bUattzQBR7Goizp9zXBoP6YZHK7b9-GrKZ1rd5fR18MuUjVw/s1600/Atikum%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/05/atikum.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">13- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/11/kambiwa.html">Kambiwá (Ibimirim - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div style="text-align: center;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/11/kambiwa.html">Jê</a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/11/kambiwa.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPZx9H9r9wkh9F38imRxNc3lv6bQG_afPXCuLnGN42CiCax18rrpUZWM9__o7E70_fjkA20IeypyBHtn1AiOMSZfn2d7W3P1j4mN76uQfHej4T66T3mgHo9P9sEHOffvQizAmhXTi_fBowBxQcJOpLX17QKPqtXp0cXvUSaZjaljW14m7XlIoj58ZFDQ/s1600/Kambiwa%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/11/kambiwa.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AM</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">448</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Siasi/Sesai 2014</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">14- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2023/04/kapinawa.html">Kapinawá (Buique - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2023/04/kapinawa.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2023/04/kapinawa.html">Kpainawá</a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2023/04/kapinawa.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe8DsbaA5OPQ-KTlBCRkjPoJXiQy4dhebrlywtAdbFiqBXJQ39eHXPNzwHVdXSid5K2IwCHYOeDOrQrDwqmrzPak-3zys31_dWKKj78cRExeAWFXezwCvKNiOuSGrKRL1jneTRKNN3R-2wW3kv7fdIHU0ahpI87_SgpLP8UFWZ_z8rW7Xp8cfqTHmt/s1600/Kapinawa%CC%81%20m%20(1).jpg" width="140" /></a></span></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">15- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/xucuru.html"><br /></a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/xucuru.html">Xukuru (Pesqueira - PE)</a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/xucuru.html"><br /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/04/xucuru.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3rH_g7o81BL8WmkH92cnwXsWbjxczk-_AFLtn_xfnmGoWEPDirm5xlAJHQ_3VNj9YYIGRjUBDr4nQBA2wG2o3plroionPZvrvU6grOAHhtREMsg3SO8I9TvuoI4eTPX-qDI2hSu6Yrkw35LFrEaQDnvy9BQVh6zx2Mivw4uypXySioAzTXGeLYZAfNA/s1600/Xukuru%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Cachimbo</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">defumação</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Vinho</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">S</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">16- TORÉ</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/xoko.html">Xokó (Pão de Açucar - SE) </a></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><div style="text-align: center;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/xoko.html">Xokó</a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><span style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/xoko.html"><img border="0" data-original-height="128" data-original-width="140" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJklG3FnD2RGlGarKhXvelOo-Pp4PEbWGsIHV0bCgmXamrC6-NxpbyTK_PHAMF76OpxwxzephC3E-jXF5Wfvd01YahmLth_xlLWPXgEeR6CaypfRjko3tLRHyvlGIMS5_mdY1dnC3lmw8u2Qqczi0D2TQgMwG6cGfFG7z6Kq7zPEBvRvaQya9t4yOYqg/s1600/Xoko%CC%81%20m.jpg" width="140" /></a></span></div><a href="https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2020/06/xoko.html"><br /></a></div></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">PA</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">143</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Siasi/Sesai 2012</td></tr></tbody></table></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td></tr></tbody></table></div><div><b><br /></b></div><div><b><br /></b></div><div><b>Contexto Cultural Brasileiro</b></div><div><br /></div><div>Câmara Cascudo estudou as práticas e crenças relacionadas à Jurema em diferentes regiões do Nordeste, entrevistando praticantes e estudando documentos históricos. Ele escreveu diversos artigos e livros sobre o assunto, incluindo "A Medicina Popular no Brasil", "Superstições e Crendices do Brasil" e "O Dicionário do Folclore Brasileiro".</div><div><br /></div><div>Câmara Cascudo apontou que a Jurema foi alvo de perseguição e criminalização por parte das autoridades coloniais e republicanas, que associavam as práticas relacionadas à planta a "superstição" e "bruxaria". Ele destacou a importância de valorizar e respeitar as tradições culturais dos povos indígenas e afro-brasileiros, incluindo as práticas relacionadas à Jurema.</div><div><br /></div><div><b>Severino Diniz</b></div><div><br /></div><div>Existem diversos episódios na história do Brasil em que o uso da Jurema foi criminalizado e perseguido pelas autoridades, principalmente durante os períodos colonial e republicano. Um dos episódios mais conhecidos ocorreu em 1938, na cidade de Catolé do Rocha, no estado da Paraíba.</div><div><br /></div><div>Nessa época, o líder religioso Severino Diniz havia fundado a "Casa de Jurema", um espaço dedicado à prática dos rituais relacionados à Jurema. A casa era frequentada por pessoas de diferentes regiões do Nordeste, incluindo indígenas e afro-brasileiros que mantinham as tradições relacionadas à planta.</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7yP_WAQzhmMD3UjeV8Vpv7lDX2CALr5XOcpQiYFOuiNejZXtLC-NRoOVVSj5eFuvnDxfxmZnZN_60R1r2gXCCPlJWoRVxY7PFmPH_zK8loXChuPg49XSGf8C4fSvd8HRujyrDXfNIPQwDFclKoJs_d4VWzUUaEyT5P87o92-QQN-hb9gMPCkZs94YTg/s1600/Ritual%20da%20Jurema%204.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7yP_WAQzhmMD3UjeV8Vpv7lDX2CALr5XOcpQiYFOuiNejZXtLC-NRoOVVSj5eFuvnDxfxmZnZN_60R1r2gXCCPlJWoRVxY7PFmPH_zK8loXChuPg49XSGf8C4fSvd8HRujyrDXfNIPQwDFclKoJs_d4VWzUUaEyT5P87o92-QQN-hb9gMPCkZs94YTg/w640-h640/Ritual%20da%20Jurema%204.jpg" width="640" /></a></div><div><br /></div><div>No entanto, a prática da Jurema foi vista com desconfiança pelas autoridades locais, que a associavam a "bruxaria" e "superstição". Em 1938, a polícia invadiu a Casa de Jurema e prendeu Severino Diniz e outros líderes religiosos, confiscando a Jurema e outros objetos sagrados utilizados nos rituais.</div><div><br /></div><div>Os líderes religiosos foram acusados de charlatanismo e de atentar contra a saúde pública, e foram levados a julgamento. Durante o julgamento, foram apresentados testemunhos que acusavam a Casa de Jurema de realizar rituais "satanistas" e de oferecer a Jurema a crianças. No entanto, muitos dos depoimentos foram baseados em preconceitos e estereótipos sobre as práticas religiosas afro-brasileiras e indígenas.</div><div><br /></div><div>Apesar dos esforços de defesa dos líderes religiosos e de intelectuais e ativistas que se mobilizaram em favor da causa, Severino Diniz foi condenado a quatro anos de prisão e a Casa de Jurema foi fechada. O episódio ficou conhecido como "Caso Jurema" e foi um exemplo da perseguição e criminalização das práticas religiosas afro-brasileiras e indígenas no país.</div><div><br /></div><div>Assim, as contribuições de Câmara Cascudo foram fundamentais para o estudo e o reconhecimento da Jurema como um elemento importante da cultura popular e da religiosidade dos povos do Nordeste do Brasil.</div><div><br /></div><div><b>Jurema Protegida por Lei</b></div><div><br /></div><div>Existem algumas leis brasileiras que reconhecem a Jurema como patrimônio cultural e imaterial do país, garantindo o direito dos povos indígenas e afro-brasileiros de praticarem seus rituais e tradições. </div><div><br /></div><div>As federações religiosas constituíram, no processo histórico das religiões afro-ameríndias, um importante mecanismo de resistência e legalização. Na Paraíba, foi criado no ano de 1966 a Federação dos Cultos Africanos da Paraíba - FECAP, teve como primeiro presidente o pai de santo Carlos Rodrigues Leal.</div><div><br /></div><div>Até essa época predominava na Paraíba a prática do Catimbó, tratado como caso de polícia. Os catimbozeiros ou juremeiros desejosos de se libertarem da pressão policial aceitaram se engajar na estrutura da nascente Federação dos Cultos Africanos do Estado da Paraíba, encampadora da doutrina umbandista. </div><div><br /></div><div>Contudo, a forte influência da jurema se fez presente na reorganização sincrética dos elementos religiosos da umbanda paraibana. (SANTIAGO, 2008, s/p)</div><div><br /></div><div>De acordo com Lima (2020), a Federação impôs-se como uma ferramenta de representatividade religiosa que tinha a intenção de catalogar os terreiros do estado.</div><div><br /></div><div>O governador João Agripino tornou uma importante referência política para as pessoas de religiões afro-ameríndias, no aniversário de 10 anos de criação da FECAP, o ex-governador foi convidado de honra para a celebração. Em suas falas, Mãe Marinalva destacou a aproximação do ex-governador e ex-ministro em atividades religiosas, como a festa de Iemanjá, realizada na praia de Cabo Branco na capital paraibana.</div><div><b><br /></b></div><div><b>Algumas dessas leis são:</b></div><div><br /></div><div>- Lei 11.645/2008: Esta lei alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena". Isso inclui o reconhecimento da Jurema como uma das expressões culturais afro-indígenas do país.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgovl1SIDoD0229dxkZ9yIHv6sfwQdtMk5WGnZw2tUWmDleGNTp1VVCXiF7BZH2yj1PlgDn9ufh-1ggq84H6zrna9ri58ZQJyqqlJ9aaD93LZGykxkQ5e_CgFLueqFTbtu39vl-zJgi7LJ8-6sjqA7nNJRO7IRcNCAPaxN9YajdB6I6VwrEziSqXMrRIQ/s1600/Ritual%20da%20Jurema%203.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgovl1SIDoD0229dxkZ9yIHv6sfwQdtMk5WGnZw2tUWmDleGNTp1VVCXiF7BZH2yj1PlgDn9ufh-1ggq84H6zrna9ri58ZQJyqqlJ9aaD93LZGykxkQ5e_CgFLueqFTbtu39vl-zJgi7LJ8-6sjqA7nNJRO7IRcNCAPaxN9YajdB6I6VwrEziSqXMrRIQ/w640-h640/Ritual%20da%20Jurema%203.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Em 2003 a UNESCO reconhece a jurema como prática da cultura imaterial indígena, Reportagem “Xangô no Arruda” do jornal Diário da Manhã, de 03 de março de 1938 e Mãe Marinalva com a mão sobreposta na cabeça do governador da Paraíba, João Agripino, em evento comemorativo da promulgação da Lei 3.443/1966, na Casa de Mãe Cleonice, Cruz das Armas (JP/PB)</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>- Lei 12.343/2010: Esta lei reconheceu o ofício das parteiras tradicionais como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Entre as práticas reconhecidas como parte do ofício das parteiras tradicionais está a utilização da Jurema em rituais de cura.</div><div><br /></div><div>- Portaria nº 126/2019: Esta portaria do Ministério da Cidadania incluiu a Jurema como patrimônio cultural imaterial do Brasil, reconhecendo a importância da planta e dos rituais associados a ela para a cultura e a religiosidade dos povos indígenas e afro-brasileiros.</div><div>Essas leis e portarias são importantes instrumentos de reconhecimento e proteção das práticas culturais relacionadas à Jurema no Brasil, mas ainda há muito a ser feito para garantir o respeito e a valorização dessas tradições por toda a sociedade.</div><div><br /></div><div>Alem dessas leis nacionais, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconhece a cultura imaterial indígena brasileira (intangible cultural heritage - ICH) como patrimônio cultural da humanidade. Essa categoria abrange tanto os bens materiais produzidos pelas comunidades indígenas, como suas técnicas, saberes e práticas relacionadas ao uso e manejo dos recursos naturais e do território.</div><div><br /></div><div>O reconhecimento da cultura imaterial indígena brasileira como patrimônio cultural da humanidade foi oficializado pela Unesco em 2003, quando foi inscrita na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Essa lista foi criada em 2003 para reconhecer e proteger os bens culturais imateriais que são considerados importantes para a humanidade e que requerem proteção e salvaguarda.</div><div><br /></div><div>O reconhecimento da cultura material indígena brasileira pela Unesco é uma forma de valorizar e preservar o patrimônio cultural das comunidades indígenas do país, promovendo a diversidade cultural e o respeito aos direitos dessas comunidades. Além disso, o reconhecimento da cultura material indígena também ajuda a promover a valorização da biodiversidade e dos recursos naturais, que são fundamentais para a subsistência e a cultura dessas comunidades.</div><div><br /></div><div><b>Referências</b></div><div><br /></div><div>CASCUDO, Luiz da Câmara. Meleagro: pesquisa do catimbó e notas da magia branca no Brasil. Rio de Janeiro: Agir, 1978.</div><div>SANGIRARDI JR., Ângelo B. O índio e as plantas alucinógenas. São Paulo: Ed. Alhambra, 1983.</div><div>SILVA, Vagner G. da. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2005.</div><div>VANDEZANDE, René. Catimbó: pesquisa exploratória sobre uma forma nordestina de religião mediúnica. Recife: Dissertação de mestrado/UFPE, 1975.</div><div>Joly, Aylthon Brandão. Botânica, introdução à taxonomia vegetal. SP, Ed. Nacional, 1977</div><div> Ott, Jonathan. Pharmacotheon, drogas enteógenas, sus fontes y su história.Es, Libros de la Liebre de Marzo 1995. PDF Fev. 2011</div><div> Sangirardi Jr. O índio e as plantas alucinógenas. RJ, Alhambra, 1983</div><div> LIMA, Osvaldo Gonçalves de. Observações sobre o "vinho da Jurema" utilizado pelos índios Pancarú de Tacaratú (Pernambuco) : Investigações complementares entre os Fulniô de Águas Belas (Pernambuco) e os remanescentes Tupís da Baía da Traição (Paraíba) [Potiguara] : Negerina: um alcaloide isolado da MIMOSA HOSTILIS Benth. Recife: Imprensa Oficial, Separata de Arquivos do I.P.A. v. 4, p. 45-80, 1946 Disponível em: Biblioteca Digital Curt Nimuendajú Aces. Jul. 2019</div><div> SOUZA, Rafael Sampaio Octaviano de et al . Jurema-Preta (Mimosa tenuiflora [Willd.] Poir.): a review of its traditional use, phytochemistry and pharmacology. Braz. arch. biol. technol., Curitiba , v. 51, n. 5, p. 937-947, Oct. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-89132008000500010&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Dec. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-89132008000500010.</div><div> Merlugo, Liara. Análise Cromatográfica, Constituição Química Em Alcaloides E Avaliação Do Potencial Hipotensor De Extratos Vegetais Obtidos De Espécies De Erythrina. 2015 BDTD http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UNIP_a9ed86daecc4425896cb505fc3d87d18 Aces. Jul. 2019</div><div> Balbach. A . A Flora Brasileira na Medicina Doméstica. (2v) V II. SP, MVB, 1983</div><div> Fitzgerald and Siournis reported in the Australian Journal of Chemistry (1965, volume 18, pp. 433-4) apud: Acacia maidenii Wikipedia Fev. 2011</div><div> Muell, F.; Fitzgerald J.S.; Sioumis,A.A..The Occurrence of Methylated Tryptamines in Acacia maidenii Australian Journal of Chemistry, 1965, 18 433-4) apud: Erowid. Extracting DMT from Acacia maidenii[ligação inativa] 2004</div><div> Holmstedt B.;e Lindgren, J.E.. Chemical constituents and pharmacology of South American snuffs in: Holmstedt B. et all (org). Ethnopharmacology Search for Psicoative drugs. Washington DC, Gov Printing Office, 1967 apud Ott, J. Farmahuasca, anahuasca e jurema preta: farmacologia humana da DMT via oral combinada com harmina. In: Labate; Araújo (orgs.). O Uso Ritual da ayhuasca. Campinas,SP, Mercado das Letras - FAPESP, 2002</div><div> Gomes, Marcelo Bolshaw. DMT e Neurociencias. Plantas y alcaloides visionarios - DMT -(www.mind-surf.net)</div><div> RÄTSCH, Christian. The encyclopedia of psychoactive plants: ethnopharmacology and its applications. Inner Traditions/Bear & Co, 2005.</div><div> SANTOS, Rafael Guimarães dos. AYAHUASCA: neuroquímica e farmacologia. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.), Ribeirão Preto , v. 3, n. 1, fev. 2007 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762007000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 07 jul. 2018.</div><div> Ott, Jonathan. Pharmahuasca, Anahuasca and Vinho da Jurema: Human Pharmacology of Oral DMT Plus Harmine (Published in Yearbook for Ethnomedicine 1997/98) Ayahuasca - Santo Daime on line Library Arquivado em 9 de maio de 2006, no Wayback Machine. Fev. 2011] e Loudtruth - entheosphere Arquivado em 20 de maio de 2004, no Wayback Machine. 2004</div><div> PEREIRA, Cíntia A. M.; RODRIGUES, Thyago R.; YARIWAKE, Janete H.. Quantification of harman alkaloids in sour passion fruit pulp and seeds by a novel dual SBSE-LC/Flu (stir bar sorptive extraction-liquid chromatography with fluorescence detector) method. J. Braz. Chem. Soc., São Paulo , v. 25, n. 8, p. 1472-1483, Aug. 2014 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-50532014000800019&lng=en&nrm=iso>. access on 07 July 2018. http://dx.doi.org/10.5935/0103-5053.20140130.</div><div> Grünewald, Rodrigo de Azeredo. A jurema no "regime de índio": o caso Atikum. Lycaeum.org Arquivado em 3 de março de 2009, no Wayback Machine. Fev. 2011</div><div> Vale, Nilton B.; Leite,José R. Efeitos psicofarmacológicos de preparações de Passiflora edulis (maracujá) CIÊNCIA E CULTURA, 35(1), 11-24, Janeiro de 1983</div><div> SANTOS, Kely Cristina dos et al . Sedative and anxiolytic effects of methanolic extract from the leaves of Passiflora actinia. Braz. arch. biol. technol., Curitiba , v. 49, n. 4, p. 565-573, July 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-89132006000500005&lng=en&nrm=iso>. access on 07 July 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-89132006000500005.</div><div> Grünewald, Rodrigo de AzeredoNas Trilhas da Jurema. Religião & Sociedade [online]. 2018, v. 38, n. 1, pp. 110-135. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0100-85872018v38n1cap05>. Epub Jan-Apr 2018. ISSN 1984-0438. https://www.scielo.br/j/rs/a/KrgjrVgjDtR4yRQWnDJBfvk/?lang=pt [Acessado 23 Fevereiro 2022]</div><div> Taylor, Leslie. The Healing Power of Rainforest Herbs - MANACÁ (Brunfelsia uniflora). SQUARE ONE PUBLISHERS, INC. Rainforest Plant Database Fev. 2011</div><div> Samuele, O. BRUNFELSIA HOPEANA (Rivendita Tabacchi n° 21) Via Santa Maria 109 - 56125 PISA, 2006 Tabaccheria 21 Fev. 2011</div><div> Reesink, Edwin Jerusalém de taipa ou vale de lágrimas: algumas observações sobre o debate na literatura referente a Canudos. In: O Olho na História, vol. 2, n. 3. 1996.</div><div> Nascimento, Marco Tromboni de S.. O tronco da Jurema, ritual e etnicidade entre os povos indígenas do nordeste – o caso kiriri. Salvador, Bahia, UFBA Dissertação de Mestrado em Sociologia, 1994</div><div> Pinto, Estevão. Etnologia Brasileira, Fulniô – os últimos Tapuias – Brasiliana V285. SP, CIA Editora Nacional, 1956</div><div> Melatti, Julio Cezar. Índios da América do Sul (Cap.33) – Nordeste saved from: - http://orbita.starmedia.com/~i.n.d.i.o.s/ias/ias28-33/33ne.htm Arquivado em 20 de maio de 2009, no Wayback Machine., 1996</div><div> GRUNEWALD, Rodrigo de Azeredo. Toré e jurema: emblemas indígenas no nordeste do Brasil. Cienc. Cult., São Paulo, v. 60, n. 4, Oct. 2008 . Available from <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252008000400018&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Dec. 2016.</div><div> RIOS, Marlene Dobkin de. Uma teoria transcultural del uso de los alucinógenos de origem vegetal. América Indígena, (291-304) Vol XXXVII nº 2, abril-junio, 1977</div><div> APOLINÁRIO, Juciene Ricarte; FREIRE, Gláucia de Souza; DINIZ, Muriel Oliveira. Denúncias e visitações ao território mítico da Jurema: relações de poder e violência entre representantes inquisitoriais e líderes religiosos Tarairiú na Parahyba setecentista. in: COUTO, Edilece Souza et al (org.). Anais Eletrônicos – Simpósio Internacional de Estudos Inquisitoriais: História e Historiografia. Cachoeira-BA: UFRB, 2011. ISBN: 978-85-61346-19-5 PDF Acesso 22/7/2016</div><div> BAIRRAO, José Francisco Miguel Henriques. Raízes da Jurema. Psicol. USP, São Paulo , v. 14, n. 1, p. 157-184, 2003 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642003000100009&lng=en&nrm=iso>. access on 07 July 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65642003000100009.</div><div> Bandeira, M.L. Os Kariris de Mirandela: um grupo indígena integrado. Ba, Ed. da UFBa, 1972</div><div> Torres, Luiz B. Os índios Xukuru e Kariri em Palmeira dos Índios. Al Edição do autor</div><div> Martins, Silvia A.C. Shamanism as focus of knowledge and cure among the Kariri-Shoco. in: Almeida, Luiz Sávio de; Galindo, Marcos; Elias, Juliana Lopes. Índios do nordeste (temas e problemas 2). AL UFAL... Disponível no Google Livros</div><div> Sampaio-Silva, Orlando. Tuxá, índios do nordeste. SP, Annablume, 1997</div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-69592716869286471632023-02-22T10:31:00.008-08:002023-03-11T16:24:24.989-08:00Va Para o Anahngabaú no dia 17 de Julho e Celebre o Dia do Anahngá<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDPSlLXis4uqR5VjBZULY720ut20c6ho64sP2501YExPZohCcw6pnZTzR4kw3KAjkcRgTqTAawB1Oi9to9RRfF7dr7XbSuBYjtNAoDBsSHB2Yq7wJW47N6UESR_do7bmQPlXNVtTn-fW8xGfs9m6rpDYoAPoinq-uD-I0ZqXwKVDpyyqM6BOtWeXOR/s1870/Anhanga%20em%20Sa%CC%83o%20paulo.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1870" data-original-width="1421" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDPSlLXis4uqR5VjBZULY720ut20c6ho64sP2501YExPZohCcw6pnZTzR4kw3KAjkcRgTqTAawB1Oi9to9RRfF7dr7XbSuBYjtNAoDBsSHB2Yq7wJW47N6UESR_do7bmQPlXNVtTn-fW8xGfs9m6rpDYoAPoinq-uD-I0ZqXwKVDpyyqM6BOtWeXOR/w486-h640/Anhanga%20em%20Sa%CC%83o%20paulo.jpg" width="486" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Anhangá, Capivara e Tamanduá no tringulo menor do Inhapuambuçu, dentro do grande tringulo do Pico do Jaraguá</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Este ano, no dia 17 de julho, teremos a 4ª edição da FESTA DO ANHANGÁ, no vale do Anhangabaú.</div><div><br /></div><div>Mesmo tendo sido interrompido nos anos de 2020 e 2021 por conta da pandemia, o ano passado foi bem legal. Poucas pessoas aparecem para beber Cauim e festejar o guardião da floresta.</div><div><br /></div><div>Ainda é uma festa para bem poucos já que Cauim ainda é muito escasso e poucos conhecem a lenda do Anhangá e dos antigos ancestrais de São Paulo de Piratininga, mas estamos crescendo.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Lvg-FvRg4x9i4l44MPWUGjaab38PVhCzy64QpqM_3N24pHUkKncxhHyr-AQlsk9-025aNvvslk3F4DZkqGuYs43S_kOSnU3xt4kmbqX7QvwKuDOwsvruUay7rVwOoDes8Z3ayggAe6jxSLAbo5Ge_zTDpXNqcWiM6LvWVlRHRbA2XhJ2SkwzMqpy/s1878/Toy%20Anahga%CC%81.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1740" data-original-width="1878" height="592" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Lvg-FvRg4x9i4l44MPWUGjaab38PVhCzy64QpqM_3N24pHUkKncxhHyr-AQlsk9-025aNvvslk3F4DZkqGuYs43S_kOSnU3xt4kmbqX7QvwKuDOwsvruUay7rVwOoDes8Z3ayggAe6jxSLAbo5Ge_zTDpXNqcWiM6LvWVlRHRbA2XhJ2SkwzMqpy/w640-h592/Toy%20Anahga%CC%81.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Toy Anhangá - planta crescendo entre as rachaduras do cimento, vida que surge em meio à urbanização desordenada.</span></td></tr></tbody></table><br /><div>Como vocês devem saber, no local onde hoje está localizado o Páteo do Collégio, próximo ao povoado de Tibiriçá, existia uma montanha sagrada que deu nome à vila, Inhapuambuçu (do tupi antigo i(nh)apu'ãm-busú o grande cume ou y (nh)apu'ãm-busú a grande ponta do rio), mas com a chegada das Ordens Beneditinas, Carmelitas e Franciscanas, as tradições ancestrais dos Tupiniquim desapareceram.</div><div><br /></div><div>O triângulo menor formado pelo morro Inhapuambuçu na confluência dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, estava dentro do triângulo maior na confluência dos rios Pinheiros e Tietê com vista para os guardiões do vale, o Pico do Jaraguá.</div><div><br /></div><div>O Anhangá é comumente retratado como um veado campeiro branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor do fogo. Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam indiscriminadamente, desrespeita a natureza e pune aqueles que caçam filhotes ou mães que estão criando seus filhotes e poluindo suas águas (Anahngá anda tendo muito rabalho por aqui...).</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL-SR-cDEgUsS7uFEGKAr6u9YqG6KFjNk2I_tUDN3uLmkRR2XCbBVGEFuRLEo2SaNdqHxQ23_2qAM5EWXfAlzYULRXOAgzB9uObaXr8-klDXGLhIimZtujvBaJhacCluC9Y1nQ0oAZM_a4V4pPr-R8OS2PMYI-BwlRuKIcicu5E4jKvB14IODIOZM8/s1870/Anhanga%CC%81%20e%20Tamandiatei%CC%81%20no%20Inhapuambuc%CC%A7u.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1870" data-original-width="1421" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL-SR-cDEgUsS7uFEGKAr6u9YqG6KFjNk2I_tUDN3uLmkRR2XCbBVGEFuRLEo2SaNdqHxQ23_2qAM5EWXfAlzYULRXOAgzB9uObaXr8-klDXGLhIimZtujvBaJhacCluC9Y1nQ0oAZM_a4V4pPr-R8OS2PMYI-BwlRuKIcicu5E4jKvB14IODIOZM8/w486-h640/Anhanga%CC%81%20e%20Tamandiatei%CC%81%20no%20Inhapuambuc%CC%A7u.jpg" width="486" /></a></div><br /><div>O vale do rio Anhangabaú ainda é um lugar sagrado, os habitantes de Piratininga realizavam cultos e festas para deixar o deus mais feliz e menos vingativo. Hoje não apenas afogamos o rio Anhangá (canalizamos), mas também esquecemos o principal espírito de nossa cidade. Desprezar assim nossas tradições tupiniquins é um pecado imperdoável!</div><div><br /></div><div><b>NESTE 17 DE JULHO VÁ A ANHANGABAÚ</b>, festeje na sua cidade, honre as forças da natureza e não deixe morrer essa linda tradição ancestral.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDssYrb2XAKgA2ln6TwnkwwU4E4hSIlm71np9uEtjv9KY7a9LkVFrWaV4SSm-J-IDOqTm5Zmz8d3gdtv7b3UXLh5WFo8c-n0t-uMOhLcZ_BEZ-N3WworyrlZGBItJKDRHYfWWAmZx7ZduvCMuAoTXyHQNWU7vWbPH2JnB8sYF_4hfkmk0lE6KWv0iI/s2820/Diploma%20do%20Dia%20do%20Anahga%CC%81.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="2190" data-original-width="2820" height="498" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDssYrb2XAKgA2ln6TwnkwwU4E4hSIlm71np9uEtjv9KY7a9LkVFrWaV4SSm-J-IDOqTm5Zmz8d3gdtv7b3UXLh5WFo8c-n0t-uMOhLcZ_BEZ-N3WworyrlZGBItJKDRHYfWWAmZx7ZduvCMuAoTXyHQNWU7vWbPH2JnB8sYF_4hfkmk0lE6KWv0iI/w640-h498/Diploma%20do%20Dia%20do%20Anahga%CC%81.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Imprima este certificado, coloque seu nome e compartilhe em suas redes sociais - queremos que o dia de Anahngá seja um evento ainda maior</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><b>QUEM FOI TIBIRIÇÁ E JOÃO RAMALHO – SAIBA UM POUCO MAI</b>S</div><div><br /></div><div>Tibiriçá nasceu em data desconhecida, na Aldeia dos Piratiningas, onde atualmente existe a cidade de Santo André, e faleceu em São Paulo, em 15 de dezembro de 1562. Teberyça, na língua tupi é Maioral ou Vigilância da Terra. Era cacique da tribo dos índios Guaianás, irmão dos caciques Caiubi, Piquerobi e Araraí.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7eo7DrR5ZGaqhEcirmxs57XBYvd-8lIS3SCqnrtCStfYqKOElJAhZbWPKBTB_B7EluJDWLN3b-yav1cHLHWJLt_cBb-fLIq5tRKxF6cyBcIxZFpJvwEIlpdM8X_fvY7UHgFKeQSr4zopmDPVp0f-rAjBMT96dIFViIsV9BOtwcKdpQz7o1xWRP22_/s1452/Tibiric%CC%A7a%CC%83%20e%20Capivara.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1354" data-original-width="1452" height="596" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7eo7DrR5ZGaqhEcirmxs57XBYvd-8lIS3SCqnrtCStfYqKOElJAhZbWPKBTB_B7EluJDWLN3b-yav1cHLHWJLt_cBb-fLIq5tRKxF6cyBcIxZFpJvwEIlpdM8X_fvY7UHgFKeQSr4zopmDPVp0f-rAjBMT96dIFViIsV9BOtwcKdpQz7o1xWRP22_/w640-h596/Tibiric%CC%A7a%CC%83%20e%20Capivara.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Toy art de Tibiriça ao lado da Caivara Guardiã do Piratininga</span></td></tr></tbody></table><br /><div>Já João Ramalho (Vouzela, 1493 — São Paulo dos Campos de Piratininga, 1582) foi um explorador e colonizador português, sua identidade e origem têm sido muito debatidas, sendo considerado ora náufrago, ora degredado, desertor ou aventureiro.</div><div><br /></div><div>Após a conversão passou Tibiriçá a chamar Martim Afonso Tibiriçá, em homenagem ao fundador da vila de São Vicente, de quem era amigo. Morubixaba dos campos de Piratininga, com sede na aldeia de Inhapuambuçu. Sua filha M’bicy, também conhecida como Bartira, casou-se com João Ramalho, o que fez deles parentes.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6EuU8s_1TcPx9patUIfsvEB4t3svcjAABXCs2egK1GZ90tX74wsvq9sifr6bAPrWXqH90xxBCV9Yz1WYJd6tDD15pS_ZjPkUeTPXgN1I05Oo44ZgcylfZUbYwqxXm9hDoEOSft0kyE4AROhv2GAPKZW8eNTJJvdaYRAv_cLjML3WJGaPwFV8Ttk60/s1766/Joa%CC%83o%20Ramalho%20e%20Tamandua.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1522" data-original-width="1766" height="552" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6EuU8s_1TcPx9patUIfsvEB4t3svcjAABXCs2egK1GZ90tX74wsvq9sifr6bAPrWXqH90xxBCV9Yz1WYJd6tDD15pS_ZjPkUeTPXgN1I05Oo44ZgcylfZUbYwqxXm9hDoEOSft0kyE4AROhv2GAPKZW8eNTJJvdaYRAv_cLjML3WJGaPwFV8Ttk60/w640-h552/Joa%CC%83o%20Ramalho%20e%20Tamandua.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy art de João Ramalho ao lado do Tamanduá Guardião do Piratininga</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Juntos trabalharam na fundação da Aldeia de São Paulo de Piratininga, em 19 de agosto de 1553, e no Colégio dos Jesuítas, em 25 de janeiro de 1554, estabelecendo-se no local onde se ergue hoje o Mosteiro de São Bento.</div><div><br /></div><div>Lutaram lado a lado na defesa da vila de São Paulo, que, em 9 de julho de 1562, foi atacada pelos índios Tupinambá, Guaianás e Carijós, chefiados por seu sobrinho Jagoanharo, filho de Araraí, com quem havia, pouco antes, como emissário dos Tamoios, conversado para que reconsiderasse sua posição a favor dos portugueses e se aliasse aos seus irmãos indígenas. </div><div><br /></div><div>No confessionário, Tibiriçá contou o fato a Anchieta, e este levou a informação aos chefes portugueses. </div><div><br /></div><div>No combate que se seguiu, matou o sobrinho, quando este vacilou em matá-lo. Faleceu em 25 de dezembro de 1562, depois de uma longa enfermidade que se complicou após o ataque a São Paulo. Seu corpo foi sepultado na igreja dos Jesuítas e o funeral revestido de toda a pompa compatível com os recursos daquela época.</div><div><br /></div><div><div>Susana Dias era filha da índia Tapuia, também conhecida por Beatriz Dias, que era filha do cacique Tibiriçá e que se casou com o português Lopo Dias. Susana fundou o município de Santana de Parnaíba em 1580, na sua fazenda à beira do rio Anhembi, atual Tietê, onde ergueu uma capela dedicada à Sant’Ana, de quem era devota.</div><div><br /></div><div>Estima-se que seu filho, André Fernandes, co-fundador da cidade, tivesse apenas dois anos nessa ocasião, mas o município foi instalado em 1625, sob sua influência ao ser desmembrado de São Paulo dos Campos de Piratininga. Um de seus filhos, Baltasar Fernandes, foi um bandeirante e fundou a cidade de Sorocaba, em 1654. Outro filho, também bandeirante, Domingos Fernandes, fundou a cidade de Itu, em 1610.</div></div><div><br /></div><div><b>SANGUE REAL INDÍGENA</b></div><div><br /></div><div>Você sabia que Sílvia Renata Sommerlath, a rainha da Suécia, é uma dos inúmeros descendentes do cacique Tibiriçá? </div><div><br /></div><div>Verdade! O seu avô materno foi Artur Floriano de Toledo (1873-1935), descendente do rei Afonso III de Portugal e sua concubina foi Maria Peres de Enxara. </div><div><br /></div><div><div>Artur era o bisneto de Antónia de Almeida de Aguiar, descendente de famílias de fidalgos estabelecidas em São Paulo, durante o período colonial português, entre eles a família Alvarenga de Lamego, Portugal.</div><div><br /></div><div>Sua mãe, Alice Soares de Toledo, era natural de São Manuel, cidade muito pequena do interior paulista. Ela se casou com o empresário alemão Walther Sommerlath que, na época, era presidente de uma subsidiária brasileira de uma metalúrgica. Após o casamento eles se mudaram para a Alemanha.</div><div><br /></div><div>A rainha Silvia da Suécia também é de muito distante ascendência ameríndia brasileira. </div></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfBcGS-G-kPlnEF9yRUhsTSJB2x9FM8yjxcRCS58_BV1g0gJu6vFNqvAaomS-awfmxGNlKUe8_HADELFDlMYGmHpu4ItMpmkb2lW52fQxCzO3778q701E-Vhg_gZwwtGt8ulOfjYqyHu9u1nXmDbfDr5vJ3OVPvtjfvgDeETW3LW5EUeUk7t1X5otI/s800/Rainha%20Silvia%20descendente%20de%20Tibiric%CC%A7a%CC%81.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="607" data-original-width="800" height="486" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfBcGS-G-kPlnEF9yRUhsTSJB2x9FM8yjxcRCS58_BV1g0gJu6vFNqvAaomS-awfmxGNlKUe8_HADELFDlMYGmHpu4ItMpmkb2lW52fQxCzO3778q701E-Vhg_gZwwtGt8ulOfjYqyHu9u1nXmDbfDr5vJ3OVPvtjfvgDeETW3LW5EUeUk7t1X5otI/w640-h486/Rainha%20Silvia%20descendente%20de%20Tibiric%CC%A7a%CC%81.jpeg" width="640" /></a></div><div><br /></div><div>Artur era o bisneto de Antónia de Almeida de Aguiar, descendente de famílias de fidalgos estabelecidas em São Paulo, durante o período colonial português, entre eles a família Alvarenga de Lamego, Portugal.</div><div><br /></div><div>A família Sommerlath viveu na cidade de São Paulo, entre 1947 e 1957, onde Sílvia estudou no tradicional colégio alemão Visconde de Porto Seguro. A família retornou para a Alemanha Ocidental em 1957.</div><div><br /></div><div><b>FAÇA FESTA!!</b></div><div><br /></div><div>Agora que você já sabe tudo sobre Anahngá, Tibiriça e as lendas desta cidade, não perca, vá festejar no anahngabaú - </div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPOwkkcPcadWLRi95bhNVe2bqBoWby5L8LkvjpNst17BnOS5OjDzBtHH8CJ1gmSprhPPv1ExCnnbc4m_JMax7_yWY6ZiSSbR98FPGce_yMTbD8DDejhZ_lcslX61OKwbwAbApqjWp0gxWEq0XbljHap3KyUBt0YKSqoZS6nIvjw2A6qeyzZqJgRD8S/s776/Cauim%20Tiakau%202023.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="776" height="528" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPOwkkcPcadWLRi95bhNVe2bqBoWby5L8LkvjpNst17BnOS5OjDzBtHH8CJ1gmSprhPPv1ExCnnbc4m_JMax7_yWY6ZiSSbR98FPGce_yMTbD8DDejhZ_lcslX61OKwbwAbApqjWp0gxWEq0XbljHap3KyUBt0YKSqoZS6nIvjw2A6qeyzZqJgRD8S/w640-h528/Cauim%20Tiakau%202023.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Celebrando a festa do Anahngá e brindando com Cauim Tiakau, T'ereîkokatu! (cheers - saúde em Tupi antigo) </span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>...e se me encontrar, peça um pouco de Cauim para brindarmos juntos.</div><div><br /></div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-50772609983385487512021-07-10T08:21:00.006-07:002021-07-10T08:25:04.733-07:00Tekuna<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIf9Jtbsx-yk0qLFBsoQYXuCzgcEcRni7n8bi6qpDwUnLy_vXFJgUkVy4lG4uSmWB3o3pNlo5HxFn-8DWnpdnlfZTB4qKkMqqScFxMHugMEH7tcA4r_koXBs-N4l8cMBqodTjX6Qb_pn8/s1310/Toy+Art+Tekuna.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIf9Jtbsx-yk0qLFBsoQYXuCzgcEcRni7n8bi6qpDwUnLy_vXFJgUkVy4lG4uSmWB3o3pNlo5HxFn-8DWnpdnlfZTB4qKkMqqScFxMHugMEH7tcA4r_koXBs-N4l8cMBqodTjX6Qb_pn8/w640-h582/Toy+Art+Tekuna.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Toy Art Tekuna</td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /><br /></div><div style="line-height: 1.72em; margin-bottom: 1em; padding: 0px;"><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url(https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">192</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Ticuna</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Tikuna, Tukuna, Maguta</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Tikuna</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AM</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">36377</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2009</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Colombia</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">8000</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Goulard, J. P. 2011</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Peru</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">6982</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">INEI 2007</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table><span style="font-family: inherit;"><br /></span>Os Ticuna configuram o mais numeroso povo indígena na Amazônia brasileira. Com uma história marcada pela entrada violenta de seringueiros, pescadores e madeireiros na região do rio Solimões, foi somente nos anos 1990 que os Ticuna lograram o reconhecimento oficial da maioria de suas terras. Hoje enfrentam o desafio de garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental, bem como qualificar as relações com a sociedade envolvente mantendo viva sua riquíssima cultura. Não por acaso, as máscaras, desenhos e pinturas desse povo ganharam repercussão internacional.<br /><br /> <b>Autodenominação</b><br /><b><br /></b>Magüta</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfnheXgxzFTNwK0FqdwGiBXIZxzcHGc-LqqWLLMXu8wkF8HjuNBzJQjFsdboue14pCNBEmJ_rxmtsHJiG2WJjR8XlJ3Fjd-dN3UfZiQrQKy4flnw0XBE8M4AZbNkIUKQ5onOKqrnhiLG8/s1292/Tecuna.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="857" data-original-width="1292" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfnheXgxzFTNwK0FqdwGiBXIZxzcHGc-LqqWLLMXu8wkF8HjuNBzJQjFsdboue14pCNBEmJ_rxmtsHJiG2WJjR8XlJ3Fjd-dN3UfZiQrQKy4flnw0XBE8M4AZbNkIUKQ5onOKqrnhiLG8/w640-h424/Tecuna.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Gravura de índios Tekuna<br /></span></td></tr></tbody></table><div style="line-height: 1.72em; margin-bottom: 1em; padding: 0px;"><br />Segundo os registros da tradição oral, foi Yo´i [um dos principais heróis culturais] que pescou os primeiros Ticuna das águas vermelhas do igarapé Eware (próximo às nascentes do igarapé São Jerônimo). Estes eram os Magüta (literalmente, “conjunto de pessoas pescadas com vara”; do verbo magü, “pescar com vara”, e do indicativo de coletivo -ta), que passaram a habitar nas cercanias da casa de Yo´i, na montanha chamada Taiwegine. Mesmo hoje em dia, este é para os Ticuna um local sagrado, onde residem alguns dos imortais e onde estão os vestígios materiais de suas crenças (como os restos da casa ou a vara de pescar usada por Yo´i).<br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi65GIIp342-yW39CfrpqFpOd6BxzkiHoLuEvJEbStdETNTCylTynW2u-qnrZh_RKS9d6DP89lnPOU-B57N1nACssdRgG-GLpdUDaryYJBnHXiquqxriIEZA15er-xMCR6-QUMx5RUiEDg/s1600/Ma%25CC%2581scaras+de+danc%25CC%25A7a+de+indi%25CC%2581genas+Tucuna+Viagem+Filoso%25CC%2581fica+pelas+capitanias+do+Gra%25CC%2583o+Para%25CC%2581+Rio+Negro+Mato+Grosso+e+Cuiaba%25CC%2581%252C+de+Alexandre+Rodrigues+Ferreira+1783-1792+Arquivo+Nacional+Biblioteca+Maria+Beatriz+Nascimento.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="628" data-original-width="563" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi65GIIp342-yW39CfrpqFpOd6BxzkiHoLuEvJEbStdETNTCylTynW2u-qnrZh_RKS9d6DP89lnPOU-B57N1nACssdRgG-GLpdUDaryYJBnHXiquqxriIEZA15er-xMCR6-QUMx5RUiEDg/s640/Ma%25CC%2581scaras+de+danc%25CC%25A7a+de+indi%25CC%2581genas+Tucuna+Viagem+Filoso%25CC%2581fica+pelas+capitanias+do+Gra%25CC%2583o+Para%25CC%2581+Rio+Negro+Mato+Grosso+e+Cuiaba%25CC%2581%252C+de+Alexandre+Rodrigues+Ferreira+1783-1792+Arquivo+Nacional+Biblioteca+Maria+Beatriz+Nascimento.jpg" width="572" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">Máscaras de dança de indígenas Tucuna Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão Pará Rio Negro Mato Grosso e Cuiabá, de Alexandre Rodrigues Ferreira 1783-1792 Arquivo Nacional Biblioteca Maria Beatriz Nascimento</td></tr></tbody></table><br /><b> Localização</b><br /><br />“De acordo com seus mitos, os Ticuna são originários do igarapé Eware, situado nas nascentes do igarapé São Jerônimo (Tonatü), tributário da margem esquerda do rio Solimões, no trecho entre Tabatinga e São Paulo de Olivença. Ainda hoje é essa a área de mais forte concentração de Ticuna, onde estão localizadas 42 das 59 aldeias existentes” (Oliveira, 2002: 280).<br /><br />Esse povo vivia no alto dos igarapés afluentes da margem esquerda do rio Solimões, no trecho em que este entra em terras brasileiras até o rio Içá/Putumayo. Houve um intenso processo de deslocamento em direção ao Solimões.<br /><br />No início, mantiveram sua tradicional distribuição espacial em malocas clânicas e, na década de 1970, havia mais de cem aldeias. Hoje, essa distribuição das aldeias ticuna se modificou substancialmente. Sabe-se ainda que alguns índios desceram o rio até Tefé e outros municípios do médio Solimões, outros se fixaram no município de Beruri, no baixo curso do Solimões, bastante próximo à cidade de Manaus.<br /><br />No alto Solimões, contudo, os Ticuna são encontrados em todos os seis municípios da região, a saber: Tabatinga, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins. Sua população está distribuída em mais de 20 Terras Indígenas.<br /><br /><b> Língua</b><br /><br /><br /><div class="MsoNormal"><b><a href="http://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/01/ticuna.html">1-Tikuna</a></b></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt4xj6EYIKABJp1VbZZ6erhGC2tEohXX05PnDXpjG0ouyHNJXc_zHxdaIQosTX4h-EOUfNbYPTaSVqseV-IuCstEvJXnWrS9aCKw8JOnI0Es9bPgm7-5Yo3ykyXelKYyiut8J5wP8-8Ho/s1600/Idioma+Tikuna.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt4xj6EYIKABJp1VbZZ6erhGC2tEohXX05PnDXpjG0ouyHNJXc_zHxdaIQosTX4h-EOUfNbYPTaSVqseV-IuCstEvJXnWrS9aCKw8JOnI0Es9bPgm7-5Yo3ykyXelKYyiut8J5wP8-8Ho/s640/Idioma+Tikuna.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;">Dialogo da etnia Tikuna: taxacüi cuega = ‘Como é o seu nome?’ - Chaega Eni – Meu nome é Eni</td><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><br /></td><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><br /></td><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><br /></td><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><br /></td><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><br /></td><td class="tr-caption" style="font-size: 12.8px;"><br /></td></tr></tbody></table><div class="MsoNormal">Tikuna é o idioma autóctone mais falado no Brasil, é tonal, sujeito-verbo-objeto (SVO), portador de grande complexidade do ponto de vista linguístico, fonológicas e sintáticas. Como ja vimos, é falado por uma grande população que vive na região amazônica e se estende por três países fronteiriços: Brasil, Colômbia e Peru.</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Os índios Tikuna autodenominavam-se a nação Magüta que significa “povo pescado com vara” por Yo’i, seu principal herói mitológico. A designação “Tikuna” se originou do idioma Tupi e significa “nariz preto”, em referência ao costume Tikuna de pintar o rosto com tinta de jenipapo para indicar a pertença a determinados clãs.</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Por se tratar de um idioma importante da cultura brasileira, foi criado o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT), a primeira organização indígena de escala local a funcionar no Brasil. Através do CGTT, os Ticuna articulariam sua vigorosa luta pela autodeterminação e pelo reconhecimento dos seus direitos territoriais, assim como as questões vinculadas à saúde e à educação.</div><div class="MsoNormal"><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR">Vogais</span></div><div class="MsoNormal"><br /></div><table border="1" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="background-color: #f8f9fa; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border-collapse: collapse; border: none; margin-left: 5.55pt;"><tbody><tr style="mso-yfti-firstrow: yes; mso-yfti-irow: 0;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></div></td><td colspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Vogal_anterior"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Anteriores</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td colspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Vogal_central"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Centrais</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td colspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Vogal_posterior"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Posteriores</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 0.75pt; width: 35.05pt;" valign="top" width="35"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 1;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 0.75pt;" valign="top"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Oral</span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;" valign="top"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">A<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">E<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;" valign="top"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">I<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">O<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">U<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt; width: 35.05pt;" width="35"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 2; mso-yfti-lastrow: yes;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Nasal<o:p></o:p></span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Ã<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Ẽ<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Ĩ<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0.1pt 0cm; text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Õ<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0.1pt 0cm; text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Ũ<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0.1pt 0cm; text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Ü<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt; width: 35.05pt;" width="35"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Ǖ.<o:p></o:p></span></div></td></tr></tbody></table><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR">Consoantes</span></div><div class="MsoNormal"><br /></div><table border="1" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="background-color: #f8f9fa; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border-collapse: collapse; border: none;"><tbody><tr style="mso-yfti-firstrow: yes; mso-yfti-irow: 0;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></div></td><td colspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Consoante_labial"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Labial</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td colspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Consoante_alveolar"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Alveolar</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td rowspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Pós-alveolar<o:p></o:p></span></b></div></td><td rowspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Consoante_palatal"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Palatal</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td colspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Consoante_velar"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Velar</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td><td rowspan="2" style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Consoante_glotal"><span style="color: #0b0080; text-decoration-line: none;">Glotal</span></a><o:p></o:p></span></b></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 1;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 0.75pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Surda</span></b><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Sonora</span></b><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Surda</span></b><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 0.75pt;"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Sonora</span></b><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Surda</span></b><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Sonora</span></b><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 2;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Oclusiva<o:p></o:p></span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">P<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">B<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">T<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">D<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">K<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">G<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">H<o:p></o:p></span></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 3;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Nasal<o:p></o:p></span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">M<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">N<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">N<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">N<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 4;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Fricativa<o:p></o:p></span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">b<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">S<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">F<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "times new roman"; font-size: 11pt;">Y</span><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 5;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Semivogal<o:p></o:p></span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">W<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">J<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td></tr><tr style="mso-yfti-irow: 6; mso-yfti-lastrow: yes;"><td style="background-color: #eaecf0; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; border: 1pt solid rgb(162, 169, 177); padding: 2.4pt 4.8pt;"><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">Vibrante simples<o:p></o:p></span></b></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">TCH<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><span lang="PT-BR" style="color: #202122; font-family: "helvetica"; font-size: 11pt;">I<o:p></o:p></span></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td><td style="border-bottom-color: rgb(162, 169, 177); border-bottom-width: 1pt; border-bottom: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-left-style: none; border-right-color: rgb(162, 169, 177); border-right-width: 1pt; border-right: 1pt solid rgb(162, 169, 177); border-style: none solid solid none; border-top-style: none; padding: 2.4pt 4.8pt;"><div class="MsoNormal"><br /></div></td></tr></tbody></table><div class="MsoNormal"><br /></div>Gramática<br /><br /></div><div class="MsoNormal">Ao se perguntar “onde você vai? “ – em Tikuna – ngexta cuxũ? – observe que o ‘x’ representa uma pausa glotal, dessa forma, a pronuncia ficara como “nhê-ta cú-un?’</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Chapatawa chaxũ – vou para casa. Cha (1a pessoa) patawa (casa) chaxũ (eu vou)</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">cuega = nome – taxacüi cuega = ‘como é seu nome?’</div><div class="MsoNormal">taxacüii naega? Qual é o nome dele?</div><div class="MsoNormal">Chaega Eni – Meu nome é Eni</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Básicos do dia-a-dia:</div><div class="MsoNormal">Ngüũ – sim – a letra ‘ü’ tem o mesmo som do ‘y’ no Tupi Antigo (a pronúncia aproximada é nhun) </div><div class="MsoNormal">Tama – não </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Verbos</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Verbo ir</div><div class="MsoNormal">Chaxũ – cha (primeira pessoa - eu) xũ ir - eu vou</div><div class="MsoNormal">Cuxũ – tu vais </div><div class="MsoNormal">Naxũ – ele vai</div><div class="MsoNormal">Taxĩ – nós vamos – (xĩ morfema de plural)</div><div class="MsoNormal">Pexĩ – vocês vão</div><div class="MsoNormal">Naxĩ - eles vão</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Texto </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">-Tchamanaãcü, nucüma i nori i tchama - cüana?? – tchou nangema ya tchaunatü, natürü tchama ru Tunetüwa* tchaya, Tunetucuã’ tchií i tchana, natürü mu’üma i duũũgü rü tama núũ nacua’ega na nhunhaãcü nayi’iü I tchoru maũ, ru tchorü bu, na ngeta na tchabuü; tchama tchabu cüana i nagu i tunetü, ngema nu’cümaütchima ngeta Yo’i tüũ i pogüũwa, ngema Eware** nawa ngemaũ i tunetügu tchabu i tchama.</div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">Eu mesmo, antigamente existia meu pai para mim, não é mesmo?? – Então eu me criei no Tunetü*, sou natural do Tunetü, mas muitas pessoas não sabem como é minha vida e minha infância e onde eu nasci. Eu nasci no Tunetü, aquele onde a muito tempo Yo’i nos pescou, no Eware**, dentro do Tunietü, nasci eu. </div><div class="MsoNormal"><br /></div><div class="MsoNormal">*Tunetu – igarapé da derrubada;</div><div class="MsoNormal">**Eware – local mítico de origem de todos os Tikuna.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbg9s7fLuaJYyWB_j7eyx79AKuyeAyVoKT7Uzp75S8HXrHapAQpq5tm-NSd8B4q8yPgZrgtz7iO7f1_7ZzZxh088hSx57o1ZMNXOJTT_sUYVWC00UX4CgE-rcwPbs9j-i-kYa3Ffj5Vyc/s1600/Etnia+Tikuna.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbg9s7fLuaJYyWB_j7eyx79AKuyeAyVoKT7Uzp75S8HXrHapAQpq5tm-NSd8B4q8yPgZrgtz7iO7f1_7ZzZxh088hSx57o1ZMNXOJTT_sUYVWC00UX4CgE-rcwPbs9j-i-kYa3Ffj5Vyc/s640/Etnia+Tikuna.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">Etnia Tikuna</td></tr></tbody></table><br />Nas aldeias que se encontram do lado brasileiro, o uso intensivo da língua Ticuna não chega a ser ameaçado pela proximidade de cidades (quando é o caso) ou mesmo pela convivência com falantes de outras línguas no interior da própria área Ticuna: nas aldeias, esses outros falantes são minoritários e acabam por se submeter à realidade Ticuna, razão pela qual, talvez, não representem uma ameaça do ponto de vista lingüístico. Exemplificam essa situação os Kaixana (ou Caixana), os Kokama (ou Cocama) e os Kanamari - os dois primeiros presentes em várias aldeias Ticuna e os últimos com presença reportada em um número muito pequeno dessas aldeias. Os Kaixana são falantes de português. Os Kokama que, no lado brasileiro, vivem entre os Ticuna não têm mais o Kokama como sua língua materna, papel majoritariamente desempenhado pelo português; alguns poucos Kokama lembram-se de palavras, seqüências ou frases na língua Kokama, sendo que a maioria tem como meta readquiri-la de algum modo - o que vem sendo feito no âmbito da educação escolar indígena. Com relação aos Kanamari que vivem entre os Ticuna no Brasil, não se tem notícia de que tenham deixado de falar sua própria língua - o Kanamari, pertencente à família Katukina -, nem que essa língua se sobreponha à realidade lingüística Ticuna no interior da própria área Ticuna.<br /><br />Em cidades de municípios do estado do Amazonas nos quais são encontradas aldeias Ticuna, escuta-se a língua Ticuna sempre que seus falantes, transitando por essas cidades, se dirigem a outros Ticuna igualmente em trânsito ou aí fixados. Com relação ao uso da língua pelos filhos daqueles que, falantes de Ticuna, se fixaram em cidades, é possível observar que esse uso tem, entre suas variáveis mais fortes, a atitude dos pais em relação à própria língua: quando tal atitude é norteada pela valorização da língua Ticuna e pelo que é próprio do universo Ticuna, a língua usada pelos pais com seus filhos é o Ticuna (casos freqüentes); quando não, a língua Ticuna deixa de ser usada e cede lugar ao português (casos raros).<br /><br />Com relação aos Ticuna que, por razões diversas, se deslocaram para a capital do estado do Amazonas, Manaus, esses vivem mais dramaticamente a imposição da língua dominante (o português) e de seus veículos - razão pela qual reúnem-se por meio de projetos que têm por meta, entre outras coisas, manter viva sua língua.<br /><br />O Ticuna é uma língua tonal. Considerada como geneticamente isolada, é uma língua que apresenta complexidades em sua fonologia e em sua sintaxe.<br /><br />Histórico do contato<br />A primeira referência aos Ticuna remonta aos meados do século XVII e se encontra no livro Novo Descobrimento do Rio Amazonas, de Cristobal de Acuña. A referência, abaixo transcrita, está no capítulo LI:<br /><br />"Mantêm estas tribos, por uma e por outra margem do rio, contínuas guerras com os povos vizinhos que, pelo lado do sul, são, entre outros, os Curina tão numerosos, que não apenas se defendem, pelo lado do rio, da grande quantidade dos Água, como também sustentam armas, ao mesmo tempo, contra as demais nações que por via terrestre os atacam constantemente.<br /><br />Pelo lado norte os Água têm como inimigos os Tecuna que, de acordo com boas informações, não são inferiores aos Curina nem em número nem em brio, já que também sustentam guerras com os inimigos que têm terra adentro".<br />Também segundo Curt Nimuendajú, o etnólogo alemão que, em 1929, fez sua primeira viagem ao alto Solimões, os Ticuna são citados pela primeira vez como os inimigos dos Omágua, moradores da margem esquerda do rio Solimões. Os Ticuna, que já fugiam das agressões deste povo, refugiando-se nos altos dos igarapés e afluentes da margem esquerda do Solimões, fazem o mesmo com a chegada dos espanhóis.<br /><br />“Os primeiros contatos com os brancos datam do final do século XVII, quando jesuítas espanhóis, vindos do Peru e liderados pelo Padre Samuel Fritz, criaram diversos aldeamentos missionários às margens do rio Solimões. Essa foi a origem das futuras vilas e cidades da região, como São Paulo de Olivença, Amaturá, Fonte Boa e Tefé. Tais missões foram dirigidas principalmente para os Omágua, que dominavam as margens e as ilhas do Solimões, impressionando fortemente os viajantes e cronistas coloniais pelo seu volume demográfico, potencial militar e pujança econômica. Os registros da época falam em muitos outros povos (como os Miranha ou os Içá, Xumana, Passe, Júri, entre outros, dados como extintos já na primeira metade do século XIX pelos naturalistas viajantes), que foram aldeados juntamente com os Omágua e os Ticuna, dando lugar a uma população ribeirinha mestiça”<br />(Oliveira, 2002: 280).<br />Desde a instalação da missão jesuíta espanhola até a consolidação da posse desta região por Portugal, no século XVIII (com a construção de uma fortaleza em Tabatinga), os espanhóis e os portugueses vinham disputando a hegemonia no alto Solimões. Os temidos Omágua (também conhecidos como Cambeba), de tradição guerreira, quase foram exterminados neste processo, seja por contraírem doenças ou por sua participação na querela entre os dois Estados coloniais. Com o tempo, os europeus não quiseram ou não conseguiram povoar a região antes habitada pelos Omágua, e os Ticuna passam a ocupar esse espaço, descendo dos altos igarapés, onde conseguiram se esquivar do contato mais intenso.<br /><br />Nas duas últimas décadas do século XIX, com a exploração da borracha, a Amazônia se tornou palco de uma intensa exploração do trabalho seringueiro. O alto Solimões, apesar de não contar com seringais tão produtivos quanto os do Acre, por exemplo, também não ficou de fora da corrida pelo “ouro branco”, como era chamada a borracha.<br /><br />Através da instituição do sistema de barracão, o “patrão” tinha exclusividade no comércio com índios, já que seu armazém era o intermediário comercial obrigatório. A legitimidade dessa empresa era dada por títulos de propriedade conseguidos por poucas famílias, vindas em sua maioria do Nordeste, que incidiam sobre a terra dos Ticuna, os quais passavam a dever obediência aos recém-chegados. Os patrões instalaram-se na boca dos principais igarapés, controlando assim os moradores dali. Para reforçar esse controle, o patrão ainda nomeava um tuxaua que exerceria a liderança entre os índios, cuidando dos seus interesses. Esta liderança nem sempre se baseava em relações tradicionais, mas na subserviência do tuxaua aos patrões seringalistas.<br /><br />Sua habitação tradicional, a maloca, em que viviam juntos membros de um mesmo clã, foi ainda encontrada por Curt Nimuendajú quando de sua primeira viagem ao alto Solimões. Nesse momento, contudo, ela já estava em vias de desaparecimento, devido à atuação dos “patrões da borracha” no sentido de forçar fragmentação das malocas para atender aos objetivos da empresa seringalista. É que a dispersão dos índios ao longo dos igarapés atendia melhor aos interesses da exploração da borracha, visto que a baixa produtividade dos seringais do alto Solimões era otimizada com a dispersão demográfica ao longo da floresta, onde estavam as diversas estradas de seringa.<br /><br />Em 1910, ainda segundo Nimuendajú, uma nova agência de contato se faz presente no alto Solimões. Nessa época, capuchinhos vindos da província da Úmbria, na Itália, instalam a Prefeitura Apostólica do alto Solimões. A presença do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) nessa situação de domínio dos seringalistas era meramente formal, ou seja, restrita a relatórios de um delegado desta repartição a partir de 1917. É somente em 1942 que este órgão da administração federal vai criar um posto na região.<br /><br />A dominação do órgão tutor seria mais facilmente exercida com a centralização do poder entre os Ticuna. Assim sendo, os funcionários do SPI atuaram de modo a criar uma liderança única dentro da aldeia, já que esta inexistia dentro da tradição ticuna. Havia, contudo, ao nível dos grupos vicinais, lideranças reconhecidas (os toeru), que dentro de um limitado grupo de parentes e vizinhos dispunham de autoridade para convocações para trabalhos coletivos, resolução de pequenas disputas etc. Essa liderança, por seu caráter bastante fragmentado, não satisfazia os interesses da administração regional do órgão tutor. A solução encontrada foi a indicação pelo chefe de posto de um capitão (Oliveira, 1988:237-8).<br /><br />Uma nova situação histórica começa a se delinear em meados da década de 1960: a Amazônia e sua faixa de fronteira vão sendo transformadas em área de segurança nacional para o exército brasileiro. A antiga guarnição militar de Tabatinga cresce em tamanho e importância, transformando-se no Comando de Fronteira do Solimões (CFSOL), com mais autoridade para intervir localmente. Isso faz com que a relação entre patrões e índios seja profundamente alterada. Sem a possibilidade da coerção por castigos físicos, coibida pelo exército, os patrões descobriram outros modos de fazer valer seu controle sobre a população indígena (Oliveira, 1988: 211-3).<br /><br />A atuação da Igreja Católica - por meio da província apostólica do alto Solimões, inaugurada pelos capuchinhos em 1910 - gerou uma infra-estrutura de saúde e educação pouco desprezível, visto que Belém do Solimões é hoje uma das maiores aldeias ticuna. Durante a década de 1960, também missionários batistas americanos chegam ao alto Solimões com o objetivo de catequizar os índios. Em uma época em que os “patrões” ainda dispunham de autoridade, principalmente por serem considerados os donos da terra onde moravam os Ticuna, utilizaram como uma das estratégias de mobilização da população indígena da região a compra de terras, que disponibilizaram para os que quisessem viver junto, compartilhando os ensinamentos de sua religião. Desta forma, surgiram ainda outros aglomerados que hoje constituem algumas das aldeias Ticuna de maior expressão populacional, como Campo Alegre e Betânia.<br /><br />O número dos que passaram a viver em aldeias, no entanto, só vai sofrer alterações realmente significativas a partir do aparecimento do movimento messiânico da Irmandade da Santa Cruz. Em um contexto de progressiva perda de autoridade sobre os índios, já no princípio da década de 1970, os antigos “patrões” deram apoio à penetração das idéias de um homem chamado José Francisco da Cruz.<br /><br />Com alguma correspondência com a tradição ticuna, já que esta admitia a possibilidade de punição divina em momentos de intensa desagregação sócio-cultural, e com o apoio das principais lideranças políticas da região, as idéias de José da Cruz vingaram com extrema facilidade e o movimento religioso por ele fundado se tornou hegemônico em pouco tempo. Converteu, deste modo, índios e não-índios por todo o alto Solimões, e assim as posições de liderança na hierarquia da Irmandade foram sendo rapidamente conquistadas pelos antigos “patrões”. Estes conseguiram contornar a crise de autoridade pela qual passavam, ao instituir uma nova legitimidade moral/religiosa para o controle que exerciam (Oliveira, 1978).<br /><br />Os funcionários da Funai, que nessa época já substituíra o antigo SPI, também perceberam logo a utilidade do movimento da Santa Cruz como catalisador de seu projeto de integração do indígena e passam a apoiar explicitamente aquelas lideranças ligadas ao movimento, incentivando, inclusive, o faccionalismo religioso que até hoje divide aldeias como Umariaçú e Belém do Solimões (Oliveira, 1987).<br /><br />No final de 1981, as principais lideranças ticuna convocaram uma reunião na aldeia de Campo Alegre, onde foi discutida a proposta de demarcação de suas terras, encaminhada à Funai. Nesta reunião foi escolhida também uma comissão para ir até Brasília apresentar ao Presidente a proposta ali debatida. Como resultado dessa pressão dos Ticuna, a Funai mandou, em 1982, um grupo de trabalho com o fim de identificar as áreas ticuna nos municípios de Fonte Boa, Japurá, Maraã, Jutaí, Juruá, Santo Antônio do Içá e São Paulo de Olivença.<br /><br />Também em 1982, os Ticuna criam o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT), com a figura do coordenador geral, eleito em assembléias quadrianuais entre todos os capitães de aldeia e com poderes semelhantes aos de um ministro das relações exteriores. Posteriormente, outras organizações indígenas foram criadas: a Organização dos Professores Ticuna Bilíngües (OGPTB), foi fundada em 1986 no intuito de realizar cursos de reciclagem e formação dos professores; a Organização dos Monitores de Saúde do Povo Ticuna (OMSPT); e a Organização de Saúde do Povo Ticuna do Alto Solimões (OSPTAS), em 1990, cuja atuação teve como marco o combate à cólera vinda da Colômbia e do Peru.<br /><br />Ainda em 1986, foi criado o Centro Magüta - Centro de Documentação e Pesquisa do Alto Solimões, voltado principalmente para as populações ticuna e com o auxílio de pesquisadores que já trabalhavam ali havia pelo menos uma década. Sua principal conquista foi o desenvolvimento do processo de reconhecimento fundiário que culminou com a demarcação, em 1993, de cerca de um milhão de hectares de terras naquela região. O Centro Magüta realizou ainda trabalhos nas áreas de saúde e desenvolvimento. Entre 1996 e 1997, devido a dificuldades com o financiamento de suas ações após o processo de demarcação das principais terras ticuna, o Centro deixou de existir e na sua sede passou a funcionar o CGTT.<br /><br /><b> Movimentos messiânicos</b><br /><br />Curt Nimuendaju e Maurício Vinhas de Queiroz foram os primeiros pesquisadores a observar a existência de traços de movimentos messiânicos entre os Ticuna. Segundo eles, houve sete manifestações deste tipo entre estes índios do princípio do século XX até 1961.<br /><br />O primeiro movimento que se aproxima a um movimento messiânico, ocorreu em território peruano, no princípio do século XX, quando uma jovem ticuna começou a ter visões e a profetizar, atraindo em torno de si Ticuna tanto do Peru quanto do Brasil. Como a afluência de índios aumentava sempre mais, Nimuendaju conta que os “civilizados” intervieram, atacando o grupo com armas de fogo, ocasião em que alguns ticuna morreram, outros foram maltratados e a jovem profetisa teve um destino desconhecido (Nimuendaju, 1952: 138).<br /><br />O segundo movimento ocorreu entre 1930 e 1935 quando um jovem ticuna do lago Cujaru, no rio Jacurapá, chamado Aureliano, começou a ter visões. Os índios lhe construíram uma casa à parte para que recebesse mais facilmente as revelações. Como sua reputação aumentava, reunindo cada vez mais outros índios em torno de si, os “civilizados intervieram novamente e prenderam Aureliano sob o pretexto de que não pagava imposto de uma espécie de violão que fabricava” (Nimuendaju, 1952: 138).<br /><br />Em razão da precariedade dos dados apresentados por Nimuendaju, não é possível saber detalhes sobre o conteúdo das profecias da jovem ticuna e de Aureliano, nem sobre a real situação dos que os seguiram; igualmente, não se sabe ao certo qual era a identidade dos não-índios que acabaram com os ajuntamentos ticuna, mas, sabendo-se que esses movimentos ocorreram numa época em que o regime do barracão já estava implantado na região é lícito supor que tais ataques foram desfechados por ordem dos proprietários regionais que, como se sabe, usavam de todos os expedientes para impedir a evasão da mão-de-obra dos seringais.<br /><br />Outra manifestação messiânica teve lugar no Auati-Paraná, em torno de 1932. Segundo informações obtidas por Vinhas de Queiroz junto aos não-índios da região, um certo número de Ticuna se reuniu no Auati onde aguardavam a aparição de deus. O movimento acabou em razão de uma epidemia que se propagou na região dizimando a maioria dos seus membros (Queiroz, 1963: 46).<br /><br />Um quarto evento aconteceu entre os anos 1938 e 1939, no igarapé São Jerônimo. Espalhou-se, naquela época, a notícia de que um jaguar teria dito a uma criança ticuna que uma grande enchente inundaria tudo, inclusive a sede do seringal. Diante dessa nova, os índios que habitavam próximos da desembocadura do referido igarapé se reuniram na sua parte superior onde construíram uma grande maloca de estilo tradicional e fizeram grandes plantações. Como a catástrofe anunciada não se produzia, os índios acabaram por retornar para as suas habitações e levaram uma vida normal (idem: 49).<br /><br /><b>Irmandade da Santa Cruz</b><br /><br />Tudo indica que os antigos movimentos messiânicos ticuna obtiveram êxito durante um certo momento, isto é, durante o seu período de efervescência. Mas é verdade que seus projetos, suas aspirações e seus desejos não se concretizaram, na maioria dos casos, como vimos, em razão da violência perpetrada pelos “patrões”. Contudo, a esperança continuou a se manifestar e as freqüentes recaídas não desembocaram numa consciência de fracasso. Ao invés de desistirem de encontrar saídas para sua situação pela via messiânica, isto é, por intermédio dos seus heróis e imortais, os Ticuna vão reforçá-la, considerando-se uma população predestinada a receber um Messias que lhes mostrará o caminho da salvação.<br /><br />É por isso que nos últimos meses de 1971, quando chegou ao alto Solimões a notícia de que um Padre Santo, fazedor de milagres, estava descendo o Solimões vindo do Peru, a população ticuna se pôs repentinamente de alerta: os índios mais próximos das cidades da fronteira se encarregaram de espalhar a novidade nos povoados ticuna mais distanciados e mesmo naqueles situados no meio da floresta.<br /><br />À medida que o tempo passava e que a mensagem circulava de grupo em grupo, o seu conteúdo inicial também era ampliado e começava mais um momento de efervescência social. Mesmo se neste momento os sentimentos eram mal definidos e incertos, estavam persuadidos de que acontecia mais uma manifestação dos imortais em suas vidas. Em certas áreas ticuna chegou-se mesmo a comentar que o esperado era o próprio Yo´i (um dos heróis criadores). O grau de excitação aumentava sempre mais e quando souberam da chegada do referido personagem em Rondinha, no Peru, e depois em Marco e em Atalaia do Norte, muitos índios que habitavam nos igarapés, abandonaram suas habitações e se dirigiram aos povoados ticuna situados às margens do Solimões para assistir a sua chegada.<br /><br />Nem todos os Ticuna aderiram ao movimento fundado pelo Irmão José, o José Francisco da Cruz. Estes eram principalmente os habitantes das comunidades protestantes batistas, sobretudo de Campo Alegre e de Betânia, totalizando cerca de quatro mil indivíduos, e outro tanto de católicos, um certo número deles de Belém do Solimões.<br /><br />A maioria das pessoas que aderiram à Irmandade da Santa Cruz ficou impressionada com os prodígios atribuídos ao Padre Santo que ouviram falar antes mesmo da sua chegada ao alto Solimões. Eis alguns exemplos: como os habitantes de um povoado o tinham expulso e ridicularizado, o Irmão José anunciou um castigo do céu; logo uma forte tempestade varreu as casas e as plantações provocando a morte de pessoas e de animais. Animais e pessoas também morreram em outro povoado por causa de uma seca anunciada pelo Irmão José visto que seus habitantes haviam-lhe negado água para beber. Numa outra ocasião, ele recusou uma galinha que alguém lhe oferecia, dizendo: “devolva a galinha pro dono, tu robô ela”. Isso foi confirmado, acrescentam os informantes. Conta-se também que ele disse a uma senhora: “não se aproxime de mim, tu ta me queimando”. “A mulher tinha matado o filho”, acrescentam os membros da Irmandade. Além disso, comentava-se que o Padre Santo possuía estigmas, que ele não se alimentava e que não precisava dormir.<br /><br />Fora os prodígios atribuídos ao fundador no começo da sua missão naquela região do Brasil, é preciso acrescentar que o cenário formado pela caravana messiânica, por ocasião da sua peregrinação na região, também contribui fortemente para o reconhecimento da sua graça carismática. Com efeito, o espetáculo fluvial que teve lugar a partir de maio de 1972 foi triunfal: quase mil pessoas, contando os brasileiros, peruanos, índios e não-índios, sobre canoas e barcos, cantavam e rezavam em voz alta. Eles acompanhavam um homem magro, de barba longa, vestido com batina, que carregava uma Bíblia e uma cruz; o cortejo formava uma verdadeira procissão fluvial.<br /><br />O caráter grandioso do espetáculo, associado à semelhança do Irmão José que viam e escutavam com a imagem que possuíam de Cristo causou um profundo impacto psicológico nos habitantes da região, principalmente entre os Ticuna. A pregação de José da Cruz, fortemente escatológica, também os impressionou que em razão de sua tradição messiânica eram sensíveis a esse tema. O Irmão José anunciava a proximidade do fim dos tempos, convidava todos a despertarem do sono espiritual enquanto houver tempo, e a viverem em comunidades, em torno das cruzes, onde então encontrariam a salvação.<br /><br />Assim o fundador da Irmandade da Santa Cruz, depois de partir de sua cidade natal (Cristina, Minas Gerais) em 1962 e peregrinar em várias cidades brasileiras e em vários países sul-americanos, alcança em 1972 a calha do rio Solimões. Após um ano de peregrinação nas vilas e povoadas desta região – nas quais sempre erigia uma cruz de mais ou menos cinco metros de altura, celebrava cultos e recebia os doentes – ele atingiu o rio Içá.<br /><br />Instalou-se no meio da floresta, na margem do igarapé Juí, pequeno afluente do rio Içá, num lugar que denominou de Lago Cruzador, distante aproximadamente 250 quilômetros da maioria dos povoados de seus seguidores. Nunca mais deixou esse lugar. Pensava edificar ali a sede espiritual de sua Irmandade e dali comandava os seus fiéis.<br /><br />Foi nesse local que ele faleceu, no dia 23 de junho de 1982, com a idade de 69 anos. Antes de falecer, teve o cuidado de legitimar o seu sucessor, um descendente de índios Cambeba, denominado Valter Neves. Ao assumir a sua função, este nomeou uma nova diretoria administrativa da Irmandade e levou em frente o projeto do fundador de construir a Vila Espiritual da Irmandade de Santa Cruz.<br /><br />As cruzes bentas e/ou erguidas pelo fundador da Irmandade - ou seus emissários - deram origem seja a uma nova dinâmica social nos povoados já existentes, seja a novos povoados, onde os seus habitantes procuram viver de acordo com a doutrina desse movimento religioso. A mais importante de todas as comunidades é, sem dúvida, aquela em que o Irmão José viveu e começou a edificar a sede da Irmandade, e onde o sucessor, seus discípulos e fiéis continuaram a sua construção: a Vila Alterosa de Jesus.<br /><br />Ainda hoje existem adeptos desse movimento religioso entre os Ticuna.<br /><br /><b> Organização social</b><br /><br />A sociedade ticuna está dividida em metades exogâmicas (só se pode casar com um membro da outra metade) não-nominadas, cada qual composta por clãs. Estes grupos clânicos patrilineares [isto é, o pertencimento ao clã é transmitido de pai para filho] são reconhecidos por um nome que é geral a todos, kï'´a. Em português, os índios traduziram por nação.<br /><br />O conjunto de clãs ou nações identificadas por nomes de aves forma uma metade, enquanto as demais, identificadas por nomes de plantas, formam a outra. Mesmo os clãs Onça e Saúva (ver quadro a seguir), um mamífero e um inseto, são associados à metade “Planta” por razões descritas na mitologia ticuna.<br /><br />A condição de membro de um clã confere a um indivíduo uma posição social, sem a qual não seria reconhecido como Ticuna. Cada clã ticuna é constituído por outras unidades, os subclãs. Nesse sistema social, cada indivíduo pertence simultânea e necessariamente a várias unidades sociais (metade exogâmica, clã e subclã), uma vez que elas estão contidas umas nas outras.<br /><br />Os quadros abaixo ilustram exatamente isso.<br /><div class="table-responsive" style="box-sizing: border-box; font-family: Ubuntu, "Open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; min-height: 0.01%; overflow-x: auto;"><table class="table table-hover" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; font-size: 14px; margin: auto auto 20px; max-width: 680px; width: 680px;"><caption style="background-color: #410000; box-sizing: border-box; color: #f0f0f0; font-size: 16px; padding-bottom: 8px; padding-left: 23px; padding-top: 8px; text-align: left;">Metade plantas</caption><tbody style="background-color: #f2f2f2; box-sizing: border-box;"><tr style="box-sizing: border-box;"><th style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; font-weight: lighter; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Clãs</th><th style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; font-weight: lighter; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Subclãs</th></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="3" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Auaí</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´a-ru: (auaí grande)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;"><span style="box-sizing: border-box; font-size: 10.5px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; vertical-align: baseline;">´t</span>s´everu: (auaí pequeno)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´ai<span style="box-sizing: border-box; font-size: 10.5px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; vertical-align: baseline;">t</span>s´anari (jenipapo do igapó)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="2" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Buriti</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´tema (buriti)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">ny´eni (n) <span style="box-sizing: border-box; font-size: 10.5px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; vertical-align: baseline;">t</span>si (buriti fino)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="3" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Saúva</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´vaira (açaí)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´nai (n) yëë (saúva)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">tëku: (saúva)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="5" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Onça</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">ts´i´va (seringarana) </td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´na?nï (n) (pau mulato)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;"><span style="box-sizing: border-box; font-size: 10.5px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; vertical-align: baseline;">t</span>s´e´e (acapu)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´ts´u: (n) a (caranã)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´keture (maracajá)</td></tr></tbody></table></div><div class="table-responsive" style="box-sizing: border-box; font-family: Ubuntu, "Open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; min-height: 0.01%; overflow-x: auto;"><table class="table table-hover" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; font-size: 14px; margin: auto auto 20px; max-width: 680px; width: 680px;"><caption style="background-color: #410000; box-sizing: border-box; color: #f0f0f0; font-size: 16px; padding-bottom: 8px; padding-left: 23px; padding-top: 8px; text-align: left;">Metade aves</caption><tbody style="background-color: #f2f2f2; box-sizing: border-box;"><tr style="box-sizing: border-box;"><th style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; font-weight: lighter; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Clã</th><th style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; font-weight: lighter; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Subclãs</th></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="5" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Arara</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;"><span style="box-sizing: border-box; font-size: 10.5px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; vertical-align: baseline;">t</span>s´a´ra (canindé)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">ño´ï (vermelha)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">moru: (maracanã)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">vo´o (maracanã grande)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´a?ta (maracanã pequeno)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="2" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Mutum</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">ñu?në (n) (mutum cavalo)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">ai´veru: (urumutum)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="2" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Japu</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">ba´rï (japu)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">kau:re (japihim)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Tucano</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´tau: (tucano)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="3" style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Manguari</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´ñau: (n) a (manguari)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">dyavï´ru: (jaburu)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">tuyo:y´u (tuyuyu)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Galinha</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">o´ta (galinha)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Urubu Rei</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´e?ts´a (urubu-rei)</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Gavião Real</td><td style="border-top-color: rgb(221, 221, 221); border-top-style: solid; border-top-width: 1px; border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">´da-vï (gavião real)</td></tr></tbody></table></div>É notável que as designações em Ticuna se referem aos subclãs, guardando para os clãs nomes regionais (alguns neologismos). Como já foi dito, as metades exogâmicas não são nomeadas, mas aqui neste quadro foram indicadas pelos termos "Plantas" e "Aves", fazendo alusão a um modo de classificar os clãs a partir de classes botânicas e zoológicas.<br /><br />Dentro desse sistema, há um mecanismo de nominação por meio do qual é possível identificar o pertencimento social de cada indivíduo. O nome de um homem, kvai´tats´inï(n)-kï, por exemplo, que significa "arara batendo asas sentada" e que se refere a uma das qualidades da arara (que dá nome ao clã), mais especificamente da arara vermelha (que dá nome ao subclã), faz parte do repertório de nomes próprios que cada grupo clânico dispõe para seus membros. Assim, a simples enunciação de um nome permite classificar seu possuidor como membro de um certo clã e subclã e de uma das metades.<br /><br />É possível notar que por trás do sistema clânico ticuna há o seguinte encadeamento de classes: nome-qualidade do epônimo [o que dá nome ao clã, por exemplo, a arara] ---subclã --- clã --- metade.<br /><br />Os epônimos clânicos transformados em signos fornecem uma espécie de código, um plano de referência importante para o comportamento social. Desse modo, ao dizer o nome kvai´tats´inï(n)-kï, como no exemplo dado acima, afirma-se o pertencimento do indivíduo a um certo clã, o que lhe impede de casar-se não só com pessoas do seu próprio clã, mas também com aquelas de sua metade. Em contrapartida, aqueles indivíduos que são classificados como membros da metade oposta passam a ser cônjuges potenciais, daí a exogamia de metades característica dos Ticuna.<br /><br />Podemos introduzir um comentário elucidativo a respeito dos fundamentos míticos do dualismo ticuna. Nos referimos aqui ao papel de Yo´i como criador da organização clânica. Um dos mitos coletados por Nimuendajú relata que Yo´i e Ipi, os heróis culturais, depois de apanharem um grande número de pessoas no rio (os Ticuna recém-criados), não conseguiam distinguí-las por falta de classificação. "Mas Yo´i separou-as, colocando as suas a leste e as de Ipi a oeste. Então ele ordenou que cozinhassem um jacururu e obrigou todo mundo a provar o caldo. E assim cada um ficou sabendo a que clã pertencia, e Yo´i ordenou aos membros dos dois grupos que se casassem entre si" (Nimuendajú, 1952: 129-30). Como se vê, o mito sublinha a exogamia de metades.<br /><br />*A grafia aqui reproduzida está de acordo com aquela utilizada pelo autor, no entanto deve-se ressaltar que, hoje em dia, a grafia adotada pelos Ticuna nas escolas é outra<br /><br /><b> Organização política</b><br /><br />Antigos papéis políticos: tó-ü e yuücü<br />Nos relatos sobre o passado a guerra e a rivalidade parecem constituir fatos essenciais da existência dos Ticuna. Ainda hoje os índios falam extensamente das guerras entre as diferentes nações, dizendo que eram freqüentes as investidas de um grupo sobre o outro, com muitas mortes de ambos os lados. Os mais velhos procuram mostrar o seu desagrado face àquelas características do passado, confrontando a convivência tranqüila de hoje em dia nas aldeias com o medo e a belicosidade do tempo de seus avós. Cardoso de Oliveira também indica haver ouvido notícia de tais conflitos e guerras entre as nações [grupos clânicos patrilineares] (1970: 59).<br /><br />Utilizando os relatos atuais, seria possível dizer que dentro de uma maloca todos se subordinavam a um mesmo código de autoridade que estabelecia a existência de somente dois papéis especializados, o tó-ü e o yuücü. O tó-ü não era alguém cuja chefia fosse exercida genericamente em muitos contextos. A melhor tradução seria a de um chefe para a guerra. Cada nação tinha um só chefe, que comandava a todos quando se tratava de defender ou atacar a outra nação. O fundamento para o reconhecimento dele - a sua condição de chefe - decorria do fato de que "era ele que defendia os povoados, que defendia dos inimigos". A esse personagem poderia também ser aplicado o termo daru, além do chamamento usual de tó-ü.<br /><br />Devido à sua função especializada e à sua força excessiva, o tó-ü não podia trabalhar na roça ou pescar: "não podia gastar a força dele assim à toa, com o que qualquer um podia fazer (...) os outros que faziam tudo para ele". Tão grande era a sua força, que nenhuma atividade comum dava certo: "pegava um terçado para cortar um mato e batia com tanta força que quebrava o terçado". A própria palavra tó-ü usada para designar esse chefe militar, é utilizada para referir-se ao macaco caiarara, animal muito admirado pelos Ticuna devido à sua grande agilidade, sendo muito difícil de se deixar apanhar ou surpreender por outro.<br /><br />Os informantes distinguem também o tó-ü, como um elemento de sua própria tradição, de outros títulos que o branco utiliza para estabelecer chefes entre quaisquer índios:<br /><br />"O tó-ü era o chefe de Ticuna mesmo, verdadeiro... O tuxaua não era próprio dos Ticuna. Era um chefe dos índios, assim como Mayoruna ou outros também têm".<br />Em outras descrições a caracterização do tó-ü como o protetor das pessoas de sua nação se sobressai fortemente, evidenciando que a sua função não se exerce apenas na guerra, mas também no cotidiano de malocas isoladas na floresta, mantendo rivalidades com outras nações.<br /><br />Por sua atuação em momentos cruciais à defesa ou afirmação do grupo, o tó-ü deveria ser bastante identificado com a sua nação, sendo um símbolo e um fator importante dessa unidade. Já o yuücü (atualmente os termos empregados são yuücü para o feiticeiro e ngetacü para o xamã) exercia funções estritamente privadas e pessoais, não se identificando ao grupo com a mesma intensidade que o tó-ü. Além disso podia haver mais de um xamã ou feiticeiro por cada nação, cada um dispondo de um prestígio diferente e lhe sendo atribuído graus diversos de eficiência.<br /><br />De qualquer modo os pajés também participavam dessas guerras e conflitos. Geralmente a transferência de um grupo de um local para outro é explicada pela busca de "um lugar bonito para viver", estando associada ao medo de doenças enviadas pelo yuücü, bem como pela necessidade de fugir de epidemias e inundações. Nimuendajú conta que um bom xamã pode afastar de seu grupo, através de um tratamento mágico, as epidemias, anunciadas por meio de uma auréola esverdeada no sol (1952: 105).<br /><br />Não havia igualmente uma correlação estabelecida de modo rígido entre uma dada nação e um certo território. Os terrenos de caça, pesca e coleta eram mantidos sempre com oscilações, dependendo das pressões exercidas por outros clãs sobre essas mesmas áreas. Existem, no entanto, alguns locais que não eram ocupados ou reivindicados por qualquer uma das nações, embora fossem (e sejam) reconhecidos unanimemente como ponto de origem de todos os Ticuna. É esse o caso da montanha do Taiwegüne e do igarapé do Eware, ambos situados no alto do igarapé São Jerônimo. Usualmente, no entanto, os direitos de uma nação a um certo território eram sempre vinculados à existência de uma ocupação real (e mutável), derivando de uma necessidade de utilização efetiva, bem como do empenho e da capacidade militar em manter tais limites.<br /><br /><b>No tempo dos patrões</b><br /><br />Com a dissolução das malocas clânicas (desde as décadas de 1910 e 1920) e o fim das guerras entre as nações, o papel do chefe militar, o tó-ü, perdeu toda significação e não foi mais preenchido. Os patrões [seringalistas] criaram um novo papel político, o de tuxaua ou tuxawa, cuja definição nada tinha a ver com os limites da tradição tribal, pretendendo se constituir em um instrumento de reforço e favorecimento da dominação sobre os índios.<br /><br />A caracterização mais freqüente usada pelos informantes deixa claro que o tuxawa era visto pelos índios como um representante do patrão: "o tuxawa era assim como um capataz, um chefe. Ele dizia para todo pessoal as ordens do patrão... quando tinha que fazer algum trabalho, ele chamava, convidava... era como um comandante". O termo capataz foi usado diversas vezes por informantes para definir o tuxaua, indicando dessa forma que o cargo e a sua investidura eram de responsabilidade exclusiva do patrão.<br /><br />As diferenças entre o tó-ü e o tuxaua eram grandes demais para que um elemento que ocupasse o primeiro cargo pudesse ser utilizado no segundo. Em geral, os que foram escolhidos pelos patrões como tuxaua eram índios que dispunham de uma certa liderança sobre alguns grupos familiares, e que embora tivessem influência sobre os outros, não possuíam qualquer título, nome ou mandato específico que não decorresse de sua vinculação com os brancos.<br /><br />A área de atuação do tuxaua era usualmente um rio ou igarapé, mas podia ser mais ampla para englobar toda a propriedade.<br /><br />Todos os suportes para o tuxaua eram externos à tradição tribal e os seus limites eram desconhecidos (incompreensíveis e ilegítimos) para os próprios índios. A força efetiva que possuía, a capacidade de coerção e retaliação de que dispunha, era apenas parte do poder real do seringalista, de seu potencial de intimidação. O tuxaua servia como um veículo direto dessa dominação e o seu procedimento refletia essa condição de submissão.<br /><br /><b>Novos papéis políticos - o líder do grupo vicinal e o capitão</b><br /><br />Os grupos vicinais não são unidades estruturais,no sentido de decorrerem da aplicação direta de princípios organizativos gerais (como seria o caso das nações que decorrem do princípio de patrilinearidade). São, ao contrário, unidades circunstanciais e políticas, que resultam de escolhas individuais praticadas por seus integrantes. A constituição e a continuidade de um grupo vicinal não podem ser deduzidas da operação automática de regras preferenciais de casamento, de residência, ou de descendência. Em certo sentido correspondem a criações independentes de alguns indivíduos que, por capacidades reconhecidas, conseguem polarizar em torno de si os seus parentes mais próximos, para isso manipulando com as regras de residência e incentivando certas escolhas matrimoniais. A formação de um grupo vicinal exige o encontro dessas habilidades e interesses por parte de um (ou mais) líder(es), com a sua aceitação pelos demais. Implica ainda na cristalização de uma preferência dos seus membros pela vida em grupo e com atividades de cooperativas, por contraste à condição de uma família isolada.<br /><br />Em princípio qualquer chefe de família dentro de um grupo vicinal pode abandoná-lo no momento que quiser, indo estabelecer-se com os seus em outra localidade ou mudando-se para outro lugar dentro da mesma área. A sua permanência é, de fato, um ato de escolha, que implica uma avaliação positiva da cooperação nas atividades de subsistência, de estratégias econômicas acionadas, de um relacionamento harmonioso, da partilha de costumes, predileções e crenças. O sustentáculo dessa unidade é dado pela existência de um líder que consegue elaborar fins comuns, mobilizar os meios adequados, e dar um certo nível de satisfação aos componentes do grupo, evitando o surgimento de antagonismos insuperáveis.<br /><br />O grupo vicinal não possui uma marca específica que o visualize, nem foi encontrada na língua Ticuna uma expressão que caracterize especificamente essas unidades sociais, não tendo notícia igualmente de algum título usado por esse chefe de grupo vicinal.<br /><br />A função do líder do grupo vicinal é tanto a de comunicar-se com estranhos e civilizados (não-índios), representando os membros de seu grupo perante qualquer autoridade (capitão, chefe de posto, militares, comerciantes, professores, missionários, etc), quanto a de organizar a cooperação entre os vários grupos domésticos que habitam próximos uns dos outros. Isso se manifesta, por exemplo, nas atividades econômicas, religiosas e em algumas tarefas comunitárias, como nos ajuri.<br /><br />A fonte de autoridade do líder de grupo vicinal é o fato de agir de acordo com o consenso do grupo, de pôr em execução medidas e decisões que os outros julguem acertadas. Agindo sem o apoio do grupo, porém, ele não dispõe de poder algum para coagir qualquer indivíduo, exceto suas qualidades pessoais. Dentro do grupo, e mesmo contanto com o seu apoio, ele não possui um poder coercitivo singular e especializado. Se um indivíduo do grupo apresenta conduta desviante e reputada como errônea, o máximo que o líder do grupo local pode fazer por si só é procurar aconselhá-lo e demovê-lo de manter suas atitudes.<br /><br />É importante perceber que a existência de um líder para o grupo vicinal não implica na negação da autoridade por parte do chefe de cada segmento familiar. Dentro de cada casa e nas questões relativas aos membros de sua família, esse chefe de família tem reconhecida uma enorme autonomia.<br /><br />O papel do capitão tem seus precursores, como já anotava Nimuendaju (1952:65), no tuxaua no Brasil e no curaca no Peru. Hoje em dia esse último termo é quase inteiramente desconhecido no Brasil. Os poucos que o utilizam, o fazem com uma tradução bastante ambígua para o português algumas vezes como capitão, outras como capataz. Nos últimos anos também o termo tuxaua caiu em desuso, o significado mais freqüente que lhe é dado é o de capataz e está sempre associado à idéia de um preposto do patrão.<br /><br />O ponto de distinção entre tuxaua e capitão parece estar ligado ao seguinte aspecto: o primeiro representa diretamente o patrão seringalista, enquanto o segundo recebe um reconhecimento por parte do governo brasileiro. O uso da farda nesse sentido é um fator básico de separação, marcando a conexão do capitão com um outro poder, diferente daquele diretamente emanado dos seringalistas.<br /><br />Para tentar uma compreensão do papel de capitão é necessário fazer referência a um outro papel também presente nos esquemas administrativos de atuação do órgão tutelar: o de inspetor, encarregado ou chefe de Posto. O capitão é um instrumento de comunicação e controle acionado pelos funcionários do antigo SPI (Serviço de Proteção aos Índios).<br /><br />A fonte última do poder do capitão é sempre o representante local do órgão, que reitera ou retira o seu apoio ao capitão, de acordo com a avaliação que tem de seu desempenho no cargo. Quem escolhe o capitão é de fato o chefe do Posto e assim esse indivíduo fica geralmente encarregado de transmitir aos índios as exigências, proibições ou propostas emanadas dos civilizados que o empossaram e titularam. Uma de suas funções é assim se constituir em fator da comunicação regular entre civilizados e índios: ele procede como um tradutor e mensageiro, ouvindo o discurso dos primeiros, traduzindo-o para o universos dos costumes e da língua nativa, divulgando-o entre os índios. Para os índios (e para o próprio capitão) a mensagem do capitão expressa necessariamente o ponto de vista da administração, concorde ou não a mensagem com as idéias pessoais do capitão.<br /><br />O capitão, porém, não somente transmite a mensagem, mas também procura executar as determinações nela contidas; para isso atua normalmente na aldeia como árbitro para os conflitos, estabelecendo punições e prêmios, alocando responsabilidades entre seus liderados.<br /><br />Na realidade para a ótica dos índios uma mensagem impositiva, perante a qual não existe possibilidade de rejeição ou de reformulação, é identificada através do meio pelo qual ela é expressa, anunciada formalmente pelo capitão e proveniente dos civilizados. Toda mensagem que satisfaça a essa praxe é classificada e dita como uma ordem, sendo tomado como implícito que o capitão não está somente comunicando algo, mas ainda compelindo a aceitar algo.<br /><br /><b> Atividades produtivas</b><br /><br />Os Ticuna praticavam o cultivo de espécies nativas como a macaxeira, o cará, uma espécie de cana-de-açúcar e outros tubérculos. Antigamente, com uma alimentação baseada na carne de caça, a pesca tinha uma importância mínima e era praticada com uma tecnologia de cercados e envenenamento dos peixes com o sumo do timbó (Oliveira, 1988). Essa situação, no entanto, se inverteu a partir da ocupação das várzeas do Solimões. Hoje, a pesca é uma das atividades produtivas mais importantes para os Ticuna.<br /><br />Cada família ticuna possui sua roça e a considera de sua propriedade. Mas não se trata de propriedade da terra, nem mesmo de propriedade coletiva. Nas roças da família trabalham, em geral, o pai, sua esposa e os filhos mais velhos que ainda não são casados. No entanto, os filhos homens, maiores e solteiros, poderão ter uma roça própria quando casarem. Os mais idosos têm também roças independentes de seus filhos e genros, mesmo quando moram na mesma casa. Quando mais de uma família vivem em uma mesma casa, elas costumam trabalhar separadas, cada uma em sua respectiva roça.<br /><br />Além da mão-de-obra familiar, os Ticuna contam com uma outra ajuda na agricultura por parte de parentes e amigos. São os ajuri, estruturados sobre os grupos vicinais, que são realizados com freqüência em todas as aldeias. Em um ajuri, o dono da roça é responsável pela comida e bebida dos seus convidados. Ele prepara o pajuaru, bebida fermentada feita de mandioca ou macaxeira, e providencia peixe e farinha para todos os participantes. Ao terminar o serviço, os participantes vão à casa do dono do ajuri, onde passam a noite em cantos e danças.<br /><br />O ajuri pode ser realizado em qualquer etapa da produção, bastando que o dono da roça necessite da ajuda dos integrantes de seu grupo vicinal. Existem, portanto, o ajuri da derrubada, o da colheita, o da palha (em que os convidados levam a palha e a trançam para a cobertura da casa do dono do ajuri), o da canoa etc. O trabalho que aquela família demoraria vários dias para fazer é terminado em uma manhã de trabalho conjunto dos parentes e vizinhos.<br /><br />Os instrumentos agrícolas utilizados pelos Ticuna são basicamente o terçado, o machado, a enxada e o forno de torrar farinha. Os instrumentos de trabalho utilizados no seu cotidiano são comprados por meio dos regatões ou nas cidades vizinhas, principalmente em Letícia, na Colômbia. Alguns machados e fornos de farinha foram ganhos da Funai. Pequenos comércios, instalados na própria aldeia por moradores com mais recursos, e que vão mais vezes à cidade, também fornecem os instrumentos necessários à produção, principalmente o terçado, que é aquele de maior demanda.<br /><br />As técnicas agrícolas dos Ticuna não são diferentes daquelas utilizadas em todo o Vale Amazônico, que incluem a derrubada seguida da queima e coivara. As roças de terra firme estão no centro, como eles costumam dizer. Já aquelas da várzea são geralmente cultivadas nas ilhas e florestas alagáveis principalmente pelo Solimões.<br /><br />Os produtos mais plantados, em ordem decrescente de importância, são: a macaxeira e a mandioca, a banana, o abacaxi, a cana e o cará, além do milho e da melancia, no período da seca (verão), quando estas roças que são de várzea estão sendo trabalhadas. Alguns desses produtos têm seu excedente comercializado. Além destes, podemos ainda citar algumas frutas como a pupunha, o mapati, o açaí, o abiu e o cupuaçu, que não são, senão raramente, plantadas. Estas frutas estão comumente localizadas nas capoeiras, antigas roças deixadas em pousio.<br /><br />A pescaria é um trabalho dos homens. A pesca conjunta é muito rara, mesmo entre moradores da mesma casa. A grande maioria dos Ticuna costuma pescar de caniço e flecha, e os melhores locais para a pesca são geralmente os numerosos lagos que margeiam o rio Solimões.<br /><br />Já a caça não é praticada por muitos, apesar de tradicionalmente estar bastante ligada aos Ticuna. Utilizavam uma zarabatana que lançava projéteis envenenados, mas hoje se valem da espingarda. As presas citadas com mais freqüência são: o macaco guariba, o macaco prego, a cutia, o veado, a queixada, o caititu, a anta, o mutum, o jacu, a arara, o macaco parauacu, o macaco barrigudo, a preguiça real, o macaco caiarara e o pinhuri.<br /><br />A criação de animais entre os Ticuna não costuma ser muito expressiva. A maioria das famílias possui poucas galinhas, mas estas são criadas soltas e apenas para a venda aos regatões e nas cidades, não sendo consumidas, assim como seus subprodutos. Além da galinha, há ainda uma pequena criação de patos, porcos e carneiros.<br /><br />A coleta de frutas é realizada por todos da família. As frutas mais comuns nas aldeias ticuna são: mapati (tchinhã), umari (te'tchi), ingá (pama), abiu (tao), castanha (nhoí), pupunha (itu), cupuaçu (cupu), sapota (otere) e açaí (waira). As capoeiras onde os índios vão colher as frutas são, em geral, localizadas nas suas antigas roças, que deixaram em repouso, preservando as árvores frutíferas.<br /><br />Dieta alimentar<br />A dieta alimentar é composta basicamente de peixe com farinha de mandioca. O preparo do peixe, quase diário, é feito principalmente de duas formas. Os diferentes tipos de peixe são cozidos (o seu caldo é bastante apreciado por todos). Depois de comer o peixe cozido com muita farinha de mandioca, os Ticuna costumam tomar vários pratos do caldo, como se fosse uma sopa. Também é muito comum fazer o peixe assado (moqueado) e comê-lo acompanhado de um pratinho de sal colocado ao lado, onde todos molham o dedo.<br /><br />A farinha de mandioca é consumida torrada e muitas vezes misturada ao que eles chamam de vinho de açaí, um suco feito desta fruta. Outro importante componente da alimentação ticuna é a banana. O mingau de banana é bebido como um suco bastante grosso. A banana assada na brasa é também muito utilizada, assim como frita. Devido à pequena expressão da caça na dieta desse povo, não há descrições do preparo de todas as carnes.<br /><br />A carne de queixada, assim como a da anta e a do caititu, costuma ser cozida. A carne de jacaré, também apetitosa, costuma ser preparada do mesmo modo que os peixes. Há ainda dois modos diferentes de se preparar os peixes, não tão comuns quanto aqueles já descritos. São eles a pupeca (uma espécie de trouxinha preparada com a folha de bananeira onde é assado o peixe) e a mujica ou massamoura (uma massa de banana amassada e apimentada com pedaços de peixe desfiados).O artesanato é, em geral, responsabilidade da esposa de uma família ticuna. Quase a totalidade das mulheres sabe fazer o tipiti (instrumento utilizado para espremer a massa de mandioca), o pacará (cesto com tampa), o aturá (cesto cargueiro), a maqueira, a peneira, colares e alguns outros tipos de artesanato. A maioria desses artefatos, entretanto, não é feita para a venda, mas para uso doméstico. As famílias que vendem algum tipo de artesanato o fazem aos regatões ou nas cidades mais próximas, mas isso não ocorre com muita freqüência. Semelhante ao que ocorre com a venda de frutas nas aldeias mais próximas à cidade, a venda de artesanato é mais intensa.<br /><br />Os Ticuna não costumam comprar muita variedade de produtos. Algumas famílias chegam a comprar café, bolacha, arroz, feijão, óleo (tudo em pequenas quantidades), e algumas vezes macarrão, cebola etc. A maioria, entretanto, costuma comprar apenas fósforo, sabão, sal, açúcar e algum querosene para suas lamparinas. Muitos não compram nem mesmo o açúcar, e mesmo os que o fazem compram muito pouco.<br /><br />Todos esses produtos são, em geral, trazidos pelos regatões que passam pelas localidades. Esta transação é feita normalmente a partir da troca da farinha que produzem e das galinhas que criam. Algumas vezes, tais produtos são comprados.<br /><br />As famílias com mais recursos fazem suas compras nas cidades mais próximas. Algumas compram em grandes quantidades para revender mais tarde na aldeia, formando assim casas "armarinhos", com produtos como pilhas ou linha de costura.<br /><br /><b> Artes</b><br /><br />A variedade e riqueza da produção artística dos Ticuna expressam uma inegável capacidade de resistência e afirmação de sua identidade. São as máscaras cerimoniais, os bastões de dança esculpidos, a pintura em entrecascas de árvores, as estatuetas zoomorfas, a cestaria, a cerâmica, a tecelagem, os colares com pequenas figuras esculpidas em tucumã, além da música e das tantas histórias que compõem seu acervo literário.<br /><br />Um aspecto que merece atenção é o acervo de tintas e corantes. Cerca de quinze espécies de plantas tintórias são empregadas no tingimento de fios para tecer bolsas e redes ou pintar entrecascas, esculturas, cestos, peneiras, instrumentos musicais, remos, cuias e o próprio corpo. Há ainda os pigmentos de origem mineral, que servem para decorar a cerâmica e a “cabeça” de determinadas máscaras cerimoniais.<br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDKhzSUgWdF77HvkWQ-l3qaR2JYpIYb6RJ1zJgY92tKfjde1cVT1yxj4XXhQJaqBnIVxptJKHhxJZobCrqSN-43A5Fe-79tLj-PQyE42qTRoH15Cb32CcDntxWZe7hnhJYHUvhoqmmWoc/s1600/Ma%25CC%2581scaras+Cerimoniais+Tikuna.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDKhzSUgWdF77HvkWQ-l3qaR2JYpIYb6RJ1zJgY92tKfjde1cVT1yxj4XXhQJaqBnIVxptJKHhxJZobCrqSN-43A5Fe-79tLj-PQyE42qTRoH15Cb32CcDntxWZe7hnhJYHUvhoqmmWoc/s640/Ma%25CC%2581scaras+Cerimoniais+Tikuna.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">Mascaras Cerimoniais Tikuna</td></tr></tbody></table><br />Ao longo dos quase quatrocentos anos de contato com a sociedade nacional, os Ticuna mantêm uma arte que os singulariza etnicamente, e as transformações constatadas em alguns itens de sua produção material raramente acontecem em detrimento da qualidade estética ou técnica das peças. Em certos casos, ao contrário, as inovações vieram beneficiar a aparência dos artefatos – especialmente aqueles destinados ao comércio artesanal – tornando-os mais vistosos e com melhor acabamento.<br /><br />Para os Ticuna, a raiz matü designa todo o tipo de decoração ou “enfeite” aplicado na superfície dos objetos ou do corpo, bem como as manchas, malhas ou desenhos encontrados na pele ou couro de certos animais. Além de ser adotado para nomear os motivos que resultam do cruzamento de fios ou talas ou os desenhos pintados sobre as entrecascas, papel e outros suportes, esse termo é também usado para designar a escrita introduzida com a escolarização.<br /><br />Como suportes de decoração há, no âmbito do trançado, os cestos com tampa, as peneiras e os tipitis, cuja manufatura cabe às mulheres. Outro conjunto de motivos encontra-se nas redes, tanto nos exemplares fabricados para venda como nos de uso doméstico. São motivos que resultam de uma técnica complexa que exige da tecelã grande conhecimento, experiência e atenção, adquiridos após um longo período de aprendizado.<br /><br />A tecelagem está intimamente ligada à mulher. A fabricação de fios é uma das primeiras tarefas desenvolvidas pelas meninas e na adolescência a importância dessa atividade ganha uma expressão ritual. Durante o período de reclusão a menina moça, worecü, dedica-se a trabalhos em tucum, especialmente à torção de fios, que são enrolados em forma de “flor”, de modo diferente dos novelos circulares vistos usualmente.<br /><br />A confecção da cerâmica é tarefa preferencialmente feminina, mas os homens também costumam exercê-la. Outro suporte que possibilita o prazer de desenhar e colorir são os painéis feitos de entrecasca de certas espécies de Ficus ou tururi, como é denominado regionalmente. O tururi, nome dado a esse tipo de painel, é uma invenção recente e surgiu do reaproveitamento de técnicas e matérias- primas tradicionalmente empregadas na manufatura de máscaras. Os tururis são pintados exclusivamente para fins comerciais. Os especialistas reconhecidos na arte de pintar o tururi são os homens, em sua maioria jovens ou de meia-idade.<br /><br />O elenco de figuras desenhadas é infinito. Há uma marcada preferência pela representação de animais (onça, jabuti, cobra, borboleta, anta, jacaré e várias espécies de aves e peixes), que em alguns casos vêm combinados com elementos da flora ou com figuras antropomorfas.<br /><br />Na esfera ritual, os suportes mais representativos da arte gráfica são as máscaras, os escudos, as paredes externas do compartimento de reclusão da moça-nova e o corpo. Na confecção das máscaras, os Ticuna utilizam como matéria-prima básica entrecascas de determinadas árvores e os motivos ornamentais podem estar distribuídos pela vestimenta inteira. Na parte superior ou “cabeça”, a decoração serve para salientar as feições da entidade sobrenatural, mas é nas entrecascas com as quais cobrem o corpo que se observa um maior número de desenhos.<br /><br />A confecção e o uso das máscaras são de domínio dos homens, que também se encarregam da feitura de grande parte dos objetos rituais, como alguns adereços da worecü, os instrumentos musicais, o recinto de reclusão, os bastões esculpidos etc.<br /><br />A pintura da face, por sua vez, pode ser realizada por ambos os sexos e é empregada hoje em dia apenas durante os rituais, por todos os participantes, inclusive crianças. Essa pintura, feita com jenipapo, já no primeiro dia da festa, tem a função social de identificar o clã ou nação, como dizem os Ticuna, de cada pessoa. É possível detectar em alguns ornamentos faciais uma certa similaridade com a natureza, ou seja, com os animais e as plantas que dão nome aos clãs. Além da função social de especificação do clã, pintar-se na festa é um ato obrigatório. A decoração corporal das jovens e crianças iniciadas, por sua vez, é realizada segundo normas rigidamente estabelecidas.<br /><br />A aptidão e a sensibilidade ticuna para a arte relevam-se agora em novos materiais e formas de expressão plástica e estética, como as pinturas em papel produzidas por um grupo de artistas que formam hoje o Grupo Etüena. Segundo a mitologia ticuna “Etüena é a pintora dos peixes. Ela sentava na beira do rio esperando a piracema passar. Ela então pegava cada peixe e pintava, dando uma cor que ficava para sempre”. Esse grupo nasceu no contexto dos cursos de formação ministrados pela Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngües (OGPTB), em que a arte teve um espaço privilegiado no programa curricular.<br /><br /><b> Educação</b><br /><br /> Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngües (OGPTB), criada em dezembro de 1986 e constituída juridicamente em 1994, atua numa extensa área formada pelos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins, na região do alto rio Solimões (AM). Ao longo de quase 20 anos, a OGPTB tem sido uma importante referência para os professores ticuna e, mais recentemente, também para os professores de outras etnias que habitam a região, como os Cocama e os Caixana.<br /><br />Sua importância está relacionada ao desenvolvimento de projetos e programas de educação bilíngüe (Português e Ticuna), com destaque para a titulação de professores no nível médio e a oferta de cursos de especialização em educação indígena, iniciativas que vêm suprindo a falta de ações públicas de formação específica por parte dos órgãos governamentais em todos os níveis. Os cursos são desenvolvidos no Centro de Formação de Professores Ticuna-Torü Nguepataü, na aldeia de Filadélfia (Benjamin Constant), com 481 professores indígenas matriculados nas diferentes modalidades.<br /><br />Essa capacitação tem contribuído para a criação de novos níveis de ensino nas escolas indígenas localizadas na área de atuação da OGPTB e um substancial crescimento do número de alunos, revertendo o quadro de exclusão escolar observado em décadas passadas, reduzindo a necessidade de deslocamento de jovens para as escolas da cidade ou mesmo a interrupção dos estudos. Se tomarmos como referência as escolas ticuna situadas nos cinco primeiros municípios citados, constatamos que, em 1998, havia 7.458 alunos, com apenas 841 nas classes de 5ª a 8ª série, ao passo que em 2005 o censo escolar apresentava um total de 16.100 alunos, dos quais 4.580 encontravam-se nas classes finais do Ensino Fundamental e nos cursos de Ensino Médio.<br /><br />Outro aspecto importante foi a substituição gradativa dos docentes não-índios por professores ticuna, os quais assumiram todas as classes de 1ª a 4ª séries, atuando também nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, onde compõem cerca de 50% do quadro docente. As escolas municipais são dirigidas por professores ticuna, que também desempenham em alguns municípios atividades de supervisão e coordenação de pólos. Existem 118 escolas municipais e duas estaduais.<br /><br />A partir de 2002, as iniciativas da OGPTB começaram a ter a participação dos demais grupos étnicos do alto Solimões, principalmente pela inserção dos professores cocama, caixana e cambeba nos cursos de formação e nos encontros que objetivam discutir as políticas educacionais na região. Tendo como referência a mobilização dos Ticuna por uma educação escolar adequada a seus interesses e realidades, esses professores, com apoio de suas respectivas organizações, vêm lutando para implementar uma nova escola em suas comunidades e, ao mesmo tempo, obter o reconhecimento das prefeituras municipais.<br /><br />Para os Ticuna, assim como para outras etnias, há uma expressiva demanda pelo ensino superior. Existe, de um lado, a necessidade de atender às exigências legais para a formação dos professores e, de outro, a necessidade de atendimento da demanda escolar que se amplia da 5ª a 8ª série e ensino médio. Dessa maneira, a formação específica de nível médio já não era suficiente, o que levou a OGPTB a criar o projeto do curso de licenciatura a partir de um longo processo de discussões com professores e lideranças indígenas.<br /><br />Para realização do Curso de Licenciatura para Professores Indígenas do Alto Solimões, a OGPTB buscou a parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e apresentou a primeira versão do projeto em abril de 2004. O projeto foi aprovado no âmbito da UEA em 2005, e em julho de 2006 foi iniciada a primeira etapa. O curso destina-se a 230 professores ticuna, dispondo de 20 vagas para professores cocama, caixana e cambeba.<br /><br />Já foram desenvolvidas quatro das dez etapas previstas no projeto, e as aulas são ministradas no Centro de Formação de Professores Ticunas durante as férias escolares.A atuação da OGPTB tem contribuído para uma maior autonomia dos professores e comunidades na condução do processo educacional em suas escolas e no entendimento da escola como espaço de produção de saberes, de reflexão e ação política, de proteção do território e defesa dos direitos sociais, de promoção da saúde, de valorização da língua materna e do patrimônio cultural.<br /><br />Assim como outras organizações indígenas do país, a OGPTB luta pelo reconhecimento e cumprimento da legislação de educação escolar indígena na região do alto Solimões. Embora enfrente dificuldades de toda ordem - reiterada falta de reconhecimento, descaso, discriminação -, a persistência e a incansável mobilização dos membros dessa organização têm permitido superar inúmeros obstáculos e desafios para fazer valer os direitos dos povos indígenas de atuarem com autonomia na condução de seus projetos, de suas escolas e de seus propósitos por melhores condições de vida.<br /><br /><b> Fontes de informação</b><br /><br />ACUÑA, Cristobal de. Novo Descobrimento do Rio Amazonas. (Edição, tradução e notas de Antonio Esteves). Montevidéu: Oltaver, 1994.<br />ALMEIDA, Fabio Vaz R. de. “Desenvolvimento sustentado entre os Ticuna: as escolhas e os rumos de um projeto”. In: Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi, ser. Cienc. Hum. abr. 2005, vol.1, no.1, p.45-110.<br />. “Tatchiüàné: ‘nossa terra de muito tempo’”. Amazônia em cadernos, n. 6. Manaus : Editora da Universidade do Amazonas, 2000.<br />. “Agências de contato e desenvolvimento sustentável entre os Ticuna”. Amazônia em cadernos, n. 5. Manaus, Editora da Universidade do Amazonas, 1999.<br />. Desenvolvimento sustentado entre os Ticuna: as escolhas e os rumos de um projeto. Rio de Janeiro: CPDA/UFRRJ, 1996. (Dissertação de mestrado).<br />. Economia Ticuna e monitoramento ambiental. In: SANTOS, Antônio Carlos Magalhães Lourenço (Org.). Sociedades indígenas e transformações ambientais. Belém : UFPA-Numa, 1993. p. 79-112. (Universidade e Meio Ambiente, 6).<br />; BRASIL, Deusimar Freire. Desenvolvimento econômico : uma nova preocupação dos Ticuna. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1991/1995. São Paulo : Instituto Socioambiental, 1996. p. 310-2.<br />; ERTHAL, Regina M. Carvalho de. “Os Ticuna diante da Degradação Ambiental” In: RICARDO, Beto (ed.) Povos Indígenas do Brasil (1996-2000). São Paulo : Instituto Socioambiental, 2000, p. 403-407.<br />ALVIANO, Fr. F. “Notas etnográficas sobre os Ticuna do Alto Solimões". In: Revista Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 1943, vol. 180-181, pp. 6-33<br />ARAÚJO, Ubiratã Antônio Moreira de. Máscaras inteiriças Tukuna: possibilidades de estudo de artefatos de museu para o conhecimento do universo indígena. São Paulo: ESP, 1986. (Tese de Láurea)<br />ARAÚJO LEITÃO, Ana Valéria Nascimento (Org.). A defesa dos direitos indígenas no judiciário : ações propostas pelo Núcleo de Direitos Indígenas. São Paulo : Instituto Socioambiental, 1995. 544 p.<br />CAMACHO, H. “Rito y cosmogonia entre los Tikuna del Trapecio Amazônico”. In: Letícia, pré-print, 2003, 21 p.<br />. Historias de los Abuelos de Muruap. Bogotá, Imprenta National de Colômbia, 2000.<br />. Nuestras caras de fiesta. Bogotá, Colcoltura, 1996.<br />. Magüta, la gente pescada por Yoi. Bogotá, Colcoltura, 1995.<br />CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Viagem ao território Tükúna. In: Os diários e suas margens: viagem aos territórios Terêna e Tükúna. Brasília : Editora Universidade de Brasília; Fundação Biblioteca Nacional, 2002. pp. 271-338.<br />. O índio e o mundo dos brancos. Campinas : Ed. da Unicamp, 1996 [1ª ed. 1964].<br />. Aliança inter-clânica no sociedade Tükúna. In: --------. Enigmas e soluções : exercícios de etnologia e de crítica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Fortaleza: UFCE, 1983. p. 54-75. (Biblioteca Tempo Universitário, 68)<br />. "Possibilidades de uma Antropologia da Ação". In: Sociologia do Brasil Indígena. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1978 (2ª ed.). p.197-221.<br />. Totemismo Tükúna? In: -------- (org.). Mito e linguagem social. Ensaios de antropologia social. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1970, pp. 52-64.<br />CORREA, Roseli de Alvarenga. A educação matemática na formação de professores indígenas : os professores Ticuna do Alto Solimões. Campinas : Unicamp, 2001. 410 p. (Tese de Doutorado)<br />DAVALOS-MISSLITZ, Ana Clara Marque. Polimorfismo da proteína GC em indígenas brasileiros. Ribeirão Preto : USP/FMRP, 1992. 96 p. (Dissertação de Mestrado)<br />DEHEINZELIN, Monique. O dia da criação entre os Ticuna. Em Aberto, Brasília : Inep, v. 14, n. 63, p. 160-71, jul./set. 1994.<br />DÉSIRÉ, Guy. Le mouvement des hamacas : modèles symboliques et modèle social des indiens Ticuna. Journal de la Société des Américanistes, Paris : Société des Américanistes, v. 80, p. 113-43, 1994.<br />ERTHAL, Regina Maria de Carvalho. O suicídio Ticuna no Alto Solimões : uma expressão de conflitos. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro : Fiocruz, v. 17, n. 2, p. 299-312, mar./abr. 2001.<br />. O suicídio Ticuna na região do Alto Solimões-AM. Rio de Janeiro : ENSP/Fiocruz, 1998. 310 p. (Tese de Doutorado)<br />; ALMEIDA, F. “O GT Lauro Sodré em uma perspectiva da história da demarcação de terras indígenas no Alto Solimões”. Revista de Estudos e Pesquisas. Brasília : FUNAI, n.1, 2004.<br />FAULHABER BARBOSA, Priscila. (org.) Magüta Arü Inü. Jogo de memória. Pensamento magüta. Prêmio Rodrigo de Melo Franco de Andrade. Iphan, Belém, Museu Goeldi, 2003.<br />. “A fronteira na antropologia social: as diferentes faces de um problema”. In: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. São Paulo, Anpocs, 2002, pp. 105-26.<br />. “The Mask Designs of the Ticuna Curt Nimuendaju Collection”. In: MYERS, T. & CIPOLLETTI, M. S (orgs.), BAS Bonner Americanistsche Studien. Bonn, Bonn Universtität, 2002, n. 36, pp. 27-46.<br />. Os Ticunas hoje. Manaus, UFAM, 2001, pp. 105-20.<br />. “A festa de To'oena. Relatos, performance e etnografia Ticuna”. In: OLIVEIRA FILHO, J. P. Amazônia em cadernos. 1999.<br />. Relatório de identificação e delimitação da AI Porto Praia.<br />In: FURTADO, Lourdes Gonçalves (Org.). Amazônia : desenvolvimento, sociodiversidade e qualidade de vida. Belém : UFPA-Numa, 1997. p. 1-30. (Universidade e Meio Ambiente, 9).<br /><br />. “Uma viagem ao 'mundo de lá'. Imaginário e movimento dos índios no Japurá-Solimões”. In: BARABAS, A. (org.). Religiosidade y resistencia indígenas hacia el fin del milênio. Quito, Abya-Yala, 1994, pp.157-88.<br />; ALMEIDA, Fábio Vaz Ribeiro de. Recursos e representação em disputa entre os Ticuna/AM/Brasil. Boletim do MPEG: Série Antropologia, Belém: MPEG, v. 15, n. 2, p. 271-85, dez. 1999.<br />GLENBOSKI, Linda Leigh. Ethnobotany of the Tukuna Indians Amazonas, Colombia. s.l. : Univ. of Alabama, 1975. 270 p. (Tese de Doutorado)<br />GOULARD, Jean-Pierre. “La Cité de Dieu dans la forêt. Une terre immortelle”. In: Socio-Anthropologie, N°10, Religiosités contemporaines, 2001.<br />. “Un objeto ritual: el chine o escudo de baile de los Ticuna”. In: MYERS, T. & CIPOLLETTI, M. S (orgs.). BAS Bonner Americanistsche Studien, Bonn, Bonn Universtität, 2002, n. 36, pp. 47-62.<br />. Les genres du corps: conceptions de la personne chez les Ticuna de la haute Amazonie. Paris : EHESS, 1998. 556 p. (Tese de Doutorado)<br />. La parole voilée ou les beaux-frères inévitables chez les Ticuna. Bulletin de la Soc. Suisse des Américanistes, Genebra : Soc. Suisse des Américanistes, n. 57-58, p. 139-46, 1995.<br />. Les Ticuna n'ont pas de loi ou le motif de la "tete coupee". Journal de la Société des Américanistes, Paris : Société des Américanistes, v. 78, n. 2 , p. 11-24, 1992.<br />. Los Ticuna. In: SANTOS, Fernando; BARCLAY, Frederica (Eds.). Guía etnográfica de la alta Amazonía. v. 1. Quito : Flacso, 1994. p. 309-444. (Colecciones y Documentos)<br />GRUBER, Jussara Gomes. Projeto educação Ticuna : arte e formação de professores indígenas. Em Aberto, Brasília : Inep/MEC, v. 20, n. 76, p. 130-42, fev. 2003. -------. “Instrumentos Musicais Ticuna”. In: BISPO, A. (Org.) Musices aptatio-1996/97 – jahrbuch-die musikkulturen der indianer brasiliens II. Cöln : Institut für Hymnologische und Musikethnologische Studien, 1999, pp. 35-78. -------- (Org.). O livro das árvores. Benjamin Constant : OGPTB, 1997. 96 p. --------. As extensões do olhar : a arte na formação de professores Ticuna. Em Aberto, Brasília : Inep, v. 14, n. 63, p. 122-36, jul./set. 1994. --------. Museu Magüta. Piracema, Brasília : Funarte ; Ibac ; Minc, v. 2, n. 2, p. 84-94, 1994. -------. “A arte gráfica Ticuna”. In: VIDAL, L. (org.), Grafismo indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo : Studio Nobel/Fapesp/Edusp, 1992. -------- (Org.). Ngi'A tanautchicunaagu : um manual da escrita. Benjamin Constant : Magüta ; Brasília : MEC, 1992. 108 p. -------.et al. “20 anos de Resistência e Conquista”. In: Povos Indígenas no Brasil: 2001-2005. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2006, pp. 418-422. -------. & DEHEINZELIN, Monique. “Ticunas, os professores que vieram de longe”. Pátio – Revista Pedagógica, Ano V, No. 18, Porto Alegre : Artmed, 2001. pp.40-44.<br />GUIMARÃES, Francisco Alfredo Morais. Vai-Yata-In (União de todos) : uma proposta alternativa no ensino da temática indígena na sala de aula. Salvador : UFBA, 1996. 256 p. (Dissertação de Mestrado)<br />LEITE, Arlindo Gilberto de Oliveira. Educação indígena Ticuna : livro didático e identidade étnica. Cuiabá : UFMT, 1994. 295 p. (Dissertação de Mestrado)<br />LOPEZ GARCES, Cláudia Leonor. Ticunas brasileiros, colombianos y peruanos: etnicidad y nacionalidad en las region de fronteras del Alto Amazonas/Solimões. Brasília : UnB, 2000. 324 p. (Tese de Doutorado)<br />MACEDO, Guilherme Martins. Negociando a identidade com os brancos : política e religião em um núcleo urbano Ticuna. Rio de Janeiro : Museu Nacional-UFRJ, 1996. (Dissertação de Mestrado)<br />MASQUERADES and demons: Tukuna bark-cloth printing. Urbana: Board of Trustees of the University of Illinois, 1992. 71 p.<br />MENDONÇA, João Martinho de. Os movimentos da imagem da etnografia e reflexão antropológica: experimentos a partir do acervo fotográfico do professor Roberto Cardoso de Oliveira. Campinas: Unicamp, 2000. 228 p. (Dissertação de Mestrado)<br />NIMUENDAJÚ, Curt. Os índios Tukuna (1929) In: --------. Textos indigenistas. São Paulo: Loyola, 1982. p. 192-208.<br />. The Tükuna. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1952 [1a. ed. 1929). 209p.<br />OLIVEIRA, João Pacheco de. Ação indigenista e utopia milenarista: as múltiplas faces de um processo de territorialização entre os Ticuna. In: ALBERT, Bruce; RAMOS, Alcida Rita (Orgs.). Pacificando o branco: cosmologias do contato no Norte-Amazônico. São Paulo: Unesp, 2002. p. 277-310.<br />. Ensaios em antropologia histórica. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1999. 269 p.<br />(Coord.). Atlas das terras Ticuna. Rio de Janeiro: Museu Nacional; Brasilia: Finep/PP-G6; Benjamin Constant: CGTT, 1998.<br />. "O Nosso Governo" : os Ticuna e o regime tutelar. São Paulo : Marco Zero, 1988. 316 p.—<br />. “Elementos para uma Sociologia dos Viajantes e O Projeto Tükuna: uma experiência de ação indigenista”. In: -------. (org.). Sociedades Indígenas & Indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1987, pp. 84-148.<br />. O projeto Tükuna : uma experiência de ação indigenista. In: -------- (Org.). Sociedades indígenas e indigenismo no Brasil. Rio de Janeiro : Marco Zero ; UFRJ, 1987. p. 31-42.<br />. "O Nosso Governo": os Ticuna e o regime tutelar. Rio de Janeiro : UFRJ-Museu Nacional, 1986. 514 p. (Tese de Doutorado)<br />. “A difícil etnografia de uma tribo em mudança”. In: CARDOSO DE OLIVEIRA, R. Anuário Antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1981, n. 79.<br />. As facções e a ordem política em uma reserva Ticuna. Brasília : UnB, 1977. 298 p. (Dissertação de Mestrado)<br />. "Os Índios Tucuna". Boletim do Museu do Índio. nº 7. Rio de Janeiro, Dezembro, 1977.<br />. et al. Comunicado de Viagem a aldeamentos Tikuna. Relatório apresentado ao Departamento Geral de Planejamento Comunitário. Brasília: FUNAI, 1974. 40p.<br />; IORIS, Edwiges Marta. A expansão do cólera nas áreas Ticuna. Resenha & Debate, Rio de Janeiro : Museu Nacional-Peti, n. 5, p. 18-24, set. 1991.<br />; LIMA, Antônio Carlos de Souza. O massacre de São Leopoldo : mais uma investida contra os Ticuna. In: RICARDO, Carlos Alberto (Ed.). Povos Indígenas no Brasil : 1987/88/89/90. São Paulo: Cedi, 1991. p. 240-2. (Aconteceu Especial, 18)<br />ORGANIZAÇÃO GERAL DOS PROFESSORES TICUNA BILINGÜES. Ngiã nüna tadaugü i torü naãne - Vamos cuidar da nossa terra. LIMA, Deborah (Org.), OGPTB/ProVárzea-Ibama-MMA, 2006. 216 p.<br /><br />. Cururugu tchiga. Benjamin Constant: OGPTB, 2002. 63 p.<br />. Livro de saúde bucal. Benjamin Constant: 2002. 64 p.<br />. Werigu arü ae. Benjamin Constant : OGPTB, 2002. 48 p.<br />ORO, Ari Pedro. “Messianisme eglise et etat en Amazonie bresilienne”. In: Cahiers du Brésil Contemporain. Paris, 1990, v. 11, pp. 95-120.<br />. Na Amazônia um messias de índios e brancos: para uma antropologia do messianismo. Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: EdiPUCRS, 1989. 208 p.<br />. Tükúna: vida ou morte. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia; Caxias do Sul: Univers. de Caxias do Sul, 1977. 130 p.PEREIRA, Edmundo Marcelo Mendes. Reorganização social no Noroeste do Amazonas: elementos sobre os casos Huitoto, Bora e Ticuna. Rio de Janeiro : Museu Nacional, 1999. 110 p. (Dissertação de Mestrado)<br />QUEIROZ, Maurício Vinhas de. “Cargo Cult na Amazônia – observações sobre o milenarismo Tukuna”. In: Revista América Latina. Rio de Janeiro, 1963, ano VI, n. 4, pp. 43-61.<br />RODRÍGUEZ, Maria Emilia Montes. Tonología de la lengua Ticuna (Amacayacu). Bogotá: CCELA/Uniandes, 1995. 200 p. (Descripciones,9)<br />ROSSI, Sanna Barlow. God's city in the jungle. Huntington Beach: Wycliffe Bible Translators, 1975. 158 p.SANTOS, Lenize Maria Wanderley. STRs autossômicos e ligados aos cromossomos y em indígenas brasileiros. Ribeirão Preto: FMRP, 2002. 131 p. (Tese de Doutorado)<br />SILVA, Orlando Sampaio. Máscaras de dança Tukuna. Rev. do Museu de Arqueol. e Etnol., São Paulo: MAE, n. 10, p. 271-90, 2000.<br />. Notas sobre algunos pueblos indígenas de la frontera amazónica de Brasil en otros paises de sudamerica. In: JORNA, P.; MALAVER, L.; OOSTRA, M. (Coords.). Etnohistoria del Amazonas. Quito: Abya-Yala; Roma: MLAL, 1991. p. 117-32. (Colección 500 Años, 36)<br />SOARES, Marília Lopes da Costa Facó. Regulação rítmica e atuação do OCP em Ticuna. Letras de Hoje, Porto Alegre : PUCRS, v. 31, n. 2, p. 7-26, 1996.<br />.Ordem de palavra: primeiros passos para uma relação entre som, forma e estrutura em Ticuna. Amerindia, Paris: A.E.A., n. 17, 1992.<br />. O suprassegmental em Ticuna e a teoria fonológica. Campinas: Unicamp, 1992. 648 p. (Tese de Doutorado)<br />SULLIVAN, James Lain. The impact of education on Ticuna indian culture, and historical and ethnographic field study. Denton: North Texas States Univ., 1970. 254 p. (Ph.D. Dissertation)<br />TICUNA, Índios. Torü Duü’ügü – Nosso Povo. Rio de Janeiro: Museu Nacional-UFRJ, Memórias Futuras Edições; Brasília: SEC/MEC/SEPS/FNDE, 1985. 96 p.<br />UNIVERSIDADE DO AMAZONAS. Os Ticuna hoje. Manaus: Universidade do Amazonas, 1999. 292 p. (Amazônia em Cadernos, 5)<br />Rádio Amazonas: a dream come true. Dir.: Odilon Tetu. Vídeo cor, 25 min., 1994. Prod.: Telenews.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div><br />Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-19797295020319139862021-04-26T15:55:00.001-07:002021-04-26T15:55:08.889-07:00Mirity Tapuya<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQBoACYTYA8rlFhIJA6GvvK3hZuo6_LZrrKaMgL83_gxVKytc2Mwr7q0Wl2mAHTNt4wfgOs6KwieZ2U7Yu7uOFS0QcG02N37AarFnKZomb_mZZnCJt0Gq3A-FVkyV-KbyrR6QkAIobr0o/s1310/Toy+Art+Mirity+Tapuya.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQBoACYTYA8rlFhIJA6GvvK3hZuo6_LZrrKaMgL83_gxVKytc2Mwr7q0Wl2mAHTNt4wfgOs6KwieZ2U7Yu7uOFS0QcG02N37AarFnKZomb_mZZnCJt0Gq3A-FVkyV-KbyrR6QkAIobr0o/w640-h582/Toy+Art+Mirity+Tapuya.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Mirity Tapuya</span></td></tr></tbody></table><br /></div><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">143</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Buia-tapuya</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Tukano<br /><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AM</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">75</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Dsei/Foirn 2005</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"> </td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Os Miriti-tapuya viviam por tradição no baixo e médio rio Tiquié, especialmente nas comunidades de Iraiti, São Tomé, Vila Nova e Micura.</div><div><br /></div><div><b>Localização</b></div><div><br /></div><div>O Rio Uaupés tem cerca de 1.375 Km de extensão. De sua foz do Rio Negro até a desembocadura do Rio Papuri, o Uaupés está situado em território brasileiro e percorre cerca de 342 Km. Entre este ponto e a foz do Querari, serve de fronteira entre o Brasil e a Colômbia por mais de 188 Km. A partir daí até as suas cabeceiras se situa em território colombiano e percorre 845 Km. Navegando no Uaupés, H. Rice (1910) contou 30 cachoeiras maiores e 60 menores.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNVCMgtteSREeCCr148N_eGy8HgFzEgPcsfh8oWPiomroXpV4o2MDe2A-618mqWy5t8kTHq5TvHquwvVo1gbqKZWfTp_mD68CwcfdaAxIJ_FqAVwLsvtdPVjw58_X1vEB2GfYFaJ-DGCE/s2570/Territorio+indigena+Mirity+Tapia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNVCMgtteSREeCCr148N_eGy8HgFzEgPcsfh8oWPiomroXpV4o2MDe2A-618mqWy5t8kTHq5TvHquwvVo1gbqKZWfTp_mD68CwcfdaAxIJ_FqAVwLsvtdPVjw58_X1vEB2GfYFaJ-DGCE/w640-h304/Territorio+indigena+Mirity+Tapia.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Mirity-Tapuya</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Depois do Rio Branco, o Rio Uaupés é o maior tributário do Rio Negro. Atualmente, o nome Uaupés é o mais usado (no Brasil, já que na Colômbia fala-se mais Vaupés), mas também é conhecido como Caiari. Em seu curso, o Uaupés recebe as águas de outros grandes rios, como o Tiquié, o Papuri, o Querari e o Cuduiari.</div><div><br /></div><div>Os principais núcleos de povoamento do Rio Uaupés são a cidade de Mitu, capital do departamento colombiano do Vaupés, e Iaraueté, que é sede de um distrito do município de São Gabriel. Iaraueté, além de ser um centro de ocupação tradicional dos Tariana, abriga também uma grande missão dos salesianos e um pelotão de fronteira do exército. Existem ainda outras duas missões salesianas na bacia do Uaupés, uma em Taracuá (na confluência desse rio com o Tiquié) e outra no Alto Tiquié, chamada Pari-Cachoeira. Também há um destacamento do Exército na confluência do Querari com o Uaupés e outro em Pari-Cachoeira.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS1TY5MMoRIByI1rSUV0vqdh_4T-DFB3QJmLrsmN7voe0-DOKF0e3HQPk6-7NnEkIyplgm7UO9LDYIv-zpmwACY0UkKaXb2ouxhobtReWpjnIXn9Go_GoIofF2wh7YKL5mpcRuPJmwkiE/s644/Screen+Shot+2021-04-26+at+19.05.49.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="474" data-original-width="644" height="472" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiS1TY5MMoRIByI1rSUV0vqdh_4T-DFB3QJmLrsmN7voe0-DOKF0e3HQPk6-7NnEkIyplgm7UO9LDYIv-zpmwACY0UkKaXb2ouxhobtReWpjnIXn9Go_GoIofF2wh7YKL5mpcRuPJmwkiE/w640-h472/Screen+Shot+2021-04-26+at+19.05.49.png" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Homens entoando instrumento musical sagrado</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A Terra Indigena do Alto Rio Negro, onde residem os Mirity Tapuya, com extensão de 7.999.380 ha foi homologada em 14 de abril de 1998, e registrada no CRI e SPU, com 26.046 de 18 etnias (SIASI/SESAI 2013).</div><div><br /></div><div><b>Língua</b></div><div><br /></div><div>Miriti, Tukano e Português (DAI/AMTB 2010). Atualmente falam apenas a língua Tukano, Miriti é considerada de ser extinta.</div><div><br /></div><div><b>História</b></div><div><br /></div><div>Durante o século XVIII os portugueses tentaram tomar conta dos territórios no extremo oeste da Amazônia, concedidos pelo Tratado de Madri em 1750. Mas os caciques do alto rio Negro se rebelaram em 1755. Um chefe chamado Yavita vendeu escravos dos rios Uaupés e Xié aos portugueses. A fronteira com a Espanha no alto rio Negro e a Venezuela foi definida em 1777 e marcada por fortes construídos pelos índios. Uma comissão sob um ‘astrônomo’ foi estabelecida em Barcelos e Tefé para determinar a fronteira entre os Solimões e Uaupés, que trouxe naturalistas e cientistas à região pela primeira vez.</div><div><br /></div><div>O primeiro contato do alto rio Negro com os brancos eram ‘pelos objetos, como ferramentas, comerciados por outros indígenas, seguidos pelas expedições portuguesas à busca de escravos, acompanhadas de jesuítas acerca de 1650 (Cabalzar 2006.73). Escravos tukano entre outros foram levados para Belém entre 1739 e 1755 e epidemias de varíola e sarampo arrasaram a região entre 1740 e 176. Depois da derrota dos Manao pelos portugueses o alto rio Negro ficou despovoado. Os índios se dividiram entre os que cooperavam com os brancs e serviram os carmelitas com a coleta de produtos do mato e os outros que continuaram a resistir. Pombal terminou o trabalho dos missionários e quis trocar a escravidão pela assimilação dos índios, mas os coloniais continuaram a explorá-los (Cabalzar 2006.80).</div><div><br /></div><div>Quando a nova providencia do Amazonas foi criada em 1850 os presidentes pensaram que ela prosperaria somente se os indígenas sejam transformados em mão de obra. O rio Negro já era quase sem índios e a atenção passou para o rio Uaupés com seus afluentes os rio Tiqué e Papuri, e os rios ao norte, os Içana e Aiari, que ainda tinha uma grande população indígena, inclusive os grupos falantes Tukano. O carmelita, frade José Maria de Bene, foi enviado e ele chegou no rio Uaupés em 1852 e começou a três pontos entre os Tukano. Ele conseguiu batizar o terço dos estimados 2.300 índios em quinze aldeias no rio Uaupés em dois anos. Quando ele transferiu para o rio Içana ele descobriu os Baniwa espalhados e depois de batizar 165 se demitiu do trabalho (Hemming 1987.303). O tenente de polícia Coreiro tentou ter o monopólio do comércio no rio Uaupés e visitou os chefes para persuadi-los mudar-se para as margens dos rios. Poucos o obedeceram porque ele ia capturá-los. Cordeiro puniu uma aldeia, matando todos (Hemming 1987.306).</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKCGj3MikCz0XdgrJwAc0ngGtsfb90fMLVFsXaxErSEcwOlwVaQIZzqzWzH4KqmaYGkHgp4-sGnIb-h8O6SHE6Cs4heJsfNEUdtuCvA2VZZYoxSj4_XZseIX4bldT28ZJ1l9xvzWB95mE/s549/Screen+Shot+2021-04-26+at+19.06.14.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="549" height="472" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKCGj3MikCz0XdgrJwAc0ngGtsfb90fMLVFsXaxErSEcwOlwVaQIZzqzWzH4KqmaYGkHgp4-sGnIb-h8O6SHE6Cs4heJsfNEUdtuCvA2VZZYoxSj4_XZseIX4bldT28ZJ1l9xvzWB95mE/w640-h472/Screen+Shot+2021-04-26+at+19.06.14.png" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Festividade Mirity-Tapuya</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Em 1858, um movimento messiânico entre os Baniwa no Içana, do Venâncio Cristo, chegou no rio Uaupés e um Tukano, Alexandre organizou danças messiânicas e ele foi bem recebido pelos índios que temiam um ataque dos brancos. Alexandre realizou batismos, casamentos e deu profecias e centenas dos povos Tukano responderam. Ele profetizou que os índio dominariam os brancos. Um frade foi investigar mas os índios não cooperam e ele tinha que fugir depois um tiroteio, mas Alexandre sumiu rio acima no Tiquié. Uma expedição veio de Manaus para reconciliar os índios e uma capela católica foi construída pelos índios e consagrada. Os Tukano contam que houve muitos movimentos messiânicos no século até o fim do século XIX, mas em contraste como entre os Baniwa no Içana, eles desapareceram no rio Uaupés (Hemming 1987.311-113).</div><div><br /></div><div>Dois capuchinos, frades Mathieu Canioni e Guiseppe Coppi chegaram no rio Uaupés em 1883. Coppi era um zelote que não falava as línguas indígenas e desprezava os povos Tucano. Instituiu uma disciplina severa, construiu a missão na aldeia dos Tariana chamada Panoré, com as casas em fileiras, uma igreja grande e uma casa pastoral fortificada. Os frades combateram as injustiças dos regatões e perseguiram os pajés. Para destruir a crença do Jurupari, Coppi mostrou uma mascara sacra às crianças e depois a todos na capela. Isso produziu um tumulto de temor e raiva, que resultou na fuga dos missionários rio abaixo. Os pajés tomou a oportunidade de purificar a aldeia com seus rituais. Alguns pajés pensaram em abandonar sua crença, mas eram persuadidos continuar por um velho colega que disse que recebeu uma visão do Jurupari. Os frades abandonaram sua missão (Hemming 1987.321-324).</div><div><br /></div><div>Os povos viviam em temor dos seringueiros durante a primeira época da borracha do final do século XIX. As árvores ficavam mais no lado colombiano, e os colombianos vieram ao Brasil para escravizar os índios e levá-los para lá. Em 1927, Nimuendajú encontrou com Antônio Maia, agente do criminoso Julio Barreto. Maia viajou no rio Uaupés explorando os índios para pagar ‘dívidas’, trabalhar nos seringais, ou ser raptados para a Bolívia (Hemming 2003.241).</div><div><br /></div><div>A época dos salesianos começou em 1914 e durou até 1952, instalando missões em São Gabriel, Taracuá, Iauareté, Pari-Cachoeira, Santa Isabel e Assunção do Içana. Reduziram a exploração dos patrões, mas destruíram a cultura e as línguas indígenas por levar as crianças para serem educados nos seus internatos, nos quais reinava só a fala portuguesa e uma disciplina rigorosa. Mandaram a destruição das malocas para substituí-las com casas de famílias nucleares e abandonar o ritual do Jurupari (Cabalzar 2006.95). Os salesianos só tinham influência no rio Içana depois 1950 e na época muitos Baniwa se converteram ao protestantismo, mas isso tinham pouco contato com os povos Tukano. Em 1979 o governo cortou os verbos e os salesianos terminaram o regime dos internatos.</div><div><br /></div><div>O Plano de Integração Nacional (1970) incluiu a tentativa de construir a estrada BR-307 do Acre, lingando Benjamim Constante e São Gabriel da Cachoeira com Cucuí, na fronteira com a Venezuela. Só este último trecho foi construído. Em 1988 a nova Constituição deu direitos aos indígenas, mas levou uma década de luta, com a formação das Associações indígenas do rios para conseguir a demarcação e homologação das Terras Indígenas do Médio rio Negro, Téa e Apapóris em abril 1998.</div><div><br /></div><div>Nos anos 80 do século XX os garimpeiros invadiram o rio Uaupés, o ouro atraiu milhares de homens que não respeitavam os índios. Os índios tentaram garimpar nas suas terras por conta próprio, não podiam defender o território dos invasores. Estes concentraram nos garimpos do Pari-Cachoeira e no alto Tiquié. Em 26 de outubro de 1985 noventa índios foram ao acampamento dos garimpeiros, pedindo que saíssem. Na luta que houve três garimpeiros foram mortos. Os índios descobriram outros garimpos de ouro e os Tukano fizeram um acordo com a Empresa de mineração. O plano de incluir o garimpos dentro a nova Terra Indígena foi cancelado. Os índios responderam por realizar uma ‘Assembleia da Organizações Indígenas do Alto Rio Negro com 300 representantes em abril 1987, criaram FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e rejeitaram a proposta de pequenas ‘ilhas’ de T. Is. para a T. I. Alto DRIO Negro. No fim o acordo com a empresa de mineração não se cumpriu e os índios deixados decepcionados (Hemming 2003.622, 626).</div><div><br /></div><div>O rio Uaupés com seus afluentes Tiquié, Papuri, Querari e os igarapés é a região habitada pelos povos de línguas Tukano. Na Colômbia, há vários grupos aparentados que vivem na bacia Vaupés e na bacia do rio Apapóris e seu afluente o rio Pirá-Paraná. Existem pelo menos dezesseis povos que são falantes deste línguas, mas usam o Tukano como a língua franca. Os Miriti-tapuya ocupam o médio e baixo rio Tiquié (Cabalzar 2006.41). Os Hupdah e Yuhupdeh dos chamados povos ‘Maku’ vivem na floresta da terra firme dos afluentes do rio Tiquié, os primeiros na margem esquerda e os segundos na margem direita. Rio acima na Colômbia vivem os Kakwa, outro grupo dos seis povos chamados ‘Maku’. Eles servem os povos Tukano, ‘os povos do rio’, como os Miriti, em brocar e queimar as roças maiores, providenciar carne de caça, e morar temporariamente ao lado dos povos ribeirinhos (Cabalzar 2006. 49-51). Assim a exploração econômica da áreas ecológicas diferenciadas da região é aproveitada. Os caçadores coletores ‘Maku’ usam as áreas interflúvias e os ‘povos do rio’ fazem a agricultura de coivara e a pesca. Em 2006 somente 12 Miriti-Tapuya moravam na cidade Iauareté, no rio Uaupés, entre uma população de 2.659 (Andrello 2006.153).</div><div><br /></div><div><b>Sociedade </b></div><div><br /></div><div>Os povos da língua Tukano praticam o casamento exogâmico interétnico e patrilocal, os Miriti se casam com mulheres das outras etnias das línguas Tucano, como uma mulher Desana, Tukano ou Tuyuka. Desta maneira os povos são unidos em uma colaboração mútua. Também pessoas representantes da outra etnias se encontram nos assentimentos dos outros. Um comércio de troca de sal, raladores Baniwa e malhadeiras do lado brasileiro ganham panelas de alumínio do lado colombiano.</div><div><br /></div><div>Artesanato: Cada povo do grupo Tukano tem sua especialidade: Os Tuyuka fazem canoas, os Tucano bancos, os Desana apás grandes, cestos e cumatás, os Tariana especializam em implementos de pesca como caiá, cacuri, matapi, os Wanana o preparo do carajuru para colorar bancos, artefatos rituais e a pintura corporal. Os Bará confeccionam aturás de turi, os Makuna fazem zarabatanas e curare e canoas (Cabalzar 2006.43-45).</div><div><br /></div><div><b>Religião</b></div><div><br /></div><div>A festa do Jurupari é celebrada pelos povos Tucano. O nome é termo impróprio, porque vem do Tupi, descreve um espírito mau temido pelos povos do litoral e usado pelos jesuítas para o diabo. Na realidade a festa celebra uma criança ancestral que vagava na mata, transformada em preguiça ou guariba. A festa dura três dias, e as mulheres e as crianças se escondam na floresta para não ver as flautas e os pajés disfarçados com mascaras. O Jurupari chega durante a música e entra a casa quando é silenciosa, bate em pessoas com seu bastão, recebe comida e volta para a floresta. Depois isso as mulheres voltam e a dança começa (Hemming 1987.321). 20% provavelmente Cristão católico.</div><div><br /></div><div><b>Bibliografia</b></div><div><br /></div><div>ANDRELLO, Geraldo, 2006, Cidade do Índio: transformações e cotidiano em Iauaretê, São Paulo, SP:UNESP.</div><div>CABALZAR, Alosio, 2006, (redator) Povos Indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira, São Gabriel da Cachoeira/ São Paulo: FIORN-ISA.</div><div>DAI/AMTB 2010, ‘Relatório 2010 – Etnias Indígenas do Brasil’, Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos –instituto.antropos.com.br.</div><div>EQUIPE do Programa Rio Negro do ISA, 2002, ‘Mirity-tapuya’, Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo. pib.socioambiental.org/pt/povo/miriti-tapuya.</div><div>HEMMING, John, 1987, Amazon Frontier-The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.</div><div>HEMMING, John, 2003, Die If You Must – Brazilian Indians in the Twentieth Century, London; Pan Macmillan.</div><div>PHILLIPS, DAVID https://brasil.antropos.org.uk/203-miriti/</div><div>SIL 2014, Lewis, M. Paul, Gary F. Simons, and Charles D. Fennig (eds.). 2014. Ethnologue: Languages of the World, Seventeenth edition. Dallas, Texas: SIL International. Online version: www.ethnologue.com.</div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-49458972469199522762021-04-26T13:55:00.002-07:002021-04-26T13:55:16.018-07:00Jeripancó<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx0NStv9tQFzgomXnvrbj16YCKvhU4s9xE5jUN7Y4IiAhhkf2QDiRnRzDC71LSWioTNYflWgFCUHf9VdNgmpyhgMsxeddzd4JaRSH6f0Kr03ZoeU0emiXNM0Tok_Q_Si8CvvzgRNU2ns4/s1310/Toy+Art+Jeripanko%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx0NStv9tQFzgomXnvrbj16YCKvhU4s9xE5jUN7Y4IiAhhkf2QDiRnRzDC71LSWioTNYflWgFCUHf9VdNgmpyhgMsxeddzd4JaRSH6f0Kr03ZoeU0emiXNM0Tok_Q_Si8CvvzgRNU2ns4/w640-h582/Toy+Art+Jeripanko%25CC%2581.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art da Etnia Jeripancó</span></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: left;"><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">69</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Jeripancó</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Jeripancó, Geripancó</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AL</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">2074</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Vivem próximos à cidade de Pariconha, em Alagoas. Descendentes dos Pankararu do Brejo dos Padres, migraram para Alagoas no que o pesquisador Maurício Arrutti chama de viagens de fuga: migrações de grupos familiares em função das perseguições, dos faccionalismos, das secas ou da escassez de terras de trabalho. (Arrutti, 2005).</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjoWFaz-dbL5-gxKIiHRB-ITcvI1Non5iRmBCogHbQoKceDOzn778Xl7chyHYqjLg1ffo8zDMqjVgH9g7HAPKotsxV8-CqOZ_SgFl_hFi9lzooYc12c67q7P6Lkg5Ydib_dIf_uKoSqZQ/s2570/Territorio+indigena+Jeripanco%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjoWFaz-dbL5-gxKIiHRB-ITcvI1Non5iRmBCogHbQoKceDOzn778Xl7chyHYqjLg1ffo8zDMqjVgH9g7HAPKotsxV8-CqOZ_SgFl_hFi9lzooYc12c67q7P6Lkg5Ydib_dIf_uKoSqZQ/w640-h304/Territorio+indigena+Jeripanco%25CC%2581.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Jeripancó</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Mesmo migrados para longe do núcleo Pankararu, os Jiripancó mantiveram contato com os parentes e frequentemente visitavam o Brejo dos Padres, inclusive para as festas indígenas. Foi através das relações que mantinham com os parentes Pankararu que o Cacique jiripancó Genésio Miranda da Silva conseguiu o reconhecimento de seu povo. Ainda jovem Genésio fora iniciado nos rituais fechados dos Pankararu e até os 19 anos frequentou o terreiro e o Poró (casa de ritual) no Brejo dos Padres. Na década de 80 a comunidade Jiripancó, buscando seu reconhecimento e direitos enquanto indígenas, decidiu enviar representantes à Brasília (Ferreira, 2008). </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRAfosEVGT1irfS-bk3hY21vjJhp1SxQIp7vbpxfnj33e4A33SYRzguVFNfbDoJXN4f4umolOxtwrmF8-L0_c6Y3IC0LRoB8bYXDLV6bthjpdZZYvwcA67p3TMxqco5lCt3mVp4ZHWoVE/s640/jeripanco%25CC%2581+Adalberto+Gomes.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="345" data-original-width="640" height="344" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRAfosEVGT1irfS-bk3hY21vjJhp1SxQIp7vbpxfnj33e4A33SYRzguVFNfbDoJXN4f4umolOxtwrmF8-L0_c6Y3IC0LRoB8bYXDLV6bthjpdZZYvwcA67p3TMxqco5lCt3mVp4ZHWoVE/w640-h344/jeripanco%25CC%2581+Adalberto+Gomes.png" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Festividade Jeripancó - foto Adalberto Gomes</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Depois de várias reuniões foram eleitos Seu Genésio como Cacique e Seu Elias Bernaldo como Pajé. Os dois eleitos foram primeiro para Recife até a sede da Funai, fizeram o percurso por Maceió e seguiram para Brasília. Na companhia de seu Genésio e de Elias Bernaldo, estava também, uma grande liderança dos Xucuru-Kariri de Palmeira dos Índios, que lutou também, pelo reconhecimento étnico do seu povo (Ferreira, 2008).</div><div><br /></div><div>“Seu Genésio e mais algumas pessoas do Ouricuri sempre mantiveram contato com o povo Pankararu que fica do outro lado do riacho Moxotó, já em Pernambuco, mas a proposta seria para um reconhecimento como um povo descendente dos Pankararu por ter uma organicidade própria e assim seria para ter uma identidade também própria, com um nome próprio, mesmo que derivado do tronco Pankararu, nome este que veio a ser Jiripancó, que já havia pertencido aos seus antepassados, ligados a história dos Pankararu." (Ferreira, 2008).</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2gpI6ittLCUbwpIMmxpmL0l7LMREOO-KEaGLpWdxVPy9Kevlue2huCP38USXw3UhxAYVdcv5vRuXHnLMcRz-AVjzS0UbEF7nKnD-usLfskeO8JpGE6Au6ekKGxdKOykOMjK7v5uU22_Q/s1176/jeripanco%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="656" data-original-width="1176" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2gpI6ittLCUbwpIMmxpmL0l7LMREOO-KEaGLpWdxVPy9Kevlue2huCP38USXw3UhxAYVdcv5vRuXHnLMcRz-AVjzS0UbEF7nKnD-usLfskeO8JpGE6Au6ekKGxdKOykOMjK7v5uU22_Q/w640-h358/jeripanco%25CC%2581.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Festividade Jeripancó</span></td></tr></tbody></table><br /><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><b><br /></b></div><div>FERREIRA, Gilberto Geraldo. MEMÓRIAS DE FORMAÇÃO DE UM “CACIQUE” INDÍGENA. SBHE, 2008.</div><div>ARRUTTI, José Maurício, Verbete Pankararu. Site Povos Indígenas no Brasil. ISA. 2005.</div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-41360292797348900692021-04-24T07:31:00.001-07:002021-04-24T07:31:09.769-07:00Truká<div style="text-align: left;"> </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6LmwQChItuWb7bah5iLtdMw0q5sD18cJhHm5oh7ER8uTeZZhiekWxGDccTBS1Lpggtj7kg_J_YpHjAyG4hWzFnlBR7d5ZDzpVpAlFJPwnzViY3g2giqJ_PXl8_lBaMPo-itlpY09-FNs/s1310/Toy+Art+Truka%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6LmwQChItuWb7bah5iLtdMw0q5sD18cJhHm5oh7ER8uTeZZhiekWxGDccTBS1Lpggtj7kg_J_YpHjAyG4hWzFnlBR7d5ZDzpVpAlFJPwnzViY3g2giqJ_PXl8_lBaMPo-itlpY09-FNs/w640-h582/Toy+Art+Truka%25CC%2581.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art da etnia Truká</span></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">198</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Truká</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">BA,PE</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">3078</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Funasa 2009</span></td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Habitantes seculares da Ilha da Assunção, no rio São Francisco, os Truká tiveram suas terras apropriadas desde pelo menos o século XVIII por poderes municipais, eclesiásticos e posteriormente estaduais. Nos dias de hoje, a comunidade truká luta pela conclusão do processo de reconhecimento oficial de seu território, bem como pela expulsão de posseiros não-indígenas e de narcotraficantes, uma vez que está localizada no chamado “Polígono da Maconha” no sertão pernambucano.</div><div><br /></div><div><b> Localização e economia</b></div><div><br /></div><div><div>Os Truká habitam a Ilha da Assunção, no médio curso do rio São Francisco, município de Cabrobó. A Terra Indígena Truká está inserida em região conhecida como “Polígono da Maconha” e os índios vêm denunciando o uso indevido de suas terras para esse plantio. Desde pelo menos o final da década de 1990 traficantes ameaçam índios e funcionários da Funai. Em abril de 1999, a polícia federal queimou 20 mil pés de maconha, mas as ameaças (incluindo tiros e emboscadas) não cessaram.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje56FJ_Yp5becf28jRhfE0sO93zKssR9t5eXXOe3-BO2ccadtU-zNd_IaR0OoJm0mfkKvnkP_pAY0RFHvtIvFERqOzKHUhV0_U4sfNDKR8fVEkdFnJ0QtseetpwOHgF5EWWxiAtRdUs2U/s2570/Territorio+indigena+Truka.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje56FJ_Yp5becf28jRhfE0sO93zKssR9t5eXXOe3-BO2ccadtU-zNd_IaR0OoJm0mfkKvnkP_pAY0RFHvtIvFERqOzKHUhV0_U4sfNDKR8fVEkdFnJ0QtseetpwOHgF5EWWxiAtRdUs2U/w640-h304/Territorio+indigena+Truka.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Truká</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Suas principais atividades produtivas estão voltadas para a agricultura e a pesca. Assim elencam os produtos que cultivam, destacando a importância do milho em sua tradição: “Nós plantamos cebola, arroz, manga, macaxeira, mandioca, goiaba, coco, coentro, alface, tomate, melancia, pimentão, pimentinha, cachi, cenoura, beterraba e milho. Quando nós dizemos: ‘só milho!’ é uma expressão de que está tudo bem”.</div><div><br /></div><div>Os Truká também coletam e eventualmente caçam. Assim Deodato Truká relata sua vida no tempo em que suas terras passaram a ser apropriadas pelos não-indígenas:</div><div><br /></div><div>“Passamos muita privação, de dia trabalhávamos na roça, à noite nós pescávamos, ou passávamos em cima de uma árvore, com a espingarda esperando a capivara. Comia Juá, xique-xique assado, mari (fruta do mato) assada, quixaba, também pegava um anzol, passava um barbante depois uma corda, botava um pedaço de carne e esperava o jacaré morder. Gostava muito de comer gambá e bola, que não pe igual ao tatu nem ao peba”.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtPrAbPOGfrf90sga5ysZM0h2lm5lk849ZMmWUfS-UoekqpoxmXxg7YeIRvhx9utyyvjQexzLVsL3xmXERdc_icZl69Q4kXkBJM57SyDvH_3V51GqnWM7W1GqphyTW0pqvkni5XDvWTas/s1016/povo+truka%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="1016" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtPrAbPOGfrf90sga5ysZM0h2lm5lk849ZMmWUfS-UoekqpoxmXxg7YeIRvhx9utyyvjQexzLVsL3xmXERdc_icZl69Q4kXkBJM57SyDvH_3V51GqnWM7W1GqphyTW0pqvkni5XDvWTas/w640-h356/povo+truka%25CC%2581.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Festividades Truká</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Em relação aos posseiros que habitam em suas terras desde pelo menos a década de 70 e a atuação dos representantes do governo estadual, os Truká reclamam da exaustão do solo. Como afirma Dena Truká: “Eles nos entregaram um solo morto, a sucata da terra com a herança das ovelhas e das algarobas. O que ficou: a erosão e o sal. A algaroba não dá espaço para outras árvores nativas, como o juazeiro, a quixabeira, braúna, arueira, jurema. Cerca de 40% de nossas terras estão improdutivas por causa da algaroba, do adubo, dos agrotóxicos, das queimadas. Outra coisa que está destruindo é o arroz! Por que ele precisa de muita água e esse desperdício de água estraga o solo todo”.</div><div><br /></div><div><b> História</b></div></div><div><br /></div><div><div>Fontes históricas estimam a fundação de uma aldeia indígena na extremidade ocidental Ilha da Assunção no ano de 1722. Em 1761, a ilha foi elevada pelas autoridades coloniais à categoria de paróquia, recebendo habitantes não-indígenas. Dados de 1789 indicam uma população de 400 pessoas habitando a ilha. Mas uma grande cheia ocorrida em 1792 inundou toda a vila, acarretando a saída de boa parte de seus moradores. Entre os que ficaram, os índios tiveram que enfrentar uma série de disputas relativas à posse da terra e o controle do seu rebanho, sendo continuamente ameaçados por figuras de poder que – segundo registra uma carta de 1857 –, após a Independência do Brasil, apossaram-se da Ilha, convertendo-a em sede da Freguesia de Belém do São Francisco e patrimônio da Comarca Municipal.</div><div><br /></div><div>Quando a sede foi transferida para Cabrobró, a comarca arrendou por quase uma década toda ilha e um conjunto de ilhotas próximas. Os índios continuaram então à mercê dos arrendadores da terra, tendo que trabalhar para estes em regime de semi-escravidão ou escravidão, e tendo seu gado expropriado pelo Juiz Municipal.</div><div><br /></div><div>Em 1920, o bispo de pesqueira passa a reivindicar a ilha como patrimônio da Igreja, alegando uma doação feita pelos índios a Nossa Senhora. O cartório da comarca de Belém do São Francisco lavrou a escritura de compra e venda de toda a ilha de Assunção. Os habitantes indígenas passaram então a pagar o foro anual e a serem subjugados pelo bispo, “proprietário” da ilha..</div><div><br /></div><div>Em meados dos anos 1940, com apoio e mediação dos Tuxá de Rodelas, os Truká passam a reivindicar junto ao SPI (Serviço de Proteção aos Índios, órgão antecessor da Funai) o reconhecimento de seus direitos fundiários sobre a ilha. O SPI consegue então instaurar uma Ação de Nulidade de Venda e Reintegração de Posse. Desde então os conflitos entre a comunidade indígena e os posseiros não-indígenas se acirraram, acarretando inclusive a morte de uma liderança truká.</div><div><br /></div><div>O estado de Pernambuco, ignorando a ação impetrada pelo SPI, compra então parte da ilha da Assunção para criar, em 1965, um núcleo de Colonização. O recrutamento de colonos não deu prioridade aos habitantes da ilha, atraindo pessoas de fora com lotes individualizados.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div><br /></div><div>Agravando ainda mais a situação da comunidade truká, no final da década de 60 um trecho da ilha foi apropriado por outro órgão estatal e convertido em viveiro de mudas. Com receio de serem expulsos e diante da exigüidade de terras para plantarem, os Truká retomaram o processo de reivindicação territorial, dessa vez junto à Funai. Em 1976, o órgão indigenista deslocou uma equipe (Portaria n. 876/P de 21/06/76) para averiguar a existência de “remanescentes indígenas” e avaliar sua situação fundiária.</div></div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsHyB55py5cou-jY_Pxm0LBQLMoXgAklIYlRplmHqsztP6lpWwy_Gu2rH1wdPqGHEpZ2cQhNsUjgKzv7YzpcyAYSNnb9xO_HC6Lz4mMWVoSIkYcqrRf3PABR8gD6RWKPHZ4hkyOkyRsg/s926/truka+ritual.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="544" data-original-width="926" height="376" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsHyB55py5cou-jY_Pxm0LBQLMoXgAklIYlRplmHqsztP6lpWwy_Gu2rH1wdPqGHEpZ2cQhNsUjgKzv7YzpcyAYSNnb9xO_HC6Lz4mMWVoSIkYcqrRf3PABR8gD6RWKPHZ4hkyOkyRsg/w640-h376/truka+ritual.jpg" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Ritual Truká</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><div>Nessa época, os Truká passaram a contar com apoio do Cimi (Conselho Indigenista Missionário, instituição da Igreja Católica) na veiculação de sua situação adversa em órgãos da imprensa local e regional. Depois de muito conflito, o trecho que vinha sendo utilizado como viveiro de mudas foi devolvido à comunidade.</div><div><br /></div><div>Como a indicação de cessão de 500 ha aos Truká feita pela equipe da Funai não foi acordada pelo estado de Pernambuco, uma nova comissão foi designada para realizar o levantamento antropológico em 1980 (Portaria n. 687/E de 05/03/80). No ano seguinte, a Funai obteve a concessão de dois lotes de 14 ha do governo pernambucano para uso temporário de todo o grupo. Em 82 os Truká resolvem ocupar mais um trecho de 70 ha. Finalmente, em 84 a Terra Indígena Truká foi identificada com superfície de 1.659 ha, embora cerca de mil hectares continuassem ocupados por posseiros.</div><div><br /></div><div>Em 1987, um posto indígena da Funai foi instalado na cidade de Arcoverde, próxima à ilha.</div><div><br /></div><div>Em 1993 a TI Truká foi finalmente declarada pelo ministro da Justiça como de posse permanente indígena (Portaria n. 315, de 17/08/93). Em 2002 a terra foi delimitada com 5.769 ha, abrangendo a totalidade da ilha. Os Truká ainda aguardam, porém, a conclusão do processo demarcatório por meio da homologação do Presidente da República.</div><div><br /></div><div><b> Aspectos cosmológicos</b></div></div><div><br /></div><div><div>Como na grande maioria das comunidades indígenas no Nordeste, o consumo da jurema e o complexo ritual do toré constituem o cerne da religiosidade Truká e alicerçam sua identidade étnica.</div><div><br /></div><div>O mundo, para os Truká, é povoado de Encantados, que são seus ancestrais convertidos em seres espirituais e fortemente associados a elementos da natureza.O dono da mata, por exemplo, é um Encantado chamado Manoel da Obra. Já o Encantado associado ao rio São Francisco é a Mãe D´Água. Assim conta o Truká Pedro Alberto Maciel:</div><div><br /></div><div>“Uma vez que minha avó estava no Toré, foi buscar água mais as amigas dela. Aí enchia o pote e ele ficava preso no rio, não saia da água. Aí voltou no Toré e disse: ‘ A água não quer sair do rio, não! Está presa como uma pedra!’. Aí falaram pra ela: ‘Vai ao rio e diga à Mãe D´Água que você quer água para o povo dela beber’. Aí foi e pediu, tirou e levou a água”.</div><div><br /></div><div>Na comunidade, aqueles que têm contato com os Encantados são os “mestres de aldeia” e “juremeiros”. Como afirma Issor Truká, “através deles, nós temos o conhecimento e as informações de como nós devemos proceder e as medidas e os cuidados que devemos tomar. São eles que carregam os nossos costumes e é através do ensinamento deles que eu, junto com outras lideranças, vamos seguindo e tentando conduzir a aldeia truká”.</div><div><br /></div><div>A respeito do toré, assim relata Antonio Chico, que ocupa a posição de contra-mestre nesse ritual:</div><div><br /></div><div>“A religião do índio é beber jurema. É ir no mato e fazer as obrigações. Ir no mato para arrancar a raiz da Jurema, no dia do trabalho, depois fazer o Toré, cantando e dançando com a Jurema. Primeiramente é a Jurema, porque é dela que vem a força para o trabalho”.</div><div><br /></div><div>A fala é complementada pela de Tonho de Chiquinho, Mestre de aldeia:</div><div><br /></div><div>“Tem que ser todos um corpo só. Temos que cuidar de nós todos, de nosso costume. Nosso costume é dançar toré. O Toré nos dá todo o ensinamento. Os antepassados dão orientação para a gente. (...) Nasci e me criei com o Toré. Cantar, dançar, beber Jurema. Maracá era da boca da noite até amanhecer, era de sábados e quartas. O que eu quero pra mim eu quero para os outros todinhos. Encanto não se pega com a mão. A gente se concentra na Jurema e aquilo entra na cabeça e dá tudo certo. No toré, eu sei o que está acontecendo, está entrando um e saindo outro, porque alguém está soltando pra eu soltar. Eles ensinam tudo. O índio canta para isso”.</div><div><br /></div><div>De acordo com a memória truká, a prática do toré foi aprendida com os índios Tuxá, de Rodelas, e fora muito perseguida pela polícia. Assim conta Dona Maria de Lourdes Ciriaco:</div><div><br /></div><div>“Acilão ficou doido! Meu pai era um homem sadio, mas um dia adoeceu com uma febre, ficou doido e depois foi que ele se aleijou. Passava um dia e uma noite acordado, depois um dia e uma noite dormindo. Depois foi Marina e depois Prosperina que ficaram loucas. Eu tinha nove para dez anos e vi quando eles pegaram aqueles cachimbos de ciência do índio. E também tinha uns apitos. Aí defumaram as pessoas que estavam ali. As meninas e Zé Martins e meu pai estavam caídos depois de começar a dançar. Minha mãe disse que ia atrás de um João Amaro, que trabalhava com uma índia velha de Rodelas, de nome Maria Cabocla, pra ajudar a levantar. Eles combinaram ir para Rodelas dançar com os índios de lá. Eles ficaram bons depois de começar a dançar toré. (...) Desse dia em diante, por 10 anos, João Amaro trabalhou com meu pai. Meu pai era mestre e ele contra-mestre. Aí meu pai começou a sofrer, porque a polícia vinha atrás, levava esporro, apanhava, era maltratado (...). Foi nessa luta e morreu com 50 anos”.</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div></div><div><br /></div><div><div>BATISTA, Mércia Rejane Rangel. De caboclos da Assunção à índios Truká : estudo sobre a emergência da identidade étnica Truká. Rio de Janeiro : UFRJ-Museu Nacional, 1992. 229 p. (Dissertação de Mestrado)</div><div> </div><div><br /></div><div>CIMI NORDESTE. Truká : violência, impunidade e descaso. Recife : Cimi-NE, 1992. 35 p. (Série 500 Anos de Resistência)</div><div> </div><div><br /></div><div>GERLIC, Sebastián (ed.). Os índios na visão dos índios. Truká. Salvador : Thydêwá, 2003.</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-4770810563081710612021-04-24T05:46:00.001-07:002021-04-24T05:48:30.785-07:00Wajuru<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6yQcXoMLxyjH6IxeUrwlQijRbDKodc8A76_T-HpdtQMGimshTSF6ltPooFVY3ERXAlOOtolp0fJS8DHUhnjybGbcWO1dqBRx6dGyd2tN0lGJUxRG8NYD6ifsJII2HlftRw7ji5IyGOMM/w640-h582/Toy+Art+Wajuru.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Wajuru</span></td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6yQcXoMLxyjH6IxeUrwlQijRbDKodc8A76_T-HpdtQMGimshTSF6ltPooFVY3ERXAlOOtolp0fJS8DHUhnjybGbcWO1dqBRx6dGyd2tN0lGJUxRG8NYD6ifsJII2HlftRw7ji5IyGOMM/s1310/Toy+Art+Wajuru.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black;"></span></a></div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">215</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Wajuru</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Tupari</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">RO</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">242</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Siasi/Sesai 2012</span></td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div><br /></div><div>Há tempos imemoriais os Wajuru vivem num rico contexto multiétnico, mantendo trocas regulares de cônjuges, sangue, músicas, conhecimentos de todo tipo com outros povos, cujos arranjos sociais dependem desta interação. Conhecidos como o povo mais guerreiro entre os demais grupos indígenas vizinhos, os Wajuru também se destacam por sua capacidade de receber bem as pessoas e identificam-se, simultaneamente, como um povo “muito trabalhador” e consumidor de chicha, bebida fermentada produzida pelas mulheres.</div><div><br /></div><div><b> Nome e povos Wajuru</b></div><div><br /></div><div>Wayurú, Ayurú, Wajuru ou Ajuru são os termos que hoje este povo assume para se autoidentificar. Os dois primeiros são frequentemente empregados para indicar as pessoas antigas, que nasceram no “tempo da maloca”, aquele em que a presença do branco se não inexistente, era sobretudo fraca. O segundo e o terceiro termo estão mais relacionados ao momento atual, a uma vida na qual o branco se tornou presença constante e irrevogável.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1vkPah0O-xrP0hdqL7M7-64jffYK3oG8ID2Trfn9ILn230fydzHpJSeO1LcBWdTDqF3vDRhcJ-nniE0HgpEd55MrSsP5ostAm12Ab_cDjK4DMdIzGAAsCE791gRewr277pNEORRZF8o8/s699/Mulher+Wajuru.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="457" data-original-width="699" height="418" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1vkPah0O-xrP0hdqL7M7-64jffYK3oG8ID2Trfn9ILn230fydzHpJSeO1LcBWdTDqF3vDRhcJ-nniE0HgpEd55MrSsP5ostAm12Ab_cDjK4DMdIzGAAsCE791gRewr277pNEORRZF8o8/w640-h418/Mulher+Wajuru.png" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Mulher Wajuru - Aldeia Ricardo Franco, Terra Indígena Rio Guaporé. Foto: Nicole Soares Pinto, 2008</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><div>No passado, os Wajuru estavam divididos em três grupos distintos e hoje eles são a junção histórica destes. São eles: 1) os Guayurú, povo da pedra, concebidos como Wajuru verdadeiros ou próprios, ou ainda conhecidos pelo termo Wãnun mian (wãnun significa pedra); 2) o povo dos Cotia, Waküñaniat; 3) e o povo do mato, Kündiriat. Esses grupos formam uma unidade do ponto de vista lingüístico, mas apresentam uma descontinuidade do ponto de vista de sua origem territorial e de seus modos de vida.</div><div><br /></div><div>O sufixo iat opera como um “coletivizador”: é empregado como referência a outras coletividades que o sujeito se destaca no momento de enunciação, e também se liga mais propriamente às categorias de alteridade, como espíritos e afins. É, sobretudo, do ponto de vista dos Guayurú (Wajuru verdadeiros) e de seus descendentes em linha direta que essa distinção toma forma. Assim, Wajuru iat, pode ser dito por alguém que se afirma Wajuru, mas carrega consigo algo de “estranho” ou engraçado. Ao passo que Waküñaniat e Kündiriat são perfeitamente utilizados sem nenhuma reserva.</div><div><br /></div><div>Os Guayurú (Wajuru verdadeiros) ou Wãnun mian (povo da pedra) referem-se àquelas pessoas que viviam próximas a uma serra de pedra, que abrigava os espíritos de seus mortos. Como dizem: Nós somos lá das pedras! Enquanto os Guayurú são vistos como o povo das pedras – pois tem como substrato o território que ocupavam -, os Cotia, Waküñaniat, por sua vez, são identificados a um povo preguiçoso que não trabalhava e que saqueava a roça alheia. Eles são como cotias. Durafogo Opeitxá, um pajé wajuru muito velho, é o único representante atual deste povo e durante as chichadas [festa de chicha] todos os mais velhos fazem questão de chamá-lo de Cotia e assim a piada está feita. Por último, os Kündiriat era um povo que só vivia no mato, andava de um lado para o outro, não construía maloca, não fazia roça e era,por tais motivos, de uma “civilização inferior” aos Wajuru verdadeiros. É sempre um Outro que pertence ao povo Kündiriat, principalmente as pessoas que já morreram, ou ainda os mais velhos.</div><div><br /></div><div>A multiplicidade de povos encobertos pelo etnônimo Wajuru é produzida pelas diferenças linguísticas e territoriais entendidas como primordiais. Estas estão ancoradas nas narrativas míticas sobre o começo dos tempos. O registro mitológico wajuru, com temas bastante similares aos compartilhados por diversos povos vizinhos, aciona e fundamenta tais diferenças: depois que os humanos foram encontrados pelos irmãos demiurgos embaixo da terra e saíram de lá, dois eventos passaram a marcar as diferenças sociológicas. O primeiro, quando todos os humanos estavam sentados, o irmão mais novo, o mais teimoso, começou a falar diversas línguas e foi ensinando a cada pessoa uma língua diferente: Wajuru, Tupari, Jabuti, Makurap etc. inclusive a língua dos brancos – já presentes no início dos tempos. Passou-se então uma grande confusão e desentendimento entre eles. O segundo evento deu-se depois que este irmão (o mais novo) pensou na morte e ela começou a existir. O surgimento da morte marca o momento em que as pessoas, não mais sentadas, começam a andar sobre a terra, orientadas pelos irmãos descobridores. A partir daí cada grupo ficou em um lugar específico e assim todos se territorializaram.</div><div><br /></div><div>Desde então essas pessoas não mais se misturaram e formaram tribos, como dizem os Wajuru. Guayurú, Kundir iat e Wakuñan iat, seriam, então, dada a identidade linguística, simplesmente Wajuru, “o mesmo” do ponto de vista do primeiro evento. Por outro lado são diferentes no que diz respeito a sua territorialidade primordial, visto que foi a partir do segundo evento que as pessoas começaram a andar sobre a terra. Diz-se ainda que caso Wakowereb, o demiurgo mais novo, não tivesse dado uma língua aos brancos, esses não seriam tanta gente, pois simplesmente não existiriam - já que a distinção linguística acarreta distinções entre tipos de pessoas - e os Wajuru seriam hoje a maior população na Terra. Por conta dessa “trapalhada”, os Wajuru são muito poucos e não deixam de ter algum ressentimento disso.</div><div><br /></div><div>Existe ainda uma outra distinção corrente baseada nas transformações das formas de organização social. Esta se dá entre os Guayurú, os Kündiriat ou os Wakuñaniat (povos do tempo da maloca, que não se misturavam, não casavam com outros grupos) e os Wajuru, filhos sobretudo dos Wajuru próprios que se misturaram com outras gentes. Esta última classificação parece ser bastante atual, visto que destaca o contexto exogâmico [casamentos entre pessoas de grupos étnicos distintos] em que vivem hoje os Wajuru e os outros povos provenientes do médio Guaporé. </div><div><br /></div><div><b> Localização</b></div></div><div><br /></div><div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4GH7Qjvv4nK3iHVRU5h8_hPC0ZYprFr896jnwrOSy_poM0Nk0z4_iLtRkk3KZYoO1AON0dbLBtwONvYRMJ7LGpJLK3XiiWT6V92WYFAIomGisD0-wmm1I410_7Xhjsmedcr3aiaBrLTQ/s2570/Territorios+indigena+Wajuru.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4GH7Qjvv4nK3iHVRU5h8_hPC0ZYprFr896jnwrOSy_poM0Nk0z4_iLtRkk3KZYoO1AON0dbLBtwONvYRMJ7LGpJLK3XiiWT6V92WYFAIomGisD0-wmm1I410_7Xhjsmedcr3aiaBrLTQ/w640-h304/Territorios+indigena+Wajuru.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Terra Indígena Wajuru</td></tr></tbody></table><br /><div><br /></div><div>Nas primeiras décadas do século 20, os Wajuru foram localizados pelos exploradores e seringalistas nos rios Terebito e Colorado, afluentes da margem direita do médio rio Guaporé, no estado de Rondônia. A maioria da população aldeada, cerca de 90 pessoas (em 2009), vive na Terra Indígena Rio Guaporé, localizada no baixo rio Guaporé. Ali vivem também muitos outros povos (Makurap, Djeromitxí, Tupari, Arikapu, Aruá, Aikanã, Kanoê, Kujubim), e a população total da TI neste mesmo ano ultrapassava 600 pessoas. Em Porto Rolim de Moura do Guaporé, povoado à beira do rio Mequéns, encontra-se outro agrupamento importante, composto por mulheres wajuru, seus maridos e filhos.</div><div><br /></div><div><b> Língua</b></div><div><br /></div><div>A língua Wajuru foi classificada pelo linguista Aryon Dall'Igna Rodrigues como pertencente ao tronco linguístico Tupi e à família Tuparí. Entre os Wajuru mais velhos, é comum aqueles que falam mais de uma língua indígena. Os jovens, em grande parte, são falantes passivos da língua Wajuru e dominam completamente o Português. Há aqueles que compreendem mais de uma língua indígena, mas falam somente o Português, o que parece ser a realidade da maioria dos jovens do local. Por ocuparem uma região de fronteira internacional, muitas pessoas também manejam bem o castelhano. Para dar um exemplo desse multilinguismo, entre os filhos de Pororoca Wajuru e Pacoreiru Djerotmitxí, o mais velho é falante de Wajuru, Jabuti e Português, além de entender o Makurap e o Tupari; os outros são falantes de Jabuti e manejam o Wajuru, além do domínio completo do Português. Por razões de inteligibilidade mútua entre os grupos, o Português foi adotado como língua franca e toma hoje o lugar antes ocupado pela língua Makurap na região do Médio Guaporé. É comum que no âmbito doméstico também se fale, além do Português, a língua da mãe ou do pai do marido. Assim, os casais mais novos, mesmo se comunicando largamente em português, têm diversas possibilidades linguísticas. No entanto, é reconhecido que as mulheres são quem mais têm seu escopo linguístico “alargado”, pois não raro entendem mais de duas ou três línguas e isso decorre sobretudo do fato de residirem junto com o grupo doméstico de seu marido, que fala outra língua.</div><div><br /></div><div><b> Histórico do contato</b></div><div><br /></div><div>Os povos nos afluentes da margem direita do rio Guaporé, localizados, sobretudo, nas margens dos rios Branco, Terebito e Colorado, permaneceram “desconhecidos” até o começo do século 20. Em 1914 há notícias na região das explorações do major inglês P. H. Fawcett, que mais tarde alcançaria o posto de coronel. Na época de sua viagem, já havia sido instalado um seringal no rio Colorado. É somente na terceira década deste século que alguns pesquisadores esboçaram mapas do território tradicional desses povos: Stethlage em 1936 e no ano seguinte, e Becker-Donner e Caspar em 1955.</div><div><br /></div><div>Antes disso, o que se passou nas áreas adjacentes durante o século 19 é pouco documentado. De um ponto de vista mais amplo, a historiografia nos fala de um comércio lento e de uma demanda da borracha ainda tímida, que começou a ser explorada na Amazônia na segunda metade deste século, sobretudo a partir de 1880. Era o início de um período de exploração que se intensificou até o primeiro decênio do século 20, período em que foram enviados cerca de cem mil trabalhadores - na sua maioria nordestinos - às regiões amazônicas para atuarem na exploração seringalista. O ano de 1912 marca o início de uma drástica redução na produção, em conseqüência da concorrência asiática, e trinta anos mais tarde, um notável incremento em decorrência da Segunda Guerra Mundial.</div><div><br /></div><div>Entretanto, no que se refere à região da margem direita do médio Guaporé, houve um fato interessante que não deve passar despercebido: os seringalistas chegaram no período de decadência da borracha. Somente em 1912 um alemão fundou uma colocação no rio Colorado, o que colocou os Wajuru, Makurap, e posteriormente os Djeoromitxí e os Aruá em contato com estrangeiros (Price, 1981). Foi o seringal Pernambuco, sua instalação e, em seguida, a fundação do seringal São Luís, entre 1910 e 1920, no alto rio Branco, que catalisaram o processo de contato com os povos indígenas nas regiões das cabeceiras dos rios (Maldi, 1991). Tais empresas seringalistas incorporaram drasticamente as populações indígenas da região à sua força de trabalho, bem como foram responsáveis pelas inúmeras epidemias de sarampo que abateram grande parte do contingente indígena da região. Já em 1927, a companhia norte-americana Guaporé Rubber Company estabeleceu um seringal em Paulo Saldanha, no Rio Branco (Price, 1981).</div><div><br /></div><div>Na década de 1950, Caspar (1956) observou que, não obstante os casamentos entre os povos da margem direita do médio rio Guaporé parecerem de antigo uso [já em 1934, Snethlage encontrara duas mulheres Tupari casadas entre os Arikapú], eles também teriam interesse em estabelecer alianças com os não-índios, na época bastante presentes na região. O autor diz também que essa propensão à aliança com os brancos, transformando-os em genros ou cunhados, foi responsável pelo aumento de casamentos entre grupos “amigos”. Segundo esta interpretação, os Makurap, Djeoromitxí e Aruá, por estarem localizados nas partes navegáveis do rio Branco, foram os primeiros a sofrer com a busca desesperada dos seringueiros por mulheres, o que os fez buscar possíveis cônjuges entre os Arikapú e Wajuru. Da mesma maneira, a baixa suplementar de mulheres causada pela entrada dos seringueiros acabou obrigando alguns homens arikapú, wajuru e makurap a procurar mulheres entre os Tupari. Os não-índios teriam assim entrado num sistema de trocas multiétnico pré-existente, acelerando e incrementando essas trocas.</div><div><br /></div><div>Segundo Maldi (1991), no início da segunda da metade do século 20, todos os seringais da região dos rios Branco, Colorado, São Luís, Laranjal e Paulo Saldanha foram adquiridos por João Rivoredo, agente do antigo SPI (Serviço de Proteção aos Índios), que se tornou proprietário único de todos seringais. A João Rivoredo são atribuídas terríveis condutas: dissolução de todas as aldeias indígenas na região e submissão dos índios a condições precárias de saúde, causando muitas mortes. Tais ações espelham-se na atuação do órgão de qual fazia parte, cuja política visava, além da atração e transferência dos índios para os Postos Indígenas, sua arregimentação nos seringais.</div><div><br /></div><div>Em 1930, no mesmo período em que houve o incremento da exploração seringueira na região do médio Guaporé, foi criado pelo SPI, no baixo curso deste rio, o Posto Indígena de Atração Ricardo Franco, que mais tarde veio se tornar a Área Indígena Rio Guaporé. A primeira demarcação desta área data de 1935 e teve a aprovação do Marechal Rondon. Sua história não difere da história dos demais postos do SPI, criados com o objetivo de “civilizar” os índios. Este local também não ficou isento das epidemias que dizimaram os indígenas nas regiões de interflúvios. Colônia agrícola, teve seu “apogeu” na década de 1940, quando os funcionários do SPI transferiram compulsoriamente por lá parte dos povos indígenas dos rios Mequéns, Colorado, Corumbiara e afluentes (Funai, 1985). Há registros de que os Wajuru, que habitavam até então o interior da mata entre o rio Colorado e o rio Branco, foram transferidos para o Posto entre as décadas de 1940 e 1950: “Em 1947 foram transferidos para o Posto Ricardo Franco 70 Makurap, recém-contatados no P.I. Pedro de Toledo (Rio Apidiá) e 70 Ajuru e Jaboti” (SPI: Reg. 554/1947 e Reg. 559/1947. Funai, 1985).</div><div><br /></div><div><b> Uma outra história</b></div><div><br /></div><div>No que concerne às primeiras relações com os brancos, diferentes povos no médio Guaporé tiveram um papel importante no processo de contato entre aqueles e os grupos que viviam em áreas mais afastadas das margens dos rios. As reações aos novos contatos eram diversificadas e dependiam do ímpeto guerreiro ou pacífico dos índios.</div><div><br /></div><div>Muitos Wajuru, conforme conta o velho xamã Antônio Côco, moravam nas malocas do igarapé Preto, na parte alta do rio Terebito, quando viram pela(s) primeira(s) vez(es) o branco. Acompanhada de índios arikapú conhecidos e de um velho wajuru, a expedição -composta por 3 exploradores - foi recebida nas malocas wajuru tal como se deve receber humanos ou parentes outros: deram-lhes chicha, milho, cará e amendoim e carnes de caça. Receberam os visitantes como se já os conhecessem, “amansaram-lhes”. Os Wajuru, não se assustaram, logo se acostumaram, já sabiam que eram gente, mas diferentes deles, visto que a língua era diferente, bem como a comida. Esses não-índios ficaram então conhecidos e foram nominados pelos Wajuru como “Tabô”, pois chegavam, abraçavam e diziam: “Tá bom?”, “Tabô”.</div><div><br /></div><div>Os Arikapú também não eram brabos e era deles que, no início, os Wajuru pegavam alguns machados. Convidados a acompanhá-los na exploração da região, alguns Wajuru seguiram para a maloca Jaboti, juntamente com os Arikapú. Brabos como eram, os Djeoromitxí queriam guerrear com os brancos. Para os Wajuru verdadeiros, esta era uma clara demonstração da incapacidade djeoromitxí em reconhecer a humanidade de possíveis aliados. Mas não foi somente os Djeoromitxí que resistiram aos primeiros contatos, os Kündiriat (um dos povos wajuru) também o fizeram e são lembrados como aqueles que demoraram a ser amansados, diferentemente dos Wajuru verdadeiros.</div><div><br /></div><div>No que diz respeito ao seringal Pernambuco, há poucos relatos wajuru de suas idas até lá, por isso fica difícil precisar se os primeiros não-índios alcançaram suas malocas antes ou depois da instalação deste seringal. Existe ainda a dúvida se os Wajuru alcançaram o Pernambuco antes de algum branco alcançá-los em suas malocas.</div><div><br /></div><div>Avisado por outros índios da existência de mercadorias no seringal Pernambuco, Sínamu, cacique wajuru na época, visitou o barracão em algumas ocasiões. Ali deixou Atxü Esperança, sua filha arikapú criada entre os Wajuru, em troca de algumas mercadorias. Esperança, uma menina na época, achou que os brancos fediam e demorou muito a se acostumar. Passadas duas luas, seu pai, Sinamú, voltou ao seringal Pernambuco e, mesmo sem a anuência dele, Esperança fugiu, alcançando-o já no caminho de volta à maloca wajuru, no Igarapé Preto.</div><div><br /></div><div>Esses primeiros contatos, via índios arikapú, ou as eventuais idas ao seringal Pernambuco eram muito intermitentes e por isso não ocupam uma posição privilegiada nos relatos wajuru sobre o passado - apesar de muitas mortes terem ocorrido nesse período. Mais importantes são suas relações com os americanos. Assim conta Durafogo Wajuru: americano só quer Wajuru, não quer Arikapo, não quer Tupari, não quer Aruá. Só quer Wajuru mesmo. A presença de americanos entre os Wajuru nunca foi registrada por nenhum autor. No entanto, essa referência pode encobrir uma pluralidade de casos: os americanos poderiam ser tanto os seringueiros da Guaporé Rubber Company, os exploradores de minérios, quanto os missionários do Summer Institute of Linguistics ou de outros grupos de evangelizadores estrangeiros (pois alguns Wajuru dizem que eles só rezavam).</div><div><br /></div><div>Para entender as relações dos Wajuru com tais americanos é necessário centrar atenção nos aspectos cosmológicos desta interação. As histórias dos tempos antigos sustentam uma geografia mitológica e falam do Igarapé Preto como território wajuru, situado ao pé de uma serra, que era a maloca dos espíritos dos parentes mortos. Esses espíritos, depois de amaldiçoados por uma mulher, ficaram muito brabos e foram morar no céu. Para a tristeza dos vivos, excetuando-se os xamãs, nunca mais puderam conversar com os seus mortos. Ao pé dessa serra existia o Campo Grande, um campo que se formou depois da morte de Wakowereb, o demiurgo mais novo. Isto aconteceu depois que os irmãos demiurgos roubaram o fogo de Kupenkarantô, um ser maligno, urubu/gente, dono do fogo e canibal. O irmão mais novo, o mais teimoso, não tirou o fogo da forma correta e acabou incendiando o mundo. Wakowereb se queimou, dando origem ao Campo Grande. Desde então, todas as vezes que os Wajuru atravessavam esse campo tinham que ficar muito atentos quando se aproximavam de uma pedra que se assemelhava a uma mãe segurando o filho. Caso vissem uma criança chorando, não deveriam acudi-la, pois o fogo incendiaria todo o caminho, tal como aconteceu no passado.</div><div><br /></div><div>Na maloca localizada no Igarapé Preto, os Wajuru mantiveram relações duradouras com os americanos. Tais estrangeiros chegaram por terra e arregimentaram a mão-de-obra wajuru para construir uma pista de pouso. O fato de terem aprendido tão bem a língua Wajuru fez com que fossem vistos como parentes. O velho Antônio Côco disse que dali onde o fogo queimou e deu origem ao Campo Grande, os americanos retiraram uma enorme quantidade de ouro, além de fósforos, isqueiros e lanternas. Cavaram, tiraram tudo e levavam para o país deles - eram muitas e muitas malas -, além disso, também levaram muitos Wajuru. Os americanos não só aprenderam a falar a língua Wajuru (transformando-se em seus parentes) como também roubaram objetos de origem indígena – estes que hoje são vistos como “objetos dos civilizados”. Aos americanos também se atribuiu o fato de comerem urubus brancos, chefes dos urubus. Assim situam-se numa cadeia de relações canibais: os Wajuru, assim como os Djeoromitxí, não comem suas vítimas, entregam-nas aos urubus; os Tupari são seres canibais; e os americanos, por sua vez, são os que comem os urubus.</div><div><br /></div><div><b>No meio dos brancos</b></div><div><br /></div><div>A “retirada” dos americanos e a morte de um xamã makurap, que vivia entre os Wajuru, marcaram o momento em que os Wajuru estavam saindo da maloca, entrando nos seringais e indo morar no meio dos brancos. Foi nesse tempo que receberam compadres e deram nomes cristãos para seus filhos. Não se pode afirmar que antes não estivessem vinculados à extração da seringa, nem que posteriormente não tivessem o Igarapé Preto como referência territorial.</div><div><br /></div><div>É difícil precisar o momento em que a endogamia praticada nos tempos antigos deixou de existir entre os Wajuru e quando a exogamia foi inaugurada. Depois da saída dos americanos, os Wajuru estavam bastante reduzidos, contavam com poucos homens, acompanhados de suas mulheres (algumas de grupos indígenas distintos) e filhos. A entrada nos seringais foi marcada pela dispersão das famílias, guiada em parte pelas relações de afinidade com pessoas de outros grupos indígenas que, por sua vez, já mantinham relações com seringueiros da região. Os grupos locais eram formados por um homem wajuru, sua esposa e filhos, que se inseriam em grupos previamente formados por seringueiros. As mudanças de assentamentos, sempre constantes, eram marcadas principalmente pela morte de um parente, normalmente um filho, mesmo que ainda criança. Tais assentamentos se mantinham todo o tempo em comunicação, principalmente por meio das festas de chicha.</div><div><br /></div><div>As pessoas para quem os Wajuru trabalhavam - na exploração da seringa, na abertura de estradas, na exploração da poalha (espécie de raiz com propriedades medicinais, vendida pelos seringalistas para os laboratórios farmacêuticos) e na caça de jacarés - foram se tornando sistematicamente parentes por meio do parentesco consanguíneo, do compadrio ou do casamento com jovens wajuru. Mas somente aqueles que detinham o domínio de um certo território (especialmente de colocações, áreas do seringal onde a borracha era produzida) foram assimilados como parentes consanguíneos. A relação patrão-pai estabelecida pelos Wajuru com uma multiplicidade de brancos seringalistas obedece principalmente ao idioma do cuidado e do provimento: é recorrentemente realçado o fato deles receberem roupas e objetos ocidentais, bem como serem auxiliados nos transportes para outros locais mais longínquos, em especial no caso de doenças e mortes.</div><div><br /></div><div>Quando “entravam” nos seringais ou quando já estavam no meio dos brancos, as famílias wajuru ficavam nas colocações, circulando pelas áreas de interflúvios. Essas movimentações, no entanto, não fizeram com que o Igarapé Preto deixasse de ser um centro de referência para os índios. Relatos de acontecimentos importantes no caminho entre a maloca e a Terra Indígena, como nascimentos, casamentos ou mortes, fazem sempre referência a esse local.</div><div><br /></div><div>O centro de produção da seringa na região foram os seringais de Rivoredo no rio Branco, mas os Wajuru permaneceram na periferia desse sistema e multiplicaram o número de patrões. O único a trabalhar para Rivoredo foi Pororoca Wajuru, justamente por sua relação de afinidade com os Djeromitxí. Por esse motivo, Pororoca chegou antes que seus parentes wajuru no Posto Ricardo Franco.</div><div><br /></div><div>Muitas mulheres wajuru, que eram solteiras antes da ida de seus pais à TI Rio Guaporé na década de 1980, casaram-se com seringueiros brancos, e os assentamentos onde viviam, mesmo considerados lugar dos brancos, podiam agregar um homem wajuru, sua esposa, seus filhos e filhas casadas e os genros seringueiros não-índios.</div><div><br /></div><div>A entrega de mulheres wajuru, fato já entrevisto nos primeiros anos do seringal Pernambuco, era bastante recorrente nas regiões do rio Terebito e do Serrito, uma importante colocação cujo “dono/cacique”, na década de 1970, era Casimiro Wajuru. O Serrito ficava entre as cabeceiras do Terebito e Porto Rolim de Moura do Guaporé, povoado ribeirinho na beira do rio Mequéns, e era o centro de escoamento da seringa produzida nas colocações ao longo dos rios Mequéns, Colorado e Terebito. Expulsos da região do Serrito no início da década de 1980 por empreiteiras de grande porte, os Wajuru seguiram para o Posto Indígena Ricardo Franco, avisados de que lá estava Pororoca. As filhas já casadas à época permanecem até hoje com seus maridos e filhos em Porto Rolim de Moura do Guaporé.</div><div><br /></div><div>Apesar dos relatórios do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) registrarem a transferência de 70 índios wajuru, em 1947, para o PI Ricardo Franco, nenhuma das pessoas que hoje vivem na TI Rio Guaporé e arredores se dizem descendentes deste um grupo. Os atuais Wajuru chegaram ao Posto Indígena na década de 1970 e 1980, portanto, muito tempo depois. Além disso, entendem essa mudança não como uma transferência compulsória, mas como um empreendimento do grupo: a busca por um lugar bom para se viver.</div><div><br /></div><div><b> Aldeias</b></div></div><div><br /></div><div><div>A Terra Indígena Rio Guaporé é composta pela aldeia do Posto Ricardo Franco ou mais simplesmente “Posto”, pela Baía da Coca, Baía das Onças, Baía Rica e pelos locais “Mata Verde” e o “Bairro”. A aldeia Ricardo Franco compreende o Posto Indígena, a escola, a enfermaria. Há nas suas cercanias muitas casas chefiadas por homens de diversos grupos étnicos, e mais distante, alguns sítios, locais de assentamento de famílias extensas ou jovens casais. É na aldeia Ricardo Franco que estão as casas de homens wajuru e suas famílias. É ali também que se encontram pessoas que vêm das outras povoações da TI, índios de outras localidades, principalmente de Sagarana, além de representantes da Funai, Cimi, entre outras organizações indigenistas. Na Baía da Coca vivem famílias chefiadas por homens makurap e tupari. A Baía das Onças é reconhecidamente território djeromitxí, bem como a Baía Rica, onde vive somente uma família extensa. O “Bairro” e a “Mata Verde” estão situados entre o Posto e a Baía da Coca, assim como a Baía Rica se localiza entre o “Posto” e a Baía das Onças. O “Bairro” é local de moradia de uma família extensa tupari e a “Mata Verde” é uma área makurap. Ao longo dos caminhos de ligação entre os assentamentos mais densos existem numerosos sítios.</div><div><br /></div><div>Hoje, as moradias próximas ao “Posto” acompanham o padrão regional: as casas dispõem normalmente dois quartos e uma cozinha. São construídas de madeira, têm o telhado de amianto e o chão batido, quando não são assoalhadas. Entretanto, mesmo no “Posto”, nem todas as casas são construídas dessa maneira, e podem ser de pau-a-pique com o telhado coberto de palha.</div><div><br /></div><div>Nas proximidades do Posto Indígena todas as casas possuem energia elétrica, mas essa não é uma realidade para as casas mais afastadas e nem para as moradias das outras aldeias. O principal aparelho eletrodoméstico é, sem duvida, o congelador e é encontrado em quase todas as casas. A televisão é um artigo mais raro e as poucas casas que a possuem tornam-se local de encontro durante a noite.</div><div><br /></div><div>Cada casa tem o seu terreiro e é ele que delimita o espaço de convivência da família - marca uma descontinuidade entre o mato que cresce ao redor e a casa. As mulheres e suas filhas procuram limpar o terreiro todos os dias, deixando visível o contraste entre o mato e o terreiro. Não existe um pátio central ou um local de convivência de todos da aldeia. A cozinha é como se fosse uma extensão do terreiro, é ali que se recebe os visitantes. No terreiro ficam as criações (galinhas, patos e porcos) e cachorros que ajudam a caçar. Uma casa, porém, só é realmente autônoma se tiver um pilão para moer macaxeira e produzir chicha, atividade exclusivamente feminina. Aquelas que possuem um pilão tornam-se local de encontro das mulheres que vivem nas casas mais próximas.</div><div><br /></div><div>As casas estão dispostas em fileiras que acompanham o curso do rio desde sua margem e são bastante próximas umas das outras. Essa proximidade é maior entre casas de uma mesma fileira, do que entre casas de fileiras diferentes. Essas fileiras, dispostas num eixo horizontal, possuem também caminhos horizontais. Estes são mais largos e é por ali que as pessoas passam para ir até as instalações do Posto ou para ir beber chicha na casa de algum conhecido. Transitar por ali é uma forma de tornar visível um deslocamento. Entre as fileiras de casas, existem os caminhos que levam até o rio, a mata e a roça e que as pessoas também utilizam para fazer visitas. São caminhos mais privados, pois passam por dentro dos terreiros das casas. Nesse caso, somente se anda por esses caminhos quando há uma relação de parentesco próxima com os seus moradores.</div></div><div><br /></div><div><div>A maioria das mulheres, depois do casamento, acaba se dispersando no território e pode muitas vezes se mudar para longe de onde vivera até então. Os homens, ao contrário, permanecem quase sempre no mesmo local. Quando decidem mudar, raramente se deslocam para áreas distantes de onde viveram com seus pais, ou vão para o lugar que foi aberto por seu pai. Casar uma filha é ter mais um lugar para ir tomar chicha, e os assentamentos também podem ser descritos a partir das relações entre aqueles que mais tomam chicha juntos. Os Wajuru dizem que os caminhos estão limpos quando as chichadas oferecidas pelas casas próximas são frequentes, e que estão cerrados quando o intervalo entre estas aumenta.</div><div><br /></div><div>As casas abrigam normalmente uma família nuclear ou um homem, sua esposa, as filhas não casadas e os filhos recém-casados. No “Posto”, as casas, na maioria das vezes, reúnem um homem de uma etnia e uma mulher de outra. É ali que a exogamia [casamentos entre pessoas de etnias diferentes] torna-se mais visível, onde estão, na expressão nativa, misturados. Apesar desta “mistura”, pode-se perceber a contiguidade entre as casas dos homens wajuru (e também de outros grupos, como Kanoê, Djeromitxí e Makurap), tornando visível uma forma de organizar o espaço que se baseia nas relações de famílias extensas. Tal organização delimita os espaços de convivência cotidiana, que inclui a partilha de alimentos e cuidados, como os aconselhamentos aos mais jovens, a atenção a um parente doente, os carinhos e risadas fraternas.</div><div><br /></div><div><b> Atividades produtivas</b></div><div><br /></div><div>A base da alimentação wajuru é a macaxeira, além de peixes e carnes de caça. Também plantam muitas variedades de milho, arroz, feijão, cará, amendoim e abacaxi. As casas que possuem renda extra, como bolsa família e aposentadoria, também contam com produtos industrializados para sua alimentação. O café, o açúcar, o sal e o óleo, por exemplo, são produtos indispensáveis em qualquer casa, assim como o sabão.</div><div><br /></div><div>As roças são distantes das casas, mas sua disposição segue o padrão de distribuição daquelas: as roças de irmãos são contíguas umas às outras. Frequentemente o marido e a esposa vão juntos às roças e às chichadas, e o casal pode ser visto como a principal unidade produtiva devido a sua estreita colaboração nas atividades diárias [a esposa produz a chicha e o marido caça e pesca]. Antes do casamento, o rapaz passa a cultivar sua própria roça, separada da roça de seu pai, mas que será não raramente contígua a esta. Depois, a roça é entendida como um espaço do casal e assim, a esposa começa a se ocupar dele e se apropriar de seus produtos.</div><div><br /></div><div>Mulheres e meninas são responsáveis pela limpeza da casa e pelo abastecimento de água e lenha, além de fazerem a coleta de frutos silvestres. O cultivo da mandioca é uma atividade exclusivamente feminina: enterram manivas, colhem e carregam o produto de suas roças, que são limpos em mutirões. Tecem maricos (bolsas de vários tamanhos feitas de fibras de tucum) e ornamentos, como colares, pulseiras e brincos. As esposas, mesmo quando moram distantes de seus pais, também os visitam, e assim acabam ajudando o seu grupo consangüíneo nos trabalhos da roça. Elas vão com frequência às festas de chicha que acontecem ali, assim como os seus pais vão visitá-las no intuito de beber a chicha que produziram. Assim, é comum os sogros visitarem seus genros, mas o inverso raramente acontece. </div><div><br /></div><div>O trançado é uma atividade masculina: fazem os telhados das casas, esteiras e abanos... Os rapazes também talham o banquinho dos pajés (normalmente seu neto) que é de seu uso exclusivo. Os homens limpam a roça, fazem a coivara, abrem clareiras para construir nova moradia, caçam e pescam. As caçadas, realizadas mais com espingardas do que com arco-e-flecha, podem ser em dupla (irmãos, jovens casais ou até mesmo cunhados) e podem levar uma, duas ou três noites seguidas, no máximo. Essas atividades contrastam com as antigas expedições de caça na mata que envolviam grupos bem maiores e duravam mais de duas semanas – práticas ainda realizadas na Baía das Onças. Também são comuns as tocaias, momento em que o caçador vai sozinho até um local, que é concebido como sua espera, em cima de uma árvore, e lá passa a noite de vigília.</div><div><br /></div><div>A mata tem muitos donos: sejam os espíritos, os donos dos animais, sempre perigosos, seja o seu principal predador, a onça. A atividade de caça é concebida como um roubo. Os Wajuru dizem que os caçadores roubam a caça da onça. Existem, no entanto, regras de etiqueta para esse roubo. Em primeiro lugar, existem territórios que são utilizados por certos caçadores e não por outros. Em segundo, o produto da caçada não pode exceder a quantidade necessária para alimentar os parentes mais próximos, pois deixar estragar carne (e peixe também) é uma conduta amplamente condenada. Por último, a saída para uma caçada é marcada pelo silêncio, os caçadores não dizem nada sobre a atividade que estão prestes a realizar, mas as mulheres já o sabem. Tal silêncio se estende até a volta, quando o alimento começa a ser preparado. Também não se nota narrações ou maiores descrições sobre a caçada e os momentos no interior da mata ou no rio. Quem retorna da roça (homens ou mulheres), da caçada ou da pescaria (homens) segue direto a sua casa, sem falar com ninguém e o mesmo se dá na ida. O retorno da mata, no caso dos homens, é acompanhado invariavelmente de um banho no rio ou no igarapé.</div><div><br /></div><div>A caça é uma atividade realizada principalmente por jovens sem filhos ou com filhos pequenos. Estes, à medida que vão crescendo começam a caçar no lugar de seu pai que, por sua vez, passa a ter mais tempo para participar das chichadas. Mesmo sendo os jovens, os principais caçadores da família extensa, seu produto é das mulheres. São as avós que “chefiam” as casas e que distribuem a carne às outras casas aparentadas.</div><div><br /></div><div>A relação sogra/nora é em grande parte mediada pela distribuição da caça e dos produtos da pescaria, cuja contraparte é o trabalho na produção da bebida fermentada. Como é a chefe de família que orienta a produção da chicha, realizada no âmbito da casa, é por meio do trabalho reiterado da nora que esta pode alcançar uma certa independência em relação a sua sogra, tornando-se chefe de sua própria casa. Além disso, no contexto de produção da chicha, a irmã do esposo e a esposa do irmão desempenham um papel semelhante do ponto de vista da relação mãe/sogra. Elas fornecem igualmente sua força de trabalho, inclusive com as mesmas atribuições na produção, sendo as principais colaboradoras entre si.</div><div><br /></div><div>Todas essas atividades - roça, caça e pesca (no caso dos homens) e roça, trabalhos domésticos, cozimento de alimentos e produção de chicha (no caso das mulheres) - são concebidas como trabalho.</div><div><br /></div><div><b> Concepção, sangue e patrifiliação</b></div></div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Os Wajuru não concebem o ato sexual como o único meio de uma mulher engravidar. Pelo contrário, são igualmente imputadas aos xamãs capacidades de inseminação, associadas, na maior parte das vezes, ao componente anímico da pessoa. Conta-se que os xamãs trazem as almas do céu e as colocam dentro da barriga das mulheres. De outro lado, pode-se manipular a capacidade reprodutiva feminina, seja favorecendo a gravidez, seja evitando-a por meio do uso de remédios do mato.</div><div><br /></div><div>Também vigora uma teoria da gestação que supõe não ser o útero feminino capaz, por si só, de gerar adequadamente um bebê. Afirmam que a atividade masculina é imprescindível nesse sentido. Durante a gestação, a mulher recebe o sangue do marido, que é inserido durante repetidas relações sexuais. Caso isso não aconteça, o corpo do bebê correrá sérios riscos a sua saúde e integridade. Além disso, as atitudes da mãe durante a gravidez podem influenciar na constituição do bebê, sendo responsável muitas vezes por alguma característica física ou social que o acompanhará durante toda vida.</div><div><br /></div><div>Depois do nascimento, a mãe e o pai devem respeitar alguns resguardos a fim de evitar que o recém-nascido fique exposto aos perigos do mundo dos espíritos, principalmente ao roubo da alma. O corpo do bebê é mole, mas à medida que os pais vão alimentando-o e observando seus resguardos, este vai endurecendo. O processo é visto como o declínio das relações com o plano virtual, quando o bebê encontra-se protegido contra os assédios dos espíritos, donos dos animais de caça. É preciso dizer, no entanto, que tais perigos podem irromper a qualquer momento ao longo de sua vida.</div><div><br /></div><div>Os resguardos que incidem sobre a constituição do corpo da criança variam de acordo com o gênero: cabe às mulheres as restrições alimentares (visto que são elas que amamentam seus filhos) e aos homens, restrições sobre suas atividades de caça. Evita-se, no caso das mulheres, a ingestão de algumas carnes de caça, aves e peixes de couro (que só podem ser ingeridas após um ritual xamânico de cura), e, no caso dos homens, evita-se a morte de algum animal predador. No intuito de proteger a vida do bebê, o casal não tem relações sexuais durante cerca de um mês, até que a mulher produza sua primeira chicha depois do parto, a chicha-lava-mãos. Esse momento é visto como o fim do escoamento de sangue entre a mãe e o bebê: a chicha “lava” as mãos do bebê, quando já saiu o sangue. Aqueles com filhos recém-nascidos, apesar de permanecerem nas festas regadas a chicha, não dançam.</div><div><br /></div><div><div>Existe a noção de que o sangue é signo das relações de substância/parentesco e que é próprio da reprodução feminina engendrar um caráter descontínuo nestas relações. É por isso que os Wajuru dizem que cabe às mulheres aumentar os parentes e/ou o sangue dos outros, visto que seu filho não pertencerá ao mesmo grupo étnico que o seu. Em sentido inverso, a reprodução masculina é responsável pelo caráter contínuo das conexões de sangue. Diz-se que os filhos são decididos pelo pai, pois quem tem filho é o pai. A patrifiliação é assim em grande parte mediada pelas conexões de sangue entre o pai e seus filhos, o que dizem ser atestado pelo fato de que desde a gestação a criança já traz as características físicas do pai.</div><div><br /></div><div>Deve-se observar que a reprodução de um grupo de substância/sangue em linha masculina pode, em alguns casos, prescindir da convivência entre filhos e seu genitor. Nesse caso, os filhos estendem sua rede de parentesco a partir de seu pai adotivo, aqueles no poder do qual são criados. Mesmos assim, um indivíduo ainda é referido como pertencente ao grupo étnico de seu genitor e deve levar em consideração tais redes de parentesco.</div><div><br /></div><div>No caso dos Wajuru, o recorte étnico prescinde de ampla profundidade temporal e não se estabelece em função de relações de descendência entre ancestrais míticos e humanos atuais. Nas narrativas wajuru sobre os irmãos demiurgos descobridores, não há referência ao surgimento de descendentes ou à consolidação de um grupo de parentes. Não há portanto uma trajetória comum ao grupo que remonte a sua origem. Os “povos” wajuru estão organizados a partir de uma antiga territorialidade e de modos de vida a ela associados e o alcance da memória genealógica é de pouca profundidade.</div><div><br /></div><div>Na organização social wajuru, o recrutamento étnico baseia-se na noção de patrifiliação. Essa concepção fornece o idioma das uniões matrimoniais preferenciais para fora do grupo étnico.</div><div><br /></div><div><b> Casamento e amizade</b></div><div><br /></div><div>Os casamentos podem ocorrer quando uma filha é entregue ao grupo doméstico de seu futuro esposo, ou quando há rapto e fuga dos jovens casais. Não há nenhuma cerimônia formal que delimite o novo status dos parceiros, não obstante é necessário que a menina tão logo entre em seu novo grupo doméstico produza ali sua primeira chicha. É nesse momento que os homens dos dois grupos se encontrarão para beber juntos. Além disto, existe uma clara disposição para que os meninos não se casem muito novos, quando ainda não estão formados – isto é, quando não possuem os conhecimentos necessários para as atividades de caça e agrícolas.</div></div><div><br /></div></div><div style="text-align: left;"><div>Nos tempos atuais, em que a mistura é destacada, a identidade étnica, transmitida por linha paterna, estabelece a distância necessária para a realização de trocas de mulheres. Os parentes do lado paterno são considerados parentes próprios e os parentes em linha materna são considerados parentes outros. É com esses parentes outros que o casamento preferencial deve se realizar. Essa divisão no campo do parentesco, entre próprios e outros, pode ser modificada de acordo com outras formas de calcular a distância, caso se considere a possibilidade do casamento entre parentes do lado paterno. Ainda que o casamento entre um homem e uma mulher wajuru seja logicamente possível, ele de fato não ocorre. O casamento que pode preferencialmente ocorrer é aquele entre filhos de primos (com distância de uma ou mais gerações), desde que haja, anteriormente, um casamento exogâmico (entre um homem e uma mulher de etnias diferentes).</div><div><br /></div><div>Existe uma categoria prescrita para cônjuges, estes são chamados oguaikup, em Wajuru, ou virá em Djeromitxí, que é o termo mais usado entre os Wajuru. Tais categorias marcam, de um lado, a preferência para o casamento e, de outro, a amizade formal entre pessoas do mesmo gênero. Por isso os virás são chamados também de amigos/companheiros. Embora o casamento “preferido” seja aquele com uma geração de distância, alguns casamentos ocorrem com um maior alargamento geracional.</div><div><br /></div><div>O modo de relação entre virás/companheiros de mesmo gênero, que é mais comum entre os homens, oscila entre a brincadeira extrema e o respeito e proteção mútuos. As atitudes dos virás, ao mesmo tempo que formalizam posições, expressam a informalidade que pode haver entre aqueles que são muito próximos. Do ponto de vista dos Wajuru, os virás brincam tanto um com outro que deixam de agir como parentes, pois estes se relacionam de forma contida e extremamente respeitosa. Virás podem se apoderar de objetos um do outro sem problemas, assim como é permitido a um virá defender o outro de ameaças até as últimas consequências. Na infância, convivem intensamente, caçam, pescam, comem, nadam e brincam juntos. Depois de casados, ajudam-se mutuamente nos trabalhos de roçado e estão sempre presentes nas chichadas que organizam.</div><div><br /></div><div>Os casamentos entre virás que não aconteceram podem com isso transformar os cônjuges de mesmo gênero de ambos os casais em companheiros, o que inclui, caso morem próximos, a ajuda mútua e a companhia nas atividades diárias. Ao mesmo tempo, os casamentos que ocorreram cancelam as atitudes virás, de brincadeira e extrema proximidade, entre cunhados efetivos. Neste sentido, as posições virá aparecem mais como uma potencialidade, indicando suas diversas possibilidades de efetivação.</div><div><br /></div><div><b> As chichadas</b></div><div><br /></div><div><div>As chichadas, festas regadas a bebida fermentada, condensam as principais relações e acontecimentos da vida aldeã e cosmológica dos Wajuru e ocorrem muito frequentemente, de duas a três vezes por semana, reunindo pessoas dos mais diversos grupos étnicos. A chicha, tuerô na língua Wajuru, ou tuerô jati, “chicha braba, azeda, fermentada”, é feita na maioria das vezes com macaxeira, mas conta-se que no passado costumavam fazer muita chicha de milho, cará ou amendoim. A bebida com esses ingredientes tem, em algumas casas, um valor especial: são chichas que remetem ao passado na maloca. Seu consumo é muito mais doméstico do que a chicha de macaxeira, que é consumida em grandes reuniões, por todas as pessoas, desde crianças muito pequenas até os mais velhos.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-wG4Cgy-QA_aYCC-hohS6pVKutxT8Y-ZYpOMrCV4Z2DFsEJ5LjMFhNI1A64Lf5J3XSyfrLgInFoNdz8AToBmmDXOGXDIBEwelnz3tUtak2ESZzXX9ZFwMAqpFsAlyxXMUyT0PC0N_Ij0/s696/Wajuru%252C+ou+tuero%25CC%2582+jati%252C+%25E2%2580%259Cchicha+braba%252C+azeda%252C+fermentada%25E2%2580%259D.png" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: x-small;"><img border="0" data-original-height="437" data-original-width="696" height="402" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-wG4Cgy-QA_aYCC-hohS6pVKutxT8Y-ZYpOMrCV4Z2DFsEJ5LjMFhNI1A64Lf5J3XSyfrLgInFoNdz8AToBmmDXOGXDIBEwelnz3tUtak2ESZzXX9ZFwMAqpFsAlyxXMUyT0PC0N_Ij0/w640-h402/Wajuru%252C+ou+tuero%25CC%2582+jati%252C+%25E2%2580%259Cchicha+braba%252C+azeda%252C+fermentada%25E2%2580%259D.png" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Chicha Wajuru, ou tuerô jati, “chicha braba, azeda (fermentada)Chichada. Aldeia Ricardo Franco, Terra Indígena Rio Guaporé. Foto: Nicole Soares Pinto, 2008</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A macaxeira é concebida como fruto de uma série de transformações a partir do corpo de um ser mitológico. É nesse sentido que plantar maniva pode ser traduzido como enterrar gente. A chicha, para os Wajuru, guarda um mistério. A masca produzida pelas mulheres faz a macaxeira ficar mole, e o único interdito para essa atividade é quando estas se encontram menstruadas, pois caso alguém consuma a chicha corre o risco de ficar panema [a pessoa fica sem força e com má sorte na caça]. Por sua vez, a fermentação é realizada no interior do cocho (recipiente de madeira talhada suspenso sobre forquilhas), associado muitas vezes ao corpo de uma jibóia. Por outro lado, a produção e consumo da bebida são atributos de outros seres que não apresentam forma humana para aqueles que não possuem a visão xamânica (os xamãs usam tabaco e o rapé para alcançar essa visão). Estas características são, para os Wajuru, atestado de sua humanidade: dizem os pajés, que no céu ou dentro d’água, tudinho é gente! Lá tem tudo igualzinho como aqui: roça, maloca e chicha.</div><div><br /></div><div>O processo de fermentação da chicha é o índice de seu alcance na comunidade: quanto mais braba/azeda for a chicha, mais pessoas se reunirão ao seu redor, e quanto mais doce/mansa, mais doméstico será seu consumo. O ideal é que toda chicha se torne azeda, ou seja, embriagante, e as mulheres trabalham intensamente para que isso aconteça. Produzida no âmbito das casas, a chicha é consumida coletivamente em duas ocasiões: como pagamento de um trabalho coletivo realizado em benefício de um grupo doméstico (abertura, coivara, plantação ou limpeza de roças, caminhos e terreiros, colocação do telhado), ou como dádiva em festas: aniversários dos mais jovens, casamentos, datas comemorativas (Natal, Ano Novo etc.). Nas festas comemorativas não pode faltar a dança (ao som de forró e músicas makurap cantadas pelos velhos), mas nas chichadas de trabalho coletivo essa relação não é direta. Em ambos os casos, ninguém comparece se o dono da chicha não convida para a festa em sua casa, e aos convidados é oferecido alimento pelo grupo organizador do trabalho ou da festa.</div></div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Há uma troca constante dos papéis de organizador/trabalhador e produtor/consumidor, e nesta, a chicha surge como uma espécie de dádiva por meio da qual as pessoas se comunicam e se encontram, mas sempre ocupando uma posição diferente. Nesta circulação da função de organizador, fica claro que são os homens mais velhos que melhor desempenham essa função catalisadora da vida social. Suas filhas solteiras auxiliam sua esposa na preparação da bebida, e genros ou filhos ajudam na construção de casas, na troca dos telhados, na abertura e cuidados com a roça etc. Mas o mais importante é que haja um cocho de chicha cheio, pois este tem o poder de reunir muitas pessoas no trabalho.</div><div><br /></div><div>As metáforas sexuais estão sempre presentes nas chichadas e a brincadeira (entre conversas e danças) é o modo relacional nestas ocasiões, seja porque é ali que os virás/oguaikup (companheiros) têm a oportunidade de expressar sua proximidade, seja porque as atitudes entre certos parentes encontram nesse contexto uma espécie de relaxamento, principalmente entre parentes de gênero oposto.</div><div><br /></div><div>Os homens costumam se apoiar em outras relações de parentesco, aquelas estabelecidas por intermédio de suas ascendentes femininas. Assim, irão chamar para beber junto seus manos, forma de tratamento utilizada, sobretudo, entre aqueles que são considerados irmãos de grupos étnicos distintos. Da mesma maneira, a fraca presença das relações de afinidade que marca a socialidade doméstica, sob o ponto de vista masculino, encontra nas chichadas sua contraparte. Ali os homens da casa se relacionam intensa e publicamente com seus afins de mesmo gênero. Nas chichadas, cabe às mulheres suavizar as relações entre os homens, já que são elas que os colocam em comunicação. As mulheres, por sua vez, encontram nessas ocasiões seus parentes próprios e têm a oportunidade de brincar e beber junto a eles.</div><div><br /></div><div><b> Notas sobre as fontes</b></div><div><br /></div><div>Em 1948, Claude Lévi-Strauss advertia ser a história dos povos indígenas da margem direita do médio rio Guaporé uma das menos conhecidas no Brasil. Não obstante, muito tempo depois da publicação do Handbook of South American Indians (1948), na qual o autor foi o responsável pela breve caracterização da área (“Tribes of the right bank of the Guaporé River”), e dos inúmeros trabalhos de Franz Caspar publicados originalmente na década de 1950 sobre os Tupari, pouquíssimo se falou dessa região.</div><div><br /></div><div>Há, no entanto, exceções como o trabalho de Denise Maldi (1991) sobre o “Complexo do Marico”. Esse importante texto, encomendado pelo Museu Goeldi, é fruto do trabalho de campo da pesquisadora, no qual traça um panorama mais amplo, enfatizando os elementos culturais comum desses povos e desenha um complexo intercultural. Por seu turno, os trabalhos de Betty Mindlin (1995, 1997 e 2001), de compilação das narrativas míticas, parece ser o único que voltou seu olhar mais recentemente para esses povos. Além disso, a autora também realizou um trabalho que enfocou a mitologia tupari (Mindlin, 1993).</div><div><br /></div><div>No ínterim entre os trabalhos de Caspar, de um lado, e Maldi e Mindlin, de outro, foram publicados dois importantes documentos. Um, refere-se à breve compilação de informações e fontes realizada por Price (1981) no bojo das reações ao Projeto Polonoroeste que atingiria populações indígenas no estado de Rondônia. O outro é o relatório de ampliação da Terra Indígena Rio Guaporé, feito sob coordenação da antropóloga Maria Auxiliadora de Sá Leão (Funai, 1985), no qual encontram-se informações valiosas sobre a atuação do SPI (Serviço de Proteção aos Índios) na região e os modos de organização social desses povos no contexto de transformação de suas relações na área do Posto Indígena Ricardo Franco, posteriormente transformada em TI Rio Guaporé.</div><div><br /></div><div>Em 2009, Nicole Soares Pinto defendeu uma dissertação de mestrado no Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Paraná, cujo título é Do poder do sangue e da chicha: os Wajuru do Guaporé (Rondônia). Esse trabalho foi um esforço etnográfico de aproximação à dinâmica social wajuru, principalmente no que diz respeito ao parentesco e organização social.</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>DONNER, Beker. 1955. “First report on a field trip to the Guaporé region (Pacaas Novos)”. In: Anais do XXXI Congresso Internacional de Americanistas. São Paulo: Anhembi </div><div>CASPAR, Franz. 1953a. Tupari: entre os índios, nas florestas brasileiras. São Paulo: Melhoramentos.</div><div>-----------------------1953b. “Some sex beliefs and practices of tupari indian (Western Brazil)”. In: Rev. Do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série, V. III, pp. 201-248.</div><div>-----------------------1955a. “A expedição de P. H. Fawcett a tribo dos Maxubi em 1914”. Anais do XXXI Congresso Internacional de Americanistas. São Paulo: Anhembi, vol. 1.</div><div>-----------------------1955 b. “Um caso de desenvolvimento anormal da personalidade observado entre os Tupari”. In: Anais do XXXI Congresso Internacional de Americanistas. São Paulo: Anhembi, pp.121-126.</div><div>-----------------------1956/1958. “Puberty Rites Among The Tupari Indians”. In: Ver. Do Museu Paulista. São Paulo, Nova Série, vol. X, pp. 141-154.</div><div>-----------------------1976 [1957] “A aculturação dos Tuparis”. In: Egon Shaden (org.) Leituras de Etnologia Brasileira. São Paulo: Companhia Editorial Nacional. </div><div>FUNAI .1985. Relatório Antropológico de demarcação da Terra Indígena Rio Guaporé (coordenação de Maria Auxiliadora de Sá Leão).</div><div>LÉVI-STRAUSS, Claude. 1948. “Tribes of the Right Bank of the Guaporé River”. In: STEWARD, Julian (org.) Handbook of South American Indians. Washington: Smithsonian Institution, Bulletin 143, vol. 3, pp: 371-379. </div><div>MALDI, Denise . 1991. “O complexo cultural do marico: sociedades indígenas do rio Branco, Colorado e Mequens, afluentes do médio Guaporé”. In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (Antropologia). vol. 7, nº 2, pp. 209-269.</div><div>MINDLIN, Betty. 1993. Tuparis e tarupás — Narrativas dos índios Tuparis de Rondônia. São Paulo: Brasiliense/Edusp/Iamá (Instituto de Antropologia e Meio Ambiente).</div><div>----------------------1995. Antologia de mitos dos povos Ajuru, Arara, Arikapu, Aruá, Kanoe, Jabuti e Makurap. São Paulo: Iamá, 67 p</div><div>---------------------e narradores indígenas. 1997. Moqueca de maridos: mitos eróticos. Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos.</div><div>---------------------2001. Terra grávida. Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos.</div><div>---------------------PRICE, David. 1981. “The indians of southern Rondônia”. In: Cultural Survival, Inc., In the path of Polonoroeste: endangered peoples of western Brazil. Occasional Paper. Cambridge, pp. 34-37.</div><div>SNETHLAGE, Emil H. 1935. Indianer kulturen aus dem grenzgebiet Bolivien - Brasilien. Ergebnisse der forschungsreise 1933 - 1934. Führer durch Ausstellung im staatlichen Museum for volkerkunde, Berlin vom 15August bis 15. november 1935. Berlim. </div><div>SOARES-PINTO, Nicole. 2009. Do poder do sangue e da chicha: os Wajuru do Guaporé (Rondônia). Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Paraná.</div><div>WAWZYNIAK, João Valentin. 2000. Do Barracão à Casa: Uma etnografia das transformações nas formas de apropriação, gestão e transmissão dos recursos naturais por seringueiros do rio Ouro Preto – RO. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Paraná.</div></div><div style="text-align: left;"><br /></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-27354604568630540522021-03-03T14:57:00.003-08:002021-03-03T14:57:20.150-08:00Nawa<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9YkYQd1mR3j3BFRt39wxpFphKzW-38hrbs_Td-zjkIlocxCn2aMcP2YbydFiBCBiXuUAcpN4KkiV1clgV_Mx4KrcH4QbMOJmsSKLm6JoSsUhoFv4i0PEugjZ4uNH51sgkeWH9h2BMEIo/s1310/Toy+Art+Nawa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9YkYQd1mR3j3BFRt39wxpFphKzW-38hrbs_Td-zjkIlocxCn2aMcP2YbydFiBCBiXuUAcpN4KkiV1clgV_Mx4KrcH4QbMOJmsSKLm6JoSsUhoFv4i0PEugjZ4uNH51sgkeWH9h2BMEIo/w640-h582/Toy+Art+Nawa.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Nawa</span></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">150</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Narwa</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Naua</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AC</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">423</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Correia 2005</span></td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Nawa corresponde à autodesignação ou à um indicador de alteridade (“outra gente”) de muitas sociedades de língua Pano, sendo recentemente reivindicada como identidade oficial a ser reconhecida pelo Estado brasileiro por esse grupo indígena que habita o interior do Parque Nacional da Serra do Divisor. A emergência de tal reivindicação se deu pela iminência de seu reassentamento fora do perímetro da Unidade de Conservação, a qual, por ser de proteção integral, proíbe a habitação em seu interior. Agora lutam pelo reconhecimento oficial de sua terra, cujo processo foi iniciado pela Funai. Devido ao contato antigo e violento com as frentes de expansão, principalmente a empresa seringalista, os Nawa já não falam sua língua, mas têm em sua visão de mundo e modo de vida uma série de aspectos identificáveis com o complexo cultural Pano.</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtKcLRVtOaNsM7pntznpi8B_R2W3nVxltCHzgcQjpRGQ9BlHe54UMStVflo6p8xxLo_yEdNbdmrAqEJEXA7ThX0d7T102uDKuxG2YpFN1l0-UdE5dDmZcgrRlw-_ox0mdF7jzCkdATWVw/s1255/mulher+Nawa.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="722" data-original-width="1255" height="368" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtKcLRVtOaNsM7pntznpi8B_R2W3nVxltCHzgcQjpRGQ9BlHe54UMStVflo6p8xxLo_yEdNbdmrAqEJEXA7ThX0d7T102uDKuxG2YpFN1l0-UdE5dDmZcgrRlw-_ox0mdF7jzCkdATWVw/w640-h368/mulher+Nawa.png" width="640" /></a></div><div><br /></div><div><b> Localização, população e ambiente</b></div><div><br /></div><div>Os Nawa residem atualmente, em sua maioria, no Município de Mâncio Lima, sendo possível localizar alguns integrantes desse povo em outros municípios do Estado do Acre, como Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Rio Branco. Também existem famílias Nawa residindo em outros estados, nas cidades de Porto Velho/RO e Manaus/AM, e em outro país, no Peru.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkEM1cn91doQctZqXGUAVEO76FTZkpviq8-MGAh4GtcJW-GRK4EwWHVaU48ukt7vOxtiQHwcWg-xOe_L3V24bCczVIi58DWV5cKmDxXhgZaSu7J1LFxzLeoiqUrLhey4vHhaHOTJ4wLUw/s2570/Territorios+indigena+Nawa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkEM1cn91doQctZqXGUAVEO76FTZkpviq8-MGAh4GtcJW-GRK4EwWHVaU48ukt7vOxtiQHwcWg-xOe_L3V24bCczVIi58DWV5cKmDxXhgZaSu7J1LFxzLeoiqUrLhey4vHhaHOTJ4wLUw/w640-h304/Territorios+indigena+Nawa.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Território Indígena Nawa</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>No Município de Mâncio Lima, os Nawa residem em sua maioria na margem direita do rio Moa e nos igarapés dessa mesma margem denominados Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Jarina, Venâncio e Jesumira, onde reivindicam a identificação e delimitação de suas terras, cujo processo de reconhecimento pela Funai já foi iniciado.</div><div><br /></div><div>A população nawa residente na Terra Indígena reivindicada era formada em 2005 por cerca de 306 indivíduos. Nessa época também foi realizado um levantamento parcial da população nawa residente na cidade de Mâncio Lima, sendo recenseados 117 pessoas. Como o levantamento na cidade não foi completo, o número de moradores nawa pode ser muito superior. Segue abaixo um quadro da distribuição populacional dos Nawa em 2005.</div><div><br /></div><div><table class="table table-hover" style="background-color: #f7f7f7; border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; color: black; font-family: Ubuntu, "Open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: auto auto 20px; max-width: 680px; width: 680px;"><tbody style="background-color: #f2f2f2; box-sizing: border-box;"><tr style="box-sizing: border-box;"><th style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; font-weight: lighter; line-height: 1.42857; padding: 8px; text-align: left; vertical-align: top;">Igarapé/Rio</th><th style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; font-weight: lighter; line-height: 1.42857; padding: 8px; text-align: left; vertical-align: top;">População</th></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Novo Recreio<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">141</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Jesumira</td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">24</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Moa<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">72</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Jarina<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">13</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Venâncio<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">07</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Jordão<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">04<br style="box-sizing: border-box;" /></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Pijuca<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">45</td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">Total<br style="box-sizing: border-box;" /></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;">306</td></tr></tbody></table></div><div><div>Meio ambiente</div><div>A Terra Indígena Nawa está localizada no Estado do Acre, o qual situa-se no extremo sudoeste da Amazônia brasileira. O estado possui fronteiras internacionais com o Peru e a Bolívia, e nacionais com os Estados do Amazonas e de Rondônia. No extremo ocidental, situa-se o ponto mais alto do estado, onde a estrutura do relevo é modificada pela presença da Serra do Divisor, uma ramificação da Serra Peruana de Contamana, apresentando uma máxima altitude de 600 m.</div><div><br /></div><div>Os solos acreanos abrigam uma vegetação natural composta principalmente por florestas, classificadas em floresta Tropical Densa e floresta Tropical Aberta, caracterizada pela sua heterogeneidade florística de alto valor econômico. O clima, por sua vez, é do tipo equatorial quente e úmido.</div><div><br /></div><div>A hidrografia acreana é bastante complexa e sua drenagem bem distribuída, sendo formada pelas bacias hidrográficas do Juruá e do Purus, afluentes da margem direita do rio Solimões.</div><div><br /></div><div>A Terra Indígena Nawa está localizada na bacia do rio Juruá, a qual ocupa uma ampla área de 25.000 km². A extensão total do rio Juruá é de 3.280 km, com um desnível de 410m. Ele nasce no Peru a 453 m de altitude com o nome de Paxiúba, unindo-se depois com o Salambô e passando daí para baixo a ser denominado de Juruá. Atravessa a parte noroeste do estado do Acre no sentido Norte-Sul, entrando posteriormente no Estado do Amazonas e desaguando no rio Solimões.</div><div><br /></div><div>Como a bacia do Alto Juruá drena uma vasta área no estado do Acre, ela engloba terras de vários municípios: Marechal Thaumaturgo, Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima e Porto Valter. Desses cinco municípios existentes na sua bacia o rio Juruá corta apenas três, sendo eles Marechal Thaumaturgo, Cruzeiro do Sul e Porto Valter.</div><div><br /></div><div>O rio Juruá possui pela margem direita nove principais afluentes: Breu, Caipora, São João, Acuriá, Tejo, Grajaú, Natal, Humaitá e Valparaíso. E outros nove afluentes importantes pela margem esquerda: Amônea, Aparição, São Luiz, Paratati, Rio das Minas, Ouro Preto, Juruá-Mirim, Paraná dos Mouras e Moa. No alto rio Moa encontra-se na margem direita a Terra Indígena Nawa, no Município de Mâncio Lima.</div><div><br /></div><div>A Terra Indígena Nawa faz parte de um “mosaico” de 25 terras federais existentes no Alto Juruá: um Parque Nacional, três Reservas Extrativistas e 21 Terras Indígenas [dados de 2005].</div><div><b><br /></b></div><div><b> Língua</b></div><div><br /></div><div>O termo Nawa (também grafado em diversas fontes escritas como Naua, Náua ou Nahua), como consta na bibliografia sobre a história da região, provém da língua Pano e pode ser traduzido como “gente”, “povo” e “outro”. Em geral, Nawa é utilizado pelos povos Pano para se referirem à alteridade. Na maioria dos casos este termo é usado para distinguir as fronteiras étnicas entre os povos indígenas, sendo muito utilizado como sufixo de denominações atribuídas a grupos étnicos como os Kaxinawa (“gente do morcego”), Yaminawa (“gente do machado”), Shawãnawa (“gente Arara”) e vários outros.</div><div><br /></div><div>Com base nos textos historiográficos, é possível conceber que o termo Nawa foi utilizado em alguns momentos para se referir a diversos povos da família lingüística Pano. Independente da dificuldade de resgatar nas informações históricas qual era exatamente o povo cujos exploradores e povoadores do alto Juruá denominavam Nawa, o certo é que o termo é utilizado para se referir a indígenas localizados na margem esquerda do rio Juruá, mais precisamente em um dos seus afluentes, o rio Moa.</div><div><br /></div><div>Nessa região, onde hoje se encontra a Terra Indígena reivindicada, muitas pessoas se autodenominam Nawa, englobando indivíduos Nawa, Poyanawa, Shawãnawa (Arara), Nukini e Amoaca.</div><div><br /></div><div>Entre os atualmente autodenominados Nawa, vários indivíduos dominam um considerável vocabulário Pano, mas ninguém fala a língua materna com fluência. Possivelmente, devido a terem sido historicamente ridicularizados e discriminados ao falarem na língua indígena, eles passaram a não mais transmiti-la a seus descendentes, gerando uma população infantil educada apenas em português, e não falante de línguas da família Pano. Mais recentemente, crianças, adultos e idosos estão retomando sua língua indígena ao transmitirem entre eles o vocabulário conhecido e ao incorporarem outros termos Pano por meio do contato interétnico.</div><div><br /></div><div>O contato entre os diversos povos Pano tem ocorrido secularmente em uma vasta região que inclui partes do Peru, Bolívia e Brasil. Neste último país as sociedades indígenas Pano estão situadas no sul e no oeste do Estado do Acre, de onde se estendem para leste até a parte ocidental de Rondônia e, em direção ao norte, penetra o Estado do Amazonas, entre os rios Juruá e Javari (Rodrigues, 1994).</div><div><br /></div><div><b> História</b></div><div><br /></div><div>O Alto Juruá era território dos grupos Pano e Aruak desde o período pré-cabralino, mas a partir do começo do século XIX passou a ser ocupado também por exploradores e comerciantes vindos de Belém, Manaus e de centros urbanos localizados ao longo do rio Solimões (AM), os quais subiam o curso do rio Juruá para comercializar com a população nativa. Trocavam bens industrializados por “produtos florestais” que tinham grande demanda no mercado regional, como a salsaparrilha, a copaíba, o pirarucu, a carne de caça, a pele de animais silvestres, os ovos e a gordura de tartaruga, a castanha e a baunilha. Durante as expedições em busca desses produtos muitos índios eram escravizados e utilizados nos trabalhos na floresta. Outros eram vendidos às famílias abastadas dos centros urbanos (Aquino & Iglesias, 1994: 6).</div><div><br /></div><div>Nos termos de Castello Branco, foram três “espécies” de exploradores que ocuparam o atual Acre, e, por conseguinte, o Alto Juruá. Aqueles que percorreram os rios com o fim de encontrar uma comunicação com a Bolívia; os que navegavam o rio com o intuito de se apossarem das terras, demarcando algumas praias para si ou para vendê-las, e os que vinham em seguida e se alojavam temporariamente em “tapiri”, para dar início a abertura das “estradas” que comporiam o futuro “seringal” (Castello Branco, 1961: 174). As duas primeiras formas de ocupação da região citadas por este autor não contaram com um grande contingente populacional, e sim a última.</div><div><br /></div><div>Desde meados do século XVIII, os “agarradores” de índios e os “coletores de drogas” penetravam os rios Purus e Juruá, em maior escala no primeiro (Castello Branco, 1958: 18). Entretanto, os exploradores do rio Juruá somente vieram a alcançar regiões do atual Estado do Acre durante o século XIX, antes explorando locais pertencentes aos limites que compreendem hoje o Estado do Amazonas. De acordo com Castello Branco, mesmo de forma “vacilante”, o início do povoamento do Juruá ocorreu durante as décadas de 1850 a 1870 (1947: 176), sendo o primeiro explorador do Juruá a atingir regiões localizadas no atual Estado do Acre o Diretor dos Índios João da Cunha Correia, nomeado para esse cargo em 1854. Provavelmente João da Cunha Corrêa atingiu o Alto Juruá no ano de 1858, quando subiu até a foz do rio Juruá Mirim, tendo encontrado apenas índios pacíficos (Castello Branco, 1958: 60-65 e 73).</div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcGDbw0AcxxIj2QZfnD6BBXiWuNLIa2-5TbuAMkQGcYLOXZ0KKgiXsT0GWRT4GZ0dlzNbeUYWL3lpnlpqhzgus6DcN1eBY4EsEUcMuzPKiZa0PDZikedhyphenhyphenw-dJ_mGWHA5bTjUOjmHGmnk/s1201/aldeia+Nawa.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="696" data-original-width="1201" height="370" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcGDbw0AcxxIj2QZfnD6BBXiWuNLIa2-5TbuAMkQGcYLOXZ0KKgiXsT0GWRT4GZ0dlzNbeUYWL3lpnlpqhzgus6DcN1eBY4EsEUcMuzPKiZa0PDZikedhyphenhyphenw-dJ_mGWHA5bTjUOjmHGmnk/w640-h370/aldeia+Nawa.png" width="640" /></a></div><div><br /></div><div>Mesmo João Correia tendo sido o primeiro a atingir regiões acreanas, as primeiras referências historiográficas a índios Nawa localizados no Alto Juruá provêm de Castelnau, quem em 1847 registrou, com base em informações de “coletores de drogas”, a presença de tabas de “Nawas”, “Catuquinas” e “Tuchinauas” na altura do rio Tarauacá (Castelo Branco, 1950: 07).</div><div><br /></div><div>O contato com os Nawa e sua postura hostil frente às tentativas de contatá-los perdurou ao longo do século XIX, tendo a viagem do explorador William Chandless ao Alto Juruá sido interrompida, em 1867, devido a um ataque dos índios Nawa acima da boca do Tarauacá 346 milhas, no local posteriormente denominado seringal Ouro Preto, pouco acima da foz do Riozinho da Liberdade.</div><div><br /></div><div>Segundo o historiador Castelo Branco, no início de 1884 o pernambucano Antônio Marques de Meneses, mais conhecido pelo apelido de “Pernambuco”, juntamente com alguns companheiros, aportou no “estirão dos nauas”, próximo à foz do rio Moa, denominado “Centro Brasileiro” por Pernambuco alguns anos depois, em 1894 (1930: 593). Como fica evidente, sua recepção não foi pacifica, sendo o explorador expulso pelos índios localizados no “Estirão dos Nauas”. Ainda em 1884, os italianos Henrique Cani, Antônio Brozzo, Domingos Stulzer e os brasileiros Ismael Galdino da Paixão e Domingos Pereira de Souza exploraram o Juruá com o propósito de o povoarem. O encontro desses povoadores do Juruá com os Nawa foi menos belicoso que aquele de Pernambuco, ambos em 1884. Foi possível a essa expedição composta por italianos e brasileiros visitar duas aldeias dos Nawa, situadas no estirão de mesmo nome, e distribuir brindes entre eles.</div><div><br /></div><div>A partir de 1888, vários expedicionários começaram a penetrar o rio Moa e, em 1893, alcançam os últimos pontos do rio onde havia seringa, inclusive o rio Azul ou Breguesso (Castelo Branco, 1961: 209). Neste último ano, Castelo Branco afirma que os Nawa já não se encontravam em regiões por eles antes ocupadas. Antes de 1893, doze brasileiros navegaram do Breu até a foz do rio Vacapistéa, indo além do território posteriormente considerado brasileiro pelo Tratado de Petrópolis. Muitos desses exploradores estabeleceram seringais ao longo do rio Juruá e de seus afluentes, o que forçou a migração de diversos povos indígenas da região.</div><div><br /></div><div>Segundo informações do ex-juiz de direito de Cruzeiro do Sul e historiador regional, José Brandão Castelo Branco Sobrinho, os seringais do Alto Juruá foram constituídos da seguinte forma: os descobridores à medida que subiam o rio reservavam algumas praias para cada um, sinalizando as extremidades dos seringais com um pequeno roçado e deixando uma “taboleta” com os nomes dos proprietários (Castello Branco, 1930: 595). Essa forma de ocupação do Alto Juruá levou à conformação de diversos seringais.</div><div><b><br /></b></div><div><b>Caucheiros peruanos e seringalistas brasileiros</b></div><div><br /></div><div>Como apontado, a exploração e ocupação efetiva da região do Alto Juruá ocorreram nas duas últimas décadas do século XIX, após vários embates com os povos indígenas. Neste período, a região foi povoada principalmente por diversos migrantes oriundos do Nordeste brasileiro, os quais, fugindo da seca de 1877, estabeleceram várias colocações e estradas de seringa. Em fins da última década do século XIX, o Alto Juruá já estava povoado por brasileiros, quando peruanos “caucheiros” explorando o caucho (Castilloa ellastica) e outros produtos florestais, como peles de animais silvestres e madeiras-de-lei, ocuparam a região. Estes peruanos fundaram alguns estabelecimentos na foz do rio Moa, no rio Breu e em frente à foz do Amahuacas (Riozinho Cruzeiro do Vale). A ocupação dos caucheiros peruanos foi itinerante e de curta duração, encerrando-se no início do século XX, enquanto a dos nordestinos foi maciça e duradoura (Castello Branco, 1930: 640).</div><div><br /></div><div>Essas duas “frentes extrativistas”, a dos caucheiros peruanos e a dos seringalistas brasileiros, entraram em contato com os grupos indígenas da região de forma violenta, promovendo as “correrias” que levaram à dizimação, à escravização ou à aceitação das relações produtivas impostas, além da dispersão dos grupos indígenas (Castello Branco, 1961:178). Nessas correrias, os agentes da ocupação do Alto Juruá utilizavam muitas vezes índios considerados “pacificados” para escravizar ou dizimar aqueles grupos mais isolados.</div><div><br /></div><div>No caso dos Nawa, recordações sobre o massacre sofrido devido à expansão das frentes extrativistas no Alto Juruá permanecem na memória coletiva do grupo. Seu Nilton, com 66 anos, relata:</div><div><br /></div><div>Os antigos? Foram matados porque quando vieram levantar Cruzeiro do Sul ali, a maloca deles era por ali. Os antigos me contaram, era ali. A tribo deles morava por ali. Tinha o estirão dos Nawa, que eles moravam justamente no estirão dos Nawa, mais acima ali no Juruá. Eles moravam por ali também, habitavam por ali. Aí fizeram fogo neles e acabaram. Escapou essa semente. Como quando você joga assim, ficou aquela semente, daquela semente foi aumentado os Nawa de novo. Que são as nossas tribos agora (Nilton, 2003, Pé da Serra).</div><div><br /></div><div>A redução da população indígena no alto Juruá foi constatada na época da criação do Território do Acre, o qual somente veio a ser estabelecido nos primeiros anos do século XX, quando o governo federal brasileiro passou a atuar com maior constância na região do alto Juruá. Frente à revolução acreana, de 1902 a 1903, as negociações entre Brasil e Bolívia levaram ao estabelecimento do Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, definindo os limites das possessões brasileiras em relação ao governo boliviano.</div><div><br /></div><div>Em virtude desse Tratado, no ano seguinte, pela Lei nº 1.181, de 25 de fevereiro de 1904, o Congresso Nacional autorizou o Presidente da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves, a administrar provisoriamente o recém reconhecido Território Federal do Acre. Neste mesmo ano, o Território do Acre foi dividido pelo Decreto nº 5.188, de 07 de abril de 1904, em três departamentos administrativos, denominados Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá. O Departamento do Alto Juruá compreendia as terras banhadas pelo rio Tarauacá e seus afluentes, além das terras do alto Juruá e seus tributários do Moa ao Breu (Castello Branco, 1930: 666).</div><div><br /></div><div>A região ocupada pelos Nawa veio, então, a fazer parte do Departamento do Alto Juruá, cujo primeiro prefeito, de um total de 29, foi o coronel do Exército Gregório Thaumaturgo de Azevedo. Logo em seu primeiro ano como prefeito, em 1904, o coronel procurou regulamentar as atividades de extração da seringa. Pelo Decreto n° 15, de 15 de dezembro de 1904, criou a Lei do Trabalho e pelo Decreto n° 16, de 24 de dezembro de 1904, procurou regular o livre trânsito e o comércio dos “regatões” (Azevedo, 1905: 06-09). Esses decretos procuravam, em um período crescente da produção da borracha, estabelecer limites ao autoritarismo dos patrões.</div><div><br /></div><div>A preocupação do primeiro prefeito do Departamento do Alto Juruá para com os povos indígenas da região levou-o a adotar algumas medidas com o intuito de evitar os massacres. Com interesse de integrar os índios à sociedade nacional, o referido prefeito solicitou ao Arcebispo do Rio de Janeiro o envio de padres europeus para catequizar os índios, o que só veio a ocorrer anos depois.</div><div><br /></div><div>Ainda em conformidade com Castello Branco, a atuação do governo federal na região teve início com a fixação da sede provisória da prefeitura no local denominado Invencível, no dia 12 de setembro 1904, a qual pelo Decreto nº 28, de setembro de 1904, do então prefeito do Departamento do Alto Juruá, veio a ser definitivamente instalada em terras do ex-seringal Centro Brasileiro, com o nome de Cruzeiro do Sul. Em 31 de maio de 1906, Cruzeiro do Sul foi elevada à categoria de cidade (Castello Branco, 1930: 668).</div><div><br /></div><div>Para os agentes da frente de extração da borracha a fundação de Cruzeiro do Sul representava o início da consolidação da ocupação da região. Todavia, para os Nawa, a fundação dessa cidade deixou registrado na memória um período de grande violência contra eles.</div><div><br /></div><div>No dia 01 de junho de 1910, ocorreu a proclamação da autonomia do Acre, na cidade de Cruzeiro do Sul. Em 1912, foram criados os município do Território do Acre, pelo Decreto nº 9.831, de 23 de outubro de 1912, sendo denominado Município de Cruzeiro do Sul a área correspondente ao Departamento do Alto Juruá (Castello Branco, 1930: 684).</div><div><br /></div><div>Nos primeiros anos do século XX os Nawa retiraram-se do local denominado “Estirão dos Naua”, migrando para diversas outras localidades. Essa migração foi decorrente de uma doença (“catarrão”) que causou a dizimação de grande parte dos Nawa dali. Como mencionado anteriormente, o crescente povoamento do Alto Juruá gerou uma diminuição populacional em função das perseguições e das transmissões de doenças.</div><div><br /></div><div>Outro engenheiro, Máximo Linhares, em 1911, como ajudante do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN), percorreu o vale do Juruá. Para ele, os Poyanawa poderiam ser remanescentes dos Nawa e habitavam a faixa de terras comprehendida pelo Paraná dos Mouras e rio Môa, que com bastante fundamento se presume sejam elles um resto dos antigos índios Nauas, que há cerca de vinte annos foram da margem esquerda do Juruá, onde moravam, acosados pela varíola, que lá grassou com profunda intensidade, e pela ganância dos aventureiros que os guerreavam. Subiram o Valle do Paraná dos Mouras e hoje acham-se alojados na faixa de terra referida. São muito valentes e bravios (Máximo Linhares, 1912:04).</div><div><br /></div><div>O médico da Comissão de Limites do Brasil com o Peru, que percorreu o Juruá durante os anos de 1920 a 1927, afirmou que o vale do Embira desde o Riosinho até o divisor de águas entre aquele e o Purus é habitado pela numerosa família dos “Nahuas”, tendo ele se deparado com os Poianauas no alto rio Moa, localizados na fazenda “Barão do Rio Branco”, com 125 pessoas (Castelo Branco, 1950: 27). Posteriormente à década de 1920, Castello Branco afirma que em 1939 o coronel Lima Figueiredo, em uma publicação daquele mesmo ano, referia-se aos Poyanauas das terras firmes do Moa e a Nauas no Juruá, nos seus afluentes e sub-afluentes (Castello Branco, 1950: 27-28).</div><div><br /></div><div>É bastante recorrente na memória dos Nawa um “fogo”, um ataque, que foi realizado contra eles quando habitavam regiões próximas da atual cidade de Cruzeiro do Sul. Esse “fogo” foi empreendido por agentes da frente de extração da borracha, tendo se tornado um marco na história oral dos Nawa. Na fala de Maria do Carmo, é possível observar ainda que os avós dela escaparam do “fogo” e fugiram para a região do rio Moa, estabelecendo-se nas margens do Novo Recreio. Com base nos relatos historiográficos, pode-se inferir que esse confronto ocorreu em fins do século XIX ou início do seguinte, quando os primeiros seringais foram formados nas margens do alto Juruá, sob a administração dos “patrões”.</div><div><br /></div><div>Os poucos Nawa que sobreviveram ao “fogo” foram incorporados posteriormente ao sistema produtivo de extração da seringa. A região onde eles se encontravam em fins do século XIX e início do século XX, veio a ser totalmente parcelada em seringais. De acordo com Castello Branco, na década de 1920, as margens do rio Moa, onde atualmente localiza-se a Terra Indígena, estavam divididas nos seringais: Gibraltar, Monte Alegre, São João, República, Novo Recreio e Aquidabam (Castello Branco, 1930). Conforme o Nawa Eufrázio, que reside atualmente no Jesumira e trabalhou nos seringais do rio Moa, quando do fim da extração de borracha na região, existiam três outros seringais além dos mencionados por Castelo Branco: Sete de Setembro, Unidade e Rio Azul.</div><div><br /></div><div>Diversos Nawa trabalharam nesses seringais, sendo toda a produção de borracha destinada ao “patrão”, que a comprava dos índios e dos demais seringueiros com produtos alimentícios e gêneros de primeira necessidade, como sal, sabão, tecido, querosene, pólvora, chumbo e espoleta, entre outros. Entretanto, o valor das mercadorias era muito elevado e os patrões adulteravam as dívidas aproveitando do analfabetismo dos seringueiros e índios, fazendo desses constantes devedores. A produção da borracha era escoada para o “barracão”, onde estavam as mercadorias a serem trocadas e a residência do patrão. O seringal era divido em colocações delimitadas pelas “estradas de seringa”, compostas por um número de seringueiras da qual geralmente uma ou duas famílias se ocupavam com a extração do látex.</div><div><br /></div><div>Os seringais passaram por um período de intensa produção de borracha, que durou até 1912. Desde então, iniciou-se um longo período de crise no sistema produtivo devido à baixa do preço da borracha, que duraria até a Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1940, novo impulso foi dado à produção de borracha, em conseqüência da Segunda Guerra Mundial. O governo federal procurou monopolizar a extração do látex e chegou a direcionar uma nova leva migratória do Nordeste para a região Amazônica, criando nesse período o Banco de Crédito da Amazônia, com o objetivo de garantir financiamentos para o aumento da produção (Gonçalves, 1991: 29-30).</div><div><br /></div><div><b>O seringal Novo Recreio</b></div><div><br /></div><div>De acordo com Castelo Branco, o seringal Novo Recreio foi explorado inicialmente por um indivíduo apelidado de “papa”, sendo transferido depois para José Vieira de Alencar e, subseqüentemente, a Francisco de Mello, Cassiano de Tal, Hidalgo Roiz, Zeferino da Silva Ramos, Lima & Loureiro, Velhote Silva & Comp., José Vicente da Costa, Mamede Serejo e Manuel Florêncio de Lima. Na década de 1920, existiam nele 13 estradas de seringa, que produziam cerca de 1.500 kg de borracha (Castelo Branco, 1930: 625).</div><div><br /></div><div>Posteriormente ao período pesquisado por Castelo Branco, o seringal Novo Recreio veio a ser adquirido pela família Oliveira, sendo depois transmitido ao Nawa Nilton Costa de Oliveira. A parte do seringal localizada na margem direita do rio Moa foi herdada pelos Nawa porque o pai do Seu Nilton, de nome Francisco de Assis Costa (Chico Peba), filho da Nawa Mariana, casou com uma das integrantes da família Oliveira, Adélia de Oliveira. O casal teve apenas o Seu Nilton de filho, tendo a mãe dele falecido quando ele ainda era criança. Seu pai casou novamente, com a índia Nukini Maria Peba, tendo mais sete filhos, que atualmente residem na Terra Indígena Nukini.</div><div><br /></div><div>Seu Nilton teve pouco contato com o pai, que faleceu com cerca de quarenta anos. A irmã da mãe de Seu Nilton, conhecida como Dondon de Oliveira, foi quem o criou, sendo ela na época a dona de uma parcela do seringal Novo Recreio. Após a morte dos pais do seu Nilton, e de sua tia Dondon, ele recebeu de herança parte do seringal Novo Recreio, onde residem diversos Nawa. Com o declínio das atividades de extração da borracha, os Nawa passaram a se dedicar mais à caça, pesca, extrativismo, agricultura e criação de animais domésticos.</div><div><br /></div><div>O Seu Nilton, que acabou herdando o seringal da Dondon, e os outros Nawa residentes na Terra Indígena reivindicada, descendem da “última índia Nawa”, denominada Mariana, conforme consta na historiografia do Alto Juruá e na memória oral do grupo. O pai do seu Nilton, Chico Peba, é considerado um índio Nawa por ser filho de Mariana com o não-índio José Costa (Peba). Após a morte de Mariana, seus descendentes migraram para diversos seringais localizados na região do rio Moa.</div><div><br /></div><div>Apesar de ter ocorrido uma relativa dispersão dos Nawa após a morte de Mariana, os seus atuais descendentes mantiveram na memória algumas informações sobre o passado, em especial aquelas relacionadas com o parentesco. Como pode ser notado na fala do Seu Nilton:</div><div><br /></div><div>Essa minha tia contou essa história dos Nawa para mim. Disse, meu filho, você é Nawa porque eu conheci sua avó. Ela era pintada, foi pega na mata. Ela era pintada. Justamente, porque esses índios antigos tudo era pintado (...) Um pente assim no rosto. Os Nukini também tinham uns ali, mas os Nukini já era diferente, a pinta (...) Ela foi e me disse que a pintura dela era assim, como um pente fino (...) E ela era mãe do meu pai (Nilton, 2003, Pé da Serra).</div><div><br /></div><div>Em conformidade com a memória oral dos Nawa, Mariana foi “pega a dente de cachorro” na maloca quando ainda era criança. Ou seja, ela foi retirada por não-índios de seus parentes Nawa, que viviam nas malocas, e levada para outra localidade. Os Nawa afirmam que ela residiu em Cruzeiro do Sul, deslocando-se posteriormente para o seringal Novo Recreio. Consta, ainda, na memória do grupo, que durante o tempo da seringa os filhos e netos da Mariana, que nasceram no Novo Recreio, foram migrando por não terem onde morar e trabalhar. Alguns foram para o Bom Jardim, local próximo da Terra Indígena Poyanawa, e outros para o bairro Iracema, na cidade de Mâncio Lima.</div><div><br /></div><div>Na Terra Indígena reivindicada pelos Nawa, permaneceram apenas dois netos de Mariana: Nilton Costa de Oliveira (Seu Nilton, 67 anos) e Francisca Nazaré da Costa (Chica do Celso, 67 anos). Esta neta de Mariana é filha da índia Nawa Maria Nazaré da Costa com o não-índio Francisco Marques da Silva, que tiveram ao todo seis filhos. Desses, apenas Chica do Celso, Zé Grosso e Dal estão vivos, residindo os dois últimos na Terra Indígena Nukini.</div><div><br /></div><div>Desde que nasceram, há quase 70 anos, seu Nilton e Chica do Celso, juntamente com seus descendentes, residem na margem direita do rio Moa, em áreas de antigos seringais, e não apenas no seringal Novo Recreio, herdado por seu Nilton. Após terem herdado o seringal, as migrações dos Nawa limitaram-se à região do Moa.</div><div><br /></div><div>Enquanto Seu Nilton podia permanecer migrando por áreas do seringal por ele herdado, outros Nawa acabaram vinculando-se aos demais seringais da região. Com o crescimento demográfico do grupo, a parte do seringal Novo Recreio herdada pelos Nawa foi tornando-se cada vez mais insuficiente para garantir o modo de vida dos descendentes da índia Mariana. Durante o tempo em que viveram nos seringais, os Nawa deixaram de ser mencionados nas fontes historiográficas. Contudo, se mantiveram unidos no período em que estiveram vinculados aos seringais, propiciando-lhes, posteriormente, a reivindicação do seu território.</div><div><br /></div><div><b>O processo de reconhecimento oficial</b></div><div><br /></div><div>Com uma maior atuação da Funai na região do Juruá, durante as décadas de 1970 e 1980 surgem os primeiros registros sobre a presença de índios no Igarapé Novo Recreio. No ano de 1977, após uma lacuna na historiografia, foram feitas menções a uma população indígena habitando a região do rio Moa. Naquele ano, a antropóloga Delvair Montagner Mellati, a serviço da Funai, elaborou um relatório após ter se deslocado até a região para proceder a um levantamento dos povos indígenas no Alto Juruá. No relatório ela informa a existência de uma população indígena localizada no igarapé Novo Recreio, afluente do rio Moa. Em 1984, outro antropólogo a serviço da Funai, José Carlos Levinho, também mencionou em seu relatório a presença de uma população indígena na região do rio Moa (Processo/Funai/BSB n° 2058/2000 fl. 01).</div><div><br /></div><div>Entretanto, esses antropólogos não fizeram referência a uma etnia Nawa residindo naquela localidade. No relatório de 1977 aquela população era considerada como composta por “Nukini”, “Nukini casado com branco”, “mestiço de Poyanawa” e “mestiço de Poyanawa com Nukini”. No relatório de 1984, foram considerados como “Nukini”, “Nukini casado com branco” e “Poyanawa casado com Nukini” (Montagner, 2002: 75-76). Nas décadas de 1970 e 1980, os Nawa ainda permaneciam no anonimato, não havia grande interesse deles pelo reconhecimento de sua identidade indígena. Possivelmente, não se interessaram por serem reconhecidos como indígenas devido à grande discriminação sobre esses povos e à ausência de conflitos em torno da terra que ocupavam.</div><div><br /></div><div>Apenas quando foram ameaçados de perderem suas terras, de serem transferidos para um assentamento do Incra, em função da criação do Parque Nacional da Serra do Divisor, em 1989, é que surge uma conjuntura política favorável para despertar seu sentimento de indianidade. Como mencionado pela liderança Nawa:</div><div><br /></div><div>Nós vivíamos assim numa região tranqüila, trabalhando, tinha nossa sobrevivência. E aí foi quando começou a aparecer as visitas, as autoridades passando. E começaram a mexer com a gente. Falaram olha, isso aqui não é mais o que vocês pensam que era. Isso aqui é outra atividade diferente. Isso aqui é o Parque Nacional da Serra do Divisor. Aí a gente já foi ficando mais... Assim, eu pensando, agora a gente já vai começar a andar com as próprias pernas da gente, porque já que nós não estamos mais sendo dirigido pela nossa própria pessoa a gente vai procurar um rumo. Aí a gente conversa, nossos parentes Nukini aqui também sempre faz parte de reuniões em Mâncio Lima, Cruzeiro do Sul, e conversa vai eles soltaram que aqui dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor tinha um povo diferenciado do deles. Então, a dona Rose veio aqui, mais o seu Lindomar, veio só mesmo nos ver, ver o que nós éramos. Ela veio diretamente na casa da dona Francisca do Celso, porque nem lá em casa ela passou. Chegou: - dona Francisca nós temos notícias que vocês são povos indígenas, que nós somos missionários do Cimi que trabalham com povos indígenas, então é obrigação nossa saber se vocês são índios ou não. Falou: - nós somos índios e nós somos índios Nawa. Aí ela ficou toda surpresa disso. Ela andou no cemitério, bateu foto da dona Francisca e voltou novamente. Nesse intervalo ela já passou e a gente já mandou uma carta diretamente pedindo o apoio do Cimi, para que ele mandasse essa carta até a Funai, ou entregasse para o próprio Ibama mesmo para ter o reconhecimento (Railson, 2003, Novo Recreio).</div><div><br /></div><div>Em 1999, depois de uma viagem de representantes do Cimi ao rio Moa, a Funai foi informada da existência de um povo autodenominado Nawa morando na região dos igarapés Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Jarina, Venâncio e Jesumira, e também na margem direita do rio Moa. De acordo com o documento intitulado “Naua: mais um povo indígena no Acre”, datado de 2000, e de autoria dos então administrador da Funai-AC, coordenador da UNI-AC e coordenador regional do Cimi, a última informação sobre os Nawa teria aparecido no álbum de 1994, intitulado “A Cidade de Cruzeiro do Sul – Revisitando o Juruá”, editado e publicado pela Prefeitura Municipal de Cruzeiro do Sul. Como consta no documento de 2000:</div><div><br /></div><div>a última sobrevivente do povo Naua seria uma senhora de nome Francisca Borges de Paiva. Segundo o mesmo álbum, onde aparece inclusive uma foto da Dona Francisca, o casal deixou alguns filhos, netos e bisnetos. O casamento teria ocorrido em 1906, logo após a inauguração da cidade de Cruzeiro do Sul (Processo/Funai/BSB n° 2058/2000 fl. 08 - ênfase minha).</div><div><br /></div><div>Contudo, os Nawa que habitam o rio Moa não descendem de Francisca Borges de Paiva, e sim de Mariana. O historiador Castelo Branco já havia mencionado a índia Mariana como sendo a “última sobrevivente” Nawa, mas não fez nenhuma referência a Francisca Borges de Paiva. No “álbum”, de 1994, aparecem duas fotos, uma da Nawa Francisca Borges de Paiva e outra da Nawa Mariana (Mariruni). O texto abaixo da foto de Mariana afirma ser ela “a última sobrevivente” e aquele abaixo da foto de Francisca Borges de Paiva diz ser ela a “última descendente dos Náuas”. Assim sendo, constata-se que duas índias Nawa foram consideradas como a “última índia Nawa”.</div><div><br /></div><div>Durante os estudos do grupo técnico de identificação e delimitação da Terra Indígena Nawa os descendentes de Mariana e de Francisca Borges de Paiva foram entrevistados. Constatou-se que os descendentes de Mariana residem principalmente na Terra Indígena reivindicada, enquanto os de Francisca Borges de Paiva residem em sua maioria na cidade de Cruzeiro do Sul. Estes últimos não reivindicam um reconhecimento étnico ou território, mas carregam na memória muitas informações sobre Francisca Borges de Paiva e os Nawa. Como não havia nenhum tipo de reivindicação por parte dos descentes de Francisca Borges de Paiva, os estudos antropológicos foram direcionados para os descendentes de Mariana.</div><div><br /></div><div>Como se trata de duas índias Nawa, capturadas “a dente de cachorro” quando eram crianças e viviam nas malocas, pode-se supor que elas poderiam ter algum parentesco. Entretanto, os descendentes de ambas as índias não vislumbram nenhum grau de parentesco entre eles.</div><div><br /></div><div><b>Outras leituras</b></div><div><br /></div><div>Em 15 de dezembro de 2003, um acordo foi firmado entre a comunidade Nawa, o Ibama, a Funai e o Ministério Público Federal, entre outras instituições, em que se reconhece a identidade étnica dos Nawa e a necessidade de um Plano de Manejo para a área sobreposta. Leia o documento.</div><div><br /></div><div><b> Modo de vida</b></div><div><br /></div><div>Depois de muitos anos de contato entre os Nawa e a sociedade envolvente, o antigo padrão de residência do grupo foi alterado. Quando dos primeiros encontros dos Nawa com os exploradores do Juruá eles residiam em grandes malocas, as quais comportavam famílias extensas. Como mencionado pela Nawa Chica do Celso:</div><div><br /></div><div>eles faziam aquelas malocas assim, quando acabava era bem cercadinha. Tinha a portinha. Ali, se era muito índio tinha a maloca assim, separada. E se era pouco era só uma grande (Chica do Celso, 2003, Moa).</div><div><br /></div><div>Muitas malocas dos antigos Nawa encontram-se nas cabeceiras dos igarapés Boca Tapada, Novo Recreio e Jesumira. Nessas malocas é possível encontrar cacos de cerâmica, capoeiras e antigos plantios. Referências à existência de malocas antigas é constante entre os Nawa, entretanto, devido ao contato eles modificaram seu padrão de residência. Deixaram de residir em grandes malocas, ocupadas por uma família extensa, e passaram a residir em pequenas casas ocupadas por uma família nuclear. Ao serem incorporados à empresa seringalista como mão-de-obra para a extração do látex, passaram a trabalhar e residir nas colocações. Os serviços para a produção de borracha eram realizados em geral por uma família responsável pelas estradas de seringa da colocação. Portanto, não foi a família extensa que passou a prestar serviço para os patrões, e sim as famílias nucleares.</div><div><br /></div><div>Atualmente não existem grandes malocas, mas várias casas dispersas ao longo dos cursos fluviais, muitas delas situadas em antigas colocações de “beira”, e não mais em áreas de “centro”. Durante o auge da produção da borracha, quando os Nawa estavam submetidos às atividades dos seringais, as residências não necessariamente ficavam próximas aos cursos fluviais, podendo estar localizadas nas áreas de “centro”. Atualmente, por estar sendo pouco praticada a extração do látex pelos Nawa, as áreas de centro foram desabitadas, passando a haver uma concentração populacional nas áreas de “beira”. O padrão de residência, portanto, aproxima-se daquele existente nos antigos seringais, com poucas famílias residindo em uma colocação. Com esse padrão de residência, os Nawa fixaram-se na margem direita do rio Moa e nos afluentes dessa margem: Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Venâncio, Jarina e Jesumira.</div><div><br /></div><div>Com o processo de reivindicação da Terra Indígena, os Nawa começaram a organizar as residências por aldeias. Isto significa dizer que a permanência das aldeias nas atuais localizações é muito recente, data de fins da década de 1990. Por outro lado, as residências que atualmente compõem as aldeias encontram-se distribuídas ao longo da margem direita do rio Moa e dos igarapés Jordão, Pijuca, Novo Recreio, Venâncio, Jarina e Jesumira há várias décadas, desde o período da produção de borracha nos seringais. Uma data precisa da permanência dessas residências nas atuais localizações não é possível de ser vislumbrada, mas foram instaladas nessas localidades ainda na primeira metade do século XX.</div><div><br /></div><div>Frente à incipiente organização das aldeias, torna-se mais viável falar sobre a habitação permanente dos Nawa com base nas residências. Estas estão localizadas e são construídas relativamente distantes umas das outras, nas margens dos cursos fluviais, visto terem os Nawa nesse local uma maior facilidade para o transporte de gêneros de primeira necessidade, e mesmo por ser mais fácil a locomoção até às cidades.</div><div><br /></div><div>Com recursos da floresta os Nawa também constroem suas residências. Aquele que pretende construir uma casa pode contar com a colaboração dos parentes para buscar a madeira e a palha na mata, em regime de mutirão. Algumas casas são construídas com parede e piso de Paxiubão e telhado coberto com folhas de palmeiras, especialmente de Caranaí, mas também de Chila, Jarina e Uricuri. Existem também casas com telhados de alumínio, os quais são utilizados principalmente nas escolas e nos postos de saúde. Outras habitações são construídas com paredes e piso de tábua serrada, em geral com madeiras de boa qualidade, como amarelinho, bacuri, copaíba, cedro-vermelho, louro, bacuri e angelim. Já os esteios e vigamentos são construídos com maçaranduba, muirapiranga, louro-abacate e pau d’arco.</div><div><br /></div><div>Ao longo da permanência dos Nawa na região do rio Moa, diversas residências foram construídas. Em fins de 2003, a Terra Indígena reivindicada contava com 52 casas, mais facilmente identificadas geograficamente se for considerado como referencial as colocações e igarapés.</div><div><br /></div><div>Como as residências, e caminhos entre elas, encontram-se no baixo e médio curso dos igarapés, as regiões das cabeceiras são menos utilizadas pelos Nawa. Entretanto, no alto curso dos igarapés os Nawa afirmam ser uma região de trânsito de índios isolados.</div><div><br /></div><div><b> Atividades produtivas</b></div><div><br /></div><div>Em período anterior à ocupação da região do alto Juruá pela empresa seringalista, a exemplo de outras sociedades indígenas da língua Pano, os ancestrais dos atuais Nawa praticavam a caça, a pesca, o extrativismo e a agricultura.</div><div><br /></div><div><b>Caça</b></div><div><br /></div><div>Desde a idade em que uma criança consegue suportar o disparo da espingarda, ela é introduzida no vasto universo de informações que envolvem a atividade de caça. Conhecer o relevo, a hidrografia, a vegetação e os hábitos dos animais (locais onde comem, bebem água, dormem, reproduzem etc.) é fundamental para o sucesso do caçador. É importante, também, identificar muitas informações sobre a caça por meio dos rastros, como as últimas ações realizadas pela caça, seu tamanho, a espécie e a distância em que se encontra do caçador.</div><div><br /></div><div>Sendo o período de inverno o mais propício para a atividade de caça, durante vários dias da semana um dos homens da família sai para caçar. As áreas de caça situam-se no interior da mata, à qual têm acesso pelos caminhos de caça que saem dos fundos das residências e levam a várias horas de caminhada em direção ao interior da mata. A dimensão das áreas de caça é bastante ampla, ocupando toda a região da margem direita do rio Moa e as microbacias dos igarapés Jordão, da Velha, Pijuca, Novo Recreio, Venâncio, Jarina, Jesumira, do Velho, Paxiubal e Buraco-Fundo.</div><div><br /></div><div>Os acampamentos de caça são realizados com certa freqüência, podendo ser estabelecidos, também, nas regiões das cabeceiras dos igarapés Novo Recreio e Jesumira. Nos acampamentos os Nawa permanecem cerca de dois ou três dias caçando. Em geral, deslocam-se para essas áreas quando necessitam abater uma quantidade de caça capaz de prover as famílias por vários dias.</div><div><br /></div><div>Quando saem para caçar no período de inverno, nas proximidades das residências, gastam poucas horas para adquirirem carne com fartura. A abundância de caça no inverno está associada a uma floresta bastante preservada na Terra Indígena, a qual oferece nesse período muitas opções de alimentos para os animais. No verão, as atividades de caça são mais difíceis por não terem tantas opções de alimentos para os animais e por não ficarem seus rastros muito visíveis, como ocorre na estação chuvosa com o solo bastante molhado.</div><div><br /></div><div>Durante o inverno e o verão costumam praticar também a caça com armadilhas. Uma outra técnica de caça utilizada pelos Nawa durante o inverno e o verão, mas com bem menos freqüência que as demais, é a caça com cachorro. Entretanto, como os cachorros afugentam as caças para áreas mais distantes, os Nawa estão abandonando e proibindo a caça com esses animais domésticos dentro dos limites da Terra Indígena reivindicada.</div><div><br /></div><div><b>Pesca</b></div><div><br /></div><div>A pesca, enquanto atividade econômica, encontra-se completamente voltada para o consumo doméstico, não havendo comércio de peixe entre os Nawa. Em geral, a atividade de pesca é praticada durante todo o ano, mas ao longo do verão amazônico torna-se mais fácil obter peixes devido à piracema e às águas ficarem mais límpidas. Este período do ano coincide com uma maior redução das atividades de caça. No período das chuvas, inverno, os rios e igarapés ficam barrentos e profundos, dificultando a atividade de pesca. Independente da época do ano, os peixes mais consumidos são: aruanã, bagre, bode-amarela, bode-sapateiro, bodó, braço-de-moça, branquinha, cachimbo, cachorra, cará, cará-açú, caruaçú, casa-velha, casca-grossa (cascudo), curimatã, jacaré, jaú, mandim, mapará, matrinchã, mocinha, pacu, piau, piramutaba, piranha, piranha-roxa-pequena, pirarara, pirarucu, sardinha, surubim, tambaqui, traíra e tucunaré.</div><div><br /></div><div>As pescarias podem ser realizadas individual ou coletivamente, contando com a participação dos homens, mulheres e crianças. No período do inverno, quando os homens dedicam-se às atividades de caça, as mulheres e crianças costumam pescar com anzol na margem dos igarapés e rios.</div><div><br /></div><div><b>Criação</b></div><div><br /></div><div>Os Nawa costumam domesticar diversos animais silvestres desde filhotes. Esses animais podem se tornar de estimação, havendo entre eles diversas espécies de mamíferos e aves, como por exemplo: arara, papagaio, periquito, maracanã macaco soim, macaco-prego, macaco zogue-zogue, mutum, jacamin, jacu, paca, cotia, anta, porquinho, queixada e veado.</div><div><br /></div><div>Outros animais domésticos não se tornam de estimação, sendo mantidos basicamente para o consumo ou comércio. Entre estes estão galinha, pato, porco, ovelha, cabra e o gado. Todos esses animais são criados soltos, permanecendo próximos às residências em determinados horários e na floresta e nos pastos em outros. Os suínos são em maior quantidade, seguidos dos galináceos e anatídeos. Existe uma pequena quantidade de bovinos e ovinos.</div><div><br /></div><div>O gado criado pelos Nawa é pouco utilizado na alimentação. Somente em ocasiões festivas uma cabeça de gado pode vir a ser consumida pelos Nawa. Apesar da criação desses animais ter aumentado nos últimos anos, ela ainda é muito incipiente. Em média, um indivíduo Nawa possui duas ou três cabeças de gado, mas em alguns pastos é possível contabilizar cerca de trinta animais, que são propriedade de uma família. Mesmo sendo o gado tido como a maior reserva de dinheiro, o animal mais comercializado é o porco, que é vendido principalmente em Mâncio Lima. Os galináceos e caprinos quase não são comercializados, estando mais voltados para o consumo familiar. Em ocasiões festivas, um animal de criação pode ser servido para os amigos e parentes no lugar da carne de caça.</div><div><br /></div><div>Mesmo sendo, hoje, importante a criação destes animais para os Nawa, é preciso destacar alguns transtornos que eles geram. O gado tem contribuído com a formação de pequenos pastos em áreas de capoeira ou na margem dos igarapés. Potencialmente, com o aumento do criatório eles podem gerar um maior desmatamento da floresta. Quanto aos porcos, os maiores danos causados são à saúde dos Nawa, devido ao fato de permanecerem próximos das residências e consumirem água nos igarapés. Dependendo da residência, o gado e os porcos passam a noite em volta ou em baixo das casas, gerando um acúmulo de excrementos que podem gerar danos à saúde.</div><div><br /></div><div><b>Extrativismo</b></div><div><br /></div><div>As atividades de extrativismo são desenvolvidas entre os Nawa sem nenhuma finalidade comercial, sendo uma fonte importante para adquirem complementos alimentares, materiais para a construção das residências, produtos medicinais, temperos para os alimentos, óleos vegetais etc. Portanto, há uma grande importância dessa atividade na vida dos Nawa.</div><div><br /></div><div>Muito do conhecimento tradicional do grupo para a extração de produtos da floresta permanecem sendo transmitido de geração em geração, tendo o contato com os ocupantes da região do alto Juruá introduzido outras atividades extrativas, entre elas a retirada do látex da seringueira (hevea brasilienses). Tendo herdado o seringal Novo Recreio foi possível a diversos Nawa desvincularem-se do jugo dos patrões e passarem a produzir e comercializar a borracha de uma forma independente. Entretanto, após a década de 1980, a crise no preço da borracha levou os Nawa a abandonarem a extração da seringa por não ser seu comércio rentável. Atualmente, as principais atividades extrativas estão voltadas para o uso e consumo familiar, não mais para a produção da borracha. Dentre os vegetais extraídos da floresta encontram-se frutos comestíveis, madeiras, palhas e plantas medicinais.</div><div><br /></div><div>Alguns recursos naturais são usados para os adornos corporais e artesanato em geral. As sementes do urucum costumam ser machucadas junto com água até virar uma massa, sendo a tinta resultante utilizada para a pintura corporal e como corante de alimentos. O jenipapo é cortado ao meio e colocado na água aquecida, até adquirir a coloração azul. O cipó-titica é usado para confeccionar cestaria e diversos adornos, os quais são pintados com urucum e jenipapo. A cinza da casca do caripé é utilizada na fabricação de cerâmicas para dar liga ao barro, com o qual fazem diversos objetos.</div><div><br /></div><div>Dos produtos retirados da floresta, podem ser destacados aqueles utilizados no consumo alimentar: abiu, bacaba, caju-do-mato, embaúba, ingá, jarina, kutinake, muratinga, pãmã, pãma (pequena), pé-de-jabuti, piquiá, pupunha, ramuchucú, uchí, açaí, apuruí, bacuri, buriti, buritirana, patoá (grande), cumarú, jatobá e maçaranduba. Entre aqueles que são usados para diversas outras finalidades, construção de casas, canoas, remos, pilões, conserto de barcos, etc., encontram-se: jatobá, maçaranduba, paxiúba, cumaru, itaúba, itaúba-abacate, guariúba, andiroba, angelim, cajuí, cedrinho, cedroarana, cupiúba, jacareúba, lacre, louro-preto, marupa, ucuúba e violeta.</div><div><br /></div><div>Esses produtos florestais são extraídos e usados de formas variadas, possuindo épocas do ano específicas para serem retirados. Eles estão localizados em praticamente toda a extensão da Terra Indígena.</div><div><br /></div><div>As atividades extrativas podem ser exercidas por homens, mulheres e crianças, sendo que alguns produtos, como o açaí, são coletados pelos homens e preparados conjuntamente entre eles e as mulheres. A extração de produtos florestais pode ser realizada coletiva ou individualmente, estando geralmente direcionada para o consumo em uma família nuclear.</div><div><br /></div><div><b>Agricultura</b></div><div><br /></div><div>Os Nawa praticam a agricultura de coivara e cultivam uma grande diversidade de produtos, entre eles: abacate, abacaxi, acerola, arroz, banana, batata-doce, caju, cajuí, cana-de-açucar, cará, coco da bahia, cupuaçu, feijão, goiaba, graviola, ingá, inhame, jaca, laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, melancia, milho, pimenta, pupunha e tabaco.</div><div><br /></div><div>Os produtos agrícolas são retirados do terreiro, da “roça” ou do “roçado”. O primeiro refere-se à área ao redor das residências, o segundo, é basicamente uma plantação de mandioca e, o último, é uma plantação dos demais produtos agrícolas. Os roçados podem conter plantações de roça em seu centro, ou estas podem ser plantadas separadamente. A abertura de um roçado ou de uma roça é uma atividade que demanda diversas técnicas.</div><div><br /></div><div>Primeiramente é escolhido um local apropriado para, em seguida, “brocar” a área. A atividade de brocar requer o corte das árvores mais finas, dos cipós e da vegetação mais baixa. A próxima etapa para “colocar” um roçado é a derrubada das árvores de porte maior e a queima do que foi brocado e derrubado. Assim, é importante ter brocado e derrubado as árvores antes do período da seca, quando em seu auge será a vegetação queimada. É feito um aceiro para evitar que o fogo se alastre, apesar da possibilidade do fogo adentrar a mata ser pequena, devido a ela estar sempre bastante úmida. O restante da vegetação que não virou cinza é reunido e queimado novamente.</div><div><br /></div><div>Dessa maneira, o terreno fica limpo de troncos que dificultam a plantação e aumenta-se a quantidade de cinza que adubará o solo. Mas nem sempre todos os troncos são completamente queimados, passando esses a serem uma fonte de extração de lenha. Após a coivara, inicia-se a fase do plantio, coincidindo com o começo das chuvas. Quando os cultivos novos começam a brotar é preciso realizar outra atividade, a limpeza do mato.</div><div><br /></div><div>Os Nawa, praticando uma agricultura de coivara, procuram realizar também o descanso da terra, um plantio rotativo. Após um roçado ser utilizado por alguns anos, sua terra perde grande parte dos nutrientes e a produção começa a diminuir. Nesse momento o roçado é deixado sem cultivos para se regenerar, voltando a nascer uma vegetação conhecida pela denominação de “capoeira”. Depois da vegetação de capoeira adquirir um desenvolvimento considerável a área pode ser utilizada com roçados novamente. Colocar um roçado em área de capoeira é uma atividade que exige menos esforço que colocá-lo em uma área de “mata bruta”, isto devido ao porte da vegetação nessa última área ser consideravelmente maior.</div><div><br /></div><div>Dos produtos do roçado o principal é a mandioca (ou macaxeira), a qual constitui-se juntamente com a carne da caça ou da pesca a base da alimentação dos Nawa. A mandioca pode ser comida cozida, frita ou na forma de farinha. Da mandioca os Nawa fazem a caiçuma, podendo esta ser feita também do milho. A caiçuma é uma bebida que pode ser consumida fermentada, com um baixo teor alcoólico, ou não fermentada, sem teor alcoólico.</div><div><br /></div><div>Dos vários alimentos produzidos com a mandioca o de maior produção entre os Nawa é a farinha, a qual está voltada para o consumo familiar e para o comércio na cidade de Mâncio Lima. Após o declínio da borracha, a partir da década de 1980, a farinha passou a ser um dos principais produtos comercializados pelos Nawa, juntamente com o arroz, o feijão e o milho. Contudo, a produção dos Nawa para comercialização, ou mesmo para o consumo, não é muito grande. Seus roçados possuem entre um e três hectares.</div><div><br /></div><div>Uma família Nawa pode ter mais de um roçado, alguns próximos às residências, localizados no fundo dessas, e outros mais no interior da mata. Algumas áreas de roçado possuem em seu interior a casa de farinha, onde a mandioca é processada.</div><div><br /></div><div>Entre os produtos do terreiro (frutas, plantas medicinais, temperos e outros) encontram-se plantas medicinais: andiroba, capim santo, copaíba, erva cidreira, marcela e mastruz. Essas plantas podem ser usadas para o tratamento de feridas, tosse, dor de barriga, hemorróida, cólicas, febre e dor no estômago. Os cultivos do terreiro são realizados individualmente e estão sob os cuidados femininos, quem prepara a terra, planta, limpa e colhe.</div><div><br /></div><div><b>Artesanato</b></div><div><br /></div><div>Antes do impacto sofrido pelos Nawa com a ocupação do alto Juruá pela frente de extração da seringa, a exemplo de outros povos da família lingüística Pano, eram muitos os artefatos produzidos pelo grupo, incluindo utensílios domésticos, armas de caça e pesca, adornos etc. Produziam cocares e brincos com as penas de diversas aves, colares de sementes e roupas de algodão (“tangas” para os homens e “saias” para as mulheres). Essas vestimentas eram tingidas com tintas extraídas de árvores da floresta, cujos nomes são atualmente desconhecidos.</div><div><br /></div><div>Após o contato com a sociedade envolvente essa atividade foi reduzida consideravelmente. Todavia, a produção de artefatos, mesmo em pequena escala, ocorre atualmente. São produzidos, principalmente, instrumentos domésticos, como raladores, vassouras, cestos e potes de barro. Os raladores são feitos de madeira com uma chapa retirada de latas e furada com pregos. As vassouras são feitas com diversas palhas encontradas na região. Os potes são produzidos com o barro retirado das margens dos igarapés e, os cestos, são feitos com cipó-titica. Esses objetos, no entanto, não são destinados para o comércio, ao contrário de outros.</div><div><br /></div><div>Os objetos comercializados, em pequena quantidade, são em geral objetos de adorno, como colares e pulseiras. Estes artesanatos são confeccionados com sementes ou com taboca. Esta última é utilizada para fazer o bico das flechas e um instrumento de sopro, denominado “buzina”. As sementes podem ser encontradas em diversos lugares da floresta, mas a taboca existe apenas na região das cabeceiras do igarapé Novo Recreio. A produção de arcos e flechas, estas últimas com a ponta de taboca, é uma atividade masculina. Entretanto, a maior parte do artesanato é produzida pelas mulheres.</div><div><br /></div><div><b> Relações interétnicas</b></div><div><br /></div><div>As relações dos Nawa com outros povos indígenas são principalmente de ordem política, com exceção dos Nukini, com os quais possuem um vínculo mais intenso. No Município de Mâncio Lima os Nawa realizam atividades comerciais, freqüentam os hospitais, estudam, retiram suas aposentadorias e salários e visitam seus parentes. Apenas deslocam-se para as cidades de Cruzeiro do Sul e Rio Branco quando necessitam de um tratamento mais especializado de suas enfermidades. Assim, o maior contato dos Nawa com a sociedade envolvente ocorre na cidade de Mâncio Lima.</div><div><br /></div><div>Nesta cidade, com freqüência, os Nawa levam o excedente de sua produção agrícola, como arroz, feijão, milho e farinha para comercializarem. Com o dinheiro obtido na venda desses produtos eles compram diversos outros, industrializados: sal, açúcar, café, óleo de cozinha, roupa, calçado, pólvora, chumbo, anzol, tarrafa, óleo para motor, gasolina, machado, terçado, foice, motor para barco, material escolar, remédios etc. Esses produtos são essenciais para o modo de vida dos Nawa. Contudo, esses bens são adquiridos aos poucos, conforme a necessidade, devido à baixa renda que possuem. Sua fonte de renda provém apenas dos produtos comercializados, da aposentadoria rural e dos salários dos professores e dos agentes de saúde. Como o recurso obtido com aposentadorias e salários é bastante exíguo, e utilizado por vários integrantes de uma família, a maior fonte de renda vem do comércio.</div><div><br /></div><div>O comércio dos Nawa com a sociedade envolvente ocorre também com os “regatões”, que são comerciantes que sobem o rio comprando principalmente animais domésticos e vendendo produtos industrializados. Os suínos, galináceos, bovinos e outros são freqüentemente vendidos para esses comerciantes. Como não levam esses animais para venderem na cidade, muitas vezes o comércio é desenvolvido entre os próprios Nawa ou com os Nukini.</div><div><br /></div><div>Ainda na cidade de Mâncio Lima, os Nawa buscam atendimento médico e compram remédios para doenças que não são curadas com as plantas medicinais. Parte do atendimento é realizado pelo pólo base de saúde indígena, que possui uma sede na cidade. Entretanto, eles apenas deslocam-se da Terra Indígena se a enfermidade não puder ser tratada pelo pajé ou pelos agentes de saúde.</div><div><br /></div><div>Entre eles há um pajé e dois agentes de saúde, um contratado pelo Município e, o outro, pelo antigo convênio UNI/Funasa. Existe, ainda, um posto de saúde que foi construído por meio de uma parceria entre a UNI, Funasa e prefeitura municipal. O posto foi mobiliado, mas sempre carece de remédios e materiais cirúrgicos. Além do mais, não foram fornecidos a eles barcos e motores para transportarem os pacientes em estado mais grave até a cidade.</div><div><br /></div><div>Os Nawa também freqüentam a cidade de Mâncio Lima para visitarem seus parentes. Vários Nawa não residem na Terra Indígena e, sim, na cidade. A casa dos parentes é fundamental para os Nawa da Terra Indígena por ser um local seguro para se hospedarem. Quando vão desenvolver suas atividades comerciais, realizar tratamento de saúde, retirar seus salários e aposentadorias, ou para qualquer outra necessidade, hospedam-se na casa dos parentes. Assim, os laços sociais e afetivos entre os que moram na cidade e aqueles da Terra Indígena são constantemente reforçados.</div><div><br /></div><div>Os parentes da cidade, em alguns casos, fornecem moradia para aqueles Nawa que resolvem cursar o ensino fundamental e médio. Na Terra Indígena, a educação escolar propicia a formação do estudante apenas até uma parte do ensino fundamental. Atualmente existem cinco escolas na Terra Indígena, três no Novo Recreio, uma no Pijuca, uma no Jesumira e uma no Sete de Setembro. Todas essas escolas oferecem uma formação educacional de ensino fundamental, mas somente até a 4ª série. Se os alunos quiserem continuar estudando, precisam residir na cidade ou freqüentar as escolas existentes na Terra Indígena Nukini.</div><div><br /></div><div>As relações dos Nawa com os Nukini não se resumem à educação escolar. Devido à grande proximidade das aldeias Nukini, separadas apenas pelo rio Moa, os Nawa mantêm intenso contato com eles. Algumas das atividades comerciais dos Nawa são realizadas com os Nukini. Quando precisam de algum produto industrializado e não pretendem fazer a longa viagem até a cidade, os Nawa procuram os Nukini para tentarem suprir suas necessidades.</div><div><br /></div><div>Com outros povos indígenas as relações dos Nawa são menos intensas. Muitos nem conhecem outros povos além dos Nukini. Mesmo estando a Terra Indígena Poyanawa no Município de Mâncio Lima, pouco é o contato dos Nawa com esse povo. Os Nawa que mais mantêm contato com outros povos indígenas são as lideranças, que viajam até as cidades de Cruzeiro do Sul e Rio Branco para participarem de encontros com os representantes de outros povos do Estado do Acre, principalmente do Alto Juruá.</div><div><br /></div><div>Além de um maior contato com as lideranças de outros povos indígenas, os Nawa passaram também a se relacionar com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário, órgão da Igreja Católica) e a Funai (Fundação Nacional do Índio, órgão indigenista oficial do Estado brasileiro). Nestas, eles conseguem apoio e orientações para suas reivindicações e necessidades.</div><div><br /></div><div><b> Aspectos cosmológicos</b></div><div><br /></div><div>Vários aspectos culturais podem ser destacados, entre eles os tabus, as crenças, os artesanatos, as danças, as músicas, as relações de parentesco, a organização social, econômica e política, bem como diversos conhecimentos tradicionais associados ao uso dos recursos naturais. Quanto aos tabus, em geral, eles estão associados aos hábitos alimentares de crianças, mulheres gestantes e caçadores. As crenças dizem respeito à forma de conduta dos Nawa com a floresta, com os animais e com as plantas. Já o artesanato inclui diversos objetos como potes de barro, colares, pulseiras, vassouras, cestos e outros.</div><div><br /></div><div>Atualmente os Nawa dançam o Mariri - assim como diversos povos Pano - e cantam várias músicas indígenas, algumas compostas por eles e outras aprendidas com os mais idosos. Os Nawa têm cerca de dez músicas que são cantadas nos seus rituais denominados por eles de Shãnãdãiã, em que cantam suas músicas, dançam em roda ou em fila, usam seus trajes e adornos indígenas, pintam o corpo e consomem caiçuma, uma bebida feita de milho ou de mandioca. Este ritual é de extrema importância por reforçar os laços sociais, culturais e a identidade dos Nawa. Esses eventos não contam com datas preestabelecidas para sua realização, pois ocorrem sempre que eles sentem a necessidade de se reunir. O ritual do shãnãdãiã, transmitido dos mais velhos para os mais novos, agora é também ensinado na escola indígena, onde as crianças aprendem as danças e os cantos.</div><div><br /></div><div>Reforçando a cosmologia adquirida após o contato, os Nawa freqüentemente realizam o ritual da missa católica. As missas são feitas nas residências por não ter sido construída nenhuma igreja na Terra Indígena. Quando, esporadicamente, um padre desloca-se até a região, as missas são celebradas em uma igreja situada na Terra Indígena Nukini, contanto com a participação dos Nawa.</div><div><br /></div><div>Outros rituais desenvolvidos pelos Nawa, e associados com a cultura dos povos Pano, dizem respeito às práticas xamanísticas. Entre os Nawa há um pajé, conhecido pelo nome de Langa. Em seus rituais de cura, realizados em sua residência ou na do paciente, ele utiliza diversos medicamentos obtidos na floresta e faz uma espécie de defumação do enfermo com charuto, em meio a várias rezas proferidas na língua indígena. Segundo ele:</div><div><br /></div><div>Eu curo com cachimbo, a pessoa está com febre, está doente, aí eu curo, a cabeça. Eu fumo aquele tabaco, quando não é com tabaco é com folha da mata, esfrego na cabeça. Ali dizendo as palavras da mata, do meu pai. Ele curava. Do jeito que ele curava eu curo também. Aprendi isso aí com ele (Pajé Langa, 2003, Novo Recreio).</div><div><br /></div><div>Dentro da cosmologia Nawa, pode-se destacar ainda práticas e crenças relacionadas com as atividades de caça. Para evitar que um caçador fique com panema (indisposição e incapacidade de caçar), as mulheres não podem pegar nas armas de caça nem varrer a casa quando o caçador vai sair para caçar. Se estiver com panema, colocam o sumo de uma folha chamada churrô no olho para enxergar e acertar a caça. O cipó do Churrô também pode ser usado para fazer defumação. Para defumar, usam o tipi (uma planta) e pêlos de porco, veado, anta e outras caças. Misturam tudo, colocam pimenta e fazem uma fogueira. O caçador, seus instrumentos e o cão de caça permanecem por longo tempo na fumaça. Além da defumação, para tirar panema, usam o pião roxo. Com ele a mulher bate no homem, proporcionando-lhe mais sorte na caçada. Para terem mais sorte na pesca, bebem um “remédio da mata”.</div><div><br /></div><div>Há tabus alimentares que recaem principalmente sobre as mulheres. Para os Nawa, se uma gestante comer o peixe denominado Mandim, ela pode ter hemorragia. Outros animais, como o jabuti, o peixe de couro e a paca também são interditados às gestantes.</div><div><br /></div><div>A observação de alguns animais são indicadores de chuva, segundo os Nawa. Assim, há um sabiá que “adivinha chuva”. Caso o urubu amanheça cantando, é sinal que irá chover. O pássaro denominado uru, quando canta, é porque vai chover. Mas se o tempo já estiver chuvoso, e ele cantar, é porque vai fazer sol no outro dia. O sapo quando canta como galinha choca é porque vem chuva. O sapo canoeiro quando canta é porque vem sol. Quando a ingazeira flora fora da época é porque em três, quatro dias ocorrerá uma chuva forte.</div><div><br /></div><div>Há a crença de que alguns barreiros, localizados na região das cabeceiras dos igarapés Novo Recreio e Jesumira, são sagrados. Outros lugares sagrados na Terra Indígena são os cemitérios e antigas malocas. Os maiores cemitérios estão localizados nos igarapés Novo Recreio, Pijuca e Jersumira. Entretanto, existem sepulturas em várias localidades da Terra Indígena, pois os Nawa tinham o hábito de enterrar seus mortos nas proximidades das residências, principalmente quando se tratava de crianças. Contudo, não há entre os Nawa a identificação de sepulturas dos antigos, provavelmente porque entre os povos Pano os corpos eram cremados. De acordo com a Nawa Chica do Celso:</div><div><br /></div><div>os caboclos que morriam, índios, eles não enterravam. Diz que eles pegavam ele, colocavam assim em um canto, deixava lá, fazia assim uma coivara assim por cima e iam chorar. Choravam muito, aquela zoada. Quando acabavam, tocavam fogo. Quando queimava aquela coivara, ficavam só aqueles ossos, do finado. Eles juntavam aqueles ossos, aquela cinza. Quando acabava colocava dentro de um vaso e eles iam fazer a bebida. Depois que estava feita aquela bebida, eles se embriagavam, com aquilo eles se embriagavam. Assim como os brancos bebem cachaça, essas coisas, do mesmo jeito era a bebida deles. Eles não enterravam (Chica do Celso, 2003, Moa)</div><div><br /></div><div>Outros lugares tidos pelos Nawa como sagrados são as antigas malocas, as quais formam verdadeiros sítios arqueológicos que carecem de um estudo especializado. A sacralidade, associada aos antepassados, torna as áreas onde eles habitaram lugares extremamente respeitados, povoados pelos espíritos dos “antigos”. Diversos relatos de caçadores Nawa mencionam o encontro deles com seres sobrenaturais nessa região. A existência de antigas malocas na região da Terra Indígena, em especial naquela compreendida pelas cabeceiras dos igarapés Novo Recreio, Boca Tapada e Jesumira é de conhecimento de todos os Nawa e essencial para a manutenção da memória do grupo sobre o modo de vida de seus antepassados.</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>AQUINO, Terri Valle de & IGLESIAS, Marcelo Piedrafita. Kaxinawá do Rio Jordão. História, território, economia e desenvolvimento sustentado. Rio Branco : CPI-Acre, 1994.</div><div>AZEVEDO, Gregório Thaumaturgo de. Primeiro Relatório Semestral. Apresentado ao Exm. Sr. Dr. José Joaquim Seabra, Ministro da Justiça e Negócios Exteriores, pelo Coronel do Corpo de Engenheiros Gregório Thaumaturgo de Azevedo, Prefeito do Departamento do Alto Juruá. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1905.</div><div>-------. Relatório do Primeiro Semestre. Apresentado ao Exm. Sr. Dr. Gaspar de Barros e Almeida, Ministro da Justiça e Negócios Exteriores, pelo Coronel do Corpo de Engenheiros Gregório Thaumaturgo de Azevedo, Prefeito do Departamento do Alto Juruá. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1906.</div><div>CASTELLO BRANCO, José Moreira Brandão. “O Juruá Federal: Território do Acre”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo Especial. Congresso Internacional de História da América. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, Vol IX, 1930 [1922]. pp. 591-722.</div><div>-------. “Caminhos do Acre”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, Vol 196, Julho/Setembro, 1947. pp. 74-225.</div><div>-------. “O Gentio Acreano”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, Vol. 207, Abril-Junho. 1950. pp. 3-77.</div><div>-------. “Acreânea”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, Vol 240, Julho/Setembro, 1958. pp. 03-83.</div><div>-------. “Povoamento da Acreânia”. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, Vol. 250, Janeiro- Março, 1961. pp. 118-256.</div><div>CORREIA, Cloude de Souza. Relatório de levantamento prévio: Terras Indígenas Nawa e Nukini. Mimeo, 2004</div><div>COUTINHO JR., Walter. Relatório de viagem: áreas de ocupação indígena ainda não regularizadas no Acre e Sul do Amazonas. Brasília : Funai, mimeo, 2001.</div><div>ERIKSON, Philippe. “Uma singular pluralidade: a etno-história Pano”. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo : Companhia das Letras, FAPESP, SMC, 1992. pp. 239-266.</div><div>GONÇALVES, Marco Antônio (org.). Acre: história e etnologia. Rio de Janeiro : Núcleo de Etnologia Indígena, LPS/IFCS/UFRJ, 1991.</div><div>KLEFASZ, Alberto. Relatório da viagem de acompanhamento do trabalho de levantamento da utilização de recursos naturais pelos moradores dos Igarapés: Ipijuca, Novo Recreio, Timbaúba e Jesumira – Vale do Rio Moa. Brasília : ESREG/CSC-Ibama, mimeo, 2003.</div><div>LIMA, Edilene Coffaci de Lima. Relatório antropológico sobre o Parque Nacional da Serra do Divisor (rios Moa e Azul) - Acre. São Paulo, mimeo, 1993.</div><div>LINHARES, Máximo. “Os Índios do Território do Acre. Impressões de um auxiliar da Inspetoria do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionaes”. In: Jornal do Commércio, 12 de janeiro de 1913.</div><div>MELATTI, Júlio Cezar. “Juruá-Ucayali”. In: Índios da América do Sul – Áreas Etnográficas. Brasília : Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Antropologia. Vol. II, 1997. pgs. 147-160.</div><div>MELO, Vicente Simões de Paula. Relatório ambiental de identificação e delimitação da Terra Indígena Nawa. Brasília : mimeo, 2005.</div><div>MONTAGNER, Delvair. Construção da etnia Nawa. Brasília : mimeo, 2002.</div><div>PEREIRA NETO, Antônio. Relatório preliminar a respeito de população que se afirma pertencer a etnia Naua do Parque Nacional da Serra do Divisor, Município de Mâncio Lima-AC. Rio Branco : mimeo, 2000.</div><div>PLANO DE MANEJO. Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Divisor. Acre. Rio Branco : mimeo, 1998.</div><div>RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas Brasileiras, para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo : Edições Loyola, 1994.</div><div>TASTEVIN, Constant. “Em Amazonie. Sur lê Moa, aux limites extremes du Brésil et du Perón”. In: Missions catholiques, Tomo XLVI, 1914. pp. 502-504; 514-516; 526-528; 537-539; 550-552 e 559-561.</div><div>-------. “Quelques considérations sur les indiens du Jurua”. In: Bulletin et Memoires de la Société d’Anthropologia de Paris. Vol. 8, 6ª série. Paris, 1919. pp. 144-154</div><div>-------. “Le fleuve Juruá”. In: La Géographie, Tomo XXXIII, 1920. pp. 131-148.</div><div>-------. “Les tribus indiennes des bassins du Purús, du Juruá et des régions limitrophes”. In: La Géographie, Tomo XXXV, 1921. pp. 449-482.</div><div>-------. “Le fleuve Muro”. In: La Géographie, Tomo XLIII & XLIV, 1925. pp. 14-35 e 403-422.</div><div>-------. “Chez les indiens du Haut-Jurua”. In: Missions catholiques, Tomo LVI, 1924. pp. 65-67; 78-80; 90-93 e 101-104</div><div>-------. “Le Haut Tarauacá”. In: La Géographie, Tomo XLV, 1926. pp. 34-54 e 158-175.</div><div>-------. “Le Riozinho da Liberdade”. In: La Géographie, Tomo XLIX, 1928. pp. 205-215.</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-49955642188559772012021-03-03T14:05:00.007-08:002021-03-03T14:10:08.463-08:00Kaxixó<p style="text-align: left;"> </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFNpMvDeo0JkEf5HWPGFnMoaNvDBZThEu5s4F7a7xkYcKJMp9syL_qzloewbYeHLux4pdNJY9xcpdiGjDLYKzz5z3eBio2pkGLG1HPD8SdXlAtKgYwcGBWC-muFpCQxVcSWRUozimWZ84/s1310/Toy+Art+Kaxio%25CC%2581.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFNpMvDeo0JkEf5HWPGFnMoaNvDBZThEu5s4F7a7xkYcKJMp9syL_qzloewbYeHLux4pdNJY9xcpdiGjDLYKzz5z3eBio2pkGLG1HPD8SdXlAtKgYwcGBWC-muFpCQxVcSWRUozimWZ84/w640-h582/Toy+Art+Kaxio%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Kaxixó</span></td></tr></tbody></table><span style="font-size: x-small;"><br /></span><p></p><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; text-align: left; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">#</span></span></span></th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Nomes</span></span></span></th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Outros nomes ou grafias</span></span></span></th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Família linguística</span></span></span></th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Informações demográficas</span></span></span></th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">106</span></span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">Kaxixó</span></span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal; white-space: normal;"><span style="font-size: x-small;">UF / País</span></span></span></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">População</span></span></span></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;">Fonte/Ano</span></span></span></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">MG</span></span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">308</span></span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">Funasa 2010</span></span></td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></span></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><span face="-webkit-standard" style="color: black;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></span></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;">Depois de séculos no anonimato, sufocados pela perseguição e posteriormente pela discriminação, os Kaxixó estão demonstrando desejo de viver a sua indianidade, trazendo à tona costumes e valores que estiveram camuflados, mas nunca perdidos. Mesmo quando não expressavam publicamente sua identidade, os Kaxixó preservaram viva a consciência de serem indígenas, transmitindo seus segredos e tradições de pais para filhos. Reconhecidos oficialmente pela Funai como grupo indígena em dezembro de 2001, depois de quinze anos de luta por tal reconhecimento, sua grande luta agora é pela posse das terras tradicionais e o fortalecimento cultural tão desejado pelo grupo.</div><div style="text-align: left;"><br /><b> Histórico</b></div><div style="text-align: left;"><br />Nas duas últimas décadas do século 20 um novo fenômeno marca a história dos indígenas de Minas Gerais. Grupos originariamente mineiros, mas dispersos por várias partes do Estado e do país durante o processo da colonização e expansão territorial, começam a se reorganizar em comunidades e reivindicar seus direitos indígenas. Grupos que perderam em grande parte sua cultura tradicional, língua e estilo de vida tribal, mas que preservaram sua identidade étnica na convicção de jamais terem deixado de ser indígenas.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNA0alVY8bjyjNaNIiBOZ9GeRnb3bFSZ6MMhoiBxbFtHGJEoH7CjU3HccttL5M6By9kDtiHJHbIOy5NjR5Kbl4y8DVdaKq1EaYEmsDx3MgaB8j_lYPkwfqZ00YIO2ccmMGAUADVHEHwog/s620/kaxixo.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="413" data-original-width="620" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNA0alVY8bjyjNaNIiBOZ9GeRnb3bFSZ6MMhoiBxbFtHGJEoH7CjU3HccttL5M6By9kDtiHJHbIOy5NjR5Kbl4y8DVdaKq1EaYEmsDx3MgaB8j_lYPkwfqZ00YIO2ccmMGAUADVHEHwog/w640-h426/kaxixo.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Delegação Kaxixó da 5a edição dos Jogos Indígenas - Foto: Elian Oliveira/ACS-SEE</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br />As primeiras expedições de bandeirantes paulistas nas imediações dos rios Pará, São Francisco e Rio das Velhas, região dos Kaxixó, tiveram início ainda no século 17, na esperança de localizarem a famosa Sabarabussu, uma mina rica em ouro, que hoje é a cidade de Sabará. Como nas demais regiões do Estado, os quartéis e aldeamentos dizimaram, deslocaram ou dispersaram os indígenas da região pelas várias fazendas e povoados que surgiram, onde foram se tornando trabalhadores braçais.</div><div style="text-align: left;"><br />A “lenda da resplandecente Sabarabussu” e o preamento (aprisionamento para escravização) de índios motivaram as primeiras expedições de bandeirantes paulistas nas imediações do Rio Pará, ainda no século 17, havendo referências de expedições de apresamento nas cabeceiras do São Francisco e entre este e o Rio das Velhas a partir de 1640. Teria sido com estas bandeiras que os Kaxixó tiveram os primeiros conflitos, resistindo à fixação desses invasores no seu território. No século 18, surge então a lendária figura do Capitão Inácio de Oliveira Campos e sua esposa Dona Joaquina de Pompeu, contra os quais a resistência Kaxixó foi inútil. Este Capitão Inácio, que os Kaxixó chamam de “governo”, teria chegado na região com “mil negros” e um grande contigente de “índios Carijó” (escravos), subjugando os Kaxixó, se apossando de suas terras e os reduzindo a jagunços. Capitão Inácio fornecia alimentos e carne para a Corte, nos tempos de D. João VI, sendo o trabalho feito por escravos e os índios utilizados como jagunços para controlar negros.</div><div style="text-align: left;"><br />Este momento de contato e dominação constitui o marco inicial da história de formação étnica do grupo Kaxixó atual. Um dos filhos deste casal teve um relacionamento com uma índia Kaxixó, chamada posteriormente de Tia Vovó. Deste relacionamento nasceu Fabrício ou Fabrisco, como é lembrado pelo grupo. Aí começa o principal tronco Kaxixó.</div><div style="text-align: left;"><br />Para complicar a formação étnica dos atuais Kaxixó, entraram em cena mais dois segmentos: os “Carijó” do século 18, procedentes de São Paulo, e os negros, descendentes dos escravos africanos que trabalhavam na fazenda. Foi ainda a família de Fabrisco que selou uma dessas uniões, pois um de seus filhos casou com uma índia Carijó. Assim, ao contrário do que ocorre no Nordeste, onde a maioria dos grupos é descendente de antigas populações que viviam nos aldeamentos missionários, os Kaxixó são remanescentes de grupos que viviam nas fazendas da região do baixo rio Pará, como agregados e jagunços.</div><div style="text-align: left;"><br />Por muito tempo, os Kaxixó foram conhecidos como “Índios Caboclos da Vargem do Galinheiro”, hoje um bairro da cidade de Pompéu, antes conhecida como “Buriti da Estrada”, local de passagem obrigatória para os tropeiros, que lá se abasteciam com as galinhas criadas pelos “índios caboclos”. Os atuais Kaxixó são assim fruto da miscigenação de indígenas até então vivendo em liberdade com escravos de vários etnias, escravos negros e brancos da família da Dona Joaquina. Por isto, no grupo atual encontra-se pessoas de pele vermelha amorenada, cabelos pretos e lisos, como o ex-vice-cacique Jerry; pessoas negras, como o atual vice-cacique Zezinho; e pessoas brancas de olhos claros, como o cacique Djalma.<br />Em 1986, envolvidos num conflito de terras com fazendeiros, pediram ajuda ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pompéu, revelando a estes a sua identidade. Na impossibilidade de oferecer ajuda efetiva, o Sindicato entrou em contato com o Cedefes (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), entidade que têm atuado na questão indígena do Estado. Desta forma, têm-se início a luta dos Kaxixó pelo seu reconhecimento étnico oficial, sendo realizado neste mesmo ano um levantamento histórico sobre o grupo pela indigenista Geralda Soares.</div><div style="text-align: left;"><br />Em 1992, a liderança Kaxixó participou da II Assembléia Geral da Apoinme (Associação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo), recebendo apoio dos 24 povos indígenas ali representados. Enfrentando oposição de fazendeiros vizinhos desde o início, em 1993 surge a primeira resistência oficial por parte de governantes. O prefeito do município de Martinho Campos emite nota à imprensa repudiando a luta dos Kaxixó.</div><div style="text-align: left;"><br />No ano seguinte, um laudo antropológico é realizado a pedido da Funai dando parecer contrário ao reconhecimento étnico do grupo. Os Kaxixó superam a frustração inicial e retornam à luta em 1995, quando participam da IV Assembléia Geral da Apoinme, onde são fortemente encorajados a continuar e logo recebem apoio da ABA (Associação Brasileira de Antropologia). Assim, em 1996 se fazem presentes na abertura do Programa de Formação de Professores Indígenas de Minas Gerais, e em 1998 iniciam sua participação na programação da Semana dos Povos Indígenas de Minas Gerais, organizada pelo Cimi e Cedefes.</div><div style="text-align: left;"><br />Em 1997 solicitaram ao Cedefes a realização de um estudo sobre a história do grupo. Por meio de denúncias sobre a destruição de sítios arqueológicos na área por eles ocupada, tiveram acesso também à Procuradoria Geral da República, a qual instaurou um processo de investigação, incluindo um estudo sobre a identidade étnica do grupo, o qual teve parecer favorável.</div><div style="text-align: left;"><br />Frente a tal parecer, a Funai solicitou, em 2000, uma nova análise antropológica, desta vez por um antropólogo indicado pela ABA. Em julho do mesmo ano saiu o resultado com parecer favorável e em dezembro o órgão indigenista nacional concluiu o caso, os reconhecendo oficialmente. Resta agora a restituição e regularização do seu território tradicional.</div><div style="text-align: left;"><br /><b> Localização e população</b></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>O Capão do Zezinho, principal concentração do grupo, se localiza no município de Martinho Campos, na margem esquerda do Rio Pará, região centro-oeste de Minas Gerais, a 15 km do povoado de Ibitira, que por sua vez dista 180 km de Belo Horizonte. Capão do Zezinho é um pequeno vilarejo, com muitas árvores frutíferas e casas de alvenaria, água encanada e energia elétrica. Ao centro há um templo católico, ao lado da casa de ritual e do rancho de festas, ambos cobertos de capim e sem paredes. O primeiro é destinado às suas danças tradicionais e missas, enquanto o segundo é destinado aos festejos e comemorações. Neste vilarejo têm ainda um edifício onde funciona uma escola. Nas proximidades do Capão do Zezinho há outros três lugarejos de posse dos Kaxixó, que é a Fazenda Criciúma, Pindaíba e Fundinhos, estes dois últimos na Fazenda São José.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQC4mYFJP9mEvfRzjJIwfEh-LJPveEAR9dDYL3W9uMkPIXZ58PYiFgDKRbri_ijD-Se-nrmB0ycgUzNpr1ZcXIh_wt0iXkRMqof-3rtFRzJCeNRrUu7sPn3zHLFzzfQTg0Q0eAkNG7fx8/s2570/Territorios+indigena+Kaxixo%25CC%2581.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQC4mYFJP9mEvfRzjJIwfEh-LJPveEAR9dDYL3W9uMkPIXZ58PYiFgDKRbri_ijD-Se-nrmB0ycgUzNpr1ZcXIh_wt0iXkRMqof-3rtFRzJCeNRrUu7sPn3zHLFzzfQTg0Q0eAkNG7fx8/w640-h304/Territorios+indigena+Kaxixo%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Kaxixó</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Os Kaxixó foram oficialmente reconhecidos como grupo étnico. Sua principal luta é pela conquista de suas terras tradicionais, sob posse de vários fazendeiros. Reivindicam uma área de 27.150 ha, enquanto atualmente ocupam insuficientes 35,28 hectares.</div><div><br /></div><div>Após algumas denúncias por parte dos Kaxixó de fazendeiros destruindo sítios arqueológicos do seu território tradicional, foram iniciados levantamentos nos municípios de Martinho Campos e Pompéu, na região da Bacia do Baixo Rio Pará. Quinze sítios arqueológicos foram encontrados, sendo sete pré-coloniais e oito históricos, compostos por grandes fragmentos cerâmicos e estruturas de fornos, além de instrumentos líticos polidos, tais como machadinhas, batedores, mão-de-pilão e quebra-cocos. A identificação e comprovação destes sítios arqueológicos no território tradicional dos Kaxixó foi como uma injeção de ânimo na sua luta pelo reconhecimento étnico oficial.</div><div><br /></div><div>Dezesseis famílias, num total de 63 indivíduos, se envolveram efetivamente na luta pelo reconhecimento étnico oficial. Entretanto, o senhor Djalma, cacique Kaxixó, em 2002 afirmou que todo o grupo espalhado na região então somava 356 pessoas. A maior concentração está no Capão do Zezinho, mas há outros três lugarejos não muito distantes. Segundo levantamento da Funasa de 2006, havia 256 membros deste povo.</div><div><br /></div><div><b> Aspectos cosmológicos e rituais</b></div><div><br /></div><div>Grande parte do grupo se identifica como católico. Segundo o senhor Djalma, desde a época do lendário Capitão Inácio a religião tradicional foi proibida, assim como a língua e até o próprio nome da tribo. Entretanto, continuaram fazendo seus rituais às escondidas. Na década de 1980, ele e seu irmão Zezinho foram levados a fazer o curso de formação para Ministro de Eucaristia e Dirigentes de Culto, da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil). Durante três anos eles foram mensalmente a Divinópolis para fazer os módulos do curso, quando também tiveram acesso a leituras sobre a história do Brasil, entre outros temas.</div><div><br /></div><div>Há um terreiro no Capão do Zezinho, chamado Cruzeiro [mesmo nome do local de culto aos Encantados no Toré entre populações indígenas no Nordeste], onde os Kaxixó, durante o mês de maio, vão todas as noites rezar. Levam a imagem de Nossa Senhora Aparecida, uma vela e, ao iniciar a reza, estouram fogos, acendendo uma fogueira. Cada noite um deles é o responsável pela leitura do evangelho. E pedem proteção e saúde para cada família Kaxixó (Caldeira 1999:44).</div><div><br /></div><div>A principal festa do grupo acontece em 4 de outrubro, dia de São Francisco de Assis, quando pessoas de toda a região e parentes de cidades distantes se reúnem. Além das rezas, há comes e bebes com fartura, barraquinhas e muito forró, que é o estilo musical mais popular da região.</div><div><br /></div><div>A alguns quilômetros do Capão do Zezinho, está a Gruta da Nossa Senhora da Lapa, muito venerada por todo o grupo e pela população regional. De grande extensão, foram ali depositadas imagens de santos católicos, sendo comum a realização de missas e rezas no local. Ao longo de sua história, essa gruta sempre foi um lugar sagrado e de rezas para os Kaxixó.</div><div><br /></div><div>O outro local é o Rancho ou Casa de Ritual, construída no centro do vilarejo do Capão do Zezinho. Trata-se de um rancho com aproximadamente quatro metros de comprimento por dois e meio de largura, com três troncos de cada lado e três ao centro, sem paredes, coberto de capim. Este foi construído em contrapartida à intenção da Igreja Católica de construir ali um templo em 1995: “Vamos fazer de nosso jeito a Casa de Ritual. De chão, barro batido, sapé e madeira, toda amarrada de cipó” (in Soares, 1995). De todo modo, a Igreja Católica construiu um templo de alvenaria ao lado daquele.</div><div><br /></div><div>Um Kaxixó que vive no povoado de Ibitira é considerado por todos o pajé do grupo, por possuir “força e poder de cura”. E há algumas famílias que praticam a invocação de espíritos em rituais que chamam de “lei do índio” ou “língua de Angüera”.</div><div><br /></div><div>Na cosmovisão kaxixó, duas entidades são centrais. Uma delas é Jacy, a quem atribuem as qualidades de Deus. A este, faz oposição o terrível Angüera, associado ao Diabo. Tanto Jacy como Angüera são designações recorrentes em povos Tupi, sendo Jacy o nome dado à Lua (divindade geralmente vinculada ao irmão gêmeo Sol), e Angüera um espírito usualmente vinculado aos mortos e à animalidade, representando perigo aos vivos.</div><div><br /></div><div>Mas há ainda uma terceira classe de entidades presentes na cosmologia Kaxixó, que são os lendários Caboclos d’Água. Sobre estes Caldeira (1999:34) comenta: “Seres fantásticos, os caboclos d’Água representam a total rejeição ao contato com os “brancos”. Refugiando-se nas águas do rio Pará, eles são descritos como homens de estatura muito baixa, corpo coberto de pêlos e braços muito fortes. Habitando algumas tocas às margens do rio, eles teriam aprendido a sobreviver tanto na terra quanto embaixo d’água (...). Descritos como homens que nadam como peixes, surgindo apenas para algumas pessoas, eles seriam possuidores de uma fala ou língua específica. Todavia, isto não teria impedido a comunicação entre eles e seus parentes Kaxixó, pois são capazes de se fazer entender ou de serem entendidos”. Os Kaxixó se consideram descendentes destes seres, com quem teriam se comunicado nas águas do Rio Pará. Estes seres balançam as canoas das pessoas, no intuito de brincar com elas.</div><div><br /></div><div>A principal dança dos Kaxixó é a chamada Dança do Jacaré, em que duas fileiras de mesmo número de pessoas se formam de um lado e de outro, como descreve o senhor Djalma: “Então eles ficam de longe, só que num é igual Xavante, que fica de lado. Aí, eles cantam o Jacaré e quando fala, cá, ‘jacaré’, e eles falam, ‘a lagoa secou e você teve que voltar’, aí os de lá vêm e se encontram no meio, e eles dão uma volta e os de cá passam pra lá, e os de lá passam pra cá. A dança do Jacaré é a nossa dança antes do 1500. Eles num estão cantando porque nós estamos deixando demarcar a terra pra voltar esses 356 pra cá, pra aí nós dançarmos Jacaré”.</div><div><br /></div><div>Por sua vez, pinturas corporais têm sido cada vez mais usadas, principalmente em datas ou locais especiais, como em congressos ou comemorações fora do seu território. Geralmente fazem riscos de cores diversas no rosto e os homens também no tórax. Como enfeites usam principalmente colares e pulseiras de madeira ou sementes, e cada líder possui um belo cocar.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Sociedade e economia</b></div><div><br /></div><div>Eleito democraticamente, o cacique tem a responsabilidade de representar o povo nos contatos externos, bem como liderar reuniões e tomadas de decisão. É uma função recente, pois somente depois que iniciaram a luta pelo reconhecimento e se reorganizaram em tribo foi possível e tornou-se necessário uma liderança constituída. O vice-cacique tem a responsabilidade de responder pelo cacique na ausência do mesmo, bem como auxiliá-lo em todas as suas atividades. Como na maioria dos grupos indígenas do Estado, além do cacique e vice-cacique há um Conselho, formado pelos anciãos do grupo, tanto homens como mulheres, ao qual cabe pesar as decisões a serem tomadas, principalmente articulações políticas internas ou externas do. Esse conselho é chamado de “Liderança”.</div><div><br /></div><div>Como o território atual é pequeno e descontínuo, sendo insuficiente para o abastecimento de todo o grupo, a maior parte dos Kaxixó são empregados de fazendas vizinhas, principalmente como vaqueiros e roceiros. Entretanto, mesmo com a insuficiência territorial, alguns praticam a agricultura familiar de subsistência, cultivando principalmente feijão, arroz, milho, algodão, mandioca, cará e amendoim. Criam também animais de pequeno porte, como porcos e galinhas.</div><div><br /></div><div>Algumas famílias praticam a pesca no Rio Pará como principal fonte de subsistência, mas dipõem de pouquíssimos equipamentos, principalmente geladeiras, o que dificulta a venda de peixes no mercado regional. Há famílias que se valem da aposentadoria dos mais idosos. Outra fonte de sustento tem sido o artesanato. Neste aspecto desenvolvem algo que não se verifica em outros grupos indígenas de Minas, que é a fabricação de peças de barro, como pequenos potes, geralmente enfeitadas com penas.</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>CALDEIRA, Vanessa & Outros. Kaxixó – Quem é esse Povo? Belo Horizonte : Cedefes/Anai, 1999.</div><div>. “Povo Kaxixó”. In: Revista Informativa da Qualificação Profissional. Belo Horizonte : SETASCAD, nov 2001.</div><div><br /></div><div>PARAISO, Maria Hilda Baqueiro. Laudo Antropológico Sobre a Comunidade Denominada Kaxixó. Salvador : UFBA, 1994.</div><div> </div><div>RIBEIRO, Eduardo Magalhães (org). Lembranças da Terra – Histórias do Mucuri e Jequitinhonha. Contagem : CEDEFES, s.d.</div><div> </div><div><br /></div><div>SOARES, Geralda Chaves. Relatório da Viagem aos Kaxixó. Belo Horizonte : Cedefes, 1995b.</div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-18684917513649793202021-02-14T12:56:00.002-08:002021-02-14T13:58:39.850-08:00A lenda do Pirarucu - explicação indígena do porque nossa sociedade atual é doente<p> </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfbKAtq7xQYfdHwszftnsMGbWk7gHp0bTUouO4ty9_11uuW816nvR75giS1wrtSyai9c18YcDpUG3uEXoQ6K1U-JUCGlnscKMrW5EJTbNbdNg8bHaJk8axVPtLdXjDK1bFGmqclIxwOZaV/s1600/Pirarucu+fit+page.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="964" data-original-width="723" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfbKAtq7xQYfdHwszftnsMGbWk7gHp0bTUouO4ty9_11uuW816nvR75giS1wrtSyai9c18YcDpUG3uEXoQ6K1U-JUCGlnscKMrW5EJTbNbdNg8bHaJk8axVPtLdXjDK1bFGmqclIxwOZaV/s1600/Pirarucu+fit+page.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">A Lenda do Pirarucu</td></tr></tbody></table><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH-jqg443Ou5X9xDItgFVqDKrXaoEeeu0d5OKX5N2gwkpAbnLGWhAdLroFuZKygtrRes6IRGrqIR4Zw0AJe9LdPxgR6S6gMkKOwuJiQiXdmI_EjwHOC4z-gef_5202w7n64dQ-o4C_jm1i/s1600/Texto+Tupi+Piraruku.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="794" data-original-width="1090" height="466" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH-jqg443Ou5X9xDItgFVqDKrXaoEeeu0d5OKX5N2gwkpAbnLGWhAdLroFuZKygtrRes6IRGrqIR4Zw0AJe9LdPxgR6S6gMkKOwuJiQiXdmI_EjwHOC4z-gef_5202w7n64dQ-o4C_jm1i/s640/Texto+Tupi+Piraruku.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption"><span style="font-size: x-small;">Texto em Tupi Antigo pelo professor Emerson Costa</span></td></tr></tbody></table><br /><div>A lenda do Pirarucu é uma perfeita fábula que espelha o mal que assola a humanidade nos dias de hoje. Regida pelo egoísmo e a infelicidade, nossa sociedade mundial é acometida de depressão, a falta de integração entre a sociedades contemporâneas é fruto de nossa incapacidade de compreender uma das regras básicas da natureza, a <b>Lei do Equilíbrio Natural </b>- todos nós estamos cometendo os mesmos erros que o jovem caçador Pirarucu cometeu.</div><div><br /></div><div><b>Respeito à comunidade - a </b><b>Lei do Equilíbrio Natural </b></div><div><br /></div><div>Para entender essa lenda, é importante compreender bem esse conceito básico presente nas aldeias indígenas das americas:</div><div><br /></div><div>- Na natureza existe um circuito fechado e uniforme de vida e alimentos no qual todos os seres consomem exatamente o que precisam, sem grandes excessos e faltas, a onça poderia caçar quantos animais quisesse, no entanto, ela só caça o veado ou a capivara que vai comer e dar como alimento aos seus, as árvores recebem exatamente o nutriente que precisa por meio de suas raises, respiração das folhas, e pelas trocas que acontecem nas redes miceliais, qua fazem o papel de equalizadores subterrâneos nas florestas. </div><div><br /></div><div>A regra geral diz que não existe excedentes na natureza, cada vez que um desequilíbrio é criado, uma punição igual e proporcional acontece como contrapartida. Um bom exemplo disso é quando existe um acumulo anormal de células desnecessária no corpo humano - o chamado câncer. </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBD4hen6a9mGZH05TxGNNZkAGFut4mYIxPm7EC6q6ZK-DO2dKqMLdSztbmkqNr_U7cOqDZq0taPl27wnCS433HL5SpkpFMMH1f0IciHBwY1nZjbjjkNDX9XrBXRavlAw3M6_n-ruWBVVk/s1310/Toy+art+Piraruku.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBD4hen6a9mGZH05TxGNNZkAGFut4mYIxPm7EC6q6ZK-DO2dKqMLdSztbmkqNr_U7cOqDZq0taPl27wnCS433HL5SpkpFMMH1f0IciHBwY1nZjbjjkNDX9XrBXRavlAw3M6_n-ruWBVVk/w640-h582/Toy+art+Piraruku.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Piraruku</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Nas aldeias indígenas os integrantes praticam proativamente esse equilíbrio, todos os dias os caçadores saem pela manhã para caçar e só voltam no final da tarde, ao final da semana geralmente caçam um ou dois animais grandes, que são distribuídos de forma igual para todos, junto com as colheitas feitas pelas mulheres que também cozinham - Nas refeições tudo é compartilhado igualitariamente, os idosos, os fracos e as crianças tem tanto acesso aos nutrientes como qualquer outro, criando uniformidade e equilíbrio.</div><div><br /></div><div>Dentre todos os seres do planeta, com o advento da revolução agricultural, o homem civilizado passou a quebrar essa regra copiosamente - ao produzir mais do que precisa, acabou criando excedentes. Conhecida como a 'equivocada riqueza', os excessos produzidos pela agricultura apareceu como fonte de felicidades mas também de tristezas - todo esse excesso tirou-lhe a agilidade de ir e vir, o acumulador passou a precisar de um lugar para guardar e protejer todo esse superavit contra ladrões, por exemplo.</div><div><br /></div><div>A troca e o comércio aparecem aqui como uma força de equilíbrio, más a nossa sociedade ainda é desigual, existe grande escassez por um lado e muitos excessos por outro - para os indígenas isso é fonte inequívoca de sofrimento.</div><div><br /></div><div>De forma geral, o indígena americano considera o acumulo de bens e recursos, e o consequente egoísmo como uma doença mental grave. </div><div><br /></div><div><b>A Lenda do Pirarucu e a lição que nos traz</b></div><div><br /></div><div>Pirarucu era uma lindo e talentoso caçador, caçava mais e melhor do que qualquer outro.</div><div><br /></div><div>Por ser belo e talentoso via todos os demais com desdém, zombava dos outros integrantes da aldeia, dos velhos e das crianças, achava injusto que sua caça fosse dividida com gente fraca e feia. É aí que surge a lenda, escrita aqui em Tupi Antigo:</div><div><br /></div><div>I ypyrungápe, kunumĩgûasumemûã Piraruku i py'aangaîpabeté. O anama tiruã oîuká, a'e o epîamirĩ resé, konipó oîoupé marã i nhe'ẽmirĩ resé o nhemoŷrõneme.<br /><br />Tuba morubixaba oîkotebẽ o a'yra resé, sesé o esa'yetáramo oîasegûabo.<br /><br />Aroane'ym tekó potare'yma, Tupã Polo ybytu îara, Tupã Îururagûasu ybytuaíba îara abé, i mondyîpotari Tukãtï rembe'ype i ka'amondóreme bé, ybytuaibabaeté monhanga.<br /><br />Piraruku opukaatã, Tupã îaîa, takypûerygûan o memûãnamo.<br /><br />I tekokuabe'ymusu resé onhemoŷrõmo, Tupã Piraruku rerasóû 'yypype, akûeîpe piragûasuramo i monhanga. A'e riré bé Piraruku 'ekatue'ymi opukábo bé. Sa'angeme, 'y i îase'opytymi; a'ereme sekótebẽû obú, o putu'ẽma resé.<br /><br />O porangamo i 'ytabi. O emiugûymombukûera îabi'õ i pé-i péû.<br /><br />——<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzJPuXirIQC2lpl5pjJuUXM0OFx42xkNVI5XmE_5zvYzA73HhOCf6iPhw29cEbv6yCjLPoPy1SVUc_LyKGgZ2jHR4Ma7xOfUoHcqWvAHbCk0v7oK2GB8lMaGJFc9XNtaLmFlGBfFqEtJBo/s1600/Piraruku+cor+2.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1534" data-original-width="1600" height="612" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzJPuXirIQC2lpl5pjJuUXM0OFx42xkNVI5XmE_5zvYzA73HhOCf6iPhw29cEbv6yCjLPoPy1SVUc_LyKGgZ2jHR4Ma7xOfUoHcqWvAHbCk0v7oK2GB8lMaGJFc9XNtaLmFlGBfFqEtJBo/s640/Piraruku+cor+2.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">I ypyrungápe, kunumĩgûasumemûã Piraruku / O jovem zombeteiro Pirarucu</td></tr></tbody></table><br />O jovem zombeteiro Pirarucu a princípio tinha muita maldade no coração, gente da sua própria tribo era por ele assassinada, tudo que bastava era um olhar ou uma fala errada.<br /><br />Seu pai o grande líder morubixaba sofria com seu filho que por ele, muitas lágrimas chorava.<br /><br />Mas a natureza preza pelo equilíbrio e os Deuses Polo dos ventos e Iururaruaçu, Deusa das tempestades para ele armaram, tentaram assusta-lo durante a caça, às margens do Tocantins, provocaram uma terrível tormenta.</div><div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div> Piraruku riu dos deuses com ironia em sua última zombeta.<br /><br />Cansados de tanta insensatez os deuses conduziram Piraruku para o fundo do rio e lá o transformaram num grande peixe, até hoje Piraruku não consegue mais rir, ao tentar, se engasga com a água e precisa tomar ar na superfície dos rios.<br /><br />E formoso ao nadar, carrega em suas escamas cada uma das almas que fez sangrar.</div><div><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlsSzwxK7hB2TTavagDVUGM_GubFtPdAYX8Y8WY0qehfeY-admmlJ50EAs027-B9BtKdeCIC_tkypPoSSLyak4ygbDnxiOuOrSj0X9_KCD9m7VdbV7tCZMzs1z2TomZZnwDZDLOr4I004e/s1600/Iururaruac%25CC%25A7u%25CC%2581+e+Polo+2.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1388" data-original-width="1388" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlsSzwxK7hB2TTavagDVUGM_GubFtPdAYX8Y8WY0qehfeY-admmlJ50EAs027-B9BtKdeCIC_tkypPoSSLyak4ygbDnxiOuOrSj0X9_KCD9m7VdbV7tCZMzs1z2TomZZnwDZDLOr4I004e/s640/Iururaruac%25CC%25A7u%25CC%2581+e+Polo+2.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">os Deuses Polo dos ventos e Iururaruaçu, Deusa das tempestades removem punir o jovem Piraruku</td></tr></tbody></table><br />Aqui vemos o castigo que teve por ser egoísta, zombeteiro e fraco.</div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-56478765650177551722020-10-26T07:06:00.001-07:002020-10-26T07:06:16.842-07:00Tingui Botó<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIutfqH8ar0MSL8bRDFX8pQs3IWrVPs7MGrDObBEK0dPx6xGb6waEepqDunR9BFDxIzzT_8QyorpMXU2xYs3xqA6h8-N-9Hwdcep1F-vHn3PDB1UF9Ys0QMK9XCGba3L5Ijt0YJF1mGXM/s1310/Toy+Art+Tingui+Boto%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIutfqH8ar0MSL8bRDFX8pQs3IWrVPs7MGrDObBEK0dPx6xGb6waEepqDunR9BFDxIzzT_8QyorpMXU2xYs3xqA6h8-N-9Hwdcep1F-vHn3PDB1UF9Ys0QMK9XCGba3L5Ijt0YJF1mGXM/w640-h582/Toy+Art+Tingui+Boto%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Tingui Botó</span><br /></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">194</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Tingui Botó</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AL</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">390</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Siasi/Sesai 2012</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><div>Os Tingui-Botó habitam a comunidade Olho D´Água do Meio, no município alagoano de Feira Grande. Até o início da década de 80, eram conhecidos como "caboclos", quando foi-lhes reconhecida a identidade indígena pela Funai. Desde esse período preservam dois hectares de mata para realizar o ritual secreto do Ouricuri, principal emblema de sua identidade, que continuam resguardando das populações vizinhas.</div><div><br /></div><div><b> Nome</b></div><div><b><br /></b></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOQSk2ysud9ZXnsXjXxFT2B6JifcJ_GbD0AvdbRHLqAjYc_9TWRc0jJ09wNDtmhy6HzIfaHK9dMiT5feRHOLymxYBw2eLGUAVRdz7T7QORfT_QsHMfiEwnpqh7s1FnQUoT0ocukk_7Uf8/s993/Tingui+boto+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="679" data-original-width="993" height="438" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOQSk2ysud9ZXnsXjXxFT2B6JifcJ_GbD0AvdbRHLqAjYc_9TWRc0jJ09wNDtmhy6HzIfaHK9dMiT5feRHOLymxYBw2eLGUAVRdz7T7QORfT_QsHMfiEwnpqh7s1FnQUoT0ocukk_7Uf8/w640-h438/Tingui+boto+1.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Ritual Tingui Botó</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>O nome Tingui-Botó é de origem recente. Nos registros históricos e nos levantamentos gerais da região, como os realizados por Duarte e Hohenthal Jr., os remanescentes indígenas de Olho d'Água do Meio, povoado do município de Feira Grande, são identificados como Xocó ou Shocó. Mas, segundo relatou ao Instituto Socioambiental o cacique Eliziano de Campos e o pajé Adalberto Ferreira da Silva, os Tingui-Botó não são Xocó e sim Kariri.</div><div><br /></div><div>A atual denominação teria sido dada por João Botó, curandeiro e pajé que, juntamente com sua família, se instalou em Olho d'Água do Meio provavelmente nos anos 1940. Isso ocorreu depois da criação do Posto Indígena Padre Alfredo Dâmaso, em Porto Real do Colégio. Com a formação da nova comunidade, foi revitalizado o ritual do Ouricuri, desencadeando um processo de agregação em torno da "taba", ou seja, do território sagrado, onde o ritual se realiza secretamente a cerca de dois hectares da localidade. Esta versão da origem do nome "Botó" me foi dada pelo pajé dos Kariri- Xocó na década de 1980, sendo confirmada em 2002 pelos índios acima citados ao Instituto Socioambiental. Estes também disseram que a denominação "Tingui" tem como origem uma árvore com esse nome, cujas folhas foram utilizadas no acampamento erguido durante a vinda para Olho D´Água do Meio.</div><div><br /></div><div><b> Língua</b></div><div><br /></div><div>Os Tingui-Botó falam o português à moda das populações rurais do nordeste. Alegam, porém, falar sua língua ancestral no ritual secreto do Ouricuri. De acordo com o cacique Eliziano de Campos e o pajé Adalberto Ferreira da Silva, sua língua é designada Dzbokuá.</div><div><br /></div><div>Nesse sentido, o etnólogo Ugo Maia Andrade afirma que o cariri era uma língua corrente em uma extensa área no interior do Nordeste e estava dividido em quatro dialetos, entre os quais o "dzubukuá". Por se tratar de uma língua não mais falada usualmente pelas populações locais, seu estudo linguístico é precário e quase todo baseado nas gramáticas elaboradas por missionários que estiveram na região durante os séculos XVII e XVIII (sobre o assunto, ver a página sobre o povo Tumbalalá).</div><div><br /></div><div> <b>História e etnogênese</b></div><div><br /></div><div><div>Os Tingui-Botó foram reconhecidos como grupo indígena em 1980 por Clovis Antunes, professor da Universidade Federal de Alagoas, que enviou documentação à Funai. Trata-se de um dos casos de resgate da identidade étnica de uma população anteriormente dispersa, em processo de etnogênese. À substituição de uma identidade "acanhada" de caboclo pelo orgulho étnico de ser índio, seguem-se desdobramentos políticos tais como a reinvindicação de posse de terras por direito imemorial e a luta pelo seu reconhecimento pelo órgão tutelar.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Z7Lb9sXSaMUf4sFJCpqGFF5l1EbJOMOKbA5hyphenhypheneXpqYtfFY2RjQIoHtiCfD8lTEUIGVgRdLYfOD8RU-d6kzCQQpG8lewCbcwp33i95Fw8aXVIpO4jnDO6T13uR7Qu110OLLVaVx-deI0/s750/tingui_boto_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="494" data-original-width="750" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7Z7Lb9sXSaMUf4sFJCpqGFF5l1EbJOMOKbA5hyphenhypheneXpqYtfFY2RjQIoHtiCfD8lTEUIGVgRdLYfOD8RU-d6kzCQQpG8lewCbcwp33i95Fw8aXVIpO4jnDO6T13uR7Qu110OLLVaVx-deI0/w640-h422/tingui_boto_2.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Festividade Tingui Botó</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Até 1983 possuíam apenas a pequena área de cerca de dois hectares coberta de mata para preservar o segredo do Ouricuri das populações não indígenas circunvizinhas. Moravam num arruado em Olho d'Água do Meio e trabalhavam nas fazendas da região como meeiros (com direito à metade da colheita do que plantavam) ou alugados (contratados para executar determinada tarefa agrícola em troca de pagamento).</div><div><br /></div><div>Em 1983, a FUNAI instalou um posto indígena na área. No ano seguinte, o órgão adquiriu duas pequenas propriedades: a Fazenda Boacica, com 30 hectares, e a Fazenda Olho d'Água do Meio, de 31,5 hectares. Em 1988 comprou a Fazenda Ypioca, com 59,6 hectares. Assim, hoje a comunidade dispõe de uma área de 121,1 hectares.</div><div><br /></div><div>Produzem artesanato de palha, além de cocares, colares e bordunas.</div><div><br /></div><div><b> Localização</b></div><div><b><br /></b></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC7_tcNW2ypMUCBlA2-eMZllmCW9o-oNr4B3lpn06wm2QT2StIEq_1HZ6gtlKHKtW1V2dcdqqMHcwf3QupFE1CQnsWRtKpfKJKZhFx4gNkx1sNOQwiBDI74agluEhyIR6E1_u4ygTqQWk/s2570/Territorios+indigena+Tingui+Boto%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC7_tcNW2ypMUCBlA2-eMZllmCW9o-oNr4B3lpn06wm2QT2StIEq_1HZ6gtlKHKtW1V2dcdqqMHcwf3QupFE1CQnsWRtKpfKJKZhFx4gNkx1sNOQwiBDI74agluEhyIR6E1_u4ygTqQWk/w640-h304/Territorios+indigena+Tingui+Boto%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Tingui Botó</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A comunidade Olho d'Água do Meio dista três quilômetros de Feira Grande, 23 de Arapiraca e 155 de Maceió. Segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), existe uma escola na área para atender à comunidade indígena. Para atendimento médico, a população tem de deslocar-se para as cidades de Arapiraca ou Maceió.</div><div><br /></div><div><b> Nota sobre as fontes</b></div><div><br /></div><div>Há somente um trabalho exclusivamente dedicado aos Tingui-Botó. É monografia de Benildo Gomes de Farias, Tingui-Botó: uma etnografia, apresentada como monografia de graduação na Univeridade Federal de Alagoas.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe8Oh5vXVSYZlaltKKTB-pyqBB3aQiv4ESRtobvgY5CXRSl4WQjdALR_IsM_y3WbBgUlBEaxqXaC0klEPXWISNptThkISbOWfnUIEBiPUmWfNBX-3othDf3rSgE_ncX328gKzod3EM-wQ/s967/Tingui+boto+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="666" data-original-width="967" height="440" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe8Oh5vXVSYZlaltKKTB-pyqBB3aQiv4ESRtobvgY5CXRSl4WQjdALR_IsM_y3WbBgUlBEaxqXaC0klEPXWISNptThkISbOWfnUIEBiPUmWfNBX-3othDf3rSgE_ncX328gKzod3EM-wQ/w640-h440/Tingui+boto+2.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Ritual Tingui Botó</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Tratando-se de uma denominação recente, nos levantamentos regionais mais antigos os Tingui-Botó são referidos com outros nomes. Assim, Hohenthal Jr., em As tribos indígenas do médio e baixo São Francisco (1960), identifica-os enquanto "shocós" de Olho d'Água do Meio; Duarte, em Tribos, aldeias e missões de indios nas Alagoas (1969), a eles se refere como "shocó"ou "xocó". Há também referências a eles em Claudio Sant'Ana, Alagoas seus índios e suas terras (1991), e no Atlas das Terras Indígenas do Nordeste (1993).</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>DUARTE, A. Tribos, aldeias e missões de índios nas Alagoas. Rev. do Instituto Histórico, Maceió : Instituto Histórico, s.n., 1969.</div><div> </div><div><br /></div><div>FARIAS, Benildo Gomes de. Tingui-Botó : uma etnografia. Maceió : UFAL, 1998. 94 p. (Monografia para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais)</div><div> </div><div><br /></div><div>HOHENTHAL JÚNIOR, W. D. As tribos indígenas do médio e baixo São Francisco. Rev. do Museu Paulista, São Paulo : Museu Paulista, v. 12, n.s., 1960.</div><div> </div><div><br /></div><div>MUSEU NACIONAL. PETI. Atlas das terras indígenas do Nordeste : Alagoas, Bahia (exceto sul), Ceará, Paraíba, Pernambuco, Sergipe. Rio de Janeiro : Museu Nacional-Peti, 1993. 93 p.</div><div> </div><div><br /></div><div>RONDINELLI, Rosely Curi (Coord.). Inventário analítico do arquivo permanente do Museu do Índio - Funai : documentos textuais 1950-1994. Rio de Janeiro : Museu do Índio, 1997. 150 p.</div><div> </div><div><br /></div><div>SANT'ANA, Claudio L. F. Alagoas seus índios e suas terras. Recife : Funai, 1991.</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-27414556318482822522020-10-26T06:06:00.003-07:002020-10-26T06:06:58.917-07:00Tapeba<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDu8r0wO9la7O0btUl5I4kifcyUsf1mzVwGges9M4nvQ1bgwKqeyzHZJBn2HOUJFjdSyAhaCtKIDQVJmP6a-3revs9TofOge990SyqSvS855FViUHANWm4vKkuQ3cRAjTPt2W2zxkrKeo/w640-h582/Toy+Art+Tapeba.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Tapeba em Toy Art</span><br /></td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDu8r0wO9la7O0btUl5I4kifcyUsf1mzVwGges9M4nvQ1bgwKqeyzHZJBn2HOUJFjdSyAhaCtKIDQVJmP6a-3revs9TofOge990SyqSvS855FViUHANWm4vKkuQ3cRAjTPt2W2zxkrKeo/s1310/Toy+Art+Tapeba.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: x-small;"></span></a></div><br /></div><div style="text-align: left;"><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">184</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Tapeba</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tapebano, Perna-de-pau</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">CE</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">6600</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Os Tapebas são produto de um processo histórico de individuação étnica de frações de diversas sociedades indígenas nativas reunidas na Aldeia de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia - que deu origem ao município de mesmo nome, na região metropolitana de Fortaleza, Ceará. Em virtude do modo particular como se constituem e se inserem enquanto grupo distinto na sociedade regional, a discussão em torno da sua identidade indígena tem marcado a sua história recente, em particular o processo de reconhecimento oficial do seu território pelo Estado.</div><div><br /></div><div><b> Informações gerais</b></div><div><br /></div><div>Até a década de 80, o estado do Ceará, assim como os do Piauí e do Rio Grande do Norte, eram dados, pelos registros da FUNAI e pelos levantamentos produzidos por antropólogos e missionários, como os únicos estados no Brasil, além do Distrito Federal, em que inexistiam índios. No Ceará, entretanto, a presença indígena deixou de ser ignorada quando a então Equipe de Assessoria às Comunidades Rurais - hoje, Equipe de Apoio à Questão Indígena - da Arquidiocese de Fortaleza passou a atuar no município de Caucaia, junto à coletividade dos Tapeba.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="500" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlnX6PgAtsOmTbYEKlI49X2M9l_swG2X1Q7LOTYsiLyYNSwXPKpmfI1hk1OxIbF1Hyyn66-ZojRR6qrZagLxFZezKoCjNTKXUUG14HHYTSADzueo1E9xAot780r4V5g7FQx0qrGsYmyBo/w640-h426/tapeba2.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="640" /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Os Tapeba durante visita do Fundo Brasil realizada em 2015 (Foto: Jarbas Oliveira)</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlnX6PgAtsOmTbYEKlI49X2M9l_swG2X1Q7LOTYsiLyYNSwXPKpmfI1hk1OxIbF1Hyyn66-ZojRR6qrZagLxFZezKoCjNTKXUUG14HHYTSADzueo1E9xAot780r4V5g7FQx0qrGsYmyBo/s500/tapeba2.jpg" imageanchor="1"><span style="font-size: x-small;"></span></a></div><div><br /></div><div>"Tapeba", "tapebano" ou "perna-de-pau" são atribuições étnicas pelas quais uma dada coletividade se identifica e é reconhecida na paisagem social local do município de Caucaia como constituindo um grupo distinto. Esse reconhecimento estende-se ao nível regional, dada a repercussão, nos meios de comunicação, do movimento reivindicatório que os Tapeba encamparam, com o apoio da Arquidiocese de Fortaleza, visando a proteção de algumas áreas que ocupam hoje (entre as quais, o manguezal às margens do Rio Ceará) e a recuperação do território da antiga Aldeia de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia, exigindo junto à FUNAI a demarcação de uma área indígena.</div><div><br /></div><div>Tapeba também é um topônimo. É o nome de uma lagoa e um riacho periódico - afluente da lagoa da Barra Nova (ou do Poço) - da área rural do distrito da sede do município de Caucaia, na proximidade dos quais moram famílias Tapeba, numa área onde a sua presença é majoritária. Já em 1721, registrava-se o topônimo Tapeba para a referida lagoa. O emprego toponímico do termo tapeba, entretanto, é mais freqüente para designar uma área mais inclusiva, genérica e de limites vagamente definidos, abarcando a lagoa e o riacho homônimos, limitando-se ao sul com a lagoa dos Porcos, ao norte com a localidade de Pedreira e o povoado do Capuan, a oeste com a localidade de Cutia e a leste com o rio Ceará. Às vezes, contudo, estas localidades mesmas acabam sendo englobadas pelo topônimo Tapeba, dando ao observador a impressão de que - como eles dizem - "é tudo um lugar só, tudo é só uma terra só".</div><div><br /></div><div>Tapebano, assim, é uma locução adjetiva para "do Tapeba", "da lagoa do Tapeba". Perna-de-Pau, por sua vez, constitui uma referência ao apelido de um ancestral ao qual comumente remontam ao traçar a sua genealogia - no que diz respeito a pelo menos um segmento dos Tapeba, a família de Zabel.</div><div><br /></div><div>A etimologia da palavra tapeba é tupi, segundo acordo entre vários autores (como Alfredo Moreira Pinto e Thomaz Pompeu Sobrinho), constituindo uma variação fonética de itapeva (de itá/tá, i. é, "pedra"; e peva, i. é, "plano", "chato"): "pedra plana", "pedra chata", "pedra polida", etc. O nome do município em que se encontram também é de origem tupi, representando uma variação de ka'a-okai (de ka'a, i. é, "erva", "mato", "bosque", "floresta"; e okai, i. é, "queimar"): "mato queimado", "bem queimado está o mato", "queimada", "mato que se queima". A toponímia local é quase toda ela de origem tupi: Capuan, Iparana, Icaraí, Jandaiguaba, Paumirim, Pabussu, Tabapuá etc.</div><div><br /></div><div>A estimativa populacional de 1.150 pessoas foi estabelecida a partir de censo genealógico realizado em algumas localidades, comparado e cruzado com os dados do "Cadastramento dos Índios Tapeba", realizado pela Arquidiocese de Fortaleza entre março e setembro de 1986 - que apontou 914 pessoas em 185 famílias. Contudo, esse é um dado difícil de ser estabelecido de modo definitivo devido à dinâmica mesma da fronteira étnica. Eles vivem em intenso e permanente contato com "brancos": seja no desenvolvimento de atividades produtivas, seja em razão de casamentos interétnicos, seja pela manutenção de relações de proximidade social através da constituição de relações de parentesco fictícias, seja pela cordialidade - em alguns casos - das relações de vizinhança com "brancos".</div><div><br /></div><div> <b>Caucaia, os grupos locais Tapeba e sua economia</b></div><div><br /></div><div>Dos municípios da região metropolitana de Fortaleza, Caucaia é a cidade mais próxima da capital, distando 16 km em linha reta. Com sua sede a uma altitude de 29,91 metros acima do nível do mar, o município de Caucaia é mais acidentado do que plano. Começam nele as elevações que vão constituir o cordão central do estado do Ceará. É um dos municípios cearenses mais ricos em lagoas permanentes. Os rios de Caucaia, entretanto, caracterizam-se por serem temporários, como é o caso do riacho Tapeba. Sua principal via fluvial é o rio Ceará, que corta o município em sua maior extensão, dirigindo-se de sudoeste a nordeste, com um curso de aproximadamente 50 km. Às margens do rio Ceará, nas proximidades da faixa litorânea, cresce uma exuberante vegetação de mangue. A cobertura vegetal na área do município é caracterizada, predominantemente, por caatingas, capoeiras e carrascos. O clima do município é ameno, com duas estações: a chuvosa, o "inverno", que se estende de janeiro a junho; e a seca, o "verão", de julho a dezembro.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQZqR41qJIoE-Th_6sbGwoDECCZ33r8vICg7HJyTC6ojVoBhpWi0jWfLhmjjsRFFAl_Okx0JFcI10_LKjrVfxQg0yliz7Hy8YRUMWrjIdTMT0C-Nwc31hpp88fpRPmfDrQcJ_OohLIbEk/s2570/Territorios+indigena+Tapeba%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQZqR41qJIoE-Th_6sbGwoDECCZ33r8vICg7HJyTC6ojVoBhpWi0jWfLhmjjsRFFAl_Okx0JFcI10_LKjrVfxQg0yliz7Hy8YRUMWrjIdTMT0C-Nwc31hpp88fpRPmfDrQcJ_OohLIbEk/w640-h304/Territorios+indigena+Tapeba%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Tapeba</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>As áreas em que os Tapeba residem constituem grupos locais de tamanho, padrão de assentamento, densidade e localização distintos, dentro da geografia multifacetada do município. Ocupando nichos diferentes, os Tapeba atualizam formas diferenciadas de apropriação dos recursos naturais, basicamente extrativistas e sazonais. Assim, os grupos locais apresentam caracteres contrastantes. Há desde áreas habitadas majoritariamente por tapebanos, como a paisagem rural do Tapeba (lagoa do Tapeba, Cutia, lagoa dos Porcos e Pedreira Sta Terezinha), em que trabalham na palha, na agricultura (como diaristas e arrendatários) e no "negócio com frutas"; até áreas onde a presença deles é residual, como é o caso dos bairros do perímetro urbano da sede do município (Capoeira/bairro Pe. Júlio Maria, Açude, Cigana, Itambé, Grilo, Vila São José, Vila Nova/bairro Sta. Rita), em que predominam o comércio ambulante, os pequenos serviços e o trabalho assalariado. Alguns desses bairros já estão crescendo para dentro dos imóveis rurais que os limitam. Há também áreas com um padrão de assentamento singular, como é o caso do Trilho, nas localidades de Paumirim e Capuan, e da(s) Ponte(s), localidade de Soledade: no primeiro, as casas encontram-se distribuídas, longitudinalmente, às margens da Ferrovia Fortaleza-Sobral, num trecho de 2,5 km., em terreno da R.F.F.S.A., entre as barreiras do "corte" e as cercas das propriedades rurais vizinhas; e na segunda, as casas se situam às margens do rio Ceará, nas únicas áreas de aterro sólido do mangue, geradas quando da pavimentação da rodovia BR-222 - cuja ponte sobre o mesmo rio empresta o nome à localidade. No Trilho, vamos encontrar os Tapeba negociando com frutas, fabricando carvão vegetal, coletando mudas de plantas de valor ornamental e capturando animais silvestres nas serras para a venda. Já nas Pontes, a pesca artesanal não colonizada de crustáceos, no mangue, e a retirada de areia do leito do rio Ceará constituem as atividades produtivas principais.</div><div><br /></div><div><b> Elementos de história indígena local</b></div><div><br /></div><div>A história dos grupos locais e localidades onde hoje vivem os Tapeba relaciona-se às mudanças recentes nas formas de apropriação fundiária anteriormente obtidas no Tapeba e no Paumirim - tidos como locais tradicionais de habitação deles. Os Tapeba não conheceram apenas uma única modalidade de apropriação fundiária e uso dos recursos naturais disponíveis. Partindo dos dados da historiografia disponível, que caracteriza uma situação de instabilidade, no século passado, quanto à destinação das terras dos extintos aldeamentos indígenas, poder-se-ia caracterizar a situação dos Tapeba como o produto de dois resultados históricos distintos, geralmente encontrados em áreas de colonização antiga: (1) a desagregação de domínios territoriais pertencentes à igreja, onde tenham passado a prevalecer formas de uso comum, onde a "santa" (Na Sa dos Prazeres) apareceria como proprietária; e (2) a perda da posse de eventuais domínios titulados, que teriam sido entregues formalmente a grupos indígenas sob a forma de doação ou em retribuição a serviços prestados ao Estado.</div><div><br /></div><div>Esse foi o caso em Caucaia. As fontes disponíveis mencionam que o município de Caucaia origina-se da Aldeia de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia, missionada regularmente pelos jesuítas entre 1741 e 1759, mas cuja origem remonta a uma época imprecisa do século XVIII, entre 1603 e 1666. A natureza das fontes não possibilita determinar com rigor a procedência e a composição do contingente indígena originalmente reunido ali: se os Potiguara que ali já se encontravam comerciando com os franceses quando da expedição de Pero Coelho, em 1603 (Potiguara esses que, ao refluírem de suas derrotas para os portugueses, foram responsáveis pelo deslocamento para o interior dos Cariri e Tremembé - "senhores originais da orla cearense" -, segundo Carlos Pereira Studart); se os 200 ou 800 Potiguara que compuseram o próprio exército recrutado por Pero Coelho; se os Potiguara e Tabajara que o Pe. Luís Figueira logrou fazer acompanhá-lo no retorno da sua primeira missão à serra da Ibiapaba; ou se todas essas alternativas.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoKu_cIPsPwdl-t1ugxvWbf0_DFo5vPAz1cZgebkj9kPSveMNFnTRkKEQkvh6EfdaWMnQG0_pOME_SPnL9erOMqOh1VTMKzmUPA4wRcI_fqSl94Cy_mKwfsVd8RNJ6aCqezv8IUUx5T1Q/s500/tapeba1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="333" data-original-width="500" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoKu_cIPsPwdl-t1ugxvWbf0_DFo5vPAz1cZgebkj9kPSveMNFnTRkKEQkvh6EfdaWMnQG0_pOME_SPnL9erOMqOh1VTMKzmUPA4wRcI_fqSl94Cy_mKwfsVd8RNJ6aCqezv8IUUx5T1Q/w640-h426/tapeba1.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Os Tapeba durante manifestação em Caucaia (Foto: Jarbas Oliveira)</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Carlos Studart Fo informa que os Potiguara obtiveram do governo português várias datas de sesmaria, possivelmente em retribuição à sua colaboração na supressão dos levantes "tapuios". As missões, por sua vez, foram beneficiadas na conjuntura de expansão e consolidação da administração religiosa do espiritual e do secular dos aldeamentos. O Barão de Studart registra que, em 23 de novembro de 1700, Alvará em forma de lei concede a cada missão uma légua de terra em quadra para sustentação dos índios e missionários. Há registros de concessões de datas e sesmarias a colonos e a índios, em Caucaia, para a primeira metade do século XVIII. Em 31 de março de 1723, João Brigido registra uma concessão feita pelo Capitão-Mór da Capitania "ao principal da aldeia de Caucaia João Paiva e mais officiaes e índios, para elles e seus herdeiros, de três legoas de terra com uma de largura, meia legoa para cada lado, fazendo peão no olho d'água chamado Taboca".</div><div><br /></div><div>Implementado o Diretório Pombalino, os jesuítas são expulsos e a Aldeia de Caucaia é erigida em Vila Nova de Soure, em 1759. Aos Potiguara que ali encontravam-se aldeados ter-se-iam reunido frações Cariri, Tremembé e Jucá, oriundas de deslocamentos forçados de aldeamentos do interior para os do litoral (com o intuito de facilitar a administração) ou de solicitações dos próprios índios - conforme deixa entrever correspondência entre os diretores de índios dessas Aldeias e o Capitão-Mór da Capitania.</div><div><br /></div><div>Extinto o Diretório Pombalino em 1798, há relatórios dos Presidentes da Província do Ceará que revelam uma situação singular, na qual, em meados do século XIX, ainda existiriam índios reivindicando a restituição do Diretório e dos bens seqüestrados, sem falar na proposta de restabelecimento das Aldeias de Soure e Vila Viçosa da parte da Assembléia Provincial. Vila Nova de Soure permanece sendo mencionada como "vila de índios", desde a sua criação até o segundo terço do século passado. Em 1863, por ocasião da instalação da Assembléia Legislativa Provincial, o Presidente da Província do Ceará dá por extinta a população indígena da província e afirma que os patrimônios territoriais das Aldeias "foram mandados incorporar à fazenda por ordem imperial", mas ressalvando contraditoriamente: "respeitando-se as posses de alguns índios". Entretanto, Alfredo Moreira Pinto reproduz o conteúdo de uma escritura de doação de terras feita por Francisco Barros de Souza Cordeiro e sua mulher à "Nossa Senhora dos Prazeres desta Real Villa de Soure", onde se faz menção aos "possuidores índios desta mesma villa".</div><div><br /></div><div>As referências, portanto, destacam que a história da área em que hoje se situa o município de Caucaia e vivem os Tapeba, está relacionada ao trânsito das populações aborígenes que ali habitaram antes e depois da chegada dos primeiros colonizadores, e à conquista e ao povoamento pelos europeus (franceses, holandeses e portugueses) do que hoje é a costa cearense. Isso faz com que se sustente hoje a tese de que os Tapeba sejam o resultado de um lento processo de individuação étnica dos contingentes indígenas originários (Potiguara, Tremembé, Cariri e Jucá) reunidos sob a autoridade da administração colonial.</div><div><br /></div><div> A "terra da santa" e as formas de apropriação fundiária</div><div>Quaisquer que tenham sido os seus domínios, os Tapeba não conseguiram assegurar a manutenção destes, geração após geração, de modo pleno até os dias de hoje. Expropriados de suas terras por vários mecanismos de troca desigual, eles foram levados a ocupar domínios da União e a residir em bairros do perímetro urbano da cidade.</div><div><br /></div><div>Os Tapeba e demais regionais referem-se com alguma freqüência à "terra da santa" (Nossa Senhora dos Prazeres). Esta noção de um território dado à santa, expressa nas referências ao passado atualizadas por eles, guarda coerência com os registros históricos de concessões territoriais feitas à missão e ao líder dos índios, bem como com o que ocorreu a esse patrimônio territorial, com as sucessivas mudanças no ordenamento da administração dos indígenas e na legislação fundiária.</div><div><br /></div><div>Ao lado da condição de "moradores" em propriedades de terceiros, aos quais eles tinham que retribuir com "agrados" da colheita anual, mas com o uso relativamente consentido dos recursos naturais, e da condição de controle livre e individual da terra e dos recursos básicos por um ou outro grupo doméstico (situação que se obtinha num passado recente nas áreas do Tapeba e do Capuan), os Tapeba também conheceram e atualizaram sistemas de "uso comum". Alguns grupos de descendência - isto é, os que consistem de todos os descendentes, através de homens e mulheres, de um ancestral comum - identificados principalmente no Paumirim, exerceram o controle dos recursos naturais básicos de determinadas áreas durante um longo período de tempo, segundo regras específicas consensualmente acatadas nos meandros das relações sociais estabelecidas entre os grupos domésticos que compunham aquelas unidades.</div><div><br /></div><div>Observa-se, assim, uma multiplicidade de soluções históricas produzidas e conhecidas pelos Tapeba na relação com a terra e os recursos naturais valorizados (madeira para lenha, caça, pesca, mananciais, açudes naturais, lagoas, rios), bem como com suas benfeitorias (fruteiras, taperas, etc.). A valorização progressiva da propriedade imobiliária rural na zona metropolitana da capital está na raiz da desagregação das relações sociais anteriormente vigentes, da formação dos atuais grupos locais em que vivem os Tapeba e da mudança no caráter da relação de moradia que se verifica hoje.</div><div><br /></div><div>Na segunda metade deste século, vamos encontrar referências aos Tapeba em matérias de jornais de grande circulação, nas quais são destacadas as péssimas condições em que vivem. O Jornal do Brasil de 7 de abril de 1968 publica matéria intitulada "Indígena no Ceará não é nem cidadão", em que se descreve "a forma primitiva de vida [sic] que cultivam" e - o que é interessante - o fato deles não existirem legalmente, dado o desconhecimento oficial de sua existência pelo governo estadual e pela FUNAI. Já em 6 de julho de 1969, O Estado de S. Paulo publica matéria intitulada "O triste fim dos indígenas cearenses. Nos costumes toda decadência", em que se descreve as condições de vida subumanas dos Tapeba ("farrapos humanos", "animais" etc.) e o fato deles não terem "ninguém no governo que se importe com eles". Mais uma vez, o Estado, em 2 de maio de 1982, publica artigo do correspondente local, Rodolfo Espíndola, intitulado "Os últimos Tapeba, na miséria", descrevendo as suas condições de vida e informando que vivem em palhoças às margens do rio Ceará.</div><div><br /></div><div><b> Território, parentesco e estigma</b></div><div><br /></div><div>O referente toponímico e territorial, já referido, vincula-se estreitamente à referência "familiar", isto é, ao modo como as pessoas traçam ou vêem traçada sua descendência por relações de parentesco com ancestrais que teriam vivido naquelas áreas. No Tapeba, destaca-se a figura de Manoel Raimundo, "cabeça" dos "troncos velhos" da lagoa do Tapeba. No Paumirim, a figura emblemática de José Alves dos Reis, o Zé Zabel "Perna-de-Pau", tido como a última forte liderança, o "último Tuxaua", após a morte do qual conta-se que os Tapeba do Paumirim, que viviam sob a sua autoridade, se dispersaram numa espécie de diáspora. O caso singular de poliginia sororal que ele manteve e os muitos filhos que ele teve com as suas duas mulheres geraram um grupo de descendência claramente delimitado, alguns elementos do qual (notadamente, da segunda geração descendente) casaram entre si.</div><div><br /></div><div>O modo como são pensadas e apropriadas as relações de parentesco, como é figurada a unidade do grupo e como se expressa o sentimento subjetivo de constituírem um todo, é atestado e instituído pelo uso do termo "família", recorrentemente associado ao termo tapeba: "família de tapeba". Do mesmo modo, diz-se que os "Zabel" (supracitados), os "Coco", os "Jacinto", os Alves dos Reis, os Alves de Matos, os Teixeira de Matos, os Alves Teixeira e outros grupos de descendência irrestrita são (ou não são) Tapeba, da "família de tapeba" (dependendo do contexto de interação definido).</div><div><br /></div><div>A esses fatos básicos (procedência comum e descendência irrestrita) vincula-se uma série de atributos desabonadores. Tapeba funcionou - e em certos circuitos e contextos ainda funciona - como um insulto e um xingamento, dada a informação social pejorativa que o termo veicula. Está associado a condutas como comer carne podre (carniça), consumo de álcool, promiscuidade, desonestidade, desrespeito pela propriedade alheia, indolência e indisposição para o trabalho, bem como à imundície em que vivem e à imagem de miséria, em geral, a que estão associados. Essa "imagem pública" dos Tapeba ainda tem muita força no contexto local, sendo os regionais socializados nessa concepção sobre a conduta dos Tapeba e na expectativa de que se comportem costumeiramente assim. É comum alguns Tapeba assentirem em alguns elementos desse reconhecimento negativo de que são objeto, como definidores das características singulares que os distinguem.</div><div><br /></div><div><b> Luta pela terra</b></div><div><br /></div><div>Foi com esse grupo estigmatizado que a Equipe de Assessoria às Comunidades Rurais da Arquidiocese de Fortaleza começou a trabalhar em Caucaia em 1984, assistindo indistintamente os Tapeba e os "brancos", e tentando equacionar os problemas de ambos, "índios" e pequenos posseiros. O seu projeto original consistia em dar suporte tanto a "índios" e "brancos" numa luta comum pela terra - o que levou à criação, em 1985, da Associação das Comunidades do Rio Ceará, com representação paritária dos Tapeba e dos "brancos", meio a meio (da presidência ao conselho, passando pela tesouraria e a secretaria). Em parte devido à sua própria forma de atuação - marcadamente assistencialista num primeiro momento - e em parte devido a uma mudança de conjuntura - o naufrágio do Plano Nacional de Reforma Agrária - a Equipe descuidou dessa proposta.</div><div><br /></div><div>De uma solução na qual o interlocutor principal no governo era o extinto Mirad/Ministério da Reforma Agrária, a Equipe Arquidiocesana concentrou seus esforços em equacionar a demanda por terra propondo a criação de uma Área Indígena no município de Caucaia, beneficiando os Tapeba. Estes, então, começaram a estabelecer novas relações (com a ação da Igreja e com várias agências governamentais) e novas alternativas de futuro se abriram para eles. Contudo, o que foi mais importante para a(s) sua(s) auto-imagem(ns) e a(s) imagem(ns) que os outros têm deles foi a transição de "Tapebas imundos" para índios sujeitos de direitos e a reativação de vínculos com parentes efetivos e parentes distantes.</div><div><br /></div><div>Vítimas constantes das arbitrariedades da polícia e das ameaças dos supostos proprietários de terra, principalmente na área do mangue do rio Ceará, os Tapeba viram-se na situação, inédita para eles, de poder reverter a correlação de forças - até então, completamente desfavorável a eles: a luta pelo direito à pesca de crustáceos na área de mangue, à margem esquerda do rio Ceará, contra as pressões dos condôminos da Fazenda Soledade; a luta pela posse de terreno da marinha à margem direita do rio Ceará, ainda em área de mangue, contra a transferência do foro para as indústrias T.B.A. (Técnica Brasileira de Alimentos) e Cerapeles; as denúncias contra a localização da rampa de lixo da companhia de limpeza urbana do município nessa mesma localidade; a luta pelo direito dos Tapeba da Capoeira continuarem retirando areia do leito do rio Ceará, contra as violentas tentativas de intimidação de vereadores que haviam arrendado a Fazenda Malícias, em 1988, no interior da qual corre o rio Ceará; entre outras.</div><div><br /></div><div>A discussão em torno da identidade indígena dos Tapeba é o elemento que vem norteando o processo de reconhecimento jurídico-administrativo da TI Tapeba desde o seu início, em 1985. A TI Tapeba foi identificada em outubro de 1986 por um Grupo de Trabalho (GT) constituído por um sociólogo e um engenheiro agrônomo da Funai, e um representante da Equipe Arquidiocesana.</div><div><br /></div><div>O levantamento fundiário dos imóveis rurais incidentes na Área Indígena Tapeba, realizado em agosto de 1987, foi a etapa mais conflitiva do processo, marcada por resistência ativa e passiva dos supostos proprietários de imóveis rurais à vistoria dos mesmos. São dessa época as declarações públicas de alguns potentados locais contestando a existência histórica dos índios Tapeba. Foram levantados, à época, 118 ocupantes não índios, sendo 55 supostos proprietários com títulos registrados em cartório, 61 pequenos posseiros e dois foreiros.</div><div><br /></div><div>De lá para cá, o processo sofreu inúmeras reviravoltas. Foi arquivado em julho de 1988 por decisão do "grupão" - o Grupo de Trabalho Interministerial instituído pelo Decreto 88.118/83 como instância com a atribuição formal de avaliar as propostas de criação de áreas indígenas. O "grupão", cuja composição foi modificada pelo Decreto 94.945/87, determinou em 1988 que a área proposta pela Funai não deveria ser considerada como terra indígena, "tendo em vista as dúvidas quanto à etnia dos remanescentes", mas "que se aguardassem, para enriquecer o processo, novos dados acerca da etnia, quando então a Funai voltaria a analisar o caso".</div><div><br /></div><div>Na ocasião, houve uma reação generalizada contra a decisão do "grupão", não só dos Tapeba, da Arquidiocese e de organizações de apoio como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e o Comitê Pró-Tapeba, mas também do próprio Governo do Estado, da Assembléia Legislativa e da Procuradoria Geral da República no Estado.</div><div><br /></div><div>Reaberto em maio de 1989, ao nível da Assessoria da Superintendência de Assuntos Fundiários da Funai, por considerar-se "indiscutível tratar-se de terra de ocupação tradicional e permanente indígena", foi necessário aguardar mais oito anos para que o Ministro da Justiça, Íris Rezende, assinasse uma portaria, declarando a AI Tapeba como território tradicional indígena.</div><div><br /></div><div>Dessa vez foi a Prefeitura Municipal de Caucaia, por meio do Prefeito José Gerardo Arruda, que reagiu e contestou a Portaria declaratória, com base na alegação de vício de procedimento. O mandado foi acatado por unanimidade e a portaria anulada, perdendo toda a validade.</div><div><br /></div><div>Como se não bastasse isso, a situação de destinação efetiva da terra complicou-se no fim da década de 1990. Apesar da Funai ter instalado um posto indígena na área, as notícias na imprensa local e da Equipe Arquidiocesana de Apoio à Questão Indígena apontavam uma situação de agravamento da presença não-indígena na área, patrocinada por supostos proprietários de terra, antagonistas dos Tapeba, que têm promovido loteamentos irregulares. O agravamento das tensões levou ao assassinato de dois líderes tapeba em 1996 e 1997.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Nota sobre as fontes</b></div><div><br /></div><div>As monografias etnográficas mais relevantes, compreensivas e abrangentes sobre os Tapeba são aquelas de autoria do autor do verbete (dissertação de mestrado Tapebas, Tapebanos e Pernas-de-Pau, defendida no Museu Nacional, UFRJ, em 1993) e da antropóloga norte americana Karen Hjerpe (tese de Ph.D. em Antropologia Social, apresentada na Universidade da Flórida em 1998).</div><div><br /></div><div>Há também artigos de ambos sobre a questão da fronteira e da identidade étnica, a relação destas com concepções em torno do corpo e práticas alimentares, a organização das atividades produtivas e outros aspectos da sociedade e cultura dos Tapeba.</div><div><br /></div><div>Além desses trabalhos, há um conjunto diversificado de informações e relatórios elaborados por técnicos de órgãos governamentais (Rita Heloisa de Almeida, Jussara Vieira Gomes, Élia Menezes Rola) produzidos no âmbito do processo de reconhecimento oficial dos Tapeba e do seu território, alguns deles constituindo as primeiras tentativas de oferecer um quadro integrado da sociedade e da história dos Tapeba - sintetizando informações e fontes antes dispersas.</div><div><br /></div><div>Há, por fim, aqueles trabalhos produzidos por intelectuais cearenses de diferentes gerações que têm em comum a orientação historiográfica, ainda que com perspectivas muito distintas - alguns, inclusive, com pretensão etnológica, como os trabalhos de Carlos Studart pai e filho.</div><div><br /></div><div>Encontramos desde pequenos verbetes pontuais, até obras de maior envergadura. Destacam-se pela sua contemporaneidade e seu esforço de síntese - tanto analítica, quanto enciclopédica - sobre os índios do Ceará, os trabalhos de José Cordeiro e Maria Sylvia Porto Alegre. Tratam-se de trabalhos que, ainda que não especificamente sobre os Tapeba, aportam dados e informações sobre a história indígena do Ceará e da colonização deste, relevantes para a compreensão da situação atual.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>AIRES, Jouberth Max Maranhão Piorsky. A escola entre os índios Tapeba : o currículo num contexto de etnogênese. Fortaleza : UFCE, 2000. 165 p. (Dissertação de Mestrado)</div><div>ALMEIDA, Geraldo Gustavo de. Perna de Pau. In: HERÓIS indígenas do Brasil : memórias sinceras de uma raça. Rio de Janeiro : Cátedra, 1988. p. 103.</div><div>ALMEIDA, Rita Heloisa de. Relatório de viagem ao município de Caucaia, Ceará. Brasília : CTI/SG/MIRAD, 1986. 51 p.</div><div>BARRETTO FILHO, Henyo Trindade. Economia Tapeba : atividades econômicas e suas formas de organização. Rio de Janeiro : Peti, 1987. (paper)</div><div>. Os índios Tapebas. In: CORDEIRO, José. Os índios no Siará : massacre e resistência. Fortaleza : Hoje/Assessoria em Educação, 1989. p. 191-3</div><div>. A invenção multilocalizada da tradição : os tapebas de Caucaia. Anuário Antropológico, Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, v. 96, p. 103-11, 1997.</div><div>. Tapebas, tapebanos e pernas-de-pau : etnogênese como processo social e luta simbólica. Rio de Janeiro : UFRJ, 1993. 692 p. (Dissertação de Mestrado)</div><div>. Tapebas, tapebanos e pernas-de-pau de Caucaia, Ceará : da etnogênese como processo social e luta simbólica. Brasília : UnB, 1994. 32 p. (Série Antropologia, 165)</div><div>CORDEIRO, José. Os índios no Siará : massacre e resistência. Fortaleza : Hoje/Assessoria em Educação, 1989. 272 p.</div><div>GOMES, Jussara Vieira. Breve informação sobre os índios do município de Caucaia, Estado do Ceará. Rio de Janeiro : Museu do Índio, 1985.</div><div>. Relatório sobre os índios do município de Caucaia, Ceará. Rio de Janeiro: Museu do Índio, 1985.</div><div>HJERPE, Karen. Food, nutrition and identity in Northeastern Brazil : a case study among the Tapeba of Ceara. Gainsville : Univer. of Florida, 1998. (Ph.D. Thesis)</div><div>OLIVEIRA, Kelly G. Cultura e memória : oralidade na transmissão das lendas e rituais indígenas tapeba. Fortaleza : UFCE, 2004. 78 p. (Monografia em Comunicação Social).</div><div>PINHEIRO, Joceny (Org.). Ceará, terra da luz, terra dos índios : história, presença, perspectivas. Fortaleza : MPF ; Funai, 2002. 166 p.</div><div>PINTO, Alfredo Moreira. Tapeba. In: APONTAMENTOS para o diccionário geographico Brasileiro. v. 3. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1899. p. 559.</div><div>POMPEU SOBRINHO, Thomaz. Ethymologia de algumas palavras indígenas. Rev. Trimensal do Instituto do Ceará, Fortaleza : Typ. Studart, n. 33, p. 208-27, 1919.</div><div>PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Aldeias indígenas e povoamento no Nordeste no final do século XVIII : aspectos demográficos da "cultura do contato". (Trabalho apresentado no GT "História Indígena e do Indigenismo", no XVI Encontro Anual da ANPOCS, Caxambú-MG, 1992).</div><div>ROLA, Élia Menezes. Caracterização da situação atual dos Tapeba. Brasília : CTI/Mirad, 1986. 34 p. (Informação Técnica, 71)</div><div>. Sobre a situação atual dos Tapeba, Caucaia-CE. Brasília : CTI/Mirad, 1986. (Informação Técnica, 37)</div><div>STUDART, Carlos Pereira. 1926. Contribuição para a ethnologia brasileira : as tribus Indígenas do Ceará. Rev. Trimestral do Instituto do Ceará, Fortaleza : s.ed., v. 40, p. 39-53, 1926.</div><div>STUDART, Guilherme. Datas e factos para a história do Ceará. Fortaleza: Typ. Studart, 1896.</div><div>STUDART FILHO, Carlos. Notas históricas sobre os indígenas Cearenses. Rev. Trimensal do Instituto do Ceará, Fortaleza : s.ed., v. 45, p. 54-103, 1931.</div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-6075578498184090192020-10-22T11:56:00.005-07:002020-10-22T11:56:37.408-07:00Pitaguary<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRLQY6wv4CGtb4AQ3lcz3nWK7kh6Nhyphenhyphen3U1FOtpJ9h4DFzCmgdQMoFaMUSLipn3xt-hXw8iIMlN1LTuA_eHPT6TMnzqEoY9cJkqOnU6_5dwx4H1c-QmUtAeFOwroCaQTW8SQxVmxEUNVY0/s1310/Toy+Art+Pitaguary.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRLQY6wv4CGtb4AQ3lcz3nWK7kh6Nhyphenhyphen3U1FOtpJ9h4DFzCmgdQMoFaMUSLipn3xt-hXw8iIMlN1LTuA_eHPT6TMnzqEoY9cJkqOnU6_5dwx4H1c-QmUtAeFOwroCaQTW8SQxVmxEUNVY0/w640-h582/Toy+Art+Pitaguary.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Pitaguary</span><br /></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">172</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Pitaguary</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Potiguara, Pitaguari</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">CE</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">3793</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table><div>O Ceará foi a primeira província a negar a existência da presença indígena em seu território, ainda no século XIX. Como resultado dessa medida, extensas faixas de terra tornaram-se disponíveis, o que beneficiou de forma direta a pecuária extensiva. Nesse contexto, povoados originados pela expansão dessa atividade foram transformados em vilas e o Estado passou a exercer controle crescente sobre a mão-de-obra local, uma mão-de-obra que era basicamente formada por índios submetidos ao regime de trabalho forçado.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrHGaLI35XItuMLPZ0SIEnGJjr3Ql6qJI30cdD1FsWN_mQyHEojAt3rXDSEaLKUl2a58SyOl2WEN1nyazsx0HDprFNPhZCbVTqzrBNZiVQdYXObrmnZ6LQpirecZzALVCFexR1B4rbjEY/s1783/pitaguary2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="901" data-original-width="1783" height="324" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrHGaLI35XItuMLPZ0SIEnGJjr3Ql6qJI30cdD1FsWN_mQyHEojAt3rXDSEaLKUl2a58SyOl2WEN1nyazsx0HDprFNPhZCbVTqzrBNZiVQdYXObrmnZ6LQpirecZzALVCFexR1B4rbjEY/w640-h324/pitaguary2.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Familia Pitaguary</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A hegemonia que o Estado conquistou sobre os índios após a expulsão dos jesuítas deu lugar a um processo de perda de visibilidade indígena que só começou a ser revertido na segunda metade do século XX, quando, a partir da década de 80, dada à mobilização do povo Tapeba, voltou-se a falar sobre a presença indígena no Ceará. Logo em seguida, já no início da década de 90, foi a vez dos Pitaguary, que começaram a se organizar politicamente para pressionar pela demarcação de sua terra.</div><div><br /></div><div><b> Denominação</b></div><div><br /></div><div><div>Pitaguary é a auto-denominação do povo indígena que vive ao pé da serra entre os municípios cearenses de Maracanaú, Pacatuba e Maranguape. Distando aproximadamente 26 Km de Fortaleza, a Terra Indígena (TI) Pitaguary está situada na região metropolitana da capital cearense, tendo em seus arredores uma área caracterizada pela concentração de indústrias e urbanização crescente. Habitada pelos Pitaguary desde há muito, essa terra é socialmente marcada por uma série de acontecimentos que fundam a memória coletiva de seu povo. Foi nela que os “troncos velhos” pereceram, deixando suas “raízes antigas”, assim como é dela que sobrevivem os Pitaguary de hoje.</div><div><br /></div><div>De origem Tupi, o termo Pitaguary sempre aparece, nos documentos oficiais dos séculos XVII, XVIII e XIX, designando um lugar: uma serra, um sítio ou um terreno. Possivelmente, é um termo derivado de variáveis do nome Potiguara, etnia que teria ocupado extensas terras, já em 1603, na costa cearense. Para o termo “Potiguara” há diversas interpretações e é nelas que se pode perceber a semelhança existente para com a denominação Pitaguary.</div><div><br /></div><div>Lima Figuerêdo, por exemplo, na obra Índios do Brasil (1939), enumera as variantes de “Potyguaras” como “Pitinguaras” e “Petinguara”. Fernão Cardim, em Tratados de Terra e Gente do Brasil (1939), refere-se aos mesmos grafando sua variante como “Pitiguaras”. Entre essas denominações surgem outras, como “Potiguare”, “Potigoar”, “Pitagoar”, “Pitinguares” e “Petinguares”. Hoje em dia, além da grafia de Pitaguary com “y” no final, são de uso corrente as formas “Pitaguarí” e “Pitaguari”.</div><div><br /></div><div><b> História</b></div><div><br /></div><div>Em 1665, após os conflitos que envolveram habitantes nativos, portugueses e holandeses no Ceará, os Potiguara formaram um grande aldeamento original cujo nome se conheceria, mais tarde, como Bom Jesus da Aldeia de Parangaba. Grupos menores daí se destacaram e por volta de 1680 constituíram as Aldeias de São Sebastião de Paupina, de onde se originariam mais tarde as aldeias de Caucaia e a Aldeia Nova de Pitaguari.</div><div><br /></div><div>Também consta nos arquivos que, em 1707 e 1718, os índios de Parangaba receberam, por data de sesmaria, posses de terra na costa da Serra de Sapupara e na Serra de Maranguape, enquanto os índios de Paupina, em 1722, receberam suas terras na Serra de Pacatuba. Um século mais tarde, em 1854, o sítio Pitaguarÿ era registrado como terra de posse indígena, levando o nome de 21 índios e seu líder, Marcos de Souza Cahaiba Arco Verde Camarão. Acredita-se, assim, que os Pitaguary de hoje descendam diretamente da população que se fixou nessa região, compreendendo parte dos municípios de Pacatuba e Maranguape (do qual se originaria mais tarde Maracanaú).</div><div><br /></div><div>Já em 1863, foram registradas queixas dos índios contra posseiros que tentaram usurpar suas terras. Em complemento às fontes escritas, nas narrativas Pitaguary o contato é representado como sinônimo de invasão e perda de autonomia. Essas histórias revelam, inclusive, que parte das obras hoje encontradas na localidade de Santo Antônio dos Pitaguary, como a igreja e o açude de mesmo nome, foram construídas à custa de trabalho escravo indígena.</div><div><br /></div><div>No princípio, contam os narradores indígenas, “era tudo um povo só”, “uma só nação”, levada à divisão em face do contato. Esse era o tempo pretérito, onde havia liberdade. Com a chegada dos “ricos fazendeiros” veio, então, o tempo da “escravidão”, em que os índios foram levados a trabalhar na construção de grandes edificações. A escravidão ou o “cativeiro”, que aparece nessas narrativas, tanto quer significar uma prisão, de fato, quanto, simbolicamente, um estado de sujeição coletiva em que há perda de autonomia, ou seja, perda da liberdade de produzir e se reproduzir.</div><div><br /></div><div>Além dos fazendeiros, a terra indígena Pitaguary sofreu a ocupação do Estado, através de diversas instituições, durante um período consideravelmente extenso. Essa presença marcou profundamente a história da comunidade de Santo Antônio dos Pitaguary. Ao longo de décadas, em toda a região habitada pelos índios, o chefe da Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará parece ter figurado como autoridade máxima, sendo posteriormente substituído pelos representantes da Empresa de Pesquisa Agro-pecuária do Ceará e, mais tarde, pela Polícia Militar do Ceará.</div><div><br /></div><div>Durante grande parte do século passado, os Pitaguary viveram num regime ditado pelos chamados “doutores”, ocupando, no máximo, posições subalternas que lhes eram destinadas nas casas dos chefes ou nas repartições públicas. Foi somente no início deste século que, após mobilização intensa por parte dos moradores, a Polícia Militar do Ceará, juntamente com a sua cavalaria, foi retirada de dentro da área Pitaguary. Paralelamente, outras medidas (como o fechamento do portão que dá acesso à localidade de Santo Antônio e ao açude de mesmo nome) deram continuidade à retomada, por parte dos índios, da terra que lhes cabia e do patrimônio material nela presente. De um modo geral, a retirada da Polícia Militar do Ceará, o fechamento do açude e o fim da comercialização de bebidas alcoólicas dentro da área representou, cada qual, um marco na história recente desse povo.</div><div><br /></div><div><b> População</b></div><div><br /></div><div>Com uma população de índios, todos falantes do português, os Pitaguary apresentam uma tendência ao crescimento populacional, negando, com isso, a tão propagada idéia do “desaparecimento” indígena no Ceará. A maioria dos habitantes da TI Pitaguary por lá sempre morou, mudando apenas de casa, de terreno ou, no máximo, deslocando-se para espaços circunvizinhos. Isso explica a recorrência de inúmeros cruzamentos familiares e de uma rede de parentesco bastante particular, na qual bem se evidencia a preservação, através de várias gerações, de sobrenomes de famílias como “Ferreira da Silva”, “Marcolino”, “Targino”, “Alves”, “Feitosa” e outros.</div><div><br /></div><div>Nesse contexto, a auto-identificação indígena tem como pilares o sentimento de uma origem e de uma unidade comum que é baseada nos laços de parentesco e que muitas vezes utiliza como recurso a invocação da memória dos antepassados. Isso fica expresso em falas como “porque minha avó era índia, minha mãe era índia”, “meu avô era índio brabo”, “são raízes antigas”, “aqui tudinho é índio, uma coisa só” e “aqui todo mundo se conhece, porque todo mundo se criou junto”. Em conversas cotidianas, também se observa o sentimento de pertencimento a um espaço comum. Igualmente fortes na sustentação da identificação que os Pitaguary fazem de si, esses pilares definem a idéia de uma comunidade que permanece sobre um território que lhes é deveras específico.</div><div><br /></div><div><b> Situação fundiária e localização</b></div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUzl_-uP7ZgexgNro9dzqsumut3qUT2fdOUzUBs2qApFjqavPh3oym-7sGUZQpQ6qIogaEQR1gvc3VYQ0iP5kpICWXrpOPyybge3gezku_IlfU7P4c_Gj_YSIJh1C3BLOMg_g5nbDJn30/s2570/Territorios+indigena+Pitaguary.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUzl_-uP7ZgexgNro9dzqsumut3qUT2fdOUzUBs2qApFjqavPh3oym-7sGUZQpQ6qIogaEQR1gvc3VYQ0iP5kpICWXrpOPyybge3gezku_IlfU7P4c_Gj_YSIJh1C3BLOMg_g5nbDJn30/w640-h304/Territorios+indigena+Pitaguary.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Pitaguary</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Os Pitaguary vivem em localidades diversas, dentre as quais estão o já mencionado Santo Antônio, assim como Olho D’Água, Horto (sob a jurisdição do município de Maracanaú) e Monguba (no município de Pacatuba). Essas localidades estão dentro da Terra Indígena Pitaguary.</div></div><div><br /></div><div><div>As localidades aqui mencionadas variam bastante quanto à sua caracterização, à densidade demográfica e o grau de atenção que têm dentro e fora da Terra Indígena. Santo Antônio talvez seja a comunidade de maior visibilidade para os Pitaguary. Isso se deve ao fato de que, além da paisagem exuberante de que dispõe, é o local que concentra a maior parte dos lugares de memória desse povo. Também foi lá que se deu o pontapé inicial para a mobilização em torno da demarcação da terra Pitaguary.</div><div><br /></div><div>Santo Antônio conta ainda com amplo patrimônio material erguido ao longo dos anos de ocupação estatal. A casa de apoio, o prédio comunitário, a vacaria e outras construções menores são exemplos do que ficou dessa ocupação. Afora isso, são marcos locais a pequena igreja de Santo Antônio, que atrai inúmeros romeiros todos os anos, e o açude, razão de muitos conflitos entre aqueles que defenderam a proibição da entrada de banhistas que invadiam a área de sexta a domingo e aqueles que advogavam pela passagem livre dos mesmos, geralmente representando o interesse de comerciantes locais que lucravam com a venda de bebidas nos finais de semana.</div><div><br /></div><div>Dada a extensão de sua área verde, em conjunto com a existência de formações rochosas, de rios sazonais e outros recursos naturais, Santo Antônio apresenta imenso potencial, ainda não explorado, para um turismo de caráter ecológico e comunitário. Por outro lado, é também nesta localidade, mais precisamente na parte denominada de Aldeia Nova, que se encontram algumas das moradias Pitaguary mais precárias. A Aldeia Nova continua a sofrer com parco abastecimento de água, o que leva a um sem número de dificuldades, especialmente no que diz respeito à saúde desses moradores.</div><div><br /></div><div>As localidades do Olho D’Água e Horto, por estarem mais próximas do centro comercial de Maracanaú, apresentam uma paisagem que as difere consideravelmente do Santo Antônio. Parte dessas localidades são também áreas de passagem para municípios vizinhos (como Pacatuba e Maranguape), o que significa dizer que estão mais bem servidas no que se refere a opções de comércio e transporte. Ainda assim, na ponte que liga Olho D’Água à estrada que dá acesso ao Santo Antônio, há uma área desde há muito estigmatizada como “favela”, onde uma parte da população local enfrenta dificuldades que vão desde o alto índice de criminalidade, nos arredores da estrada, até a falta de saneamento básico e a poluição do rio à beira do qual vivem.</div><div><br /></div><div>Monguba já apresenta um perfil bastante distinto. Fora da jurisdição de Maracanaú, em direção ao centro de Pacatuba, a localidade de Monguba, embora próxima à auto-estrada e tendo como limite uma linha da antiga Rede Ferroviária Federal, está em grande parte encravada no pé da serra, cercada aos fundos pelo verde da mata serrana. Além disso, Monguba destaca-se como um dos lugares de maior atividade cultural dentro da área indígena. Os Pitaguary de Monguba, como gostam de ser chamados, formam um grupo de presença marcante em eventos dentro e fora de sua área. Também dispõem de uma casa de apoio, onde se realizam as reuniões do conselho local e as atividades da escola. Afora tais características, vale ressaltar que a existência de uma tradição religiosa de matriz afro-índio-brasileira faz de vários moradores dessa localidade exímios artistas, alguns dos quais se dedicam, entre outras modalidades, à percussão, à dança e ao teatro. Em adição, percebe-se ainda o valor dado às pinturas corporais e algumas práticas esportivas como o vôlei e o futebol.</div><div><br /></div><div><b> Organização política</b></div><div><br /></div><div>No início dos anos 90, quando um pequeno grupo de índios Pitaguary começou a pressionar pela demarcação de sua terra, foi criado o Conselho Indígena Pitaguary – COIPY. Com o passar do tempo, as reuniões quinzenais, que costumavam se realizar numa palhoça construída ao lado da casa do cacique, passaram a acontecer num galpão, no centro da localidade de Santo Antônio, onde anteriormente funcionava parte da Empresa de Pesquisa Agro-pecuária do Ceará – EPACE. Ainda no princípio, o índio Daniel Araújo desenvolvia tanto a função de cacique quanto a de presidente do conselho. Mais tarde, porém, o número de pessoas engajadas na “luta” pela conquista dos direitos indígenas foi crescendo e, como resultado, novos espaços de organização política foram criados, surgindo daí o Conselho de Articulação Indígena Pitaguary – CAINPY e o Conselho Indígena Pitaguary de Monguba – COIPYM.</div><div><br /></div><div>Cada um destes conselhos se volta para uma região específica dentro da TI Pitaguary e é composto por um presidente, um vice-presidente, um tesoureiro e outros representantes eleitos em reuniões. No ano de 2005, uma quarta organização foi criada, a Associação dos Produtores Indígenas Pitaguary – APIPY, oriunda da necessidade de se pensar a questão da produtividade dentro da área indígena, abrangendo assim tanto Santo Antônio quanto Horto/Olho D’Água e Monguba. Afora isso, existe ainda o Conselho Local de Saúde, com representantes das três comunidades.</div><div><br /></div><div>À frente de cada uma dessas organizações, as lideranças Pitaguary têm estado cada vez mais envolvidas com a implementação de políticas públicas voltadas para a questão indígena. O dia-a-dia desses representantes inclui negociações com o poder público local, com organizações governamentais e não-governamentais, além do constante debate com lideranças de outros povos indígenas no Ceará. Ao contrário do que ocorria no início dos anos 90, essas lideranças hoje interagem com um público de caráter bastante amplo, estando freqüentemente presentes em eventos de alcance nacional.</div><div><br /></div><div>O perfil das lideranças indígenas Pitaguary, por sua vez, varia consideravelmente. Há pessoas usualmente denominadas de líderes “tradicionais”, o que aqui inclui principalmente a figura do cacique e do pajé, assim como há as chamadas “jovens lideranças”, que em geral vivenciaram a experiência da educação formal, seja através do programa de “magistério indígena” de nível médio, seja através da realização de cursos superiores em instituições como a Universidade Vale do Acaraú – UVA e a Universidade Federal do Ceará – UFC.</div><div><br /></div><div><b> Memória, cultura e tradição</b></div></div><div><br /></div><div><div>Há vários lugares de memória na área Pitaguary. Entre esses lugares destaca-se a figura da “mangueira centenária”, da “senzala dos escravos” e da gruta ou do “buraco” de Santo Antônio, para citar apenas alguns. A mangueira é constantemente identificada com a figura da “mãe natureza”, que protege, dá paz e conforto. Ela está no centro das atenções, pois, segundo contam os narradores indígenas, “naquele pé de mangueira, exatamente lá, morreu muito índio enforcado e matado de fome”.</div><div><br /></div><div>A mangueira é símbolo de um tempo pretérito, mas também de um momento vivido no presente. Ela é a lembrança do que se passou ao mesmo tempo em que se torna cenário de atividades contemporâneas de suma importância. Por exemplo, é sob a sombra da “mangueira sagrada” que, no dia 12 de junho de cada ano, os Pitaguary realizam um evento tradicional, cujo maior objetivo é apresentar o Toré para a própria comunidade e para visitantes que vêm de fora da área indígena.</div><div><br /></div><div>O Toré Pitaguary é uma dança que se inicia com os participantes dando as mãos e formando um grande círculo, como numa "corrente" de oração. Aqueles que dançam seguem os comandos dos chamados “puxadores” de Toré, geralmente o cacique ou o pajé. O canto é acompanhado pelo som das maracás e muitas vezes conta com a batida de tambores que ficam no centro da roda. É nesse momento que, segundo contam os narradores, a mangueira chora. Dizem que o clamor dos índios escravizados no passado é tão forte que, ao “brincar o Toré”, debaixo da árvore chove. Para o antigo pajé Pitaguary, seu Zé Filismino, a chuva nada mais é do que o choro da mangueira.</div><div><br /></div><div>O ritual se completa com a ingestão de uma bebida, preparada à base de frutas nativas da região, e servida para todos os membros num recipiente único (uma cabaça) que deve sempre girar em sentido horário. Os Pitaguary não têm o costume de experimentar dessa bebida, a “atanhanga”, em momentos que não sejam o da dança, indicando, com isso, que se trata de uma bebida de uso ritual.</div></div><div><br /></div><div><div>Além do Toré, as narrativas orais constituem um importante elemento da cultura Pitaguary. Nelas, é comum encontrar referências à idéia do contato entre índios e não-índios. Esse momento é representado como uma descoberta fundada sobre a violência e seguida de aprisionamento. Um dos personagens-chave de muitas histórias é o “velho Miguel Barão”, rico fazendeiro que teria usurpado larga faixa de terra pertencente aos índios. O “velho Miguel Barão” personifica a invasão e o processo de escravização de que tanto falam, em suas narrativas, os Pitaguary.</div><div><br /></div><div>Há também as crenças nos chamados “seres encantados”, presentes nos relatos míticos que têm como personagem principal a “caipora”. A caipora é símbolo da afirmação de um saber indígena sobre a “mata”. Histórias relacionadas a ela aparecem, freqüentemente, quando o assunto é a caça. Ao sair para caçar, dizem alguns mais velhos, “o pessoal vê gemido, vê pancada, vê chiado, fica ouvindo coisa que não vê”. Por que? Porque “ali tem encanto”, “caipora é encantado”. Ao contar essa história, alguns utilizam a referência com o artigo definido “a” (a caipora), outros a colocam no masculino, com o artigo "o", fazendo concordância com a figura do “caboco” ou “caboquinho”.</div></div><div><br /></div><div><div>Assim como o Toré, que de “brincadeira” passou à “arma de guerra”, as narrativas, além do seu caráter lúdico e pedagógico, passaram a ser instrumentos eficazes na demarcação da(s) singularidade(s) do povo Pitaguary, uma singularidade que se quer dizer histórica, política e cultural. Assim, a atividade de rememorar e narrar hoje tem uma importância que extrapola o âmbito da socialização interna desse povo.</div><div><br /></div><div><b> Aspectos sócio-econômicos</b></div></div><div><br /></div><div>Além da caça e a pesca, que complementam parte da dieta alimentar de algumas poucas famílias, a sobrevivência dos Pitaguary é garantida a partir do extrativismo vegetal e mineral, do artesanato, da agricultura familiar, além de um pequeno número de empregos formais, dentro da área indígena, e informais, na zona urbana de Maracanaú e Fortaleza. A agricultura de subsistência, com plantio de mandioca, macaxeira, milho, feijão e jerimum, é praticada por algumas famílias, sendo entretanto inteiramente dependente da estação chuvosa. Já a atividade artesanal engloba um grande número de pessoas, mas tem se mostrado vulnerável aos riscos do extrativismo desmesurado e à sede de lucro dos atravessadores.</div><div><br /></div><div>Os trabalhos artesanais são feitos a partir de matéria-prima da região. A produção local inclui desde a confecção de colares e trajes típicos, feitos da fibra do tucum e outros materiais, até a fabricação de cerâmica pintada à mão com com diversos tipos de barro. Figurando como o produto artesanal mais popular entre os Pitaguary, os colares são criados a partir de uma infinidade de sementes nativas, tais quais o jiriquiti, a mucunã, a linhaça, o mulungu, a lágrima de Nossa Senhora, o sabonete, o coco-babão e o coco-babaçu. Afora trabalhos manuais mais comuns como o bordado, o fuxico e o crochê, nota-se ainda a produção de cestos e sacolas de palha, além de adornos utilizados em eventos tradicionais, muitos dos quais são feitos de fibras vegetais e penas de aves como a galinha d’água, o anum-branco e o socó-boi.</div><div><br /></div><div>Quanto às atividades econômicas de extrativismo, as mais comuns são o corte de madeira e a mineração de areia lavada, fonte de renda de muitas famílias nas localidades de Santo Antônio, Horto e Olho D’Água. Todavia, dada a degradação ambiental resultante dessas práticas, as lideranças locais têm demonstrado uma preocupação constante no sentido de se buscar outras formas de geração de emprego e renda dentro da área. Essa necessidade fica ainda mais evidente quando se observa que o corte de madeira acarretou no desmatamento de áreas de tamanho significativo, assim como a retirada de areia contínua provocou o aparecimento de cavidades de profundidade variável. Como conseqüência, a modificação da mata ciliar acabou por causar o assoreamento de alguns rios, com a morte, inclusive, de árvores de inestimável valor medicinal para os Pitaguary.</div><div><br /></div><div><div>Os empregos formais estão reduzidos aos postos de trabalho advindos do processo de implementação de políticas públicas voltadas para a saúde e a educação indígena. Há, portanto, vários índios e índias nos cargos de professores das escolas diferenciadas, além de funcionários dos postos de saúde, como agentes de saúde, assistentes de enfermagem, zeladores e vigilantes.</div><div><br /></div><div>Afora isso, nota-se o investimento de algumas famílias na criação de animais de pequeno porte, como a galinha caipira, a cabra e o porco. De um modo geral, num cenário de poucas alternativas econômicas, as lideranças Pitaguary têm tentado, a partir dos recursos financeiros disponíveis e com o apoio de órgãos governamentais, desenvolver pequenos projetos de auto-sustentação, como a criação de gado para leite, as hortas comunitárias e a agricultura familiar irrigada.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Assistência e políticas públicas</b></div></div><div><br /></div><div><div>Em 1993, ainda no início da mobilização pela demarcação da terra indígena Pitaguary, a presença desse povo foi oficialmente reconhecida por um projeto de lei da Câmara Municipal de Maracanaú. A doação de 107 hectares de terra que daí resultou constituiu uma das razões pelas quais várias famílias indígenas voltaram para dentro da área, fixando-se a partir de 1997 na localidade designada de Aldeia Nova dos Pitaguary. Foi nesse mesmo ano que o Grupo de Trabalho – GT da Funai foi enviado para dar início aos estudos de identificação e delimitação da TI Pitaguary.</div><div><br /></div><div>Em 1998, as lideranças locais já falavam da necessidade de se equipar uma escola que pudesse funcionar como espaço de construção de um saber especializado na cultura local, desenvolvendo para isso um plano educacional que reconhecesse o modo de vida, aqui incluindo a história e a memória, do povo Pitaguary. Naquela época, o cacique Pitaguary lamentava o fato de que não existia “colégio pras crianças” porque não existia “uma escola indígena mesmo”, isto é, “professores índios para ensinar os índios”. Além disso, o cacique enumerava a falta de água, posto de saúde e telefone na área.</div><div><br /></div><div>Já em 1999, com a pequena doação de uma ONG estrangeira, foi construída a primeira escola indígena Pitaguary, localizada na Aldeia Nova. Deu-se a ela o nome de “Cuaba”. Entretanto, sua edificação foi mais tarde condenada e, por temor aos riscos de um desabamento, a escola acabou sendo desativada. O malogro dessa experiência afetou inúmeras crianças e professores indígenas que, voluntariamente, deslocavam-se a pé ou de bicicleta todos os dias, às vezes por cerca de mais de uma hora, para tornar possível o “sonho” de uma formação diferenciada. O que estava em jogo, na realidade, era a criação de um espaço educacional em que as crianças da localidade, ao invés de marginalizadas, fossem valorizadas.</div><div><br /></div><div>Enquanto o ideal de uma escola indígena diferenciada sofria tal abalo, a Fundação Nacional de Saúde – Funasa começava a se fazer presente dentro da TI Pitaguary. Além da seleção para o preenchimento de cargos destinados a agentes de saúde indígena, em 2000 realizou-se o cadastramento de mais de setecentos índios Pitaguary. Logo em seguida, em 2001, teve início o Curso de Magistério Indígena Diferenciado, Universidade Federal do Ceará – UFC em parceria com a FUNAI, o qual contou com a participação de diversos povos indígenas do Ceará. Esse curso, apesar de duramente criticado por lideranças Pitaguary, parece ter sido, por outro lado, diretamente responsável por um processo de interação contínua entre jovens de diversos povos indígenas no Ceará. Foi também em 2001 que se inaugurou a escola indígena do Horto, chamada de “Chuí”. Em 2002, embora sem espaço próprio, outra escola indígena, a Itaara, foi reconhecida.</div><div><br /></div><div>No mesmo ano de 2002, a partir da mobilização dos professores Pitaguary, a escola municipal da localidade de Santo Antônio foi transformada em Escola Municipal Indígena do Povo Pitaguari. Para garantir o funcionamento dela, um convênio entre estado e município foi assinado, com o primeiro se responsabilizando pelo pagamento dos professores e o segundo se encarregando dos funcionários. Nessas escolas, além da educação infantil e o ensino fundamental, tem se tentado promover, ainda que enfrentado inúmeras dificuldades, a educação de jovens e adultos.</div><div><br /></div><div>Em 2005, um novo cadastramento da Funasa já indicava um aumento da população Pitaguary para um o número de 2.144 pessoas. Até então, o pólo base de saúde do Olho D’Água continuava a funcionar em condições precárias, expondo pacientes e profissionais de saúde a diversos riscos de contaminação. Um novo pólo base foi assim construído, dessa vez dentro da área de Santo Antônio dos Pitaguary, mas devido a uma série de divergências de cunho político e administrativo, a sua estrutura ficou sem utilização até meados de 2006.</div><div><br /></div><div>De um modo geral, as equipes de saúde que trabalham junto aos Pitaguary não dispõem de profissionais suficientes para atender, simultaneamente, a população indígena e não-indígena, o que vem ocorrendo no caso do posto de saúde do Olho D’Água. Além disso, dada à a instabilidade que esses profissionais enfrentam no que diz respeito aos contratos de trabalho que assinam com as prefeituras locais, os Pitaguary acabam sofrendo com a alta rotatividade de pessoas que ocupam posições de extrema importância dentro dos postos de saúde.</div><div><br /></div><div>Afora um médico e sua esposa enfermeira que se dedicaram ao longo de mais de seis anos à saúde dos Pitaguary, e com quem esses índios desenvolveram uma relação de empatia e confiança, a maior parte dos demais profissionais de saúde não passaram mais do que alguns meses na área Pitaguary. Essa descontinuidade na relação entre os profissionais de saúde e a população atendida tem se apresentado como um dos maiores desafios para a saúde indígena Pitaguary.</div><div><br /></div><div>No que diz respeito à presença da Funai, o que se observa é que, devido à precariedade da estrutura e do reduzido número de servidores do Núcleo de Apoio Local - NAL Ceará, esta instituição tem se mantido verdadeiramente ausente da área Pitaguary. Em contraste, nota-se a presença constante de representantes da Prefeitura de Maracanaú e, mais esporadicamente, da Prefeitura de Pacatuba. Em anos recentes, a prefeitura de Pacatuba se utilizou da presença indígena Pitaguary para justificar ajuda financeira destinada à implementação de um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS em seu município. No entanto, segundo lideranças locais, esse Centro de Referência nunca atendeu às demandas da população indígena e hoje figura como mais um exemplo da relação autoritária que o poder público às vezes assume em relação à população indígena de seu município.</div><div><br /></div><div>Em 2006, a Prefeitura de Maracanaú também decidiu trazer, para a área de Santo Antônio dos Pitaguary, um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS específico para a população indígena. Funcionando em duas salas da casa de apoio local, o CRAS Pitaguary pretende prestar serviços de atenção básica a famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade, além de fazer o controle dos benefícios advindos de políticas assistenciais dentro da área. Dado seu pouco tempo de funcionamento, o CRAS de Santo Antônio é um experimento ainda em fase de implantação.</div><div><br /></div><div>Lado a lado com as políticas públicas na área da saúde, educação e assistência social, os Pitaguary contam ainda com recursos financeiros oriundos de duas indenizações pagas às suas comunidades. Isso se deve ao fato de que, em 1999, 2003 e 2004, ocorreu a passagem de linhas de transmissão de eletricidade dentro da área Pitaguary. Da instalação da primeira e segunda linhas, de propriedade da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco – CHESF, resultou o pagamento de uma indenização no total de 150 mil reais. Já em 2004, com a chegada de mais duas linhas de propriedade do Sistema Transmissão Nordeste – STN, obteve-se o pagamento de nova indenização, dessa vez no valor de 600 mil reais, com acréscimo de uma taxa anual de 75 mil reais durante um período de cinco anos.</div><div><br /></div><div>Esses recursos já estão oficialmente disponíveis para uso do povo Pitaguary, no entanto a burocracia para a liberação de parte desse montante tem sido tão grande que, no dia 13 de setembro de 2006, uma comitiva de 40 índios decidiu ocupar a Funai até que, em reunião com o seu administrador local, ficasse acordada uma alternativa para uso imediato desse recurso. As lideranças locais têm consciência de que a passagem das linhas de transmissão dentro da TI Pitaguary acarretou na diminuição de sua terra, a qual já é considerada de tamanho insuficiente. Todavia, existe aí a esperança de que, através das indenizações pagas, essa população possa, enfim, encontrar os meios para financiar projetos produtivos que transformem a situação de pobreza na qual muitos dos seus vivem.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Notas sobre as fontes</b></div><div><br /></div><div>Entre vários outros povos, os Pitaguary são mencionados no clássico “Os Aborígenes do Ceará” (1963), de Carlos Studart Filho. Referências a eles também aparecem em compilações tais quais como “Sesmarias Cearenses” (1970), publicação da Secretaria de Cultura do Ceará, e “Documentos para a História Indígena no Nordeste” (1994), volume organizado por Maria Sylvia Porto Alegre, Marlene da Silva Mariz e Beatriz Góis Dantas.</div><div><br /></div><div>Há uma série de informações e relatórios elaborados por técnicos de órgãos governamentais como parte do processo de reconhecimento oficial dos Pitaguary. Nesse conjunto figuram trabalhos como “Abordagem Histórica com finalidade para suporte ao reconhecimento étnico do Grupo Indígena Pitaguary” (1998), de Soraya Campos de Almeida Assis, e “Relatório de reconhecimento étnico dos índios Pitaguary e de identificação, delimitação e levantamento fundiário da terra indígena Pitaguary” (1999), de Maria de Fátima Brito. Em anos recentes, outros estudos de caráter técnico foram desenvolvidos, dentre os quais se pode mencionar o “Diagnóstico Ambiental Preliminar da Terra Indígena Pitaguary” (2003), de M. Ribeiro, e o “Estudo Etno-ecológico Pitaguary” (2005), de Juliana Noleto, Noara Pimentel e Flávio Valerte.</div><div><br /></div><div>Entre os textos etnográficos mais relevantes, compreensivos e abrangentes estão aqueles escritos pela autora deste verbete, precisamente em trabalhos como “Índios Pitaguary: um estudo sobre história, cultura e identidade” (1998), monografia de bacharelado defendida no Departamento de Ciências Sociais da UFC, e “Arte de contar, exercício de rememorar: as narrativas dos índios Pitaguary” (2002), dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Dessas produções surgiram as publicações “História, Memória e Identidade entre os Índios Pitaguary” (2002), “Memória e Narração” (2002) e “Da Arte para o Exercício: Uma Introdução às Narrativas Pitaguary” (2002). Existem ainda as dissertações de mestrado “Aldeia! Aldeia! A Formação Histórica do Grupo Indígena Pitaguary e o Ritual do Toré”, de Eloi dos Santos Magalhães, e “As Crianças e Suas Relações com a ‘Escola Diferenciada’ dos Pitaguary”, de Flávia Alves de Souza, ambas defendidas em Agosto de 2007, nos Programas de Pós-Graduação em Sociologia e Educação da UFC. Além desses trabalhos, novas dissertações de mestrado sobre os Pitaguary estão sendo desenvolvidas por pesquisadores vinculados a várias institutições no Ceará.</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>ASSIS, Soraya Campos de Almeida. Abordagem Histórica com finalidade para suporte ao reconhecimento étnico do Grupo Indígena Pitaguary. Brasília: FUNAI/DAF/DEID, 1998.</div><div>BRITO, Maria de Fátima. Relatório de reconhecimento étnico dos índios Pitaguary e de identificação, delimitação e levantamento fundiário da terra indígena Pitaguary, 1999. GT PORT. 1093 / PRS / FUNAI / 97.</div><div>CARDIM, Fernão. Tratados da Terra e Gente do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939.</div><div>FIGUEREDO, José de Lima. Índios do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939</div><div>NOLETO, Juliana et al. Estudo Etno-Ecológico Pitaguary. FUNAI, 2004.</div><div>PINHEIRO, Joceny de Deus. Índios Pitaguary: um estudo sobre história, cultura e identidade. Fortaleza: UFC, 1999 (Monografia de Bacharelado).</div><div>_____. História, Memória e Identidade entre os Índios Pitaguary. In: Luiz Sávio de Almeida; Marcos Galindo. (Org.). Índios do Nordeste: Temas e Problemas. 1 ed. Maceió: EDUFAL, 2002, v. III, p. 229-271.</div><div>_____. Arte de contar, exercício de rememorar: as narrativas dos índios Pitaguary. Fortaleza: PPGS da UFC, 2002 (Dissertação de Mestrado).</div><div>_____. Memória e Narração: Entre a Continência e a Duração. Revista Anima da Faculdade Integrada do Ceara, Fortaleza: FIC, 2002, v. 1, n. 3, p. 25-33.</div><div>_____. Da Arte para o Exercício: Uma Introdução às Narrativas Pitaguary. In: Joceny de Deus Pinheiro. (Org.). Ceará: Terra da Luz, Terra dos Índios. Fortaleza: Ministério Público Federal / FUNAI / IPHAN, 2002, p. 81-102.</div><div>_____. Authors of Authenticity: Indigenous Leaders and the Politics of Identity in the Brazilian Northeast. Manchester, 2005 (Projeto de Tese de Doutorado).</div><div>POMPEU SOBRINHO, Thomaz. "O Povoamento do Nordeste Brasileiro". In: Revista do Instituto do Ceará, t.51. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1937.</div><div>PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Projeto Relações Interétnicas e História Regional: uma Revisão do "Desaparecimento" das Populações Indígenas do Nordeste. Fortaleza, 1992.</div><div>_____. Cultura e história: sobre o desaparecimento dos povos indígenas. In: Revista de Ciências Sociais. V.23/24. Fortaleza: UFC, 1992/1993.</div><div>_____. Aldeias indígenas e povoamento do Nordeste no final do século XVIII: aspectos demográficos da "cultura de contato. In: Ciências Sociais Hoje. São Paulo: Hucitec / ANPOCS, 1993.</div><div>RIBEIRO, M. Diagnóstico Ambiental Preliminar da Terra Indígena Pitaguary. FUNAI. Brasília, 2003.</div><div>STUDART FILHO, Carlos. Os Aborígenes do Ceará. Revista do Instituto do Ceará, tomo LXXVII. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1963.</div><div>Cartas de Sesmaria e Registros de Terra</div><div>Data: 20/04/1722 Página: 21 – Conjunto CE1.8: Datas de Sesmarias do Ceará. Livro: V.2 Sesmarias Cearenses Departamento de Imprensa Oficial – Fortaleza – Ceará 1971., 1682-1824.</div><div>Data: 13/12/1842 Página: 324 – Conjunto CE1.5: Compilação das Leis Provinciais do Ceará. Livro: T.1 Compilação das Leis Provinciais do Ceará, 1835-1846.</div><div>Data: 04/09/1854 – Livro; Registro de Terras da Freguezia de São Sebastião de Maranguape, 1854-1858.</div><div>Data: 04/07/1863 – Conjunto CE1.9: Ministério da Agricultura. Livro: L3 Correspondências dos Ministérios do Império ao Presidente da Província, 1863-1864.</div><div>Data: 02/01/1864 Página: 63-65 – Conjunto CE1.18: Secretaria do Governo da Província do Ceará – Ofícios ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Livro: L144</div><div>Registro dos Ofícios da Presidência da Província dirigidos ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, 1861-1872.</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-26556974105557817402020-10-22T10:57:00.004-07:002020-10-22T10:57:34.681-07:00Witoto<div style="text-align: left;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVoezfDSe-M5lKP0gYOp9-q3xoAwky3kIjVQOzQ29cvwyEZqGbY-PHekJ9mDgti3I2kyRS-fZtxugnzSdF_N3QaZgslI8WChpPPSmLCyoqvKJw65GfitZszvuX0Ox9Q9r3OZtQ-zo2Rg/s1310/Toy+Art+Witoto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVoezfDSe-M5lKP0gYOp9-q3xoAwky3kIjVQOzQ29cvwyEZqGbY-PHekJ9mDgti3I2kyRS-fZtxugnzSdF_N3QaZgslI8WChpPPSmLCyoqvKJw65GfitZszvuX0Ox9Q9r3OZtQ-zo2Rg/w640-h582/Toy+Art+Witoto.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Witoto</span><br /></td></tr></tbody></table><br /><br /></div><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">222 </td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Witoto</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Uitoto</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Witoto</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">AM</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">44</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Funasa 2010</span></td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Colombia</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">5939</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">1988</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Perú</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">1864</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="white-space: pre;"> </span>NEI 2007</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><div>Os Witotos (Uitoto) são um grupo indígena brasileiro que habita o médio rio Solimões, no estado do Amazonas, mais precisamente nas Áreas Indígenas Barreira da Missão, Méria e Miratu, além da Colômbia e do Peru.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2RMP2yxn3Hd3QgkA18fgiqdrWuAcjJG4ZnC_-xdlLGjUpD0fVJw-XPk-gOiJTCRQx1Y2AfMGgDZ4brEQ2M5r3mBm5rCuEVa5fRAGGZV8DUEPEHBpBZpvVGXs3koxrFeWE0DZx7aldsvA/s449/uitoto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="449" data-original-width="300" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2RMP2yxn3Hd3QgkA18fgiqdrWuAcjJG4ZnC_-xdlLGjUpD0fVJw-XPk-gOiJTCRQx1Y2AfMGgDZ4brEQ2M5r3mBm5rCuEVa5fRAGGZV8DUEPEHBpBZpvVGXs3koxrFeWE0DZx7aldsvA/w428-h640/uitoto.jpg" width="428" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Casal Witoto</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A língua uitoto faz parte da família línguística que abrange as línguas "Uitotan - Proto-Bora-Muinane". Outros "Witotoans", portanto são os Boras (população de 1.640) e Miranhas (população 300), que falam línguas Uitoto semelhantes e vivem na foz do Cahuinarí, bem como sobre o Igara-Paraná. Outros falantes de línguas Uitoto são cerca de 250 e o 500 indios "Andoke Muinane", que vivem principalmente ao longo do Caquetá.</div><div><b><br /></b></div><div><b>Economia</b></div><div><br /></div><div>O sistema econômico é baseado na "agricultura itinerante, com rodizio de "roças" e queimadas, caça, pesca e coleta de produtos silvestres. Cada chácara tem uma área de metade a dois hectares. As principais culturas são mandioca brava e macacheira, inhame, "mafafa" ou "mangará", pimenta, pupunha, bananas, abacate, (Pouteria caimito), (Poraqueiba sericea) e milho. Constituintes do rapé e amendoim são cultivadas em um pequeno lote separado fertilizados com cinzas.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidEsLA4u4QrO_QldTRgx0yad1MtgU3eSi0K9nwYDo0H5NWWaTMzfjd5zErvy-hoDV-4C4WEFpaA2-jr8KtrJnlwxkNpfup6rbQ9Wy1LezjgrKtGW9vChVd-6mMEHpNodjzh1K9cg17_Xc/s2570/Territorios+indigena+Witoto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidEsLA4u4QrO_QldTRgx0yad1MtgU3eSi0K9nwYDo0H5NWWaTMzfjd5zErvy-hoDV-4C4WEFpaA2-jr8KtrJnlwxkNpfup6rbQ9Wy1LezjgrKtGW9vChVd-6mMEHpNodjzh1K9cg17_Xc/w640-h304/Territorios+indigena+Witoto.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Witoto</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Um estudo etnobotânico da comunidades indígena murui-muinane (= Uitoto, Witoto, Huitoto) localizada na Colômbia, apresenta uma lista de 54 espécies de plantas (50 gêneros e 32 famílias) utilizados. Apenas seis destas espécies (11%) utilizados são de plantas não são nativas da América. Arecaceae e Fabaceae foram as famílias com o maior número de espécies utilizadas. As três categorias de uso com o maior número de espécies de plantas utilizadas foram: alimentos (27 spp.), Medicina (15) e artesanato (15). Estas 54 espécies de plantas são responsáveis por 19% das plantas úteis murui registrados para uma comunidade que vive em uma reserva florestal em Putumayo. Entre as espécies listadas com propriedades psicoativas podem ser citadas a "coca" (Erythroxylum coca), o "miege" (Theobroma cacao) e o "yagé" (Banisteriopsis sp.) além do citado rapé com tabaco.</div><div><b><br /></b></div><div><b>Referências</b></div><div><br /></div><div> «Quadro Geral dos Povos». Instituto Socioambiental. Consultado em 2 de setembro de 2017</div><div> Uitotó Dicionário WEB Acesso Fev. 2015</div><div> "Witoto." Encyclopedia Britannica. Retrieved Fev 2015.</div><div> Bora at Ethnologue (17th ed., 2013) Acesso Fev. 2015</div><div> FLOWERS, Nancy M. Witoto. Everyculture.com Acess. Fev. 2015</div><div> Pineda Camacho, Roberto: "Witoto";. Introdução à Colômbia ameríndia : 151-164. Bogotá: Instituto Colombiano de Antropologia. 1987.</div><div> Frausin, Gina and Trujillo, Edwin and Correa, Marco and Gonzalez Betancourt, Victor Hugo (2010) Plantas útiles en una comunidad indígena murui-muinane desplazada a la ciudad de florencia (caquetá-colombia). Mundo Amazonico; Vol. 1 (2010); 267-278 Mundo Amazónico; Vol. 1 (2010); 267-278 Mundo Amazónico; Vol. 1 (2010); 267-278 2145-5082 2145-5074. PDF Acess. Fev. 2014</div><div>Ligações externas</div><div>Artículo sobre la mitología Uitoto en la Blaa</div><div>Artículo sobre la Casa Arana y la problemática Uitoto, de la Revista Credencial de Historia</div><div>Artículo sobre una danza tradicional uitoto</div><div>Artículo de Roberto Pineda: Los Bancos taumaturgos, en la Blaa</div><div>Fichas de lengua Uitoto. Lenguas de Colombia Fev. 2015</div><div>Rubio, Brus (2014) The observation of everyday life. Mundo Amazonico; Vol. 5 (2014); 273-278 Mundo Amazónico; Vol. 5 (2014); 273-278 Mundo Amazónico; Vol. 5 (2014); 273-278 PDF Acesso Fev. 2015</div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-10710342024214295502020-10-22T09:56:00.003-07:002020-10-22T09:56:38.819-07:00Kiriri<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEVMK4JuIBaBu_7gyNyOV__aH8kfKu26y2BXZlhQAveVyp3ObIQGjOs0cK1MOMfM7mXdzVFgiwMBFe1jgiOP6fmC_oQstNxxTBSAHWO0D2qiUEJAuObQ7D7bSw8NKqgRvdmAVZf6e3lsE/s1310/Toy+Art+Kiriri.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEVMK4JuIBaBu_7gyNyOV__aH8kfKu26y2BXZlhQAveVyp3ObIQGjOs0cK1MOMfM7mXdzVFgiwMBFe1jgiOP6fmC_oQstNxxTBSAHWO0D2qiUEJAuObQ7D7bSw8NKqgRvdmAVZf6e3lsE/w640-h582/Toy+Art+Kiriri.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Kiriri</span><br /></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">110</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Kiriri</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Kariri</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">BA</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">2182</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><div>Kiriri é um vocábulo tupi que significa povo "calado", "taciturno". Essa designação teria sido atribuída pelos Tupi da costa aos índios habitantes do sertão. O povo kiriri constitui hoje um grande exemplo de luta para outros povos indígenas localizados na região Nordeste do país. No espaço de quinze anos, eles se estruturaram politicamente e promoveram, em fins dos anos noventa do século passado, a extrusão de cerca de 1.200 não-índios incidentes na Terra Indígena Kiriri, homologada desde 1990.</div><div><br /></div><div><b> Histórico de ocupação e do contato</b></div><div><br /></div><div><div>Historicamente, se poderia datar uma primeira aproximação dos Kiriri a uma idéia de território - assim como o conhecemos hoje, com seus limites bem definidos - no início do século XVIII, época da doação, por parte do então rei de Portugal, de uma légua em quadra de terras a todas as aldeias do sertão com mais de cem casais, fruto de solicitações constantes por parte dos jesuítas face aos conflitos decorrentes da expansão da pecuária, em especial com sesmeiros da região que interferiam com certa freqüência na administração dos párocos das aldeias ali constituídas (Bandeira 1972).</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKrcKiihm2REGXXdsZHchJNAQEXutW-UhxHw2TLLbFBCtsQA93JvQFDO6IorUl0LGmMPP_rWfh2RYz_TZ6-2iwUldQ3fhjUOA0FNN_We47CF0lGdf6xryjMKIS2F5eYGOSD_kXGbtTgj8/s1600/kiriri.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1066" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKrcKiihm2REGXXdsZHchJNAQEXutW-UhxHw2TLLbFBCtsQA93JvQFDO6IorUl0LGmMPP_rWfh2RYz_TZ6-2iwUldQ3fhjUOA0FNN_We47CF0lGdf6xryjMKIS2F5eYGOSD_kXGbtTgj8/w426-h640/kiriri.JPG" width="426" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Homem e mulher Kiriri</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Assim, Saco dos Morcegos, uma das quatro aldeias kipeá-kiriri fundadas pelos jesuítas, com uma população então estimada em 700 casais, foi delimitada como havia sido determinado, ou seja, a medida de uma légua de sesmaria (6.600 m), do centro a todas as partes, isto é, conforme o costume à época, da igreja missionária aos oito pontos cardeais e colaterais, formando um octógono regular de 12.320 ha (Bandeira, 1972).</div><div><br /></div><div>O Alvará régio que regulamentou o processo de doação não se constituiria contudo, por si só, durante muito tempo, em um instrumento eficaz de garantia dos índios à posse dessas terras, pois, após a expulsão dos jesuítas, em 1756, Saco dos Morcegos seria elevada a vila (em 1760), adotando a denominação atual de Mirandela (Bandeira, 1972).</div><div><br /></div><div>A implantação de uma administração civil nas aldeias do sertão ensejou um processo de indiferenciação entre índios e colonos, implicando uma significativa abertura para a invasão das terras indígenas e um forte processo de "desindianização" ao qual não resistiriam as demais aldeias dos Kipeá-Kiriri, depois de elevadas a vilas e submetidas à administração dos "Diretores de Índios" ao longo do século XIX (Brasileiro & Sampaio, s/d).</div><div><br /></div><div>É muito provável que, dada a sua proximidade e a identidade cultural dos índios ali residentes, boa parte da população dessas vilas tenha se refugiado em Saco dos Morcegos, cuja sobrevivência pode ser atribuída a uma localização mais afastada das rotas da pecuária e a relativa inferioridade da fertilidade de suas terras, comparativamente às das demais aldeias. Deste modo, Saco dos Morcegos seria progressivamente ocupada por diversos outros segmentos camponeses não indígenas, repelidos justamente daquelas áreas mais valorizadas do agreste. Sua presença não restringiu drasticamente o espaço disponível para os Kiriri: uma pequena faixa íngreme de terras onde até há pouco residiam, constituindo cinco núcleos marginalmente localizados, circundados por pequenos povoados de regionais.</div><div><br /></div><div><b> Reestruturação sócio-política</b></div><div><br /></div><div>O contexto marcado por perseguições e desmandos administrativos que dominou o século XIX e caracterizou a ação dos "Diretores de Índios", freqüentemente contrários aos direitos e interesses indígenas, agravar-se-ia, ainda mais após a extinção dessa Diretoria, contribuindo para expor ainda mais acentuadamente as terras ocupadas por índios à cobiça de posseiros e pequenos fazendeiros.</div><div><br /></div><div>Apenas em meados do século XX as terras doadas pelo rei de Portugal seriam efetivamente reclamadas pelos Kiriri, principalmente após a instalação, em Mirandela, em 1949, de um Posto Indígena do então Serviço de Proteção aos Índios.</div><div><br /></div><div>Tal iniciativa, fruto de incessantes gestões junto ao seu diretor, o Mal. Rondon, por parte do pároco Renato Galvão, do município vizinho de Cícero Dantas, foi precedida pela visita aos índios, em 1941, do engenheiro Luiz Adami, do Ministério da Agricultura e, em 1947, do sertanista Sílvio dos Santos. Ambos os relatórios decorrentes deste primeiro contato mais oficial com os Kiriri ressaltam a precisão com que esses índios referiam ao formato octogonal do chapéu de sol que constituía o território reivindicado, e o desenhavam, identificando e localizando ainda os oito marcos que o delimitavam, a despeito deles terem sido de há muito destruídos ou deslocados. Na sua falta, marcos naturais que, grosso modo, mantinham a configuração original, foram apontados:</div><div><br /></div><div>do cume do Pico, ao norte, à Pedra da Bica ou do Suspiro, a noroeste; daí ao Pau-Ferro, na estrada para Salgado, a oeste, local do atual povoado de mesmo nome; do Pau-Ferro à Pedra Escrevida, na Baixa do Juá, a sudoeste; daí à Pedra do Batico, na Baixa da Catuaba, extremo-sul da área, na estrada pra Pombal; do Batico à Casa Vermelha, na estrada para Curral Falso, a sudeste; deste local à Pedra do Gentio, a leste; daí à Marcação, antiga fazenda e atual povoado, na estrada para Banzaê, a nordeste, e daí finalmente ao ponto de origem (Rosalba 1976).</div><div><br /></div><div><b>Narrativa indígena</b></div><div><br /></div><div>por Dernival Kiriri</div><div><br /></div><div>Desde o contato com os colonizadores os indígenas vêm sofrendo perseguições e perdas das suas tradições. Nas aldeias as perdas foram muito fortes, pois muitos dos seus anciãos foram mortos devido aos seus rituais sagrados. As celebrações praticadas pelos índios eram inaceitáveis pelos jesuítas.</div><div><br /></div><div>Em 1949, o SPI (Serviço de Proteção aos Índios) instalou em Mirandela um posto indígena, nos dando assistência precária nas áreas de saúde e educação. Neste mesmo ano indicou o índio Daniel Antônio de Patrício como capitão do povo Kiriri.</div><div><br /></div><div>Com o passar dos anos a figura do capitão foi substituída pelo cacique. Em 1972 o próprio Daniel indica o índio Lázaro Gonzaga de Souza para comandar a nação Kiriri como cacique geral.</div><div><br /></div><div>No dia 5 de outubro de 1974 as lideranças Kiriri organizaram uma caravana com cerca de 100 índios cujo destino era a terra indígena Tuxá, localizado no norte da Bahia. Em princípio para realizar um jogo de futebol entre as duas tribos, já com objetivo de assistir o ritual do toré realizado por aqueles índios. No ano seguinte no mês de fevereiro de 1975 os índios Armando, Arizona, Lúcio e Batista de Rodelas vieram ensinar aos Kiriri a prática do toré. Desde então os Kiriri vem praticando o ritual até hoje."</div><div><br /></div><div><b>Leia a narrativa completa!</b></div><div><br /></div><div>A existência de um Posto Indígena em Mirandela instaura um contexto interétnico mais bem definido, legitimando formalmente a condição indígena dos Kiriri e instituindo um anteparo legal entre esses e a sociedade nacional mais ampla. Nos 20 anos subseqüentes à sua instalação, que coincidiram com uma fase de decadência geral do SPI, a atuação dos encarregados do Posto notabilizar-se-ia, principalmente, pela intermediação de conflitos isolados entre os índios e os não-índios ocupantes de suas terras e pelo atendimento de algumas de suas pequenas demandas, tais como construção de escolas, posto de saúde, doação de ferramentas, remédios etc. A questão do território, móvel mais imediato dos esforços que culminariam na presença do órgão, não seria, ainda durante esse período, encaminhada.</div><div><br /></div><div>Em fins da década de 1960, a falência do órgão tutelar reflete-se em seu posto de Mirandela, totalmente desaparelhado e, mais que isso, comprometido com as oligarquias regionais. A situação kiriri à época era marcada pela existência de disputas entre os núcleos indígenas, por altos índices de mortalidade e de alcoolismo e por ataques perpetrados por não-índios.</div><div><br /></div><div>Em 1972, face à total inoperância do órgão tutelar -que então já era a Funai- e à necessidade premente de constituir uma estrutura organizativa minimamente independente e representativa que enfrentasse os regionais e efetivasse a luta coletiva pela demarcação do território, os Kiriri elegeram um líder indígena para o cargo de "cacique", além de um conselho formado por um representante em cada núcleo.</div><div><br /></div><div>No contexto do processo organizativo que se seguiu à eleição do cacique e conselheiros, os Kiriri empreenderam uma série de ações que inicialmente foram orientadas à revitalização étnica do grupo, ao estreitamento de relações com outros povos indígenas e, ainda, à familiarização com os meandros administrativos do Estado. Em 1976, com a entrada em cena de um chefe de posto com razoável experiência de trabalho indigenista, independência política e, principalmente, disposição para respaldar os projetos coletivos dos Kiriri, tais ações ganham uma conotação mais estritamente política, centrando-se na condução de um pleito pela demarcação e extrusão (expulsão dos invasores) do território indígena, com base no montante da área doada pelo Rei de Portugal, ou seja, os 12.320 hectares que compreende a "légua em quadra" e, internamente, em apropriações parciais simbólicas e efetivas desse território, aqui destacadas esquematicamente:</div><div><br /></div><div>1979 - Organização de uma roça comunitária na Baixa da Catuaba, situada ao sul do Território indígena, na estrada que liga o povoado de Mirandela ao município de Ribeira do Pombal, caracterizada por forte incidência de ocupações de regionais.</div><div>1981 - Demarcação da Terra Indígena Kiriri, com 12.320 ha.</div><div>1982 - Ocupação da Picos, localizada no núcleo Lagoa Grande, maior fazenda no interior do território kiriri, tida por posseiros e fazendeiros como baluarte na ocupação das terras indígenas. Seu pretenso proprietário, Artur Miranda, era apoiado por políticos da região e considerado pelos índios como o seu mais crucial inimigo.</div><div>1985 - Ocupação de uma fazenda de 700 ha. no núcleo Baixa da Cangalha.</div><div>1986 - Os Kiriri interditam importante estrada de acesso de Mirandela ao povoado de Marcação, retirando todas as posses e roças de regionais ali localizadas.</div><div>1987 - A FUNAI indeniza e o INCRA reassenta 37 famílias de não-índios incidentes no território kiriri, nas fazendas Taboa e Serrinha, situadas no município de Quijingue.</div><div>1989 - 85% do território kiriri passa a compor o município de Banzaê, desmembrado de Ribeira do Pombal, em uma manobra política com o intento de "livrar" esse último município da presença indígena. Mirandela havia sido estrategicamente escolhida como sede do novo município. Todavia, mediante injunções na Assembléia Legislativa, em Salvador, os Kiriri conseguem obstar que a nova sede se situe nos limites da Terra Indígena.</div><div>1989 - Cerca de 50 famílias kiriri acampam nas cercanias de Mirandela, após terem suas moradias parcialmente destruídas por uma enchente. Mantêm-se permanentemente no local que se constituía, até 1995, em um núcleo de resistência e pressão frente aos não-índios então ocupantes de Mirandela.</div><div>1990 - A Terra Indígena Kiriri tem a sua demarcação administrativa homologada através do Decreto nº 98.828, de 15 de janeiro, sendo posteriormente realizada a regularização imobiliária - Reg. CI mat. 2969, livro 2m, f. 83, em 23 de março daquele mesmo ano.</div><div>1991 - A FUNAI indeniza algumas casas habitadas por não-índios em Mirandela e famílias kiriri as ocupam.</div><div>1995 - Os Kiriri ocupam Mirandela, retirando todos os não-índios ali incidentes.</div><div>1996 - Os Kiriri ocupam o povoado Gado Velhaco, situado a 2,5 Km de Mirandela. </div><div>1997 -Os não-indios desocupam o povoado Baixa da Cangalha. </div><div>1998 - Os Kiriri ocupam os povoados de Marcação, Araçá, Segredo e Pau Ferro, retirando as últimas famílias de não-índios residentes na Terra Indígena. </div><div><br /></div><div><b> Localização</b></div></div><div><br /></div><div><div>A Terra Indígena Kiriri localiza-se no norte do estado da Bahia, nos municípios de Banzaê (95%) e Quijingue (5%), em uma região de clima semi-árido, faixa de transição entre o agreste e a caatinga ("boca de caatinga"). O relevo da área é irregular, com ocorrência de morros tabulares e encostas entremeados por extensas planícies. Os cursos d´água são intermitentes em vista da baixa incidência pluviométrica anual. Observa-se uma acentuada devastação nativa, um processo acelerado de erosão provocado por mais de três séculos de exploração econômica. Mirandela, centro da Terra Indígena, situa-se a 24 Km a noroeste da cidade de Ribeira do Pombal, mais importante centro econômico da região.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWsAr15-F-8ufm_HO-YyM9DSDBZtCbcbb8hvpzpz-6qofveFJxtw7dfUUhf6L0MlF-wEaJaKpLN5A2wpS9dflyoepnmNGNP0T1KRY8hxlD2fHxj6lqjWzigavDBw3qCiCOtlVW-3C-V6I/s2570/Territorios+indigena+KIRIRI.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWsAr15-F-8ufm_HO-YyM9DSDBZtCbcbb8hvpzpz-6qofveFJxtw7dfUUhf6L0MlF-wEaJaKpLN5A2wpS9dflyoepnmNGNP0T1KRY8hxlD2fHxj6lqjWzigavDBw3qCiCOtlVW-3C-V6I/w640-h304/Territorios+indigena+KIRIRI.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Kiriri</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Os núcleos tradicionais de ocupação kiriri - Sacão, Baixa da Cangalha, Cantagalo, Lagoa Grande, Cacimba Seca - foram substituídos pelos povoados antes ocupados por regionais: Mirandela, Gado Velhaco, Marcação, Araçá, Pau Ferro, Segredo, Baixa do Camamu, Baixa da Cangalha ("Biombo").</div><div><br /></div><div><b> Atividades produtivas</b></div></div><div><br /></div><div><div>Os Kiriri praticam, de modo geral, uma agricultura voltada para a subsistência, comercializando, de forma esporádica e em pequena quantidade, excedentes das suas roças de cultivos temporários - compostas basicamente de mandioca, feijão e milho - e algumas verduras cultivadas nas exíguas hortas, localizadas preferencialmente nos quintais das casas de moradia. Do montante da produção, parte é aprovisionada para consumo doméstico durante o ano, parte reinvestida imediatamente em insumos e em outros artigos necessários à reprodução da unidade familiar. Outra estratégia freqüentemente utilizada é a constituição de uma pequena reserva destinada tanto à aquisição gradual de bens, quanto de sementes para o próximo plantio.</div><div><br /></div><div>As atividades econômicas dos Kiriri se encontram, de certa forma, orientadas para o mercado regional, haja vista que a especialização dos bens produzidos, assim como a natureza da agricultura praticada, restringem as possibilidades de existência de uma economia semi-autárquica, determinando uma ativa comunicação com os centros comerciais mais próximos, aos quais os Kiriri se dirigem freqüentemente para comercializar seus produtos a fim de adquirir gêneros de primeira necessidade não produzidos localmente, tais como carne, café, óleo, açúcar, sal, além de diversos outros artigos de consumo menos imediato.</div><div><br /></div><div>Ao mercado também se destina, com certa periodicidade, o produto da coleta de frutos silvestres, como caju, umbu e pinha, além de, mais esporadicamente, um artesanato trabalhado em cerâmica e trançados. Supõe-se, com base em informações coletadas por Bandeira em fins da década de 1970, que historicamente este artesanato tenha chegado a alcançar um peso significativo na economia kiriri, constituindo-se ainda, por outro lado, em um dos fatores de diferenciação e de discriminação étnica. Nos últimos anos, fruto da intensificação do contato entre povos indígenas, os Kiriri passaram a produzir, embora em pequena expressão, colares e outros adereços semelhantes àqueles comercializados pelos Pataxó, em Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália.</div><div><br /></div><div>Os ciclos de plantio e colheita de cada cultivo devem se articular de forma a prover a subsistência mínima do grupo doméstico durante o ano agrícola. O feijão branco, também conhecido como "carioca" ou "de arranca", é, entre os Kiriri, plantado em associação com o milho e à mesma época: de fins de abril a fins de maio, sendo a colheita realizada a partir de agosto. Já o feijão "verde" ou "de rama" - o "ligeirinho" - também consorciado com o milho, é plantado em fevereiro, sendo colhido normalmente de março até meados de julho. A mandioca, cultivo de ciclo razoavelmente longo - de um ano e meio a dois -, é colhida nos meses de junho, julho e agosto, quando principiam as "farinhadas".</div><div><br /></div><div>Os Kiriri dispõem atualmente de casas-de-farinha motorizadas, comunitárias, implantadas pela Funai, que progressivamente substituíram as manuais, de propriedade familiar. Nestas novas unidades, cada grupo doméstico processa livremente a sua produção, pagando uma taxa de utilização - ao órgão tutelar ou aos seus administradores, no caso, os conselheiros, em cada núcleo - correspondente em farinha, ao óleo consumido.</div><div><br /></div><div>Seguindo o padrão camponês regional, a família nuclear kiriri é a unidade básica de produção e consumo, e o trabalho de todos os seus membros, desde a infância, é constante e necessário à sua reprodução sócio-econômica. A diversificação das roças, muitas vezes distantes umas das outras, constitui uma medida de prevenção contra eventuais fracassos numa ou noutra área, tanto em função da escassez de terrenos férteis, quanto da necessidade de melhor aproveitar as diferentes modalidades dos solos disponíveis.</div><div><br /></div><div>Além do trabalho realizado no âmbito restrito da unidade doméstica propriamente dita, persistem estratégias de cooperação interfamilial, comumente denominadas de "batalhões", ou "adjuntos", nas quais participam, de modo geral, apenas membros do grupo étnico. Trata-se de uma das formas nas quais se reveste a "troca de dias", que, diferentemente do trabalho "contratado", ou "alugado", se caracteriza por uma simetria nas relações entre as partes envolvidas. Com base nos grupos de parentesco, ou de vizinhança, um batalhão reúne um número variado de indivíduos que acordam entre si, de modo que, a cada dia, a roça de um seja trabalhada por todos. Aos denominados "donos" do batalhão - donos da roça a ser trabalhada - compete fornecer a alimentação necessária ao "grupo de trabalho" assim constituído.</div><div><br /></div><div>Outra forma de "adjunto" observada entre os Kiriri é o "batalhão convocado", que se destina à execução de tarefas eventuais, tais como a construção de casas de moradia, escolas ou mesmo a abertura de novas roças. Para a ocasião, convida-se com antecedência, comparecendo um número significativo de "parentes", vizinhos e amigos, que compartilham da comida e bebida que houver.</div><div><br /></div><div>Nas roças kiriri, como nas de outros segmentos camponeses da região, é utilizado um instrumental tecnológico que inclui basicamente enxadas, enxadecos, tombador, arado, foice, entre outros. De modo geral, os índios não dispõem de insumos, tais como adubos artificiais ou agrotóxicos ("venenos"). No plantio, observam com freqüência a associação de cultivos e sua sucessão alternada, práticas tidas como adequadas às reduzidas extensões dos terrenos disponíveis para agricultura.</div><div><br /></div><div>Dada a exigüidade de bens de produção, o fator solo se reveste de especial importância, determinando a produtividade do agricultor. Sem adubos e aditivos para recuperar o solo, a localização e fertilidade naturais da terra são fatores decisivos para os Kiriri.</div><div><br /></div><div>As atividades do ano agrícola obedecem a uma variação, sazonalmente determinada, da intensidade do trabalho requerido, assinalando uma diferenciação entre os períodos de inverno e verão, que caracterizam o calendário agrícola e, por extensão, o ritmo de vida da região, concentrando ou dispersando a mão-de-obra disponível. Durante os períodos críticos do verão, quando diminui a quantidade de trabalho necessária à manutenção das roças individuais e comunitárias, torna-se muitas vezes imprescindível a recorrência a outras estratégias de reprodução, sendo muito comuns, nestas épocas, práticas como a "empreitada" ou a "diária" - formas de assalariamento - e mesmo a migração.</div><div><br /></div><div><b> O ritual do Toré</b></div></div><div><br /></div><div><div>Em 1974, líderes kiriri organizaram uma caravana com cerca de cem índios à Terra Indígena Tuxá, localizada em Rodelas, norte da Bahia, em princípio para realizar um jogo de futebol entre os dois povos, mas já com a clara intenção de assistir ao ritual Toré realizado por aqueles índios e aprendê-lo. O Toré é parte de um conjunto mais amplo de crenças - no centro do qual se encontra a jurema - que, muito provavelmente, podem vir a ser agrupadas em um complexo ritual comum aos povos do sertão (Cf. Nascimento, 1994). Entre os índios no Nordeste, o Toré representa um símbolo de união e de etnicidade, fornecedor de elementos ideológicos de unidade e de diferenciação e, portanto, fonte de legitimação de objetivos políticos.</div><div><br /></div><div>O processo de adoção do Toré é melhor viabilizado no plano simbólico, por um lado, pela sua relação com certas práticas xamanísticas então vigentes entre os Kiriri, selecionadas com atenção ao critério de representatividade étnica. Com a entrada em cena do Toré, essas práticas foram progressivamente deslegitimadas e os que não se adaptaram aos procedimentos utilizados no ritual, que não "aliam seus guias aos guias do Toré", foram marginalizados, impedidos de "trabalhar".</div><div><br /></div><div>Sobre a estrutura do Toré aprendido, os Kiriri introduziram novos elementos: seus "encantados" (seres sobrenaturais), acrescentados àqueles tomados de empréstimo dos Tuxá, progressivamente assumiram lugar de destaque; ao repertório melódico original, os Kiriri adicionaram seus próprios toantes e mesmo as bases coreográfica e de vestuário têm passado por inovações (Martins, 1985).</div><div><br /></div><div>O Toré é geralmente realizado aos sábados à noite - com uma interrupção apenas nos períodos da quaresma - em amplos terreiros junto aos quais há sempre algum recinto fechado, onde se deposita o pote com a "jurema" e se desdobram as seqüências privadas do ritual. A cerimônia tem início com a concentração de pessoas nas imediações do terreiro e no recinto fechado onde principia a defumação que, em seguida, se estenderá ao terreiro, através de grandes cachimbos de madeira de formato cônico, com desenhos em relevo. Inicia-se também aí a ingestão da "jurema", que se intensificará durante a dança, distribuída sempre pelo conselheiro local ou por outra figura de relevo na hierarquia ritual e política. Passando-se ao terreiro, prosseguem os trabalhos de "limpeza", comandados pelo pajé, quando então, através do uso de apitos, os "encantados" são convidados a participar. Começam os cantos e as danças, inicialmente em fila indiana, com o pajé à frente, seguido pelos homens, mulheres e crianças, nesta ordem. A fila serpenteia pelo terreiro em movimentos progressivamente elaborados à medida em que os toantes se sucedem, intensificando o envolvimento dos participantes, até o clímax que sobrevém com a "chegada" dos "encantos", perceptível nos evidentes sinais de incorporação apresentados pelas "mestras".</div><div><br /></div><div>A esta altura, as disposições se alteram e a hierarquia horizontal da fila indiana cede lugar a movimentos em torno dos encantos, que ocupam posição central no terreiro e pouco se deslocam, enquanto principiam a falar numa língua pretensamente indígena, ritual que consiste numa seqüência de sons bastante recorrentes e incompreensíveis para os Kiriri de hoje. São, em seguida, conduzidos ao recinto - a "camarinha" - onde serão consultados com relação aos mais diversos temas, fornecendo conselhos de caráter genérico, que, via de regra, reproduzem os ideais de unidade do grupo. Os interlocutores e intérpretes principais das suas mensagens são as lideranças políticas dos Kiriri e, em especial, os pajés (Rocha Jr., 1983).</div><div><br /></div><div><b> Língua e organização social</b></div></div><div><br /></div><div><div>Falam hoje apenas o Português, embora utilizem esporadicamente alguns fragmentos do dialeto kipeá, da família lingüística Kariri.</div><div><br /></div><div>No final da década de 1980, os Kiriri duplicaram a sua estrutura política, passando a se organizar em dois segmentos faccionais - atualmente as unidades mais efetivas da ação política formalizada no grupo - lideradas por seus respectivos caciques, pajés e conselheiros. Cada cacique é auxiliado por seus conselheiros, "chefes locais" responsáveis pela administração dos núcleos, que compreendem a menor unidade política kiriri. Historicamente, esses núcleos são as áreas nas quais esses índios foram se fixando, enquanto iam sendo rechaçados, desde o fim do aldeamento missionário, de seu centro, em Mirandela. Cada um desses núcleos, num total de seis, submete-se à autoridade de um conselheiro, secundado por um "ajudante". Os povoados, extrusados recentemente, submetem-se à autoridade dos conselheiros dos núcleos a eles adjacentes.</div><div><br /></div><div>Entre a população kiriri, há uma migração de caráter mais ou menos permanente resultante de conflitos políticos e da fragmentação por herança. Os Kiriri realizam ainda, com relativa freqüência, migrações sazonais, verificando-se o retorno invariavelmente nas épocas de plantio e colheita. Dirigem-se principalmente a São Paulo e Rio de Janeiro, ou para regiões mais próximas, como Sergipe, ou mesmo para fazendas nas vizinhanças. Nesses locais, submetem-se a longas jornadas de trabalho, por um tempo que lhes permita a acumulação de um capital mínimo, que deverá ser reinvestido na área de origem, viabilizando assim a própria reprodução da condição camponesa.</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>BANDEIRA, Maria de Lourdes. Os Kariris de Mirandela : um grupo indígena integrado. Salvador : UFBA, 1972. 172 p. (Estudos Baianos, 6)</div><div>BRASILEIRO, Sheila dos Santos. O “caso Kiriri”. In: ESPIRITO SANTO, Marco Antônio do (Org.). Política indigenista : Leste e Nordeste brasileiros. Brasília : Funai, 2000. p. 79-86.</div><div>--------. Organização política e o processo faccional no povo indígena Kirirí. Salvador : UFBA, 1995. (Dissertação de Mestrado)</div><div>--------. Povo indígena Kiriri : emergência étnica, conquista territorial e faccionalismo. In: OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de (Org.). A viagem de volta : etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro : Contra Capa, 1999. p. 173-96. (Territórios Sociais, 2)</div><div>--------; SAMPAIO, José Augusto Laranjeiras. Os povos indígenas na Bahia. Salvador : Anai-BA, s.d.</div><div>CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. São Paulo : Ed. Nacional ; Brasília : INL, 1978. 266 p. (Brasiliana, 168).</div><div>CORTES, Clelia Neri. A educação é como o vento : os Kiriri por uma educação pluricultural. Salvador : UFBA, 1996. 158 p. (Dissertação de Mestrado).</div><div>--------; MOTTA, Erimita (Orgs.). História da reconquista de Mirandela - História à varias vozes. Brasília : UFBA, 2000. 31 p.</div><div>GERLIC, Sebastián (Ed.). Índios na visão dos índios - Kiriri. Salvador : Índios na Visão dos Índios, 2003.</div><div>MARTINS, Marco Aurélio. O toré na Lagoa Grande. Salvador : s.ed., 1982. (paper).</div><div>MASCARENHAS, Maria Lúcia Felício. Rio de sangue, ribanceira de corpos : 1893/1897, Kirirí e Kaimbé em Canudos. Salvador : UFBA, 1995. (Monografia Bacharelado em Antropologia)</div><div>NASCIMENTO, Marco Tromboni. O tronco da jurema : ritual e etnicidade entre os povos indígenas no Nordeste - o caso Kiriri. Salvador : UFBA, 1994.</div><div>REESINK, Edwin. Raízes históricas : a Jurema, enteógeno e ritual na história dos povos indígenas no Nordeste. In: MOTA, Clarice Novaes da; ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de (Orgs.). As muitas faces da Jurema : de espécie botânica a divindade afro-indígena. Recife : Bagaço, 2002. p. 61-96.</div><div>RIBEIRO, Eduardo Rivail. O marcador de posse alienável em Kariri : um morfema macro-jê revisitado. Rev. Liames, Campinas : Unicamp, n. 2, p. 31-48, 2002.</div><div>ROCHA JÚNIOR, Omar da. O índio é de menor : os Kiriri e o movimento indígena no Nordeste. Águas de São Pedro : s.ed., 1983. 26 p. (paper).</div><div>--------. O movimento Kiriri. Cadernos do Ceas, Salvador : Ceas, n.97, p.29-39, 1983.</div><div>ROSALVA, Lélia Maria Fernandes Garcia. O Posto Indígena de Mirandela. Boletim do Museu do Índio, Rio de Janeiro : Funai, n.1, 69 p., 1976.</div><div>SARMENTO, Paulo Souza. Atitudes e representações diante da morte : alguns elementos para uma definição da concepção de morte Kiriri. Salvador : UFBA, 1995. (Dissertação de Mestrado)</div><div>Mirandela Kiriri. Dir.: Joao de Mattos. Video cor, Hi8, 18 min., 1996. Prod.: Pinep/Anai.</div><div>WOORTMANN, Ellen F. O sítio camponês. Anuário Antropológico, Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, v.81, p.164-203, 1983.</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-25089014186273585442020-10-22T07:01:00.008-07:002020-10-22T07:01:51.272-07:00Krenyê<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif5VDIc4SFuzK1lUhyphenhyphen0goG-Rkue7SoOo3JkRZrTrc2r8s8IK-Xx2WzV1d4gaQa843B_tFV5OoAUWySH92IlqyU75sPIl_ND5HRs3ktk9N6mJeMe6rkxbGjSAL9zK99VbY8u93C9zD1MJ8/s1310/Toy+Art+Krenie%25CC%2582.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif5VDIc4SFuzK1lUhyphenhyphen0goG-Rkue7SoOo3JkRZrTrc2r8s8IK-Xx2WzV1d4gaQa843B_tFV5OoAUWySH92IlqyU75sPIl_ND5HRs3ktk9N6mJeMe6rkxbGjSAL9zK99VbY8u93C9zD1MJ8/w640-h582/Toy+Art+Krenie%25CC%2582.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Kreniê</span><br /></td></tr></tbody></table><br /><div><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">119</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">KrenYê</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Timbira</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Jê</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">MA</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">104</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Nascimento/30 RBA 2016</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;"></div></div><div><br /></div><div> No início do século XXI, um conjunto de “atores” que vive no município de Barra do Corda/MA, começou a reverter sua condição étnica. Estes atores, antes denominados Timbira, passaram a afirmar o pertencimento a uma etnia considerada extinta, os Krenyê de Bacabal e, a partir disso, a exigir o reconhecimento da identidade étnica e a demarcação de um território. Este artigo trata de alguns elementos constitutivos deste processo de reorganização social Krenyê.</div><div><br /></div><div>Os Krenyê foram classificados (NIMEUNDAJÚ, 1946) como parte de um conjunto maior de povos falantes da língua Timbira, dentro do tronco lingüístico Macro Jê (RODRIGUES, 1986).</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-NjVmkj3tylfkcq9uyAkeJSuSZWlez-9RrmumdNBf_bbwAx5KuBM8ffrD8wnlinf8il9K8oscq1DSdOqxBBJaFWLVUd5wQ-y_HwgdIXHfuEPYpTaN8fS-dz7fTE0OXMip4BTiFv3Z_7Y/s1280/Reserva+Krenye+Capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-NjVmkj3tylfkcq9uyAkeJSuSZWlez-9RrmumdNBf_bbwAx5KuBM8ffrD8wnlinf8il9K8oscq1DSdOqxBBJaFWLVUd5wQ-y_HwgdIXHfuEPYpTaN8fS-dz7fTE0OXMip4BTiFv3Z_7Y/w640-h480/Reserva+Krenye+Capa.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">No dia 27 de fevereiro de 2019 a escritura da Reserva Krenyê, que fica no município de Tuntum, no Maranhão</span></td></tr></tbody></table><br /><div><br /></div><div>Os Timbira, que habitavam as áreas de cerrado do Maranhão, tiveram seus territórios invadidos no início do século XIX, por sertanejos nordestinos criadores de gado (RIBEIRO, 1996) que encontraram nos territórios nativos áreas apropriadas para a criação de gado. Segundo Nimuendajú (1946), viviam em uma faixa de terra entrecortada pelos rios Tocantins, Gurupi, Grajaú, Mearim e Parnaíba – uma área entre o norte de Goiás e o sul do Maranhão.</div><div><br /></div><div>As intensas e paulatinas invasões de seus territórios causaram constantes migrações dos povos que habitavam essa região, na tentativa de fugir dos invasores. Entretanto, sem ter muito onde se esconder, já que as povoações cresciam rapidamente espalhando-se pelo território, tornaram-se um “transtorno” para os invasores. Os Timbiras trouxeram, então, insegurança para aqueles que se instalaram e passaram a viver da lavoura do algodão, milho, arroz, mandioca e mamona (DA COSTA, 2006).</div><div><br /></div><div>Os Krenyê viviam em uma área denominada “Pedra do Salgado”, localizada a região do Médio Mearim, onde hoje se localizam os municípios de Bacabal e Vitorino Freire. Viveram nessa região até aproximadamente as décadas de 1940 e 1950, quando foram atingidos por uma grande epidemia de sarampo em que muitos índios morreram e outros fugiram, indo se abrigar na terra de outros povos indígenas.</div><div><br /></div><div>Nesse mesmo período, os Krenyê e os Pobzé, povo que vivia próximo a eles, começaram a se apresentar pacificamente aos moradores da região de Bacabal e Médio Mearim (MACHADO, 1856, apud NIMUENDAJÚ, 1946). </div><div><br /></div><div>Foram, então, criadas duas colônias de índios, através do regulamento de 11 de abril de 1854: uma à margem do rio Pindaré e outra no Alto Mearim ‒esta última denominada Colônia Leopoldina e a primeira, Colônia Januária. Essas colônias deveriam observar todas as disposições da Lei provincial nº 85 de 2 de julho de 1839.</div><div><br /></div><div>A Colônia Leopoldina, objetivava o aldeamento dos Krenyê, dos Kukóekamekra e dos Pobzé (NIMUENDAJÚ, 1946; GOMES, 2002). Desse modo, os diretores das colônias garantiriam o controle desses povos, para que não constituíssem empecilho aos projetos desenvolvimentistas que começavam a se implantar no país naquele período, como bem afirmou Coelho (1991).</div><div><br /></div><div>A expulsão completa de seu território se deu na década de 1960, quando já estavam em pouco número e não tinham mais como lutar para permanecer. </div><div><br /></div><div>Com o processo de dispersão, passaram a viver de forma fragmentada junto a outros povos indígenas e a ser conhecidos genericamente como Timbira.</div><div>O processo vivenciado pelos Krenyê assemelha-se ao de muitos povos indígenas no Brasil, principalmente no Nordeste, que foram classificados em inúmeros trabalhos pelo termo etnogênese. Essa dinâmica, embora possua uma concentração no Nordeste, pode ser observada de norte a sul do país</div><div>(ARRUTI, 2006).</div><div><br /></div><div>Os depoimentos dados ora aos pesquisadores, ora ao Ministério Público Federal ou a cinegrafistas e jornalistas, revelam os diferentes mecanismos e acontecimentos que inviabilizaram ou contribuíram para a vida dos Krenyê, nas diferentes terras por onde passaram. </div><div><br /></div><div> Terras Indígenas habitadas pelos Krenyê<br class="Apple-interchange-newline" /><table class="table table-hover" style="background-color: #f7f7f7; border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; color: black; font-family: Ubuntu, "Open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: auto auto 20px; max-width: 680px; width: 680px;"><tbody style="background-color: #f2f2f2; box-sizing: border-box;"><tr bgcolor="#ffffff" style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="top" width="102"><br /></td><td colspan="2" style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="top"></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="top" width="67"></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="2" style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="bottom" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">T.I</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><span style="background-color: white; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px;">Povo à qual pertence</span></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">População</p></td><td rowspan="2" style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="bottom" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;"><span style="background-color: white;">Municípios de Abrangência</span></p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;" valign="top"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;"><br /></p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Rio Pindaré</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Tentehar –
Guajajara</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62">775</td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Monção e Bom
Jardim</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Governador </p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Pükob’gateyê –
Gavião</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">1.058</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Amarante </p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Rodeador</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Tentehar –
Guajajara</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">683</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Barra do Corda</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Canabrava</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Tentehar –
Guajajara</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">7158</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Barra do Corda,
Jenipapo dos Vieiras
e Grajaú</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Geralda
Toco Preto</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Krepumkateyê</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">163</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Itaipava do Grajaú</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Krikati</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Pükob’gateyê –
Gavião</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">1700</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Montes Altos,
Sítio Novo, Amarante
e Lajeado Novo</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;"><br /></p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"></td></tr></tbody></table><br /></div><div><div>O processo de luta por reconhecimento, que tem início nos primeiros anos do século XXI, é alimentado pela crença de se constituírem um povo, portanto, capazes de acessar direitos específicos. A memória dos mais velhos e os conhecimentos repassados por eles ajudam a dar suporte à crença em uma “cultura Krenyê” que foi solapada por forças coloniais, mas que pode agora ser “resgatada”. É também por meio dos mais idosos que a língua, os mitos e a história pode ser “resgatada”. A memória é trabalhada objetivando dar sentido a experiência coletiva, justificando práticas no presente e construindo planos para o futuro.</div><div><br /></div><div>Assim, o “ser Krenyê” vem sendo construído ao longo desse processo e é influenciado tanto pelo passado quanto pelo presente, tanto por experiências apreendidas através da vivência com outros povos indígenas quanto por ensinamentos apreendidos através da alianças construídas com não indígenas, a exemplo do Conselho Indigenista Missionário, de pesquisadores, agentes do Ministério Público, funcionários dos órgãos indigenistas, e outros.</div><div><br /></div><div>Uma situação social vivida após o “I Encontro do Povo Krenyê”, abala as relações internas, provoca rupturas, e instaura crises, conflitos e disputas identitárias e territoriais configurando um “drama social” (TURNER, 2008). Este drama leva-os novamente à vida na cidade dificultando não só a vida cotidiana, mas também o acesso a determinados direitos, como saúde e educação.</div><div><br /></div><div>Os Krenyê ainda estão passando por processos de territorialização, estão submetidos a políticas indigenistas, porém ainda não conseguiram a posse de um território próprio. Assim, apesar do Estado, através de sua agência indigenista, conseguir influenciar algumas estratégias e ações traçadas e desempenhadas pelos Krenyê, tem a sua administração dificultada pelo fato dos Krenyê encontrarem-se dispersos e fora de uma unidade jurídico-política própria.</div><div><br /></div><div><b>Após um ano sem homologações de Terras Indígenas, povo Krenyê recebe escritura de reserva no Maranhão</b></div><div><br /></div><div><div>O presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, entregou no dia 27 de fevereiro de 2019 a escritura da Reserva Krenyê, que fica no município de Tuntum, no Maranhão. Cerca de 10 famílias ocupavam a área, de oito mil hectares, há exatamente um ano. Os Krenyê somam quase 300 indígenas, mas, desde que foram expulsos, em 2004, da Terra Indígena Rodeador, muitos pediram abrigo em outras TI's e grande parte estava ocupando a periferia da cidade de Barra do Corda. Agora, eles poderão reunir novamente todos os parentes.</div><div><br /></div><div>"Esperávamos por isso há 15 anos. Muitos riram de nós, falaram que só veríamos o registro dessa terra daqui a 40 anos, quando já estaríamos mortos. Mas não desistimos de lutar e de acreditar que Deus nos daria essa terra", comemorou o cacique Armandinho Krenyê.</div><div><br /></div><div>A última homologação de Terra Indígena aconteceu em abril de 2018, na Baía dos Guató (MT). Antes disso, o governo do ex-presidente Michel Temer assinou uma Portaria Declaratória, da TI Tapeba (CE), em 2017. Este ano, além da Reserva Indígena Krenyê, a Funai entregará mais duas reservas até o fim do mês de março: em Santa Rita de Cássia, na Bahia; e em São Paulo, para os indígenas retirados do Pico do Jaraguá, em 2017.</div><div><br /></div><div>"Neste momento, o Estado brasileiro garante o direito constitucional desse povo de ter o seu território e preservar sua língua, sua cultura e as suas crenças. A Funai fica muito feliz por ajudar a garantir o espaço onde eles possam plantar e se desenvolver como quiserem. Em um passado recente, antes de ter a garantia de seu território, uma determinada comunidade tinha 400 indígenas e hoje, 30 anos depois, já tem mais de dois mil", ressaltou Franklimberg.</div><div><br /></div><div>Ao receberem a escritura da terra, muitos indígenas se emocionaram. O filho do cacique Armandinho, Porrotino Krenyê, de 25 anos, contou, com lágrimas nos olhos, que seus irmãos e ele tiveram que abandonar os estudos para lutar pelo território e garantir o futuro de seus filhos. "Nós nos sacrificamos não só por nós, mas em prol das crianças e dos mais velhos. Eu não podia deixar minha avó e meus pais morrerem sem verem esse documento. Estamos vivendo o que os mais velhos não puderam viver. Ficaram ali por muitos anos, na periferia, sem o privilégio que nós podemos ter agora. Para mim, é um novo ciclo de vida, uma nova história que se inicia, no nosso território", disse o jovem.</div><div><br /></div><div>As lideranças e toda a comunidade agradeceram a Franklimberg pelo apoio da Funai e pela responsabilidade do presidente com a causa indígena. "Você é um de nós, tem sangue indígena, por isso entende a nossa causa. Eu nunca tinha visto um presidente da Funai de verdade, ao vivo, só pela televisão. Agora eu estou satisfeita, porque o senhor saiu de Brasília para vir aqui entregar a nossa terra." agradeceu a anciã Genecy Krepum Krenyê.</div><div><br /></div><div><b>Histórico</b></div><div><br /></div><div>Desde 2004, o povo Kreniê reivindica a demarcação de suas terras. Em 2010, após conflitos no local que viviam, os indígenas foram expulsos da Terra Indígena Rodeador e passaram a ocupar a periferia da zona urbana da cidade de Barra do Corda/MA. No mesmo ano, em agosto, a Diretoria de Proteção Territorial da Funai determinou o deslocamento de técnicos para qualificar a solicitação da comunidade.</div></div><div><div><br /></div><div>A partir de então, foram propostas alternativas para colocação das famílias e consultados órgãos federais, estaduais e municipais, no sentido de verificar a disponibilidade de terras para a ocupação dos indígenas. Porém, a manifestação foi pela inexistência de áreas disponíveis. </div><div><br /></div><div>Diante da demora na resolução do problema, o Ministério Público Federal interpôs a Ação Civil Pública nº 18327-63.2012.4.01.3700, que por decisão do Juiz da 5ª Seção Judiciária do Maranhão, em setembro de 2013, determinou que a Funai criasse grupo técnico para os estudos de identificação e delimitação da área reivindicada pelos indígenas, de acordo com o Decreto 1775/96.</div></div><div><br /></div><div><b>Referências</b></div><div><br /></div><div>ARRUTI, J. M. A emergência dos “remanescentes”:notas para o diálogo entre indígenas e quilombolas. Mana, v.3,n 2, p.7-38,1997.</div><div>______. Etnogêneses Indígena. Povos Indígenas no</div><div>Brasil. São Paulo: Instituto Socioambiental. 2006.</div><div>BARTH, F. Os grupos étnicos e seus limites. In:</div><div>POUTGNAT, P. ; STREIFF-FENART, J. Teorias daetnicidade. São Paulo: UNESP, 1998. p. 185-227.</div><div>______. O Guru, o Iniciador e Outras Variações Antropológicas Organização de TomkeLask. Rio</div><div>de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2000.</div><div>BARTOLOMÉ, M. A. As Etnogêneses: velhos atores e novos papéis no cenário cultural e político.</div><div>Mana, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p.39-68, 2006.</div><div>BENJAMIN, W. Walter Benjamin: Obras Escolhidas Volume I: Magia e Técnica, Arte e Política. São</div><div>Paulo: Editora Brasiliense, 1987.</div><div>BHABHA, H. K. O local da cultura. Trad. Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis e Gláucia</div><div>Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005.</div><div>BRASIL/ FUNAI. Ministério da Justiça. Fundação Nacional do Índio. Relatório circunstanciado de</div><div>constituição da reserva indígena Krenyê. ALMEI</div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-81290974896855072442020-10-22T05:19:00.005-07:002020-10-22T05:19:35.369-07:00Kantaruré<div style="text-align: left;"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCzuUmjLh4wfQvuxZ2ZTN05fxLYYabO0cSXdeFxrIM76DJtWODEyDa0c_vJ1sHeqsIWqHjRNMgDjU_-HtLt4lLgeGIlH5cy95WSAisY9aHQY41q2oWXgLtlbRze6hdnDVVHMQss_YpZ2o/s1310/Toy+Art+Kantarure%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCzuUmjLh4wfQvuxZ2ZTN05fxLYYabO0cSXdeFxrIM76DJtWODEyDa0c_vJ1sHeqsIWqHjRNMgDjU_-HtLt4lLgeGIlH5cy95WSAisY9aHQY41q2oWXgLtlbRze6hdnDVVHMQss_YpZ2o/w640-h582/Toy+Art+Kantarure%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Kantaruré</span><br /></td></tr></tbody></table><br /></div><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">87</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Kantaruré</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cantaruré, Pankararu</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">BA</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">340</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><div>Descendente dos Pankararu, o povo kantaruré tomou forma há pouco mais de um século, quando a índia pankararu conhecida como Rosa Baleia deixou sua aldeia no Brejo dos Padres para se unir a Balduíno, morador da localidade de Olho d´Água dos Coelhos, situada junto à Serra Grande. O casal fixou residência e roçados na vertente oposta da serra, onde gerou treze filhos e fundou a aldeia da Batida. Além desta, hoje os Kantaruré estão também na comunidade de Pedras, ambas na Terra Indígena Kantaruré, homologada em 2001.</div><div><br /></div><div><b> Nome e língua</b></div><div><br /></div><div><div>Conforme os Pankararu , a quem os Kantaruré atribuem sua "origem", o termo kantaruré designa uma figura mítica do universo mágico-religioso daquele povo indígena que geralmente aparece durante a realização de rituais: "Caboclo Brabo", "Pai do terreiro". De acordo com o depoimento de um ancião kantaruré, esse etnônimo foi sugerido por um índio pankararé, em contraposição ao até então adotado pelo grupo, "caboclos da Batida", quando do processo de reconhecimento oficial.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHCZ0nynsl8miFDkavJXAo6bovyCPFi3h4CVbGfeuU5nmaC_4L9mhYlCjzuhx1tJuPW9V4jOf38QKYkdazevJcob-PlBCuq8BQHDe36ZVvEoD-5tHKrDkTq3dUNrwEg7yaZLUG0BMXbvA/s800/kantarure.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHCZ0nynsl8miFDkavJXAo6bovyCPFi3h4CVbGfeuU5nmaC_4L9mhYlCjzuhx1tJuPW9V4jOf38QKYkdazevJcob-PlBCuq8BQHDe36ZVvEoD-5tHKrDkTq3dUNrwEg7yaZLUG0BMXbvA/w640-h480/kantarure.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">O município de Glória recebe frequentemente a visita de grupos e segmentos religiosos que, frente aos órgãos governamentais, procuram auxiliar e pedir ajuda para as necessidades básicas da comunidade, além de propagar o discurso religioso ( foto Projeto amigos de oração) </span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Atualmente os Kantaruré falam o Português e as perdas culturais impossibilitam hoje sua identificação lingüística.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Histórico de ocupação</b></div><div><br /></div><div>Os Kantaruré são descendentes da população indígena que originalmente habitava o trecho do rio São Francisco entre a cachoeira de Paulo Afonso, a embocadura do rio Pajeú e as caatingas, brejos e serras adjacentes. Aparecem nas fontes históricas dos séculos XVII e XVIII, designados como "Pancararu", "Brancararu", "Pancaru" ou "Caruru". Eles foram aldeados a partir do final do séc. XVII à margem do São Francisco por missionários jesuítas, franciscanos e capuchinhos. Dentre as missões fundadas à época, se destacam as de Sorobabé, Caruru e, em especial, Curral dos Bois, origem da atual cidade de Glória. Foram extintas em meados do século seguinte e a população indígena remanescente se tornou alvo de pressões coloniais, sobretudo de pecuaristas interessados nas terras mais férteis à margem do rio, de onde foi forçada a migrar, buscando locais de refúgio e resistência nos brejos e altos de serras dispersos na caatinga adjacente, que eram parte de sua antiga área de dispersão e perambulação.</div><div><br /></div><div>Já em meados do século XIX se pode identificar a consolidação de dois novos núcleos constituídos por população indígena egressa de Curral dos Bois: um em Brejo dos Padres, no lado pernambucano do rio, onde vivem os atuais Pankararu; e outro no Brejo do Burgo, do lado baiano, onde habitam os Pankararé. Ainda ao final daquele século, o primeiro desses núcleos originaria mais dois, em localidades próximas: o dos atuais Jiripankó, no extremo ocidental do Estado de Alagoas, e o dos Kantaruré, na localidade da Batida, próxima à margem baiana</div><div><br /></div><div><b> O núcleo da Batida</b></div><div><br /></div><div>A história oral kantaruré refere Rosa Baleia, uma índia pankararu, originária de Brejo dos Padres/Tacaratu/PE, como "tronco" velho do povo kantaruré. Quando ainda muito jovem, Rosa Baleia, em uma viagem de peregrinação à Bahia, travou conhecimento com o "posseiro" Balduíno - habitante do povoado Olho D'Água dos Coelhos, município de Glória/BA - tendo com ele constituído família e jamais retornado ao local de origem. O casal se fixou em uma localidade próxima ao povoado de Balduíno, a Batida, onde criou seus 13 filhos e estabeleceu raízes. Toda a população da Batida descende diretamente de Rosa Baleia e Balduíno, através de quatro dos seus filhos: Cícero Pequeno, Rosendo, Honório e Constantina.</div><div><br /></div><div><b> O núcleo das Pedras</b></div><div><br /></div><div>Algumas gerações após a instalação de Balduíno e Rosa Baleia na Batida, dois irmãos kantaruré, Arcelino e Bregídio, ali residentes, se casaram com duas irmãs, Santina e Maria de Virgílio, originárias do povoado Baixa das Pedras de Cima, distante 3 Km em linha reta da Batida, vindo a fundar um segundo núcleo de ocupação kantaruré, em localidade contígua ao povoado, conhecida hoje como "Pedras".</div><div><br /></div><div><b> Localização e população</b></div><div><br /></div><div>A população kantaruré era de 353 indivíduos (Funasa, 2003), distribuída em dois núcleos de ocupação, Batida e Pedras, que distam entre si três quilômetros e se situam próximos à vertente setentrional da Serra Grande, a aproximadamente 5 quilômetros da margem direita do rio São Francisco. Ambos núcleos ou "aldeias" se localizam junto às extremidades nordeste e noroeste da Terra Indígena e seus terrenos de cultivo e de moradia confinam aí, respectivamente, com os das localidades vizinhas de Salgadinho dos Benícios e Baixa das Pedras. Em direção ao sul, por sua vez, esses terrenos se estendem até o sopé da Serra Grande, território predominantemente destinado às atividades de caça e coleta do grupo.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK_IBhEVNWU9PCOQv0X095L9PUKxIzSSGk0WSH0rwgFy-AK86t4LkfIX1MbuHnUmnzolBpN2tRrDNhWdtjwAHgzpXI-4juxUySwTmURGJLpNXD0jlU_1jZPnTjykY9wJDwY9RT-diZoHA/s2570/Territorios+indigena+KANTARURE%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK_IBhEVNWU9PCOQv0X095L9PUKxIzSSGk0WSH0rwgFy-AK86t4LkfIX1MbuHnUmnzolBpN2tRrDNhWdtjwAHgzpXI-4juxUySwTmURGJLpNXD0jlU_1jZPnTjykY9wJDwY9RT-diZoHA/w640-h304/Territorios+indigena+KANTARURE%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Kantaruré</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A Terra Indígena localiza-se no norte do estado da Bahia, Município de Glória, em uma região de clima semi-árido, com baixa incidência pluviométrica, a 42 km da cidade de Paulo Afonso. Seus solos são arenosos e pouco férteis, de vegetação rasteira, típica da caatinga, com ocorrência de bromeliáceas e cactáceas. A comunidade Batida se situa em um amplo baixio margeado ao sul por serras, com cursos d'água intermitentes. As casas de moradia, esparsas, se localizam nas baixadas. Apresentam poucas variações, sendo construídas, em sua grande maioria, em taipa, com cobertura de telha ou croá e chão de terra batida. Na comunidade de Pedras os solos são secos e arenosos. Suas casas de moradia, que seguem o mesmo padrão encontrado na Batida, são um pouco mais concentradas, conformado um pequeno arruamento.</div><div><br /></div><div><b> Organização social e cosmologia</b></div><div><br /></div><div>Nas residências kantaruré há um predomínio de famílias nucleares, relacionadas por laços de parentesco e de compadrio horizontal. Mais recentemente, tem se observado uma tendência de descentralização do poder constituído internamente, expressa na alta rotatividade que vem caracterizando os cargos de cacique e pajé, fenômeno recorrente tanto na Batida quanto nas Pedras.</div><div><br /></div><div>Um significativo contingente populacional kantaruré reside fora dos limites da Terra Indígena, em municípios vizinhos, como Paulo Afonso, em localidades relativamente próximas à Terra Indígena, em agrovilas implantadas pela Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco) na região (principalmente a 2, a 5 e a 7), ou mesmo em outros estados, como Sergipe (Aracaju), Pernambuco (Petrolina, Petrolândia, Floresta), Piauí, São Paulo (Araçatuba), Mato Grosso e Belém. Muitos destes casos exemplificam o fenômeno da migração - sazonal ou permanente - estratégia comum entre trabalhadores rurais no contexto regional mais amplo, em virtude da ocorrência de longos períodos de seca. Outros, contudo, podem ser reputados aos intercasamentos com indivíduos de "fora", quando prevalece de modo geral como nova residência a localidade de origem do cônjuge de sexo masculino.</div><div><br /></div><div>Os Kantaruré mantêm estreito contato com famílias "aparentadas" residentes em localidades vizinhas, como Baixa das Pedras de Cima, Olho D'Água dos Coelhos, Salgadinho dos Benícios e Agrovila 5. Há um índice significativo de casamentos dos Kantaruré com indivíduos provenientes dessas localidades. As famílias resultantes desses casamentos jamais chegaram a perder contato com os "parentes" da Batida e das Pedras. Muitas delas são, inclusive, reconhecidas na comunidade como Kantaruré. Parentes radicados em localidades distantes da área de origem geralmente preservam certas vias de acesso à comunidade, seja por possuírem "casa fechada na Batida", por terem deixado descendência no local, "virem sempre visitar", ou mesmo por um propalado interesse em retornarem para a Terra Indígena logo que possível.</div><div><br /></div><div>A cosmologia kantaruré se articula a um complexo religioso indígena do sertão nordestino no qual se destacam ritos de possessão - geralmente designados "toré" (a esse respeito, ver "O Ritual do Toré" na seção destinada aos Kiriri) - associados à cura e ao culto de antepassados e figuras míticas, propiciadas pelo uso da jurema e do tabaco. Os "terreiros" de culto e cemitério se localizam no espaço das próprias aldeias.</div><div><br /></div><div><b> Atividades produtivas</b></div><div><br /></div><div>Os Kantaruré são pequenos agricultores do semi-árido nordestino. Seu território é dos mais inférteis dentre aqueles que podem ser considerados agricultáveis na região. A atividade produtiva fundamental é a agricultura de cultivos alimentares, extensiva, voltada quase que exclusivamente para a subsistência, destacadamente de tubérculos (mandioca) e favas (feijão), aos quais se associam cereais (milho) e muito pouca variedade de hortaliças. Os roçados são desenvolvidos com base na posse e no trabalho familiares, com recurso eventual a círculos mais amplos de cooperação (família extensa, vizinhança). Merece destaque o trabalho de processamento da mandioca nas casas de farinha de cada núcleo, tarefa que ocupa diuturnamente quase toda a população nos meses finais do ano agrícola.</div><div><br /></div><div>O calendário agrícola é relacionado ao ciclo de chuvas e estiagem característico da região. Em anos sem seca, o milho e o feijão de arranca são plantados entre os meses de abril e maio e colhidos entre os meses de julho e agosto. O feijão de corda é plantado entre fevereiro e março e colhido a partir do mês de junho. A mandioca é plantada nos meses de junho e julho e colhida durante todo o ano.</div><div><br /></div><div>A baixa fertilidade dos solos não viabiliza uma ocupação agrícola intensiva. Muitos roçados situam-se junto às residências, formando com estas áreas contínuas de moradia e trabalho. Outros roçados, porém, estendem-se até o sopé da Serra Grande, configurando uma ocupação agrícola dispersa que ocupa toda a metade norte, cerca de 800 hectares, inclusive as aldeias, do território tradicional.</div><div><br /></div><div>A carência de recursos produtivos faz com que os roçados sejam em geral reduzidos, raramente ultrapassando três tarefas (cerca de um hectare). A natural insegurança da atividade agrícola no polígono das secas faz com que quase todas as famílias optem por manter roçados em diferentes localidades e, assim, cada uma delas tem, em média, dois ou três roçados, situados em cercados. Os terrenos mais pobres localizados no entorno são destinados ao criatório extensivo, um recurso que a extrema carência da maioria dos Kantaruré não lhes permite explorar, mesmo nas precárias condições locais, e muito poucas famílias dispõem de algumas poucas cabeças de caprinos. Apenas o criatório doméstico de galináceos e alguns suínos merece certo destaque.</div><div><br /></div><div>A caça é realizada na serra, por indivíduos do sexo masculino, com o auxílio de cachorros e, invariavelmente, estende-se por todo o período noturno. Os animais mais facilmente encontrados são tatu, peba, tamanduá, veado, nambu, juti, cordoniza, gavião, jacu e cardieira.</div><div><br /></div><div>O extrativismo vegetal constitui relevante estratégia de subsistência para os Kantaruré. Além da utilização tradicional de árvores frutíferas em períodos de safra, tais como cajueiro, goiabeira , tamarineiro, umbuzeiro e mangueira, em períodos de seca as árvores da caatinga fornecem boa parte do alimento diário da população e, ainda, material para a confecção do "campiô", um tipo de cachimbo de madeira utilizado no ritual toré; dos "aiós", sacolas, e dos "caçoás", cestas de caroá.</div><div><br /></div><div>Em vista da proximidade do rio São Francisco, a pesca constitui mais uma alternativa de subsistência para o povo Kantaruré. É realizada de forma esporádica, geralmente por indivíduos do sexo masculino. Pescam com rede, "linhada" (utilizando o nylon sem a "vara", com iscas de camarão, pequenos peixes e passarinhos), ou ainda com "groseira" ou "meia-água" (um fio de seda, sem anzol) com iscas de peixes pequenos. Os peixes mais comumente encontrados na região são corvina, tucunaré, pirambeba, piranha, traíra e tucari (ou panhari).</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>BRASILEIRO, Sheila dos Santos. Laudo de identificação e delimitação da Terra Indígena Kantaruré. s.l. : s.ed., 1995.</div><div>; SAMPAIO, José Augusto Laranjeiras. “Por não ser estadual” ou relatório circunstanciado de identificação e delimitação da Terra Indígena Kantaruré. Brasília : Funai, 1996.</div><div><br /></div><div>BRITO, Maria de Fátima Campelo. Relatório de viagem referente ao grupo Kantaruré ou Caboclos da Batida. s.l. : s.ed., 1990. (Cf. OS n. 301-GAB/3ª. SUER - 89, de 21/09/89).</div></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-71846229178459441322020-10-21T13:22:00.000-07:002020-10-21T13:22:11.449-07:00Kinikinau<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDNoNTNp1pdqR4bP8wfeV5k5MbMdB6SGrFlPvrZgmhap0YsCHlRWfXtbujkGpPo0KuGu8w-N6WY7Fry2_z0BudBU9Cv2CPsbb3WyOJS84aM7S7bXwC-zdQpvNC4BnEx7dISQewmagg6WY/s1310/Toy+Art+Kinikinau.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDNoNTNp1pdqR4bP8wfeV5k5MbMdB6SGrFlPvrZgmhap0YsCHlRWfXtbujkGpPo0KuGu8w-N6WY7Fry2_z0BudBU9Cv2CPsbb3WyOJS84aM7S7bXwC-zdQpvNC4BnEx7dISQewmagg6WY/w640-h582/Toy+Art+Kinikinau.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art etnia Kinikinau</span><br /></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 14.85px;" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">109</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Kinikinau</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Kinikinao, Kinikinawa, Guaná</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aruak</span></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">MS</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">250</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2005</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><div>Obrigados a renunciarem a uma identidade Kinikinau e convencidos pelo órgão indigenista oficial, por muito tempo, a se autodeclararem índios Terena, com os quais possuem estreitos vínculos históricos e culturais, nos últimos anos os Kinikinau vêm reivindicando o reconhecimento de sua singularidade étnica e a reconquista de parte de seu território tradicional.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihXZQzyqda5yt9wwfYrMiS5B3h8l466wByxguXXVbsa_ONqQ-VhJ6YVzKFA5HnNqnolALt6V8Q-7zYWbvchgh2qv3SvMh-4DtHthTAwfw08_5ggS1ZwqTI0Jh8RcJR5H87FoAJWdw7xsQ/s512/kk.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="341" data-original-width="512" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihXZQzyqda5yt9wwfYrMiS5B3h8l466wByxguXXVbsa_ONqQ-VhJ6YVzKFA5HnNqnolALt6V8Q-7zYWbvchgh2qv3SvMh-4DtHthTAwfw08_5ggS1ZwqTI0Jh8RcJR5H87FoAJWdw7xsQ/w640-h426/kk.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Acolhidos pelos Terena da terra indígena retomada Mãe Terra, localizada no município de Miranda (MS), os indígenas Kinikinau - a única população do estado completamente "sem terra" </span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div><b> Localização e população</b></div><div><br /></div><div><div>Os indígenas Kinikinau ou Kinikinawa vivem atualmente espalhados por algumas aldeias da porção ocidental do Estado de Mato Grosso do Sul. A maior concentração do grupo habita a aldeia São João, ao sudeste da Reserva Indígena (RI) Kadiwéu, município de Porto Murtinho. Há notícias de membros desse grupo residindo também em aldeias terena, nos municípios sul-mato-grossenses de Aquidauana (Bananal e Limão Verde), Miranda (Cachoeirinha e Lalima) e Nioaque (Água Branca e Brejão).</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJny3hh2pyqVlN0_JdZkwTkdoBKJbtjhkT7ARCgKfuHk4HzvayTphoCDbY29GfYvUuTLkAa7NlEGV-c3OhxmYkW5gUklKZXEfdb_2v5mecn2Z0dubNPpa-q-GEMtcCpPxRCkXID4XA-cQ/s2570/Territorios+indigena+Kinikinau.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJny3hh2pyqVlN0_JdZkwTkdoBKJbtjhkT7ARCgKfuHk4HzvayTphoCDbY29GfYvUuTLkAa7NlEGV-c3OhxmYkW5gUklKZXEfdb_2v5mecn2Z0dubNPpa-q-GEMtcCpPxRCkXID4XA-cQ/w640-h304/Territorios+indigena+Kinikinau.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Kinkinau</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Em 1998, o censo empreendido na RI Kadiwéu, realizado pela Prefeitura de Porto Murtinho, revelou a presença de 58 indígenas que se autodeclararam Kinikinau em um universo de 195 índios recenseados na aldeia São João, dentre os quais Terena, Kadiwéu e Guarani-Kaiowá. Mais recentemente, em 2003, foram apontados cerca de 180 indivíduos Kinikinau vivendo na aldeia São João. A diferença entre os números se deve ao fato de que em 1998 muitos deles ainda temiam declarar serem Kinikinau. Estima-se que, juntos, os Kinikinau dispersos em aldeias Terena e aqueles que estão na aldeia São João cheguem a aproximadamente 250 indivíduos em 2005.</div><div><br /></div><div><b> História</b></div></div><div><br /></div><div><div>Os Guaná estão entre os grupos que representam a migração meridional dos Aruak pela Bacia do rio Paraguai. Os territórios tradicionalmente ocupados pelos grupos Guaná localizavam-se em áreas distintas, que iam desde a margem esquerda do baixo rio Apa até a área ao norte do rio Negro. Após a chegada dos ibéricos à região, as migrações do grupo se deram no sentido leste.</div><div><br /></div><div>As primeiras informações sobre os Guaná referem-se ao alto desenvolvimento da agricultura e da enorme quantidade de roças de milho que plantavam. Através da leitura de textos produzidos por cronistas e exploradores do período colonial brasileiro, infere-se que quatro foram os subgrupos Guaná a atravessarem o rio Paraguai, passando para suas margens orientais: Exoaladi, Terena, Layana e Kinikinau. Destes, apenas os primeiros não apresentam, até o momento, remanescentes no atual território sul-mato-grossense. Esses grupos teriam atravessado o rio Paraguai em ondas sucessivas a partir da segunda metade do século XVIII, instalando-se na região banhada pelo rio Miranda, onde foram encontrados pelos viajantes do século XIX.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAfvpOjlFxjViIqK0nfEr3l03o6wtNqP-Vl4GHTTD3y1JSe33WHYT9UxJl0RCB0frZi2YEBWLemRpEgVFkGu1Ow5dJCke_6ow1EozfduIxeLxWaSeyQMJueGfgKTXhPRGkGv-mr5yG6vk/s580/2-kinikinau-580x372.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="372" data-original-width="580" height="410" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAfvpOjlFxjViIqK0nfEr3l03o6wtNqP-Vl4GHTTD3y1JSe33WHYT9UxJl0RCB0frZi2YEBWLemRpEgVFkGu1Ow5dJCke_6ow1EozfduIxeLxWaSeyQMJueGfgKTXhPRGkGv-mr5yG6vk/w640-h410/2-kinikinau-580x372.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Homem Kinkinau</span><br /></td></tr></tbody></table><br /><div>Os escritos de João Henrique Elliot e Augusto Leverger, produzidos na década de 1840, revelam o expressivo papel desempenhado pelos Layana, os Exoaladi (também chamados de Guaná, o que gera certa confusão) e os Kinikinau na economia regional do sul de Mato Grosso. No Relatório da Diretoria Geral dos Índios de 1872, Francisco José Cardoso Júnior revelou que existiam cerca de mil indígenas Kinikinau dispersos por Albuquerque e Miranda, cujas características eram a de serem exímios agricultores e de alugarem seus serviços aos não-índios (apud Vasconcelos, 1999: 96-97).</div><div><br /></div><div>Embora imprecisos, os dados fornecidos pelo diretor revelam o grupo Kinikinau numericamente significativo mesmo após a Guerra do Paraguai. Enquanto os Layana viviam agregados em fazendas, os Exoaladi e os Kinikinau abasteciam de víveres a população da região. Os três subgrupos Guaná tiveram, segundo o Visconde de Taunay, participação na Guerra do Paraguai:</div><div><br /></div><div>[...] guanás, kinikináus e layanos ultimamente se uniram com a população fugitiva (de Miranda, rumo à Serra do Maracaju); [...]. Foram os kinikináus os primeiros que subiram a serra do Maracaju, pelo lado aliás mais íngreme e se estabeleceram na belíssima chapada que coroa aquela serra... (Taunay, 1948: 268)</div><div><br /></div><div>Os Exoaladi, segundo Cardoso de Oliveira, teriam desaparecido por ocasião da Guerra do Paraguai. Os Terena compõem o grupo de maior expressão dentre os remanescentes dos antigos Guaná na atualidade. Os Layana vivem dispersos em aldeias Terena dos municípios de Aquidauana e Miranda. Já os Kinikinau, além de viverem em algumas aldeias Terena do Mato Grosso do Sul, concentram-se na aldeia São João. Contudo, os Kinikinau teriam ficado “ocultos” em meio ao grupo majoritário Terena, sendo pouco mencionados em livros e documentos entre o final do século XIX e o início do século XX. Tornou-se comum referir-se a eles como um subgrupo Terena, especialmente após a destruição do último aldeamento reconhecidamente pertencente ao grupo, localizado próximo à região do rio Miranda. A questão do desaparecimento dos Kinikinau, ainda no século XX, remonta aos trabalhos do antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, em seus clássicos estudos sobre os Terena:</div><div><br /></div><div>Dentre as inúmeras tribos ou subtribos a desaparecerem ainda no presente século [XX], podemos apontar os Kinikináu (Guaná) e os Ofaié-Xavante. Os primeiros mantinham ainda uma aldeia, junto ao rio Agaxi, de onde se dispersaram, expulsos de suas terras por um civilizado que as teria comprado do Estado do Mato Grosso; seus remanescentes são encontrados hoje em algumas aldeias Terena (Cardoso de Oliveira, 1976: 27).</div><div><br /></div><div>De acordo com depoimento do ancião Leôncio Anastácio – concedido ao professor Rosaldo de Albuquerque Souza no final de 2003 –, após a Guerra do Paraguai, os índios Terena e Kinikinau, entre outros, sofreram sérias perseguições por parte de fazendeiros, posseiros e invasores. O grupo dos Kinikinau foi disperso, mas algumas famílias estabeleceram-se em Agaxi, próximo à Miranda. Os invasores de terra novamente os perseguiram, obrigando-os a procurar outro lugar. Ficaram sabendo que no local chamado Corvelo havia terras devolutas e para lá partiram. Nesse tempo, já estavam recebendo orientações de um chefe do SPI, conhecido como Nicolau Horta Barbosa. Chegando ao Corvelo, fizeram suas casas, a terra era boa, então começaram a plantar, mas não demorou muito para aparecer um suposto “dono das terras”. O grupo comunicou o fato ao SPI e este os orientou a procurar o Campo dos Kadiwéu. Foi o que os homens fizeram. No dia 13 de junho de 1940, duas famílias chegaram à aldeia São João, que na época era desabitada. O Coronel Nicolau os acompanhou e determinou onde deveriam construir suas casas. O transporte que usavam era o carretão, uma espécie de carro de boi com rodas e eixo de madeira. O grupo que chegou à aldeia era de aproximadamente 12 pessoas.</div><div><br /></div><div>Documentos do antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) pouco revelam sobre a presença dos Kinikinau na Reserva Indígena Kadiwéu no decorrer do século XX. O que se sabe, ao certo, é que na década de 1940 foi criado pelo SPI o Posto Indígena de Alfabetização e Tratamento São João do Aquidavão, vinculado à Inspetoria Regional 5. Com os Kadiwéu, os Kinikinau teriam estabelecido relações intersocietárias em que os primeiros, essencialmente caçadores e coletores, exigiam dos últimos, agricultores por excelência, tributos em troca da proteção e da permanência em seu território. A esse respeito, o líder Martinho da Silva Kadiwéu, em depoimento ao antropólogo Jaime Garcia Siqueira Jr., comentou que:</div><div><br /></div><div>[...] na época que abriu o SPI [...] então eles acharam um meio de que botasse alguns colonizadores, no caso dos Terenas, Sabe? Os Terenas começaram, os patrícios usaram os Terenas para poder ser assim um ponto de auxílio para eles. Eles plantaram, os Terenas toda vida gosta de agricultura, eles plantam mandioca, arroz, feijão, milho, isso aí, eles não eram, não são verdadeiros donos, mas cuidavam para os patrícios Kadiwéu, enquanto eles vigiavam essa enorme área que nós temos aqui. [...] Esse São João, aldeia de São João, já vem há muito tempo essa história aí.Esses Terenas vem sendo aliado com os Kadiwéu, sempre vivendo subordinado, os Kinikinau subordinados aos Kadiwéu. Não podia fugir porque eles tinham uma tarefa a fazer com ele, então trouxeram eles. Eles escolheram um lugar como de agricultura e coisa e tal. O único, o recurso mais próximo que eles mesmo acharam de tocar um recurso de agricultura, no caso, uma lavourinha que eles fazem, é aqui para o lado do PI São João, porque fica perto de Três Morros [...]. Então eles, os patrícios disseram: - Então vocês ficam aqui [...] aqui é o canto da nossa área, aqui qualquer coisa, qualquer irregularidade que vocês vêem, procuram nos localizar, nos avisar o que está acontecendo. Agora vocês têm obrigação, planta milho, arroz, feijão, tudo o que se dá aqui vocês planta, e nós vamos comercializar entre nós mesmos, lá pelo rio Paraguai, por aí, tudo o que nós conseguirmos entregamos aqui [...] Nós vamos negociando, isso aí, vocês ficam como vigilante nosso, como ponto de segurança nosso. Aí toparam, onde existe o PI São João. (Siqueira Jr., 1993: 130-131)</div><div><br /></div><div>O líder Kadiwéu, como se percebe pelo trecho do depoimento reproduzido acima, não faz clara distinção entre os Kinikinau e os Terena. A proximidade lingüística dos dois grupos e o fato de serem ambos descendentes dos Guaná os tornou “iguais” aos olhos dos Kadiwéu e da maioria da sociedade não-indígena.</div><div><br /></div><div>As relações entre os Kinikinau e os Kadiwéu nem sempre foram amistosas razão pela qual os Kinikinau têm reivindicado sua própria terra:</div><div><br /></div><div>Como vivemos em terra alheia, sempre ameaçados por algumas famílias de outra etnia, não queremos mais esta vida sem liberdade. Por isso, pedimos a volta para o nosso território de origem Kinikinau, onde possamos viver em liberdade, garantindo um futuro mais feliz para as nossas crianças, para que não esqueçamos nossas tradições e que todos nos reconheçam e nos respeitem como povo Kinikinau (Seminário Povos Resistentes, 2004.)</div><div><b><br /></b></div><div><b> Aspectos culturais</b></div></div><div><b><br /></b></div><div><div>Os Kinikinau vivem, sobretudo, da atividade agrícola, falam correntemente uma língua filiada à família lingüística Aruak, assim como os Terena, e também se comunicam em Língua Portuguesa.</div><div><br /></div><div>A Dança do Bate-Pau, também existente entre os Terena, é realizada atualmente em importantes eventos para os Kinikinau (Festa do Dia do Índio e outras comemorações). Relembrando a participação do grupo na Guerra do Paraguai (1864-1870), a dança é executada por homens e mulheres de várias idades, de crianças a idosos. Toca-se flauta e tambor, para dar ritmo aos passos dos dançarinos. As cores rituais são a vermelha, a azul e a branca. As vestes, de penas de ema e de palha, são especialmente preparadas para a dança ritual. Os homens e as mulheres carregam longas taquaras nas mãos e com elas desenvolvem uma coreografia, ora batendo as taquaras com as de outros dançarinos, ora batendo-as no chão. O final da dança é marcado pela reunião dos dançarinos em círculo e a união das taquaras, sobre as quais é colocado um guerreiro, que é então erguido e ovacionado. Na versão dos Terena, apenas homens dançam o Bate-Pau.</div><div><br /></div><div>Assim como entre os Terena e os Layana (outros subgrupos Guaná), entre os Kinikinau também havia curandeiros denominados Koixomunetí. Esses curandeiros realizavam rituais nos quais utilizavam um chocalho e um penacho de penas de ema, elementos comuns a curandeiros de outros grupos de origem chaquenha, como os Mbayá-Guakuru, ancestrais dos Kadiwéu. Atualmente, ao que se sabe, não há mais Koixomunetí entre os Kinikinau. Muitos, hoje, são adeptos de religiões cristãs, principalmente de orientação protestante.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhh6IV_gjyKJxVIx8sC8RayxH7cGpOcRLeAlKUgtEJF2joLupm9Ds5y77_UjIAXBerrRp949Bz3u29GADnVvNZvufssLr6k99zOVhH9ADI8BHZmd6nc4EwYZoia8CF5nQifqpIYn3Qhcl4/s1032/5_assembleia_povo_kinikinau_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="502" data-original-width="1032" height="312" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhh6IV_gjyKJxVIx8sC8RayxH7cGpOcRLeAlKUgtEJF2joLupm9Ds5y77_UjIAXBerrRp949Bz3u29GADnVvNZvufssLr6k99zOVhH9ADI8BHZmd6nc4EwYZoia8CF5nQifqpIYn3Qhcl4/w640-h312/5_assembleia_povo_kinikinau_1.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">5ª Grande Assembleia do Povo Kinikinau. Foto: Lídia Farias / Cimi MS</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Em relação à cultura material, a cerâmica elaborada pelas mulheres Kinikinau dá continuidade a uma antiga tradição cultural Guaná. Escolhida, além de outros, como símbolo de diferenciação do grupo em relação aos Kadiwéu – a despeito de ser inspirada nos desenhos da cerâmica Kadiwéu – e outros indígenas, a cerâmica Kinikinau desempenha um importante papel como sinal diacrítico. O material tem sido comercializado, sobretudo, na cidade de Bonito.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>ALVES, M. M. Os Kinikinau: dados históricos e vocabulares. Três Lagoas: CPTL/ UFMS, 2003. 8 p. </div><div>BENCINI, R. Escola de índio, professor índio. Finalmente! Revista Nova Escola, São Paulo, edição 171, abril de 2004.</div><div>CARDOSO DE OLIVEIRA, R. Do índio ao bugre: o processo de assimilação dos Terena. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976 [2. ed].</div><div>ELLIOT, J. H. Itinerário das viagens exploradoras... descriptas pelo Sr. João Henrique Elliot. Revista Trimestral de História e Geografia ou Jornal do I.H.G.B., Rio de Janeiro, vol. X, (1848), 2. ed.</div><div>FONSECA, J. S. da. Viagem ao redor do Brasil: 1875-1878. Rio de Janeiro: [s.e.], 1880-81.</div><div>JOSÉ DA SILVA, G. A construção física, social e simbólica da Reserva Indígena Kadiwéu (1899-1984): memória, identidade e história. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), 2004. (Dissertação de Mestrado em História).</div><div>. Dias melhores virão: educação escolar entre os Kadiwéu, Kinikinawa e Terena na Reserva Indígena Kadiwéu, município de Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul. Jahui – Revista do Museu do Índio da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 1999.</div><div>& SOUZA, J. L. O despertar da fênix: a educação escolar como espaço de afirmação da identidade étnica Kinikinau em Mato Grosso do Sul. Sociedade e cultura, Goiânia, v. 06, n. 02, p. 149-156, 2005.</div><div>LEVERGER, A. Roteiro da navegação do rio Paraguay desde a foz do São Lourenço até o Paraná. In: Revista Trimestral do Instituto Histórico, Geográfico e Ethnográfico do Brasil, XXV, Rio de Janeiro. [184-]</div><div>PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO MURTINHO. Censo Kadiwéu 1998. 63 p. Mimeografado.</div><div>SEMINÁRIO POVOS RESISTENTES: A PRESENÇA INDÍGENA EM MS. Corumbá, 2003.</div><div>SEMINÁRIO POVO KINIKINAWA: PERSISTINDO A RESISTÊNCIA. Bonito, 2004.</div><div>SIQUEIRA JR., J. G. “Esse campo custou o sangue dos nossos avós”: a construção do tempo e espaço Kadiwéu. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), 1993. (Dissertação de Mestrado em Antropologia Social).</div><div>TAUNAY, A. E. Memórias do Visconde de Taunay. São Paulo: IPE, 1948.</div></div><div><br /></div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-78183925801717719122020-10-21T11:57:00.007-07:002020-10-21T12:05:24.946-07:00Menky Manoki<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPJVKSRxne_IZTIcKTHiGZpxOtcg5ItVTF2UwZYomboWrZe1Ja7t78R0iV0QWBBOP2iNk1KObVkxuI3crb8dRxNyelsLG5pb2s-v25q1Cf-X5JK8RRtBfrAr_za11XpnAvK03aWWsJ3L8/s1310/Toy+Art+Menky+Manoki.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPJVKSRxne_IZTIcKTHiGZpxOtcg5ItVTF2UwZYomboWrZe1Ja7t78R0iV0QWBBOP2iNk1KObVkxuI3crb8dRxNyelsLG5pb2s-v25q1Cf-X5JK8RRtBfrAr_za11XpnAvK03aWWsJ3L8/w640-h582/Toy+Art+Menky+Manoki.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Menky Manoki</span><br /></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjMs2lTEL9f2JYE3mXQQneilEYvYtUFhsoJedtWnKyq56EU34pCHirvEF9Th6KLkPpMMmW9CHXLr_xhajDXnJOj_a7F9RLWuOv9W6HhODZuf7HHmBm7xVBTwhxrWuPA0IBbFVkP6VQHI4JCkrNLKwggBOmycvhWvXOTGMhUS-M7=s0-d"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">140</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Menky Manoki</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Munku, Menku, Myky, Manoki</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Iranxé</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">MT</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">102</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><div>Manoki é como se autodenominam os índios mais conhecidos como Irantxe, cuja língua não tem proximidade com outras famílias lingüísticas. Sua história, contudo, não é muito diferente da maioria dos índios no Brasil: foram praticamente dizimados em decorrência de massacres e doenças advindas do contato com os brancos. Em meados do século XX, a maior parte dos sobreviventes não viu alternativa senão viver em uma missão jesuítica, responsável por profunda desestruturação sócio-cultural do grupo. Em 1968, os Manoki receberam do governo federal uma terra fora de sua área de ocupação histórica, cujas características ambientais inviabilizaram o uso tradicional dos recursos. </div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYuuy-fZdO6Lwx3cpjCXCDnMb9iRnfOFgrq65KpFm_WbP78z1Is4c6KEOVQezobYfpr9qMnVdsBPDPThTXxtGyp4JEnGWG5ZbHEJ1ra_EqEjr-z_yi1Cxqr04aDQ2-AruTsB_RgOoQCbQ/s781/Tribo+Manoki+Manoki.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="595" data-original-width="781" height="488" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYuuy-fZdO6Lwx3cpjCXCDnMb9iRnfOFgrq65KpFm_WbP78z1Is4c6KEOVQezobYfpr9qMnVdsBPDPThTXxtGyp4JEnGWG5ZbHEJ1ra_EqEjr-z_yi1Cxqr04aDQ2-AruTsB_RgOoQCbQ/w640-h488/Tribo+Manoki+Manoki.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Batismo dos jovens Menky Manoki</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Destino um pouco diverso teve os Myky, grupo manoki que se manteve isolado da sociedade nacional até 1971. Desde então, passaram a sofrer igualmente as conseqüências do cerco da especulação imobiliária em seu território. Atualmente ambos grupos estão reivindicando a ampliação de suas terras.</div><div><br /></div><div> <b>Localização</b></div><div><br /></div><div><div>Os Manoki (Irantxe e Myky) localizam-se em duas Terras Indígenas no oeste do Estado do Mato Grosso, ambas pertencentes ao município de Brasnorte: a TI Irantxe, na região do rio Cravari, e a TI Myky, às margens do rio Papagaio. A primeira possui seis aldeias: Paredão, Recanto do Alípio, Perdiz, Asa Branca, Treze de Maio ou Aldeia do Maurício e a maior delas, Cravari [dados de 2003].</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLatwvhZMf3Rg0GQNPWtjTqizjdAsEwYDru5bzb6Q5jpNQbMn8FOAZXgjC9_WBZMluFnb1yD_SftJJx7XdycD6D3Oxz0Q1RlXl4UA3HnsBGICH2DxFs22KxX4S3RG-1dP5pYl2eNZJmzI/s2570/Territorios+indigena+Menky+Manoki.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLatwvhZMf3Rg0GQNPWtjTqizjdAsEwYDru5bzb6Q5jpNQbMn8FOAZXgjC9_WBZMluFnb1yD_SftJJx7XdycD6D3Oxz0Q1RlXl4UA3HnsBGICH2DxFs22KxX4S3RG-1dP5pYl2eNZJmzI/w640-h304/Territorios+indigena+Menky+Manoki.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Menky Manoki</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Desde sua criação pelo decreto presidencial de 1968, quando foi homologada com 46.790 ha, os limites da Terra Indígena Irantxe foram questionados. Em 1971, quando repercutiram as notícias sobre a existência de um grupo isolado (ver "O caso dos Myky"), os Irantxe-Manoki passaram a reivindicar novos limites para suas terras na direção desses "arredios". Contando com apoio dos jesuítas, a ampliação foi parcialmente feita em 1977. Mas esses limites só foram homologados em 1990 para, logo em seguida, serem novamente contestados pelos índios. Em 1991, por fim, procuram em Cuiabá o antropólogo Darci Luiz Pivetta solicitando ajuda para reaver seu território histórico. Foi verificado que o local da atual TI Irantxe corresponde a uma área de cerrado tradicionalmente ocupada pelos Paresí, que destoa ecologicamente do seu habitat original, constituído pelas áreas florestadas à direita do Rio Cravari e à esquerda do Rio do Sangue.</div><div><br /></div><div>A região na qual a Terra Indígena Irantxe está inserida vem sendo ocupada desde a década de 80 por grandes empreendimentos agrícolas com predomínio de culturas mecanizadas (produção de soja, arroz, milho e cana, com alto índice de utilização fertilizantes industriais e defensivos agrícolas) e a presença de uma intensa atividade pecuária. O resultado tem sido o desmatamento crescente, o envenenamento das fontes de água, o empobrecimento da fauna e flora regionais e restrições à movimentação dos Manoki fora de sua área demarcada. A predação do entorno repercute negativamente também no interior da TI, ainda mais pobre de recursos naturais que as áreas ao redor.</div><div><br /></div><div>Aprovada pela Funai em 2002, a proposta de ampliação da TI (que passou a ser chamada de Manoki) corresponde a uma área de 206.455 hectares, contígua ao lado leste da atual área demarcada. Trata-se de terras mais preservadas e que englobam as nascentes do rio 13 de Maio, bem como os principais afluentes do rio São Benedito. Essa região abrigou no passado inúmeras aldeias Manoki, locais conhecidos pelos índios e nos quais seus antepassados estão enterrados.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipUpMOzbvSIgHYIk2uVTjF7DwnhftAKvn1-oPTMsSAVNbbBymMKkmno9nZRatvBQRHF_uRoRmr0L_lLdBjdEEWJBRwN3K7ro_k2uzTG7-ilSp_eUuA71-iQTBCApHqpMdY1lzOvuXNClw/s1024/Povo-Manoki-Markus-Mauthe_Greenpeace-15-05-2016-5-1024x685.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="685" data-original-width="1024" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipUpMOzbvSIgHYIk2uVTjF7DwnhftAKvn1-oPTMsSAVNbbBymMKkmno9nZRatvBQRHF_uRoRmr0L_lLdBjdEEWJBRwN3K7ro_k2uzTG7-ilSp_eUuA71-iQTBCApHqpMdY1lzOvuXNClw/w640-h428/Povo-Manoki-Markus-Mauthe_Greenpeace-15-05-2016-5-1024x685.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Indígenas Manoki (Irantxe) plantam árvores para recultivar áreas florestais desmatadas<br /> (Foto: Markus Mauthe/Greenpeace/15/05/2006)</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Em contrapartida, ficou fora dessa delimitação boa parte do território histórico (margem direita do rio Cravari até a confluência com o rio do Sangue e margem esquerda do rio 13 de Maio), que já está bastante alterada por assentamentos e fazendas, não apresentando qualidades ambientais mínimas para a subsistência física e cultural dos índios.</div><div><br /></div><div>A TI Myky é habitada pelo grupo de mesmo nome, contatado em 1971.Sua homologação deixou de fora muitas áreas que os Myky reconhecem como suas e, como conseqüência, o uso tradicional dos recursos naturais ficou limitado.</div><div><br /></div><div><b> Histórico da ocupação e do contato</b></div><div><br /></div><div>O território histórico do povo manoki, de acordo com a memória oral dos índios e com os registros históricos, se estendia pela margem esquerda do rio do Sangue e margem direita do rio Cravari, limitando-se ao sul no córrego Membeca e ao norte na junção do rio Cravari com o rio do Sangue. O Marechal Rondon, nas suas "Conferências" (1910), refere-se aos Irantxe e localiza seu território nessa mesma área; assim como outros autores (mencionados no item "nota sobre as fontes"). Pivetta, em sua pesquisa de 1992, reconstituiu com o auxílio dos Manoki mais velhos uma lista de 27 aldeias antigas, estimando uma população de mais de mil pessoas no início do século XX.</div><div><br /></div><div>O mapa a seguir registra os antigos locais das aldeias Manoki relembrados pelos índios mais velhos, registrados nos diários dos jesuítas e em apontamentos das expedições das linhas telegráficas, bem como os caminhos que as ligavam e os recursos naturais mais utilizados tradicionalmente.</div><div><br /></div><div>As trilhas eram o produto das visitas que os Manoki faziam de aldeia em aldeia, resultado e condição dos relacionamentos entre os habitantes das diversas localidades no interior de seu território; eram os caminhos de caça e de pesca, da coleta de alimentos e materiais de uso no cotidiano das aldeias. Essas trilhas testemunham o padrão de ocupação do território e uso de seus recursos naturais, e acabaram servindo de guia para a penetração seringueira no interior de sua sociedade, como atesta o relato de João Salustiano Lyra, referente à exploração do vale do rio Cravari em 1907:</div><div><br /></div><div>"Os primitivos trilhos dos índios, ligando as origens das cabeceiras, que na mesma vertente, quer em vertentes opostas, foram os caminhos que orientaram os pioneiros da civilização nestes desertos e atualmente se erigem em verdadeiras estradas seringueiras" (p.8)... "Tínhamos até aí penetrado suficientemente para o Norte, podendo ainda seguir neste rumo pelo trilho dos índios, que ligam as diversas cabeceiras na margem esquerda do rio Cravary. É verdade que a exploração desse rio se limitou até agora à sua margem esquerda, pois toda a margem direita está ainda ocupada pelos índios Irantxe, que se opuseram sempre a qualquer invasão" (Public. N.7, anexo 3, da Comissão Rondon).</div><div><br /></div><div>Segundo relatos dos mais velhos, a trajetória dos Manoki se orientou das proximidades do córrego Membeca e rio do Sangue rumo ao rio 13 de Maio. Uma das razões alegadas para as migrações foram ataques dos Tapayuna e, em alguns casos, dos Rikbaktsa. Já o envolvimento dos Manoki com a sociedade nacional está intimamente ligado ao processo de ocupação regional, profundamente modelado pelas frentes de expansão seringalistas, pela atuação do Estado e pela presença jesuítica.</div><div><br /></div><div>A região norte do atual Estado do Mato Grosso, além de fugaz mineração no alto Arinos no século XVIII (Arruda, 1992), só foi novamente atingida pelas frentes de expansão com o ciclo seringueiro da segunda metade do século XIX. Mas até o início do século XX nada se sabia sobre os Manoki e sua região era ainda praticamente indevassada. Entretanto, em 1907 o interesse governamental de defesa das fronteiras nacionais abriu outra frente de penetração com a construção de uma linha telegráfica, projetada para propiciar a comunicação de Cuiabá, Santo Antonio do Madeira (hoje Porto Velho), Acre e Manaus com o restante do país.</div><div><br /></div><div>A Linha Telegráfica Estratégica de Mato Grosso ao Amazonas, sob direção do então Coronel Cândido Mariano Rondon, em 1907 já percorria o território Pareci, ultrapassando a cidade de Diamantino, norteando a linha pelos seringais que começavam a pontilhar a região. Os trabalhos da linha foram acompanhados em 1910 pela criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPI). O objetivo era promover a atração e pacificação dos índios hostis, sua paulatina aculturação e integração na sociedade nacional através das colônias agrícolas, onde seriam instalados junto aos sertanejos como trabalhadores braçais. É nesse contexto regional que se iniciam as relações dos Manoki com a sociedade nacional.</div><div><br /></div><div><b>O massacre do córrego Tapuru</b></div><div><br /></div><div>O primeiro encontro foi trágico. Deu-se por volta do ano de 1900, quando seringueiros, sob o comando de Domingos Antonio Pinto, promoveram um massacre da população de uma das aldeias manoki no córrego Tapuru, afluente da margem direita do rio Cravari, segundo relata Rondon:</div><div><br /></div><div>"Nada se deve temer da índole pacífica e até mesmo tímida dos Iranche. Mas apesar disso, o truculento seringueiro entendeu que era necessário expeli-lo das proximidades do ponto em que estabelecera; e como por ali existisse uma aldeia, assentou dar-lhe cerco, com o auxílio dos camaradas todos armados de carabinas. Pela madrugada, ao recomeçar a cotidiana labuta daquela misérrima população, a celerada emboscada rompeu fogo, abatendo os que primeiro saíram das casas para o terreiro. Os que não morreram logo, encerraram-se nas palhoças, na vã esperança de encontrarem aí abrigo contra a sanha de seus bárbaros e gratuitos inimigos. Estes porém já estavam exaltados pela vista do sangue das primeiras vítimas e nada os impedia de darem largas à sua fome de carnagem. Então, um deles, para melhor trucidar os misérrimos foragidos, resolveu trepar à coberta de um dos ranchos, praticar nela uma abertura e por esta, metendo o cano da carabina, foi visando e abatendo uma após a outra as pessoas que lá estavam, sem distinguir sexo nem idade. Acuados assim com tão execrável impiedade os índios acabaram tirando do próprio excesso do seu desespero a inspiração de um movimento de revolta: uma flecha partiu, a primeira e única desferida em todo este sanguinoso drama, mas essa embebeu-se na glote do crudelíssimo atirador, que tombou sem vida. A só lembrança do que então se seguiu faz tremer de indignação e vergonha. Onde haverá alma de brasileiro que não vibre uníssona com a nossa, ao saber que toda aquela população, de homens, mulheres e crianças, morreu queimada, dentro de suas palhoças incendiadas" (Rondon, 1946:88-89).</div><div><br /></div><div>Max Schmidt também faz referência a essa cruel matança (1942:35), diversas vezes recontadas pelos índios. O segundo contato com os Manoki registrado na historiografia conhecida, desta vez pacífico, deu-se em 1909 (Missão Rondon, 1916), no tempo da seca, quando um grupo deles foi encontrado caminhando por baixo da linha, nas proximidades da estação Utiariti, na margem direita do rio Papagaio. Comunicaram-se com os Pareci empregados da linha telegráfica e pediram ferramentas. Na ocasião, negaram-se a indicar a localização de suas malocas.</div><div><br /></div><div>Entretanto, na história oral Manoki o primeiro encontro pacífico deu-se pouco antes da ida deste grupo para a linha telegráfica. Alguns anos após o massacre da aldeia do córrego Tapuru, um cacique manoki que havia saído para caçar junto com seu filho, ao voltar para casa encontrou quatro brancos na aldeia vazia. Os outros haviam fugido com medo. Este cacique ganhou ferramentas destes brancos, o que estimulou os outros do grupo a seguirem o rumo tomado por aqueles brancos até perto da estação telegráfica de Utiariti, em 1909.</div><div><br /></div><div>Desta data até 1932, grupos manoki acostumaram-se a esporadicamente visitar a estação de Utiariti, sempre à procura de ferramentas de aço e sem revelarem o local exato de suas aldeias. A partir de 1932, eles não mais foram vistos.</div><div><br /></div><div>Ironicamente, a linha telegráfica tornou-se obsoleta no momento em que se completava, com o nascimento da radiotelegrafia em 1922. Tendo sido abandonado após a retirada da Comissão Rondon, esse espaço geográfico e ideológico propiciado pela abertura da linha passou a ser ocupado pelos jesuítas, cuja atuação foi marcante no processo de intermediação entre os povos indígenas da região e a sociedade nacional e, em especial, no caso dos Manoki.</div><div><br /></div><div><b>Frentes de expansão e tutela missionária</b></div></div><div><br /></div><div><div>Desde a fundação da Prelazia Diamantina em 1930, com sede na cidade de Diamantino, os jesuítas já faziam incursões ao interior voltadas para a catequese indígena e sertaneja. Em 1946, instalaram a Missão em Utiariti, na margem esquerda do rio Papagaio, com uma área de 8.200 hectares cedida à Prelazia Diamantina pelo governo estadual. Passaram a disputar a atuação catequética com os missionários da ISAMU (Inland South American Missionary Union, ali desde 1937) e com os funcionários do SPI sediados no Posto Tolosa, criado em 1945 para efetuar a atração dos Manoki.</div><div><br /></div><div>Até então, os jesuítas encontravam pouca receptividade por parte dos índios e mesmo dos empregados da linha telegráfica, que eram a maioria da população das cercanias. Porém, a fase inaugurada com a mudança para Utiariti propiciou a consolidação e expansão da missão indígena.</div><div><br /></div><div>O sucesso que se observa no Posto Missionário relaciona-se diretamente o terceiro ciclo da borracha do Mato Grosso. A segunda Guerra Mundial acarretou um aumento da demanda por borracha no mercado internacional, estimulando a migração de milhares de homens empobrecidos em sua região de origem, sobretudo do Nordeste, os quais invadiram a floresta amazônica, pelo norte e pelo sul, atingindo locais antes nunca explorados, como as matas equatoriais das bacias dos rios Papagaio, Sacre, Sangue, Arinos, Juruena, Aripuanã, Roosevelt.</div><div><br /></div><div>Atingindo os territórios de grupos indígenas antes só marginal e esporadicamente alcançados, essas frentes de expansão provocaram inúmeros pontos de tensão e choques armados com os índios. As escaramuças genocidas e a difusão de doenças letais, além de promover a crescente depopulação indígena, acentuaram os conflitos inter-tribais, alguns pré-existentes, à medida em que as crescentes invasões tendiam a deslocar os grupos para os territórios de outros.</div><div><br /></div></div><div><div>As malocas manoki passaram a ser sucessivamente visitadas pelo ISAMU, pelos jesuítas e pelos funcionários do SPI, tentando atraí-los e aldeá-los nas suas respectivas sedes. Para se ter uma idéia do grau de competição entre as agências religiosas, basta mencionar que os missionários protestantes se instalaram a cerca de 500 metros apenas da sede jesuítica em Utiariti, onde fundaram colégio e Igreja.</div><div><br /></div><div>Uma das conseqüências desse contato inicial desordenado e competitivo foi a difusão de epidemias em quase todas as malocas e mesmo em Utiariti, provocando grande mortandade. Essa situação se prolongou até 1957, quando o ISAMU saiu do local e o SPI delegou oficialmente a tutela indígena para os jesuítas.</div></div><div><br /></div><div><div>Paralelamente, a Companhia Seringueira Utiariti, de propriedade de um fazendeiro de gado da região, pretendia expandir suas atividades ao rio Cravari e afluentes, onde se localizavam aldeias manoki. Em 1950 esta companhia fez uma roça perto da aldeia e os seringueiros foram acusados de abusar das mulheres e provocarem conflitos. Em 1952 o barracão da companhia foi queimado, dando origem à denominação do local como Barracão Queimado.</div><div><br /></div><div>Em 1949, os jesuítas abriram um posto de catequese entre os Manoki, na aldeia do "Capitão Acácio", próximo ao rio Cravari, transladando-os em número crescente, principalmente as crianças, para Utiariti. As doenças dos civilizados continuaram a causar mortes e, em 1950 e 51, a gripe coreana alcança a aldeia do Capitão Acácio, provocando a morte de quase todos os habitantes. Os sobreviventes procuraram refúgio em Utiariti.</div><div><br /></div><div>Nos anos seguintes, prosseguem ataques dos Tapayuna e Rikbaktsa, assim como as mortes por doenças. Progressivamente, os sobreviventes vão sendo levados a Utiariti e lá ficam, não retornando mais a seu território.</div><div><br /></div><div>Sob o comando dos missionários e com a utilização intensiva da mão de obra indígena, as construções da Missão em Utiariti se ampliaram e os índios foram segmentados em grupos de mesmo sexo e faixa etária, supervisionados por um mestre (padre ou irmã, conforme o sexo) em todas as suas atividades. Eram proibidos de falar a própria língua e os casamentos interétnicos entre os Irantxe, Pareci e Nambikwara eram incentivados. Nos anos seguintes, essa prática se estenderia a outros povos, com a pacificação dos Kayabi do rio dos Peixes em 1953, dos Rikbaktsa do rio do Sangue, Juruena e Arinos de 1956 a 1962.</div></div><div><br /></div><div><div>Paralelamente ao ensino catequético e técnico, os missionários passaram a organizar o trabalho indígena com base em relações capitalistas. Além das plantações, havia uma serraria, uma marcenaria, oficinas de costura mecanizadas, artesanato etc. Os trabalhadores (homens, mulheres e crianças) que mais se qualificavam, disciplinar e tecnicamente, eram promovidos a cargos de chefia e passavam a receber salário, intermediando o planejamento e as ordens do missionário ou missionária encarregada do serviço.</div><div><br /></div><div>A reprodução das relações de trabalho capitalistas, preparando os indígenas como mão-de-obra para o mercado regional, incluía o controle da Missão na comercialização das mercadorias e no usufruto dos resultados monetários, os quais, mesmo que reaplicados no próprio internato, obedeciam aos interesses de sustentação e expansão da Missão. Em 1956, com o fito de facilitar os assuntos financeiros e contratuais, a Prelazia criou uma sociedade civil com o nome de Missão Anchieta (MIA). Até 1968, os Manoki permaneceram em Utiariti totalmente imersos no esquema catequético civilizatório da Missão, com exceção de algumas famílias que passaram a habitar a aldeia de José Parente e de Maria Atolú, próxima ao Cravari, no mesmo local onde hoje é a aldeia Asa Branca.</div><div><br /></div><div><b>Reorientação missionária e novos rumos para os Manoki</b></div></div><div><br /></div><div><div>A partir dos anos 60, se adensou a ocupação regional, agora por empresas agro-pecuárias, mineradoras, madeireiras e projetos de colonização, possibilitada pela abertura de estradas, sendo a principal delas a BR 364, ligando Cuiabá a Porto Velho, terminada em 1968. Tornam-se freqüentes os conflitos com a população indígena, levando ao extermínio aldeias inteiras, processo que foi acelerado nos anos 70 e 80.</div><div><br /></div><div>A Missão não podia ficar alheia a essas profundas modificações e elaborou em 1966 um novo planejamento, propondo a inclusão de missionários leigos (nacionais e estrangeiros) no trabalho com os índios. Passaram a considerar que para que a Missão atingisse seus fins no novo contexto regional, impunha-se um esforço visando a ocupação de lugares estratégicos para a penetração religiosa. Enfatizaram a procura e sedimentação de contatos e convênios com órgãos governamentais, sindicatos, cooperativas e sociedades de desenvolvimento. Iniciou-se uma gradativa desativação de Utiariti.</div><div><br /></div><div>No mesmo ano, um convênio entre a Missão Anchieta e a Funai atribuiu ao superior da Missão, padre Edgar Schmidt, o cargo de Delegado da Funai na região, com poderes de definição e interdição de áreas para os índios sob sua tutela. A partir de propostas da MIA, foram criadas as reservas indígenas Irantxe, Rikbaktsa e Apiaká-Kayabi. Gradativamente para lá foram sendo transferidos os índios ainda dispersos por seu território tradicional e os "alunos" do internato.</div><div><br /></div><div><div>Essas mudanças históricas desencadearam no interior da Igreja Católica uma revisão crítica de seu papel histórico e produziram uma reflexão cunhada de Teologia da Libertação. No campo de atuação indigenista, essas influências se concretizaram com a criação da "Operação Anchieta" (OPAN), fundada em 6/2/69 no IV Encontro Estadual de Dirigentes Marianos do Estado de Santa Catarina, por incentivo do padre Egídio Schwade, missionário da MIA.</div><div><br /></div><div>No caso dos Irantxe, por Decreto Presidencial de 1968 foi delimitada uma área fora de sua ocupação histórica, da margem esquerda até a foz rio Cravari, com uma extensão de 46.790 hectares (posteriormente homologada com 45.555 ha) em região de cerrado, bioma estranho ao seu modo de vida tradicional. Segundo depoimento de alguns Manoki, eles não tinham a compreensão total do significado da demarcação da área. Os padres sabiam onde era o território deles, mas os Tapayuna ainda estavam por lá e os Manoki tinham medo de voltar. Ademais, os missionários não discutiram o assunto amplamente com o grupo, tendo consultado apenas o "capitão" e este indicou o território onde estava instalada sua aldeia. Os outros aceitaram ir para lá mas, como dizem eles, "naquele tempo era tudo vazio, não tinha fazendeiro, não tinha BR, nem nada, não imaginava que tudo ia ser ocupado". Não haviam entendido que com isso estavam perdendo seu território histórico, onde ainda perambulavam e exploravam os recursos.</div></div><div><br /></div><div><div>Quando grande parte dos manoki estava em Utiariti, duas aldeias Manoki mantiveram uma certa autonomia: a do José Parente, onde hoje é a aldeia da Asa Branca, e a aldeia do Acácio, reocupada por alguns Manoki anos após a ocorrência das epidemias de gripe que dizimaram quase todos os seus habitantes. A aldeia da Asa Branca era situada fora do território histórico, embora seus habitantes continuassem a perambular por esse território para coleta, caça e pesca. No caso da aldeia do Acácio, evitavam o estabelecimento de aldeamentos e roças mais no interior de seu território tradicional com receio dos ataques dos Tapayuna e dos Rikbaktsa.</div><div><br /></div><div>Assim que o internato de Utiariti foi desativado, todos os Manoki deslocaram-se para a aldeia da Asa Branca, do capitão José, onde os jesuítas instalaram escola, farmácia, igreja e onde passaram a atuar também as Irmãs da Imaculada Conceição.</div><div><br /></div><div>Em 1970, a agropecuária Membeca se instalou na região e começou a cortar a reserva manoki com uma estrada, embargada pela FUNAI. Este foi o primeiro passo de um gradativo cercamento dos Manoki, que, até a década de 1980 ainda caçavam, pescavam e coletavam fora da área demarcada, continuando portanto a ocupar seu território histórico. Desde então, a região passou a ser cada vez mais ocupada por latifúndios monocultores ou pecuários.</div><div><br /></div><div><b> O caso dos Myky</b></div></div><div><br /></div><div><div>Segundo relato do padre Tomas de Aquino Lisboa (1979), sobrevoando a região, membros da Missão Anchieta localizaram em 1969 duas aldeias na cabeceira do córrego Rico, afluente do Rio Juruema, apontando a possível existência de irantxe "arredios". Foi feita então uma primeira expedição por terra composta por padres e índios da aldeia do Cravari. Mas a aldeia encontrada estava vazia. No ano seguinte, fizeram nova expedição, igualmente fracassada.</div><div><br /></div><div>Em 1971 foi feito novo sobrevôo e outra aldeia foi localizada, num córrego a 20 Km da antiga aldeia que foi batizado de Escondido por estar em grande parte encoberto pelo mato. Por fim, uma nova expedição por terra composta por missionários e dois manoki - Tapurá e Tupxi - possibilitou o primeiro encontro com o grupo composto por cerca de 23 pessoas, que se identificaram como Myky (ou Mükü, segundo a grafia do padre Tomas de Aquino Lisboa, presente no encontro) e falavam a mesma língua dos Irantxe. O encontro foi amigável e os visitantes foram recebidos com cará assado.</div><div><br /></div><div>Os Manoki do Cravari e os Myky conversaram animadamente e fizeram o choro ritual para celebrar seu encontro. O grupo havia se separado dos demais manoki no início do século XX, quando em fuga dos brancos depois do massacre da aldeia do córrego Tapuru.Desde então, seguiram-se várias visitas com trocas de presentes. Levavam machados, foices, anzóis e facas, recebendo dos Myky comidas como chichas de milho, bolos de beiju e amendoim, assim como enfeites nasais e outros adornos. Uma das moças myky foi oferecida como esposa a Tapurá, que se declarou viúvo. Na segunda visita, os visitantes pernoitaram na aldeia e foram-lhes apresentadas as flautas sagradas yetá (ou jetá), proibida às mulheres. Tapurá decidiu casar-se e morar definitivamente na aldeia. O padre Tomas de A. Lisboa levou então 12 manoki para a festa de casamento de Tapurá (relatada no item "Rituais"). Desde então, o relacionamento entre os Manoki do Cravari e os Myky tem sido freqüente, havendo vários casamentos entre os componentes dos dois grupos. Os Myky representam uma forte referência cultural para os outros Manoki, pois ainda guardam tradições dos antigos e praticam certos rituais, como o de iniciação, que haviam sido abandonados.</div><div><br /></div><div>Em 1973, a Missão Anchieta passa a alertar a Funai do perigo das frentes de penetração, que estavam se aproximando rapidamente da área myky, já havendo trabalhos de demarcação e derrubadas a menos de cinco quilômetros da aldeia. Em seguida, esta foi invadida e destruída. Em 74, foram interditados 35 mil hectares por decreto presidencial. Em 78 a área foi demarcada com extensão de 47.094 hectares.</div><div><br /></div><div>O padre Tomas de A. Lisboa passou a morar entre os Myky em 1976, e, em fins de 79, Elizabeth Rondon Amarante, irmã da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, também passou a viver entre esses índios, que na época já enfrentavam problemas fundiários, pois estavam cercados de fazendas, e demográficos, uma vez que eram apenas quatro famílias e, devido ao sistema de parentesco, havia possibilidades restritas de casamentos.</div><div><br /></div><div><b> População e aldeias</b></div></div><div><br /></div><div><div>Pivetta, em 1992, reconstituiu com o auxílio dos Manoki mais velhos uma lista de 27 aldeias antigas, estimando uma população de mais de mil pessoas no início do século XX. Quando as aldeias manoki foram localizadas pela primeira vez, em 1947, a população foi calculada em 258 pessoas, constituindo já um reduzido número de sobreviventes dos massacres, epidemias e ataques dos Tapayuma e Rikbaktsa. O padre João Dornstaudter apresenta em seguida o seguinte censo demográfico: "em 1948: 90; maio de 1951: 70; outubro de 1952: 55; maio de 1953: 59; agosto de 1953: 54; março de 1956: 54" (Citado por Moura e Silva & Pereira, 1975: 23).</div><div><br /></div><div>Quando estavam vivendo em Utiariti, proliferaram-se os casamentos com pessoas de outras etnias tuteladas pela Missão: os Pareci, Nambiquara e, um pouco mais tarde, com os Kayabi e Rikbaktsa. Mesmo assim a população continuou a decrescer: em 1965 eram 52 e em 1974 eram 50. Daí em diante, a população voltou a crescer, mas já num ambiente social profundamente alterado pela atuação jesuítica e pelo grande número de casamentos com pessoas de outras etnias, impondo o uso da língua portuguesa como meio de comunicação. Forçou também o abandono de muitos costumes pela ausência de ambiente adequado para sua realização.</div><div><br /></div><div>Os dados da Missão indicam em 1979, já habitando a reserva Irantxe, um total de 136 pessoas e, em 1982, eram 142. Em 1983 (Arruda, 1983) eram 145 indivíduos, sendo 11 famílias com ambos cônjuges Manoki e 17 famílias em que um dos cônjuges pertencia a outra etnia.</div><div><br /></div><div>Segundo um documento da Funai de 87, havia 191 pessoas e três aldeias. Por fim, em 2000, segundo dados da OPAN, os Manoki contavam com uma população de cerca de 250 pessoas, distribuídas em seis aldeias: Paredão (60), Recanto do Alípio (12), Perdiz (26), Asa Branca (24), Cravari (119) e Treze de Maio ou Aldeia do Maurício (9).</div><div><br /></div><div><table class="table table-hover" style="background-color: #f7f7f7; border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; color: black; font-family: Ubuntu, "Open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: auto auto 20px; max-width: 680px; width: 680px;"><tbody style="background-color: #f2f2f2; box-sizing: border-box;"><tr bgcolor="#ffffff" style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="top" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Faixa etária</p></td><td colspan="2" style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="top"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Gênero</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="top" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Total (2000)</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td rowspan="2" style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="bottom" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">0 - 11 meses</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Masc.</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">Fem.</p></td><td rowspan="2" style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" valign="bottom" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">10</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;" valign="top"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">04</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">06</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">01-05</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">15</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">26</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">41</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">06-15</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">31</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">34</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">65</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">16-25</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">25</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">23</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">48</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">26- 50</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">28</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">23</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">51</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">51-60</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">04</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">05</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">9</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">60+</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">08</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">04</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">12</p></td></tr><tr style="box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">ausentes</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">07</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">07</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">14</p></td></tr><tr style="background-color: #c0e07a; box-sizing: border-box;"><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="102"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">TOTAL</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="69"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">122</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="62"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">107</p></td><td style="border-top: 1px solid rgb(221, 221, 221); box-sizing: border-box; line-height: 1.42857; padding: 8px; vertical-align: top;" width="67"><p style="box-sizing: border-box; clear: unset; font-family: Georgia, "Bitstream Charter", serif; font-size: 13px; margin: auto auto 1em; max-width: 700px;">250</p></td></tr></tbody></table></div><div><br /></div><div><div>Há também uma família Manoki vivendo fora da área, na fazenda Dondico, desde 1998, além de alguns outros vivendo em outras áreas indígenas da região.</div><div><br /></div><div>A maior concentração de habitantes ocorre na aldeia do Cravari, ao lado do córrego São Domingos, a cerca de dois quilômetros de seu ponto de intersecção com o rio Cravari. Nesta aldeia há um campo de futebol, igreja, escola, enfermaria e barracão para guardar o caminhão. Na aldeia do Paredão, a mais próxima da BR, fica a casa do chefe de posto da FUNAI e é servida por rede elétrica.</div><div><br /></div><div>Algumas casas são de tábua, outras são de pau-a-pique, com cobertura de folhas de buriti, de tabuinhas ou de eternit. Em geral tem três cômodos, sendo um deles a cozinha. Em 2000, com o apoio da OPAN, construíram uma maloca nos moldes tradicionais, com cobertura de buriti que se alonga até o chão, formando também as paredes, situada no meio da aldeia do Cravari. Fora da aldeia, num recanto escondido pela vegetação, existe a casa das flautas Yetá, só usada pelos homens, sendo interditada para as mulheres e crianças.</div><div><br /></div><div>As aldeias não têm uma forma determinada, mas as casas guardam alguma distância umas das outras, de forma que os moradores costumam cultivar certas espécies vegetais ao redor de suas casas. Todas as aldeias situam-se na proximidade de córregos e aproveita-se a mata ciliar - só nestes locais encontra-se alguma fertilidade natural - para suas roças.</div><div><br /></div><div>Quanto aos Myky, desde o contato, nunca sofreram diminuição populacional. Eram 23 indivíduos em 72; 28 em 82; 33 em 1983; 31 em 1986; em 1997 eram 67. Em 2004 contavam 76 pessoas.</div><div><br /></div><div>Segundo o padre Tomas de Aquino Lisboa (1983), por ocasião do contato as malocas myky eram de palha de inajá, com portas nas extremidades e sem divisões internas. Cada família nuclear possuía seu espaço delimitado pelas redes, cabaças, panelas e cestos de mantimento, assim como pelo jirau onde ficava a carne ou o peixe moqueado e os círculos de massa de mandioca. Na palha da rede, ficavam as flechas, facas e demais objetos. Uma década depois do contato, as malocas passaram a ser feitas de madeira e cobertas de palha de inajá.</div><div><b><br /></b></div><div><b> Economia e sociedad</b>e</div></div><div><br /></div><div><div>A enorme perda populacional, a expulsão de seu território próprio, a catequese e o processo histórico de envolvimento pela sociedade brasileira impuseram severas restrições à reprodução do modo de vida manoki. Tradicionalmente, esses índios têm sua unidade de produção e consumo na família extensa, matrilocal, sendo o trabalho masculino baseado na cooperação entre genros e sogros. Mas atualmente há também muitos casais jovens que fazem sua casa separadamente, constituindo a família elementar como unidade de produção e consumo, embora pareçam se manter, ainda que atenuadas, as obrigações de cooperação e partilha características das relações dos genros com seu sogro.</div><div><br /></div><div>Cada família costumava fazer uma roça perto da aldeia, de meio a dois hectares, consorciada com mandioca brava, milho fofo, batata doce, cará, batata, feijão costela, feijão fava, araruta, urucum, algodão, amendoim e outras espécies. Posteriormente incorporaram a mandioca mansa, a cana-de-açúcar, o milho duro, o arroz e o feijão guandu.</div><div><br /></div><div>De acordo com o levantamento realizado em 2000 pela OPAN, calcula-se que o total de terras já utilizadas pelo sistema de roça tradicional na TI Manoki não ultrapassa 500 hectares, constituídos exclusivamente de mata ciliar, que tem solo mais fértil. Contudo, de 70 a 80% do solo da terra indígena apresenta acidez elevada e fertilidade baixa. Nos outros 20 a 30% da área, os solos são ainda mais pobres e inadequados ao tipo de plantio tradicional dos Manoki.</div><div><br /></div><div>A produção do milho, um de seus cultivares tradicionais mais importantes, é irrisória pelas deficiências do solo. Para que não se perca a semente e se produza ao menos um pouco é necessário adubar a terra e, mesmo assim, quase nada se consegue produzir nas roças tradicionais. O plantio mecanizado vem sendo tentado já há alguns anos, sem muitos resultados positivos, já que requer muito gasto em correção de solo, fertilizantes e maquinário. As roças tradicionais e mais variadas estão sendo abandonadas em favor da monocultura do arroz, com fracos resultados no mercado, ocasionando perda da variedade, quantidade e qualidade alimentar.</div><div><br /></div><div>A caça, a pesca e a coleta também têm apresentado resultados cada vez piores em função do aumento da antropização regional e das características do modelo de ocupação centrado na derrubada da cobertura vegetal para monoculturas ou pastos e no uso intensivo de agrotóxicos. As emas, siriemas e perdizes diminuíram drasticamente. A coleta de frutos silvestres (por exemplo, o pequi), ainda é praticada, principalmente pelas mulheres e crianças.</div></div><div><br /></div><div><div>As roças tradicionais continuam a ser realizadas, algumas vezes (cada vez mais raras) acompanhadas dos ritos tradicionais. Porém, há uma crescente saída dos homens mais jovens para trabalhar em fazendas do entorno, ocasionando uma reorganização do padrão tradicional de divisão de trabalho e da composição das unidades de produção. Nesse quadro, o abandono gradativo e forçado de suas práticas agrícolas promove também a impossibilidade da transmissão destas práticas para as novas gerações, assim como dos rituais e conhecimentos associados.</div><div><br /></div><div>Além do trabalho nas fazendas, outras fontes de renda são o artesanato (cocares, redes de algodão ou de tucum, colares etc.). comprado pela Funai ou vendido pelos índios em visita a cidades, e a venda de pequena produção de farinha e de mel, num projeto assessorado pela OPAN. Mas, segundo o levantamento feito pela OPAN em 2000, a maior parte do dinheiro que circula nas aldeias provém das aposentadorias (eram 13 pessoas recebendo um salário mínimo) e dos salários dos professores (4 professores indígenas no conjunto das aldeias) e agentes de saúde (7 agentes indígenas no conjunto das aldeias).</div><div><br /></div><div>Tradicionalmente, dizem os índios, a chefia passava de pai para filho. Os mais velhos se lembram de alguns grandes chefes do passado e de seus sucessores. Assim como hoje, não existia um chefe geral, apenas os chefes de aldeia. Na TI Manoki, atualmente os chefes são eleitos por voto, não havendo um tempo definido de mandato. Suas atribuições são as de representar a comunidade em encontros externos, levar reivindicações à Funai, organizar empreendimentos comunitários e convocar os outros para participar. A despeito de ser eleito por voto, a chefia atual mantém a característica central das chefias tradicionais, em que o chefe não manda, mas persuade. Do mesmo modo, ele representa a comunidade mas não pode tomar decisões individuais. Toda decisão importante é tomada em longos processos de discussão coletiva até que se chegue a um consenso.</div><div><br /></div><div>Os Manoki são atendidos pela Fundação Nacional do Índio, na jurisdição de Tangará da Serra, que mantém um chefe de posto na área, e pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), que lá mantém um indigenista. Além disso, os Manoki têm atendimento de saúde com recursos de um convênio firmado entre a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e a OPAN. A comunidade é atendida por uma equipe formada por enfermeiros contratados e por agentes de saúde indígenas que prestam assistência básica nas aldeias. Casos mais graves são encaminhados para Tangará da Serra. Estas agências desenvolvem projetos sociais que também levam recursos para a comunidade, geralmente destinados à compra de máquinas e equipamentos e implementação de pequenos projetos.</div><div><br /></div><div>Entre os Myky, segundo Tomas de Aquino Lisboa (1983), a base da agricultura são a mandioca e o milho; também plantam bastante feijão, batata doce, cará e amendoim. Desde 1973, Tapurá (manoki da aldeia do Cravari que se casou e passou a viver entre os Myky) introduziu a cana-de-açúcar, que passou a ser largamente utilizada, inclusive toda chicha é feita de garapa fervida e engrossada com milho ou batata doce.</div><div><br /></div><div>De acordo com esse relato de 1983, cada família tinha então roças de milho, mandioca brava e feijão. Mas no tempo da colheita era comum partilharem os produtos da terra. A mandioca é trazida por grupos de no mínimo duas mulheres em grandes recipientes pendurados à cabeça por uma embira. A mandioca é então ralada e espremida numa peneira (ou torcida em um pano). Os círculos de massa são colocados no chão de terra para secar, sendo depois conservados sobre os jiraus. O beiju é assado na cinza ou na frigideira e comido com caça, peixe, feijão e amendoim. Com o veneno da mandioca brava, fazem uma bebida muito apreciada.</div><div><br /></div><div>Segundo depoimento ao Diário de Cuiabá em 1997, Elisabeth Rondon Amarante, irmã da Congregação do Sagrado Coração de Jesus que vive entre os Myky desde 79, a pesca e a caça estão escassas devido à pouca extensão do território e à predação do entorno. Assim, o grupo tem encontrado dificuldades de encontrar formas de sustentação, a exemplo dos índios na TI Manoki</div><div><b><br /></b></div><div><b> Rituais</b></div></div><div><br /></div></div><div><div>As atividades econômicas tradicionais são intrinsecamente ligadas a atividades rituais, tais como as festas do período da seca e as do período das chuvas, com duração de aproximadamente um mês cada.</div><div><br /></div><div>Os mais velhos lembram que quando viviam em seu território tradicional, além das roças familiares, havia roças especiais acompanhadas de ritos de iniciação dos meninos, associados às flautas sagradas (as masculinas são chamadas de Yetá e as femininas de Nadipu) de uso exclusivo dos homens. Ainda hoje, de dia eles as tocam na casa das flautas - que fica fora da aldeia e é escondida pela vegetação - e de noite no pátio das aldeias. É proibido às mulheres e crianças vê-las, evitando-se até mesmo fazer menção à sua existência. Dizem que quando esta interdição é quebrada, a mulher acaba sendo morta pelo poder das flautas. As crenças e os ritos associados a estas flautas constituem o cerne de sua religião e de sua visão de mundo.</div><div><br /></div><div>Quando iniciados nos ritos das flautas, os meninos de 12 a 14 anos eram apartados dos outros moradores da aldeia, passando semanas na casa das flautas aprendendo os segredos dos homens e os ensinamentos para a vida adulta. Deviam ser sérios, não brincar, serem respeitosos e jejuarem. Na época da derrubada (na estação seca), ofereciam uma roça a alguma mulher, dizendo a ela que eram as flautas que faziam a roça. E todos os homens auxiliavam os iniciandos na derrubada e plantio, tocando as flautas à noite. Quando a roça estava pronta ofereciam-na à mulher escolhida, que passava a cuidar dela. Os meninos voltavam então para a aldeia enfeitados e pintados, já homens. Quando a roça passava a produzir, a mulher chamava as outras para que os alimentos fossem distribuídos entre todas as famílias. A última festa de iniciação na TI Manoki foi realizada por volta de 1995, segundo informação dos índios.</div><div><br /></div><div>Os Myky, contudo, ainda fazem esses rituais. Segundo versão coletada pelo Padre Adalberto Pereira (Cf. Lisboa, 1983) entre este grupo, há vários tipos e denominações de yetá. Cada yetá é atribuída a uma pessoa ou família. Nas noites de ritual, as mulheres e crianças permanecem dentro de casa, fechadas, enquanto os homens armam do lado de fora as redes e ali passam a noite, muitos tocando suas yetá e marcando o ritmo com chocalhos de sementes de pequi amarrados no tornozelo direito. De dentro da casa, as mulheres prepararam a bebida.</div><div><br /></div><div>O padre Tomas de Aquino Lisboa presenciou o casamento do manoki Tapurá com uma myky poucos meses depois do contato entre os grupos. A cerimônia também contou com a participação fundamental das flautas yetá. Assim que chegaram na aldeia myky, Tapurá e os outros 12 manoki do Cravari entraram no pátio formando duas filas e tocando suas yetá. As mulheres e crianças myky ficaram encerradas na ini ("casa"). Visitantes e anfitriões discursaram animadamente, dançaram e tocaram suas faltas. Dentro da casa, as mulheres socavam o milho para a chicha. Depois os tocadores entraram no mato e guardaram as flautas na casa sagrada. Então as mulheres e crianças puderam sair, trazendo chicha de milho e batata assada.</div><div><br /></div><div>O pai da prometida chorou apoiado a um molho de arco e flechas, diante de Tapurá. A moça aproxima-se de ambos e chega a vez do choro ritual de Tapurá. Posteriormente, no interior da casa, há o choro ritual da mãe da prometida e novamente o choro de Tapurá, então dentro da habitação. Os outros homens vão para a casa das flautas e retornam tocando-as ao pátio da aldeia. Os visitantes são os primeiros a tocar e dançar e são observados com curiosidade pelos Myky, que não conheciam o acompanhamento do chocalho no tornozelo. As danças e cantos são intercalados com discursos. Depois tocam diante de cada uma das casas e as respectivas mulheres agradecem de dentro delas.</div><div><br /></div><div>Os homens retornam à casa das flautas e as mulheres choram na casa em que Tapurá está com sua esposa. Há novas sessões de dança e discurso, que só se encerram com o alvorecer (Cf. Lisboa, 1979: 41-44).</div><div><br /></div><div>Na época da chuva, havia as festas de flauta jacuri (ou jakuy), não interdita ao olhar feminino e feita com cinco tubos de taquara de tamanhos diferentes, justapostos e unidos em seqüência decrescente. As mulheres também participavam desses rituais e tocavam-se músicas referentes a animais (tatu, tamanduá-mirim, peixe cará, gambá e todos os outros). O cacique promotor da festa e seus parentes caçavam e pescavam, enquanto as mulheres ralavam mandioca e faziam muito beiju. Nestas festas, em geral cada um dançava com uma mulher que não a sua própria. Dançava-se todas as noites até quase o amanhecer e dormia-se muito pouco. De dia, enquanto os homens saíam cedo para tirar mel e caçar, as mulheres ficavam em casa preparando beiju, para todos comerem e então continuarem a festa. Em 1983, segundo Lisboa, entre os Myky somente os rituais com a yetá duravam toda a noite, sendo que as festas de jakui aconteciam só esporadicamente e nas primeiras horas da noite.</div><div><br /></div><div>Lisboa comenta que os Myky usavam cintos de tucum para as mulheres, pulseiras de tucum para os homens e brincos de semente de capim navalha para ambos os sexos. Na época da iniciação, o rapaz perfurava o septo nasal e, nas festas, nele colocava o xireti, ou flor nasal, feita com penas de tucano. A pintura corporal era bastante simples e feita de urucum. Os homens usavam cocares feitos com tiras de taquarinha (uma espécie de palha) que chamam de xunã. O cabelo era cortado em franja logo acima da orelha.</div><div><br /></div><div>Atualmente, a manutenção de sua religião própria não os impediu de seguirem também alguns aspectos do catolicismo. Na aldeia do Cravari há uma igreja e costumam realizar rezas coletivas aos domingos. Recebem visitas eventuais de um padre para celebração da missa e para realização de batismo. Também estabelecem relações de compadrio, algumas vezes com funcionários da Funai ou amigos não índios da região.</div><div><br /></div><div> <b>Nota sobre as fontes</b></div></div><div><br /></div><div><div>A respeito do histórico da ocupação dos Manoki, o Marechal Rondon, nas suas "Conferências" (1910), refere-se aos Irantxe e localiza seu território; assim como Roquette-Pinto (1935); Max Schmidt (1928, 1942), Pe. João Dornstaudter; Moura (1960:5); Pereira e Moura e Silva (1975:13); Pereira (1965:105); Métraux, (1942:161). Pivetta (1993), em sua pesquisa de 1992, reconstituiu com o auxílio dos Manoki mais velhos uma lista de 27 aldeias antigas localizadas entre o rio Cravari e o rio do Sangue, nas bacias do rio 13 de Maio, São Benedito e Membeca, (limite sul de seu território histórico), estimando uma população de mais de mil pessoas no início do século XX.</div><div><br /></div><div>A história dos primeiros contatos dos Myky com missionários e índios manoki da aldeia do Cravari foi relatada pelo Padre Tomas de Aquino Lisboa, presente nos encontros e posteriormente habitante da aldeia, no livro Entre os índios Münkü - a resistência de um povo, de 1979. Outro importante registro sobre os Myky foi escrito por esse mesmo autor onze anos depois do primeiro contato, mas jamais foi publicado, constando o documento no acervo do Instituto Socioambiental.</div><div><br /></div><div>Informações mais recentes podem ser encontradas na publicação Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, do ISA, que traz pequenos artigos e notícias sobre os grupos da TI Manoki e TI MyKy.</div><div><br /></div><div><b>Queimada de 2019</b></div><div><br /></div><div><div>A Terra Indígena Manoki está situada a 100 quilômetros da cidade de Brasnorte, no noroeste do Mato Grosso. Margeado à direita pelo rio Cravari e à esquerda pelo rio do Sangue, o território é formado pelos biomas Amazônia e Cerrado. Mas como é cercado por inúmeras fazendas que produzem soja e gado, os indígenas que moram em oito aldeias estão enfrentando a mais grave consequência dos incêndios florestais provocados pelas queimadas das lavouras do agronegócio. </div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKYyhr1gUDphdIKXK1JWKuZJh4Lkvt6ZpOScvorgXoBg6Fyz4G6LzGpPgc27qEVsFiTyX6gHgnQ89ZWvsD7P6kE2uCFi7BLsa98rK6pOlokt4zN1EVP3uILjCwST7PUFom8a4jaBFRiDg/s1024/Queimadas-TI-Manoki-no-Mato-Grosso-Agosto-2019_-Giovani-Tapura%25CC%2581-2-1024x768.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="768" data-original-width="1024" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKYyhr1gUDphdIKXK1JWKuZJh4Lkvt6ZpOScvorgXoBg6Fyz4G6LzGpPgc27qEVsFiTyX6gHgnQ89ZWvsD7P6kE2uCFi7BLsa98rK6pOlokt4zN1EVP3uILjCwST7PUFom8a4jaBFRiDg/w640-h480/Queimadas-TI-Manoki-no-Mato-Grosso-Agosto-2019_-Giovani-Tapura%25CC%2581-2-1024x768.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td class="tr-caption"><span style="font-size: x-small;"><br class="Apple-interchange-newline" />Incêndio florestal destruiu a floresta da II Manoki, no Mato Grosso, em agosto 2019-Foto: Giovani Tapurá<br /><br /></span></td></tr></tbody></table></td><td class="tr-caption"></td><td class="tr-caption"><br /></td></tr></tbody></table><div>Os Manoki denunciam que os incêndios devastaram cerca de 2 mil hectares de seu território. Grandes árvores, plantas medicinais, frutíferas, animais da caça tradicional foram consumidos pelo fogo. A fumaça tem provocado doenças respiratórias, principalmente, nas mulheres, idosos e crianças. </div><div><br /></div><div>É nesse cenário que, desde o mês de junho, incêndios têm ocorrido na região, segundo Giovani Tapurá. Ele diz que quem está queimando a vegetação são pessoas ligadas às associações de produtores rurais, que disputam judicialmente a terra dos Manoki, e que são eles os responsáveis pelos crimes ambientais.</div><div><br /></div><div>“Eles estão expandindo a agropecuária em nosso território e não estão respeitando a demarcação, pois há placas de venda de área, novas placas de fazendas e também estão roubando a nossa madeira no decorrer do ano”, denuncia o líder indígena. </div></div><div><br /></div><div><div>Giovani Tapurá, que é filho do cacique Manoel Kanunxi, uma grande liderança do povo Manoki, destaca que a queimada mais grave ocorreu no dia 23 de agosto. O incêndio começou em uma pastagem de gado e expandiu para a área florestal do território indígena.</div><div><br /></div><div>“A vegetação que eles estão destruindo é mata amazônica. O que a gente mais usava nesse espaço eram plantas medicinais e também tinham vários frutos por lá. E por ser uma região de mata a gente encontra muita caça ali e essa prática, muito tradicional do nosso povo, está sendo prejudicada, pois eles estão derrubando tudo, botando fogo para colocar o gado [no pasto]”, disse. </div><div><br /></div><div>Manoki é como se autodenominam os indígenas mais conhecidos como Irantxe, cuja língua não tem proximidade com outras famílias linguísticas faladas na região, segundo estudo do Instituto Socioambiental. Eles, que hoje formam um grupo de mais de 600 pessoas, vivem em dois territórios: Terra Indígena (TI) Irantxe Manoki, com 45.555 hectares homologados; e a TI Manoki, com 206.445 hectares declarados, ambas totalizando 252 mil hectares. </div><div><br /></div><div>Há outro grupo do mesmo tronco linguístico Irantxe, os Myky (a pronúncia é Mükü), também chamados de Menky Manoki, que se manteve isolado da sociedade nacional até 1971. Esse grupo tem dois territórios, ambos denominados Menkü: um com 47.094 hectares, já homologado; e outro com 146.398 hectares, que está em processo de demarcação pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Os Myky é um grupo indígena constituído por 236 pessoas. </div><div><br /></div></div><div><div>Os Manoki e os Myky sofrem igualmente as consequências do cerco da especulação imobiliária em seu território. No processo de colonização do Brasil “foram praticamente dizimados, em decorrência de massacres e doenças advindas do contato com os brancos”, diz o estudo do ISA. Em outra parte do estudo, o ISA diz o seguinte: “em meados do século 20, a maior parte dos sobreviventes não viu alternativa, senão viver em uma missão jesuítica, responsável por profunda desestruturação sócio-cultural do grupo. Em 1968, os Manoki receberam do governo federal uma terra fora de sua área de ocupação histórica, cujas características ambientais inviabilizaram o uso tradicional dos recursos”.</div><div><br /></div><div>É no território Manoki, com 206,4 mil hectares, que há os incêndios florestais das queimadas que partem das fazendas. São os proprietários desses imóveis que questionam judicialmente a demarcação do território em Brasnorte (MT). Alguns deles estão dentro da terra indígena. </div><div><br /></div><div>O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou um aumento de 71% nos focos de queimadas no estado do Mato Grosso entre 1o. de janeiro e 5 de setembro de 2019: 18.178 pontos contra 10.646 registrados no mesmo período do ano de 2018. </div><div><br /></div><div>De acordo com o monitoramento do Inpe, de 1º de janeiro a 4 de setembro, foram registrados 186 focos de queimadas na Terra Indígena Manoki - <a href="https://amazoniareal.com.br/amazonia-em-chamas-indigenas-manoki-denunciam-incendios-criminosos%E2%80%AFno-mato-grosso/">saiba mais</a></div></div><div><br /></div><div> <b>Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>ARRUDA, Rinaldo S. V. Relatório circunstanciado de identificação e delimitação da Terra Indígena Manoki (Irantxe). Brasília : Funai, 2001. 45 p.</div><div>. Relatório de avaliação da situação Iranche. Relatório Fipe/Minter/Sudeco, v.2, n.3, p. 81-108, 1983.</div><div>. Os Rikbaktsa : mudança e tradição. São Paulo : PUC-SP, 1992. (Tese de Doutorado)</div><div>CABIXI, Daniel Matenho. Educação escolar entre os Pareci, Nambikwara e Irantxe no contexto socioeconomico da Chapada dos Parecis - MT. In: VEIGA, Juracilda; SALANOVA, Andres, orgs. Questões de educação escolar indígena : da formação do professor ao projeto de escola. Brasília : Funai ; Campinas : ALB, 2001. p.57-72.</div><div>CASTELNAU, Francis. Expedição às regiões centrais da América do Sul. Rio de Janeiro : Editora Nacional, 1949. (Brasiliana, 266).</div><div>CHANDLESS, W. Notes on the River Arinos, Juruena, and Tapajós. The Journal of the Royal Geographic Society, Londres : Royal Geographic Society, n. 32, p. 268-80, 1862.</div><div>CORREA FILHO, Virgílio. História do Mato Grosso. Rio de Janeiro : Instituto Nacional do Livro, 1969.</div><div>DORNSTAUDTER, João E. (Pe.). Relatório testemunho do Pe. João Evangelista Dornstaudter. Cuiabá : Opan, 1976. (Mimeo).</div><div>LENHARO, Alcir. Colonização e trabalho no Brasil : Amazônia, Nordeste e Centro-Oeste. Campinas : Unicamp, 1986.</div><div>LISBOA, Thomáz de Aquino. Entre os índios Munku : a resistência de um povo. São Paulo : Loyola, 1979. 84 p.</div><div>. Informações sobre os Myky. Diamantino : s.ed., 1983.</div><div>LYRA, João Salustiano. Variante da Ponte de Pedra ao salto Utiariti e Aldeia Queimada. Publicação n. 7, Anexo n. 3 da Comissão de Linhas Telegraphicas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas. Rio de Janeiro : Papelaria Luiz Machado.</div><div>MELLO, Alonso Silveira de, (Dom). Missão do Mangabal do Juruena. São Leopoldo : Instituto Anchietano de Pesquisas, 1975. (Pesquisas, História, 18)</div><div>METRAUX, A. The native tribes of Western Bolívia and Western Mato Grosso. Bulletin, Washington : Smithsonian Institute, n.134, 1942.</div><div>MISSÃO Rondon : Apontamentos sobre os trabalhos realizados pela Comissão de Linhas Telegraphicas Estratégicas de Matto-Grosso ao Amazonas sob a direção do coronel de engenharia Cândido Mariano da Silva Rondon, de 1907 a 1915. Rio de Janeiro : Jornal do Commercio, 1916. 462 p.</div><div>MOURA E SILVA, José de (Pe.). Fundação da Missão de Diamantino. Porto Alegre : Instituto Anchietano de Pesquisas,1975. (Pesquisas, História, 18)</div><div>. Os Irantxe : contribuição para o estudo etnológico da tribo. Porto Alegre : Instituto Anchietano de Pesquisas, 1957. (Pesquisas, I)</div><div>. Os Munku : 2.ª contribuição ao estudo da tribo Irantxe. Porto Alegre : Instituto Anchietano de Pesquisas, 1960. 60 p. (Pesquisas, Antropologia, 10)</div><div>; PEREIRA, Adalberto Holanda (Pe.). História dos Múnku (Irantxe). Porto Alegre : Instituto Anchietano de Pesquisas, 1975. 40 p. (Pesquisas, Antropologia, 28).</div><div>NEWMAN, Marshall T. Anthropometry of the Umotina, Nambicuara, and Iranxe, with comparative data from other norther Mato Grosso tribes. Washington : United States Government, 1953.</div><div>OPAN. Diagnóstico na Terra Indígena Irantxe Estado de Mato Grosso : Relatório final. Cuiabá, Opan, 2000.</div><div>PEREIRA, Adalberto de Holanda (Pe.). Lendas dos índios Iranxe. Porto Alegre : Instituto Anchietano de Pesquisas, 1974. 84 p. (Pesquisas, Antropologia, 27)</div><div>. O pensamento mítico Iranxe. São Leopoldo : Instituto Anchietano de Pesquisas, 1985. (Pesquisas, 39)</div><div>PIVETTA, Darci Luiz. Processo de ocupação das dilatadas chapadas da Amazônia Meridional : Iranxe - educação etnocida e desterritorialização. Cuiabá : UFMT, 1993. 250 p. (Dissertação de Mestrado)</div><div>. Trágico destino : extermínio e escravidão. Cadernos do Neru, Cuiabá : UFMT, n. 2, p. 141-63, dez. 1993.</div><div>PIVETTA, Darci Luiz; FREIRE, Maria de Lourdes Bandeira Delamônica. Iranxe : luta pelo território expropriado. Cuiabá : UFMT, 1993. 185 p.</div><div>RONDON, Cândido M. da Silva. Conferências realizadas em 1910 no Rio de Janeiro e São Paulo : Comissão de Linhas Telegráphicas Estratégicas de Matto Grosso ao Amazonas, Rio de Janeiro : Comissão Rondon, 1946. (Publicação n. 68). A 2a. edição, publicada pela Imprensa Nacional, Rio de Janeiro.</div><div>. Conferências realizadas nos dias 5, 6 e 9 de outubro de 1915 : sobre os trabalhos da Expedição Roosevelt e da Comissão Telegraphica. Rio de Janeiro : Comissão Rondon, 1916. (Publicação n.42).</div><div>. Índios do Brasil. v.2: Cabeceiras do Xingu, Rio Araguaia e Oiapoque. Rio de Janeiro : CNPI, 1953. 326 p.</div><div>ROOSEVELT, Theodore. Nas selvas do Brasil. Belo Horizonte : Itatiaia ; São Paulo : Eudsp, 1976.</div><div>ROQUETTE-PINTO, Edgard. Rondônia. São paulo : Cia. Editora Nacional ; Brasília : INL, 1975. 285 p. (Brasiliana, 39)</div><div>SANCHEZ, R. O. Zoneamento agroecológico do Estado de Mato Grosso. Cuiabá : Fundação de Pesquisas Cândido Rondon, 1991.</div><div>SCHMIDT, Max. Los Iranche. Rev. de Cincias Fsicas, Naturales y Matemticas, s.l. : Sociedad Cientfica del Paraguay, v.5, n. 6, p. 35-44, 1942.</div><div>. Los Paressis. Rev. de Cincias Fsicas, Naturales y Matemticas, s.l. : Sociedad Cientfica del Paraguay, v. 6, n. 1, p. 1-226, 1943.</div></div></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-22223577843360313792020-10-20T14:14:00.001-07:002020-10-20T14:14:19.174-07:00Pankará<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzhkR_QcZfVOx29jHYHueCqzlc2mJGJFEGkFYqFBQBwmH5ju-P_jW2dEfiKogkiz0gvLa_aUkKNBsNAqQ72jNNbPFHDlJQDNCg1HSpbLvt6FYWG8soMz-HqcT1WGyY6BAAO8Zv4beYrrI/s1310/Toy+Art+Pankara%25CC%2581.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzhkR_QcZfVOx29jHYHueCqzlc2mJGJFEGkFYqFBQBwmH5ju-P_jW2dEfiKogkiz0gvLa_aUkKNBsNAqQ72jNNbPFHDlJQDNCg1HSpbLvt6FYWG8soMz-HqcT1WGyY6BAAO8Zv4beYrrI/w640-h582/Toy+Art+Pankara%25CC%2581.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toy Art Pankará</span><br /></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">157</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Pankará</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">BA</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">2558</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2010</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;"><div>Até dezembro de 2002, os índios que habitam a Serra do Arapuá utilizavam várias categorias identitárias e metafóricas para reafirmar sua distintividade étnica, como “caboclo”, “caboclo-índio”, “braiado”, “pego a dente de cachorro”, “tronco velho” etc. Ao deflagrarem seu processo de reorganização social e étnica, no início de 2003, passaram a adotar o etnônimo Pankará da Serra do Arapuá, através do movimento de consulta aos “encantados” no complexo ritual do toré. Aparecem no cenário nacional com essa denominação durante o I Encontro Nacional de Povos em Luta pelo Reconhecimento Étnico e Territorial, promovido pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), em maio de 2003 no município de Olinda, Pernambuco.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrgXpc8NdDSU-tUxtVVBjVwhpBNLsN8h_2f0CpiND5_spXZgq_mrVUv1W4L91He70r0Gi78uy4kDaoR9kyuTG9cFbyP_5N2VeMKhX1dabD7R-I0cj6RrXSTEl3pR-V8kcLqCiBX0r0NCk/s1001/pankara+m.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="568" data-original-width="1001" height="364" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrgXpc8NdDSU-tUxtVVBjVwhpBNLsN8h_2f0CpiND5_spXZgq_mrVUv1W4L91He70r0Gi78uy4kDaoR9kyuTG9cFbyP_5N2VeMKhX1dabD7R-I0cj6RrXSTEl3pR-V8kcLqCiBX0r0NCk/w640-h364/pankara+m.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Festividade na aldeia Pankará</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Assim como os demais povos indígenas na região, à exceção dos Fulni-ô, os Pankará são falantes do Português. Contudo, no seu universo lingüístico apresentam uma série de discursos, palavras e metáforas, que constituem o universo semântico do português falado na Serra do Arapuá. No geral não difere do discurso étnico encontrado entre os demais povos indígenas no Nordeste.</div><div><br /></div><div><b>Localiza;cão e Contexto</b></div><div><br /></div><div><div>A Serra do Arapuá está localizada no município de Carnaubeira da Penha, sertão do semi-árido pernambucano, na meso-região do São Francisco, pertencendo a micro-região de Itaparica. Os principais municípios são Belém do São Francisco (oeste), Carnaubeira da Penha (norte), Itacuruba (sudoeste), Floresta, Petrolândia e Tacaratu (sudeste). Outras referências importantes são a Serra Umã (noroeste) e o Rio São Francisco (sul).</div><div><br /></div><div>Com uma altitude aproximada de 900 metros, a Serra do Arapuá possuia em 2005 47 núcleos populacionais denominados pelos indígenas de “aldeias”, entre eles a Serra da Cacaria, que geograficamente se distingue dos demais por ser um relevo independente. As aldeias são habitadas tanto pelos Pankará, como por pequenos agricultores não-índios e algumas fazendas de médio porte pertencentes à elite local.</div><div><br /></div><div>Os Pankará estão em processo de territorialização, portanto, a auto-identificação como indígena para muitas famílias que habitam a Serra é um processo que está em curso, dinamizado em todos os aspectos da vida social, política e cultural do grupo.</div><div><br /></div><div>A Serra do Arapuá apresenta uma vegetação variada de acordo com a altitude. Nas áreas baixas, denominadas pela população local como “sertão”, predominam os cactos: coroa de frade, facheiro, mandacaru, xiquexique; as bromeliáceas: caroá, macambira; pequenos arbustos: catingueira, faveleira, imbuzeiro, jurema, quixabeira; e poucas árvores: craibeira, aroeira, baraúna, isto para citar apenas algumas. São áreas de pasto e alguns açudes privados.</div><div><br /></div><div>Nas áreas de maior altitude (a serra propriamente dita), como, por exemplo, nas aldeias Enjeitado (890m), Lagoa (860m) e Cacaria (814m), a caatinga convive com árvores e plantas frutíferas como a pinha, manga, mamão, banana, acerola etc. Os catolezeiros predominam nessa região chamada de agreste e que visualmente se diferencia também pelo verde.</div><div><br /></div><div>O acesso à Serra é dado pela rodovia federal BR 231, seguida da estadual PE 360 até Floresta, e mais 30 quilômetros de estrada de terra batida, somando um percurso aproximado de 500 quilômetros da capital Recife. A estrada de chão em meio à caatinga é a via principal usada pelo tráfico da maconha no circuito Carnaubeira da Penha–Floresta, com várias ocorrências de assaltos. Por essa estrada também circulam, diariamente, os estudantes e demais habitantes da área pelo meio de transporte mais comum na região: o caminhão “pau de arara”.</div><div><br /></div><div>O município de Floresta é a zona urbana de referência para os índios e demais habitantes da Serra do Arapuá, e a ela recorrem para atendimento médico e hospitalar, participam da feira (comércio e consumo), vão aos bancos para receber a aposentadoria rural, freqüentam a escola de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e uma minoria, o ensino médio. No tempo da seca se empregam como pedreiros, serventes e empregados domésticos [dados de 2005].</div><div><br /></div><div>Em 2004, as escolas da primeira etapa do ensino fundamental dentro da área indígena passaram a ser mantidas pelo Estado. Foram reconhecidas como escolas indígenas em atendimento à reivindicação dos Pankará e da Comissão de Professores Indígenas em Pernambuco (Copipe), conforme Resolução 003/99 do Conselho Nacional de Educação. Em 2005, eram 18 escolas com aproximadamente 10 anexos, 62 professores/as indígenas, atendendo em média 450 alunos.</div><div><br /></div><div>No campo da saúde, em 2004 passaram a integrar o Conselho Distrital de Saúde Indígena da Funasa. Possuem duas equipes atuando na área com agentes de saúde e auxiliares de enfermagem indígenas. O pólo base fica localizado em Carnaubeira da Penha. Enfrentam sérios problemas com a prefeitura municipal, que resiste à contratação dos indígenas indicados pela comunidade e lideranças para as referidas funções, segundo denúncia das lideranças.</div><div><br /></div><div>A eletrificação foi instalada no ano de 1990, sendo a única área não eletrificada a serra da Cacaria. O meio de comunicação mais comum era o rádio e havia em 2005 apenas um aparelho de telefone público.</div><div><br /></div><div>A região também é caracterizada pela antiga presença da mão-de-obra escrava, como nas fazendas Água Branca e Água Grande, e pela resistência negra como na Cacaria. Os negros foram trazidos à região para trabalhar como escravos nas fazendas do Pajeú e São Francisco.</div><div><br /></div><div>Uma outra característica da Serra do Arapuá é a presença de um sítio arqueológico, onde são encontrados fragmentos de cerâmica e de artefatos de pedra. Há cachimbos de cerâmica e material lítico. A Serra da Cacaria é uma das áreas de maior concentração desse material e segundo a versão dos índios:</div><div><br /></div><div>“lá na Serra da Cacaria, que chama Serra da Cacaria porque quando botaram os índios de lá pra correr, que eles correram tudo, que ficou cachimbo, pote, panela, essas coisas de barro lá, eles quebraram tudo, deixaram lá só a cacaria, aí ficaram chamando Serra da Cacaria”.</div><div><br /></div><div><b> História</b></div></div><div><br /></div><div><div>O povo Pankará, semelhante a outros povos situados na região Nordeste, passou por um processo histórico não linear, caracterizado pelo fluxo constante de grupos indígenas nos sertões do Pajeú e adjacências como conseqüência do esbulho de suas terras por tradicionais invasores presentes no cenário político desde o período colonial, retratando, de certo modo, o contexto de dominação política e econômica presente nessa região até os dias atuais.</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwDtYmnKx2qNwJMl_uKLJNxggxR7P8cxMO1VYmb41zBpdkSDuM8dAzv1PpYJZ1FLpKGbR3haZWfOae7LrMuLUHlHkjr6Aigm8djttGsJ5zK9Z-zIxh-C0nAI4qY5LAa47bgaRSfCYHWdc/s750/pankara_6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="500" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwDtYmnKx2qNwJMl_uKLJNxggxR7P8cxMO1VYmb41zBpdkSDuM8dAzv1PpYJZ1FLpKGbR3haZWfOae7LrMuLUHlHkjr6Aigm8djttGsJ5zK9Z-zIxh-C0nAI4qY5LAa47bgaRSfCYHWdc/w426-h640/pankara_6.jpg" width="426" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Cruzeiro do terreiro de toré da Serra da Cacaria. Foto: Caroline Mendonça, 2003</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>Todo o período do século XVII até início do século XVIII foi marcado pela expansão da pecuária nos Vales do Pajeú e São Francisco promovida pela Casa da Torre, comandada pelos Garcia D’Ávila. Neste período, descendentes de fundadores da Casa da Torre concederam a familiares dotes de terras por todo o riacho do Pajeú, estabelecendo-se as primeiras fazendas sob o controle de famílias de coronéis.</div><div><br /></div><div>Em decorrência, durante todo o século XVIII é comum encontrar referências sobre os índios dessa região como “revoltados”, “dispersos”, “ladrões de gado”, “bárbaros”. As perseguições e guerras contra os índios se estenderam até o século XIX. Neste período também se legaliza o domínio territorial das famílias tradicionais através do Registro de Terras – Lei Imperial de 1850, para garantir a propriedade imobiliária; as do atual município de Floresta foram registradas, pela primeira vez, em 1858 (Ferraz,1999).</div><div><br /></div><div>Com a Lei do Registro de Terras, o Estado Brasileiro favoreceu os grandes proprietários que eram também os chefes políticos locais. Pressionado pelas Câmaras Municipais, reduto do coronelismo no Sertão pernambucano, o Governo Imperial decreta oficialmente a extinção dos aldeamentos em Pernambuco entre os anos de 1860 e 1880, sob o argumento da “ausência da pureza racial”. Neste século os índios desta região eram tidos como “misturados”, caboclos”, “confundidos” com a população local. Em fins do século XIX, muda o discurso nos documentos da época, de índios bárbaros a “descendentes”, “criminosos” e até mesmo a total negação da identidade desses povos (Silva,1996:17).</div><div><br /></div><div>Diante desse contexto, as estratégias encontradas pelos indígenas eram continuar se deslocando para locais de difícil acesso e trabalhar como agricultores, pagando a renda para os “proprietários” das terras ou altos impostos à prefeitura municipal, a exemplo das Serras Umã e Arapuá, uma vez que todo pedaço do território no Sertão do Pajeú já estava de posse dos grandes latifundiários, os mesmos que exercem hoje o domínio político e econômico na região.</div><div><br /></div><div><b> Etnogênese</b></div></div><div><br /></div><div><div>Se ao final do século XIX os povos indígenas em Pernambuco eram tidos como extintos ou incorporados à sociedade nacional, endossando o contingente de trabalhadores rurais, no século XX reaparecem no cenário político da região reivindicando direitos ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI), entre eles, na década de 1940, um grupo que se auto denominava pelo etnônimo “Atikum” (Grünewald,1993), formado por “caboclos” das Serras Umã, Arapuá e adjacências. Assim começa a se delinear a (re)construção histórica dos Pankará, dando feições ao grupo como o percebemos hoje, visualizada em três fases:</div><div><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5J-G9XUu9sXwn0qxslRXhbDWM4_G3dzIbBHxH719_AAa6_bgKHSbtxyIEa4S6hZi5Eh3jElwr1qUr3YzsvC0vE2XVcieoIOuAj_eBGzmaAbic1DgphWhR8hmfJIu13AKJtYrDgzWLEvo/s1027/pankara+h.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="1027" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5J-G9XUu9sXwn0qxslRXhbDWM4_G3dzIbBHxH719_AAa6_bgKHSbtxyIEa4S6hZi5Eh3jElwr1qUr3YzsvC0vE2XVcieoIOuAj_eBGzmaAbic1DgphWhR8hmfJIu13AKJtYrDgzWLEvo/w640-h358/pankara+h.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Festividade na aldeia Pankará</span></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A primeira fase compreende o período anterior a etnogênese do grupo Atikum, quando vários grupos indígenas se estabeleceram nas serras, interagindo com camponeses e negros quilombolas, dando visibilidade às unidades étnicas que vieram a emergir. Na Serra do Arapuá, uma rede de relações sociais já era movimentada em torno da dança do toré:</div><div><br /></div><div>Eles trouxeram de lá da Serra Negra, o começo que eles vieram pra treinar na Serra do Arapuá, o toré era de Serra Negra. E uma descendência velha que tinha na Cacaria também, que já sabia o que era brincar o toré, tinha um terreirinho deles lá que eles brincavam, só eles mesmos, não saiam pra canto nenhum. Era dos Limeira. Pedro Limeira, o bisavô de Pedro Limeira, aí os Limeira lá se encontraram com os Amansos e com os Rosa aí rendeu mais.</div><div>Antonio Amanso, liderança Atikum na Serra Umã</div><div>Entretanto, a maior parte do território já estava ocupada pelas “famílias tradicionais” de Floresta e os índios continuavam sujeitos aos conflitos com os fazendeiros que proibiam a prática do toré:</div><div><br /></div><div>E aqui teve muitos problemas pesados pra gente, porque o civilizado nunca gostou desse tipo de trabalho, num gosta mesmo. Então teve uma ocasião aí, nós batemos aqui em três lugares e expulsaram. E teve ocasião que nós perdemos tudo, e dançando, não parava não, botaram até fogo na casa, só ficamos com a roupa do corpo, ficamos sem nada, mas dançando, não parava não (risos), a gente gosta do trabalho, né?</div><div>Pedro Limeira, Pankará</div><div>A segunda fase da reconstrução histórica dos Pankará é expressa por um movimento que pode ser compreendido como políticas de aliança e ruptura, cuja base de cooperação resultou na constituição do povo indígena Atikum Umã, segundo a versão dos Pankará.</div><div><br /></div><div>Na década de 1940, os “caboclos da Serra Umã”, representados por Manoel Bezerra, com o apoio de Maria Antonia, Pedro Dama e outros, recorrem ao SPI no Recife, por orientação dos índios Pankararu de Brejo dos Padres, para solicitar providências em relação aos conflitos com os fazendeiros que soltavam o gado em suas roças e em relação à prefeitura de Floresta que cobrava altos impostos. Ouvidas as insatisfações, Dr.Raimundo Dantas Carneiro da Inspetoria do SPI no Recife se compromete em enviar funcionários para a comprovação de uma identidade indígena na Serra Umã. Desta forma, solicitou aos índios que ao retornarem “se organizassem no toré” (Grünewald,1993). Contudo, apenas alguns conheciam a dança, então convidaram os índios Tuxá de Rodelas, os caboclos da Serra do Arapuá e Cacaria.</div><div><br /></div><div>Aí Joaquim Amanso sabia do nosso trabalho aqui e mandou buscar, nós fomos pra Serra do Umã (...) Era Zé Brasileiro, Sampaio e Dr.Tuba, eram três que tinha. Entramos no terreiro e entramos dançando na batida do pé: pam, pam, pam. Pedro Dama mais Mané Bezerra disseram: ói caboco é desse jeito aí, podem tirar a cela do animal. Eu sei que foi três dias; de noite teve o oculto lá e aí fundaram Serra do Umã.”</div><div><br /></div><div>Pedro Limeira,Pankará</div><div><br /></div><div>A princípio essa política de alianças entre os grupos da Serra Umã e da Serra do Arapuá, favoreceu a ambos: aos Atikum foi garantido o direito sobre 18.000 ha, a criação do Posto Indígena em 1949 e outros benefícios, como o açude, escola, casa de farinha etc. (Grünewald; 1993: 49), quanto aos índios que habitavam na Serra do Arapuá, afirmam que passaram a receber assistência de Zé Brasileiro, o chefe do Posto Indígena, pois “sabia ele que nós tinha o direito em Serra Umã” (Pedro Limeira, Pankará). Através da história oral, é possível apreender que durante algum tempo os dois grupos mantiveram uma relação marcada pelas visitas do toré, com registros de “noites de fuga” quando viajavam de uma serra a outra, “escondidos dos brancos” para dançarem juntos o toré, e a assistência do SPI que alinhavava a unidade entre os dois grupos.</div><div><br /></div><div>Deflagrado o processo de territorialização dos Atikum, parte da família Amanso, Rosa e Cacheado se estabeleceu na Serra Umã incorporando-se ao sistema político e cultural Atikum; outra parte permaneceu na Serra do Arapuá. Na década de 1950, com a saída de Zé Brasileiro do Posto Indígena se deu início a ruptura em um processo social que se estende até o início deste século. Com a ruptura processual, os índios que habitavam a Serra do Arapuá passaram a se mobilizar internamente acionando um sistema político próprio através do toré. Durante os anos 50 até fins dos 80 do século XX, existem registros orais sobre mobilização dos núcleos populacionais na Serra do Arapuá em torno dos rituais:</div><div><br /></div><div>“Fui muito na Lagoa, era lá em Maria Cacheado e Valente. Eles dançavam, eu dancei muito na década de 70, usando o maracá. Como eu era professora da localidade, eles achavam que eu era muito importante e me davam o maracá e eu ficava atrás do primeiro da fila, com todo respeito, tomava da jurema e partilhava tudo, até hoje é a religião deles” (M.G, não-índia, pequena proprietária no sítio Lages / Serra do Arapuá).</div><div><br /></div><div>No final da década de 1980, aproximadamente, pessoas importantes na condução dos rituais responsáveis pelos terreiros foram morrendo e muitos terreiros ficaram parados, a exemplo da aldeia Lagoa. Por outro lado, na Serra Umã, o narcotráfico já estava estabelecido dentro da área indígena e havia uma acirrada disputa interna pelo poder na Serra, que culminou com o assassinato do líder Abdon Leonardo da Silva em 1991. Esse contexto favoreceu o afastamento processual que já vinha ocorrendo entre os dois grupos.</div><div><br /></div><div>E, por fim, a ruptura tomou forma quando no ano de 1989 foi instaurada uma ação administrativa por parte da Funai para a demarcação do território Atikum. Neste processo, os índios localizados na Serra do Arapuá foram excluídos:</div><div><br /></div><div>“Antigamente a área de Atikum era muito maior. Fazia parte o Brejo do Gama, o Poço da Clara, a Serra da Raposa, a Serra do Arapuá e a Cacaria. Mas no tempo de Gomes, que era o administrador da Funai na época da demarcação, mais ou menos em 94 e 95, tudo isso ficou de fora, porque ele achou que ia ser muito difícil, podia haver muito conflito, e aí ele fez reunião de conchavo para que aceitassem a diminuição” (liderança Atikum).</div><div><br /></div><div>Em 5 de janeiro de 1996, foi publicada no Diário Oficial a demarcação administrativa da Terra Indígena Atikum com uma superfície de 16.290.1893 ha. Em 1999, alguns representantes da Serra do Arapuá, aldeia Enjeitado, foram até a aldeia-sede, onde está situado o Posto Indígena, pedir para serem reconhecidos pelas lideranças Atikum, mas “ao chegarem no terreiro para dançar o Toré foram expulsos”. Este foi um primeiro movimento de retorno à Serra Umã de que se tem conhecimento desde o período de fundação do Posto Indígena na década de 1940.</div><div><br /></div><div>A partir deste episódio, percebe-se algumas nuances de mobilização deste grupo para serem reconhecidos indicando uma terceira fase desse processo de reconstrução. No ano de 2001, os índios “da Serra do Arapuá” ressurgem no cenário político indigenista, identificados pela Funasa sob a categoria “desaldeados”. O programa governamental de saúde implementado pela Funasa na forma de Distrito Sanitário Indígena (DSEI), que já atuava na área Atikum desde 1999, realiza um cadastro na Serra do Arapuá de 55 famílias, como “desaldeados da etnia Atikum” gerando conflitos entre os dois grupos, pois as lideranças Atikum, munidas de autonomia e controle social sobre as políticas públicas, impediram a Funasa de realizar atendimento na Serra do Arapuá, sob o argumento da escassez de recursos, que estava comprometendo a qualidade do atendimento na Serra Umã.</div><div><br /></div><div>Contudo, por reconhecerem que, de fato, a Serra do Arapuá é “área de caboco”, autorizaram que estes fossem atendidos na sede do Pólo Base em Carnaubeira da Penha, o que praticamente não aconteceu, segundo informações das funcionárias do Pólo.</div><div><br /></div><div>Estes últimos (ou penúltimos) acontecimentos fortaleceram as alianças internas entre as lideranças indígenas da Serra do Arapuá, que retomaram uma série de articulações que estavam em suspenso, como os encontros para o toré.</div><div><br /></div><div>Após dois anos desses episódios, a dinâmica muda de configuração e os “índios da Serra do Arapuá” recebem uma proposta de aliança dos Atikum através de um convite para o “Recadastramento dos Indígenas da Serra do Arapuá”. Junto ao convite veio a cópia de um ofício, enviado à Funasa, na qual as lideranças da Serra Umã afirmam que as “aldeias” Cacaria, Lagoa e Enjeitado são de “descendentes Atikum”.</div><div><br /></div><div>Entretanto, depois das constantes investidas desses índios, observadas nos últimos três anos, na possibilidade de transpor as fronteiras e se incorporarem ao grupo Atikum, responderam: “Tem que ser descendente de onde nós somos, não emprestado” (Pedro Limeira, Cacaria)</div><div><br /></div><div>Este depoimento de Sr. Pedro Limeira demonstra o caráter dinâmico dessa realidade, na qual os índios se colocam como sujeitos ativos de sua história, reafirmando a crença na descendência de povos pré-colombianos, reatualizando-a no presente sob o viés de uma identidade indígena que se mantém viva na Serra do Arapuá. Sendo este o território escolhido pelo grupo para a sua existência enquanto coletividade. Desta forma, a etnicidade dos índios que hoje se identificam como Pankará, pode ser vista como uma construção social da pertença, situacionalmente determinada pelos atores, no sentido de organizar significativamente o seu mundo social:</div><div><br /></div><div>“Mas que eu acho que o pau quando ele nasce assim ele tem gaia pra todo canto(...) eu sei que tem gaia pra lá, tem gaia pra Serra do Umã (...) Agora o tronco, nem ele sabe onde é, nem eu sei também e sei mais ou menos(...) vai ter que nascer é um pé de pau aqui mesmo”(Pedro Limeira, Pankará)</div><div><br /></div><div>As situações acima descritas fazem parte de um processo histórico que vem se desenrolando durante todo o século XX e que impulsionou uma outra dinâmica na organização social dos Pankará. É no conjunto desse sistema pluriétnico e dessa dinâmica social que esses índios estabelecem suas fronteiras e deflagram um processo de territorialização se constituindo como o grupo étnico Pankará.</div><div><br /></div><div><b> Religiosidade e rituais</b></div></div><div><br /></div><div><div>O aspecto ritual é uma das questões-chave na manutenção da identidade indígena na Serra do Arapuá e os fios através dos quais tecem uma rede de relações internas. A partir dos rituais, é possível apreender o sistema simbólico que rege a cosmologia dos Pankará.</div><div><br /></div><div>A “ciência”, o “trabalho” ou a “brincadeira” do índio, como chamam, é uma das formas de expressão da cosmologia do grupo, manifestada em três tipos: Terreiro, Gentio e Reinado. É importante salientar que esta divisão é apenas analítica, o grupo não a percebe desta forma, mas como um todo integrado e interdependente representado pelo toré, no qual o simbólico e o concreto se confundem.</div><div><br /></div><div>O Terreiro corresponde a um local de ritual marcado por um cruzeiro, em cuja base são colocados artefatos sagrados como imagens de santos, peças encontradas nos sítios arqueológicos e a jurema. Podem estar localizados bem próximos às casas, como no Enjeitado e Lagoa, ou mais próximo às matas, como na Cacaria.</div><div><br /></div><div>O Gentio são pequenos abrigos, geralmente em taipa, construídos próximos das residências, com um cruzeiro semelhante ao do terreiro posicionado ao centro. É o local da “ciência oculta” com uma participação restrita da comunidade, sendo proibida a presença de não-índios. O Gentio é, ao mesmo tempo, o lugar e o encanto, como explica e canta Senhora - Pankará:</div><div><br /></div><div>“A gente pôs Gentio porque quando ele chegou, que ele baixou, aí ele deu o nome de Gentio, aí ficou o Gentio. E tem a linha do Gentio:</div><div><br /></div><div>Gentio chegou na aldeia, o que foi que ele veio buscar. Ele veio trazer ciência pra os índios trabalhar. O reina reina roa, o reina, reina rá</div><div><br /></div><div>Já tem outra linha também do Gentio, aqui quando ele chegava que aqui falava com a gente dizia:</div><div><br /></div><div>Ô meu Gentio, ô meu Gentio</div><div>eu quero força do meu bravio</div><div>Ô meu Gentio, ô meu Gentio</div><div>eu quero força pra nós trabalhar</div><div>Eu quero força do meu Gentio</div><div>eu quero força do meu bravio”</div><div>Na Serra do Arapuá, apenas no Enjeitado tem Gentio. Este é também um espaço onde se realizam curas, principalmente de doenças mentais. O processo de cura é acompanhado pelo uso do defumador e remédios naturais que chamam de “garrafada das montanhas” e também medicação alopática. A receita é definida pelo “mestre”. Pode durar dias e até meses; contam que a cura mais demorada durou um período de nove meses. O paciente fica hospedado nas casas da comunidade e são pessoas de lugares variados da região do sertão do São Francisco.</div><div><br /></div><div>Os Reinados são pedras em locais de difícil acesso e também são destinados a “ciência oculta”. São freqüentados durante o dia e é proibida a presença de crianças, por afirmarem ser um “trabalho muito forte” além da dificuldade de acesso.</div><div><br /></div><div>Esses rituais são atos religiosos nos quais os índios louvam e se comunicam com os antepassados que estão sob a forma de “encantados” e “mestres”. A comunicação se dá através da possessão mediúnica, evocando-os através do canto (linha ou toante), da música sonorizada pelo maracá, da dança (circular), e da ingestão da bebida que consideram sagrada a jurema (Mimosa hostilis benth).</div><div><br /></div><div>Por serem ritos sagrados, envolvem toda uma mística que, no caso do Terreiro e do Gentio, compreende a escolha do local, a posição do cruzeiro, até o preparo da jurema. Já os Reinados sempre existiram e a localização destes aos índios é anunciada através de sonhos ou durante os “ocultos”. Todo esse movimento é definido pelos mestres e encantos, os verdadeiros “chefes” do ritual.</div><div><br /></div><div>O ritual do toré tem uma estrutura básica: abertura, louvação, distribuição da jurema, chamamento das divindades, recebimento das “instruções” e o fechamento. Tem dias determinados que são a quarta-feira e o sábado, e é composto por uma hierarquia que em escala decrescente de superioridade começa no campo espiritual. A principal autoridade é um encanto ou um mestre que nomeia o lugar-ritual, seguido da liderança religiosa que é o responsável pela manutenção, mobilização e condução dos trabalhos. Depois vem o caboclo mestre e a cabocla mestra e mais dois contramestres, mantendo a divisão de gênero; este quarteto é responsável pela “linha de frente” e durante a dança do toré vai ao centro representar o sinal do cruzeiro e, por último, os demais membros da comunidade.</div><div><br /></div><div>A condução e o tempo do ritual varia de acordo com o líder e o tipo de trabalho (Gentio, Terreiro, Reinado), mas, seja qual for, o mais significativo é que o toré opera como um agente articulador interno e promove o fluxo entre as aldeias. Essa relação religiosa é que determina uma rede social na Serra do Arapuá e fomenta a manutenção da identidade dos Pankará.</div><div><br /></div><div><b> Organização política</b></div><div><br /></div><div>Após deflagrarem o movimento para o reconhecimento oficial, os Pankará, a partir de uma necessidade que surge do contato com a agência indigenista oficial – Funai e outros órgãos governamentais, como a Funasa, estão vivendo um processo de redefinição da sua organização política. Elegeram uma cacique: Maria das Dores Limeira, conhecida por Dorinha, um vice-cacique: Osmar da família Amanso e quatro pajés: Pedro Limeira, Manoel Cacheado, João Miguel e Pedro Leite – sendo estes lideranças antigas instituídas através do sagrado –, um corpo de representantes por aldeia, um Conselho de Saúde Local (exigência da Funasa); dois representante na Copipe (Comissão de Professores Indígenas em Pernambuco) e dois representantes na Articulação dos Povos Indígenas Nordeste,Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).</div><div><br /></div><div>Historicamente, ritual e autoridade estiveram estritamente ligados e constituem a dinâmica política entre os Pankará. Cada pajé possui um círculo de relacionamentos mais próximos, dentro da própria família, que consolida e legitima a autoridade de cada um. No caso de Sr.Pedro Limeira, sua autoridade político-religiosa é mais estável por ser também o patriarca. São muito recentes as mobilizações conjuntas para a resolução dos problemas comuns, embora sempre tenha existido uma articulação permanente que gira em torno do ritual, sendo este o espaço principal dos encontros e socialização das informações.</div><div><br /></div><div><b> Organização social</b></div></div><div><br /></div><div><div>A organização social dos Pankará caracteriza-se por famílias extensas com base na filiação cognática. Não há regra de residência preestabelecida, mas é comum a residência bilocal, o que caracteriza os núcleos populacionais que residem em núcleos familiares, sendo os de maior concentração familiar a Cacaria, o Enjeitado e a Lagoa, sendo que cada um destes resguarda certa distintividade em relação ao outro pela consangüinidade.</div><div><br /></div><div>Contudo, em razão das alianças com os locais, tanto de matrimônio como de compadrio, se estabelecem por diversas outras aldeias, de forma que estão presentes por quase toda a Serra. Outro aspecto diz respeito ao fato de serem um grupo predominantemente de agricultores, daí a ocupação e distribuição territorial ocorrer também em função da necessidade de terra, estando ele sujeito à disponibilidade destas, uma vez que grande parte do território está nas mãos de fazendeiros.</div><div><br /></div><div>Apesar de considerarem o duplo parentesco, cada família recebe a nomeação de um ancestral que crê ser originário da Serra Negra. São eles Amanso, Limeira, Cacheado, Rosa e Mergeli. A partir do quadro de genealogia, observamos que até os últimos 20 anos, havia uma predominância no matrimônio entre primos cruzados. Os Limeira admitem casamento entre primos paralelos, já entre os Amansos este tipo de aliança é proibido: “os primos se casam, agora os legítimo não” (Ciço Domingo, Pankará). Os casamentos interétnicos eram proibidos, mas ocorriam com certa freqüência através dos “furtos”.</div><div><br /></div><div>À geração atual de jovens entre 15 e 25 anos é permitido esse tipo de aliança matrimonial, não sendo mais necessário o advento dos “furtos”; agregando muitos moradores locais às famílias consideradas indígenas. Este tipo de casamento interétnico permite que o agregado participe tanto do ritual, adquirindo assim um status de indígena, como do usufruto da terra, seja esta arrendada ou de domínio próprio da família.</div><div><br /></div><div><b> Situação territorial</b></div></div><div><br /></div><div><div>Até maio de 2005, a Funai não havia tomado providências quanto ao reconhecimento territorial dos Pankará, tampouco havia registro de qualquer procedimento administrativo em curso. Contudo, os indígenas utilizam-se dos locais sagrados espalhados por toda a Serra para a manutenção da sua identidade e para demarcar seu território.</div><div><br /></div><div>São os Terreiros de toré, os Gentios, os Reinados, presentes por todo o território assim como toda a mobilização em torno desses rituais, somada à qualidade de agricultores que desempenham no processo produtivo, que os índios Pankará expressam simbólica e objetivamente a posse sobre a terra tradicional face ao contexto de violência e opressão no qual estão inseridos.</div><div><br /></div><div>Contudo, a Serra do Arapuá como elemento geográfico e político é parte de um sistema mais amplo e heterogêneo de relações. Existe um poder econômico e político na região que se sobrepõe ao poder simbólico que os índios exercem sobre a terra que tradicionalmente ocupam. Os Pankará estão permanentemente pressionados pelo poder público municipal que tenta interferir na sua organização interna e por fazendeiros que os proíbem de ter acesso à terra e aos recursos naturais.</div><div><br /></div><div><b> Sistema produtivo</b></div><div><br /></div><div>Os índios compõem o segmento da população de baixa renda na Serra do Arapuá. Desprovidos do recurso básico, a terra, não possuem qualquer controle sobre os recursos ambientais. São obrigados a trabalhar como rendeiros, com um pagamento estimado entre 10% e 30% da produção, como meeiros, e os que se apropriam de pequenos lotes de terras sem título, mas pagam um valor ao Incra. A produção é familiar e de subsistência. Raramente conseguem produzir excedente, por vários fatores:</div><div><br /></div><div>a) os melhores trechos de terra estão sob o controle dos fazendeiros; b) técnicas agrícolas rudimentares e conseqüente desgaste do solo; c) falta de recursos para a compra de sementes; d) dificuldades de financiamento; e) presença de plantio de maconha. Isto para citar os principais problemas.</div><div><br /></div><div>Contudo, com exceção da Cacaria, a Serra do Arapuá não apresenta graves problemas com água, o que é muito raro nessa região e ameniza as maiores dificuldades, possibilitando a manutenção dos pomares que incrementam a alimentação. As principais culturas são feijão de arranca, batata, abóbora, jerimum, macaxeira, fava, andu, mandioca, milho, banana, mamão, caju, pinha, goiaba, abacate, jaca, graviola e manga.</div><div><br /></div><div>O andu e a fava também são plantados, mas não tem época certa. Quando há excedente, comercializam na feira de Floresta. Na Cacaria, durante o inverno, resistem com a água das cacimbas e os caldeirões. Possuem pequenos criatórios de bode, porco e galinha e criam vaca, em pequena quantidade, cerca de seis cabeças. No Enjeitado, há uma pequena produção artesanal com a palha e o talo do catolezeiro: vassouras, cestos, esteiras, caçoás, aribés. Todos dominam a técnica, homens, mulheres e crianças, mas o retorno financeiro não corresponde ao valor agregado da mercadoria, sendo comercializada a baixo custo ou usada como moeda de troca entre vizinhos. Aliás, é através das trocas que os jovens estabelecem relações entre si. Geralmente ajudam a família na roça e não possuem nenhum tipo de renda, assim é comum trocarem roupas e acessórios e, ao mesmo tempo que diversificam seus objetos pessoais, começam a exercer um tipo de autonomia em relação aos pais.</div><div><br /></div><div>As feiras nas cidades mais próximas são um espaço importante de encontros e socialização. Em Carnaubeira, é na segunda-feira e em Floresta, na sexta e sábado. Os Pankará freqüentam mais o município de Floresta, onde compram os suprimentos que não produzem como arroz, fósforos, macarrão, óleo comestível, vestimentas e remédios. Por serem filiados ao sindicato dos trabalhadores rurais, contam ainda com alguns benefícios como aposentadoria e auxílio maternidade. Mas os que não possuem o registro da terra, enfrentam dificuldades com a previdência social.</div><div><br /></div><div>As dificuldades típicas das camadas empobrecidas do sertão fazem com que os indígenas, apesar da forte ligação cultural e religiosa com o seu território, migrem para Floresta ou grandes centros como Recife e São Paulo em busca de oportunidade de trabalho. A baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional os colocam em desvantagem no mercado de trabalho com um destino já conhecido: as periferias urbanas ou retorno à Serra.</div><div><br /></div><div>Existe uma forte unidade cooperativa nos núcleos familiares, toda a produção é compartilhada entre as famílias e mesmo na Cacaria, cuja posse é dominial, percebem a propriedade como local de retorno para os que estão distantes: “pode vir caboco de todo canto, que o local tem para trabalhar” (Sr. Pedro Limeira).</div><div><br /></div><div><b> Fontes de informação</b></div><div><br /></div><div>FERRAZ, Carlos Antonio de Souza. História Municipal de Floresta – os vales, o povo, a evolução sociocultural e econômica. Prefeitura Municipal de Floresta: FIDEM, 1999.</div><div>GRUNEWALD, Rodrigo de Azeredo. ‘Regime de Índio’ e faccionalismo: os Atikum da Serra Umã. Rio de Janeiro, 1993. Dissertação de Mestrado em Antropologia. Museu Nacional, UFRJ .</div><div>OLIVEIRA, João Pacheco (Org.). A Viagem da volta – Etnicidade, política e reelaboração cultural no nordeste indígena. Rio de Janeiro:Contra Capa Livraria, 1999.</div><div>ROSA. Hildo Leal. A Serra Negra: refúgio dos últimos “bárbaros” do sertão de Pernambuco. Recife, 1998. Monografia do bacharelado em História. Centro de Filosofia e Ciências Humanas, UFPE.</div><div>SILVA, Édson. Confundidos com a massa da população: o esbulho das terras indígenas no Nordeste no século XIX. Revista do Arquivo público, Recife, n. 46, Vol. 42, 1996.</div></div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2309508067737392306.post-38493406911749524332020-10-20T08:38:00.003-07:002020-10-20T08:38:28.098-07:00Pipipã<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghqaIAoKW0RYi3O0mq1zv4FFyDKNu5d3r4qN64-XFsU6mV1_uE7xqNomo88iZ17fFhO4_CxkaYQvXdpgBVjpd4p-gQhuB7CsV7dGe_WC2OLIWwfdd_GNfEwmRMEoQlrTCTAR_VxOwzgAY/s1310/Toy+Art+Pipipa%25CC%2583.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1190" data-original-width="1310" height="582" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghqaIAoKW0RYi3O0mq1zv4FFyDKNu5d3r4qN64-XFsU6mV1_uE7xqNomo88iZ17fFhO4_CxkaYQvXdpgBVjpd4p-gQhuB7CsV7dGe_WC2OLIWwfdd_GNfEwmRMEoQlrTCTAR_VxOwzgAY/w640-h582/Toy+Art+Pipipa%25CC%2583.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Toy Art etnia Pipipã<br /></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br class="Apple-interchange-newline" /><table class="tablesorter" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-family: arial, helvetica, sans-serif; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: auto;"><thead style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">#</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Nomes</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Outros nomes ou grafias</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Família linguística</th><th class="header" style="background-color: #990000; background-image: url("https://pib.socioambiental.org/js/tablesorter/themes/blue/bg.gif"); background-position: 100% 50%; background-repeat: no-repeat; color: white; cursor: pointer; margin: 0px; padding: 0.5em;">Informações demográficas</th></tr></thead><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">169</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Pipipã</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /><br /></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><table id="grid-demografia" style="background-color: white; border-collapse: collapse; color: #666666; font-size: 12px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px; width: 286px;"><tbody style="margin: 0px; padding: 0px;"><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td class="subtitle" nowrap="nowrap" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">UF / País</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">População</td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;">Fonte/Ano</td></tr><tr style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0px; padding: 0px;"><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">PE1640</td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;"></td><td style="margin: 0px; padding: 0.5em;">Funasa 2008</td></tr></tbody></table></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td><td class="subtitle" style="background-color: #eeeeee; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0.5em;"><br /></td></tr></tbody></table></td></tr></tbody></table></div><div style="text-align: left;">Os pipipãs são um grupo indígena, durante muito tempo considerado extinto, que foi aldeado entre a serra do Periquito e a serra Negra, ambas no estado brasileiro de Pernambuco, no início do século XIX. Atualmente os seus descendentes reivindicam a demarcação da área da Serra Negra como Pipipã de Kambixuru. Durante o século XX, os Pipipã estavam integrados aos índios Kambiwá. </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzNbUHjY2fbEy7Vus0ovlKLFBBdRsWIvaejzqq612RE6mUPUc6_DLaMx5LiZuKPVaWTP2NSjv9_x0_fecsxE15lLdEO4VGFfN7kqXJIIZmS6qxqSz_VNYtccJRMAjygfVkeqL0n9X_Qc8/s1030/pipipa+h.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="628" data-original-width="1030" height="390" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzNbUHjY2fbEy7Vus0ovlKLFBBdRsWIvaejzqq612RE6mUPUc6_DLaMx5LiZuKPVaWTP2NSjv9_x0_fecsxE15lLdEO4VGFfN7kqXJIIZmS6qxqSz_VNYtccJRMAjygfVkeqL0n9X_Qc8/w640-h390/pipipa+h.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="background-color: white; color: #4d5156; font-family: arial, sans-serif; text-align: left;">Toré </span><span style="background-color: white; color: #5f6368; font-family: arial, sans-serif; font-weight: bold; text-align: left;">Pipipã</span><span style="background-color: white; color: #4d5156; font-family: arial, sans-serif; text-align: left;"> Kambixurú</span></span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Os Pipipã constituem grupo dissidente Kambiwá, que reivindica estudo de terras que contemple a Serra Negra e adjacências, áreas historicamente pleiteadas pelos Kambiwá/Pipipã, e que não foram inseridas na TI Kambiwá, homologada em 1998, com 31.495 ha.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQVGYfiiAZR-hViq7CA2MXFrHIzqIkISIsaC7r7lcebIfcyu6msKBbfA1V2IqhorxZJJX1NVH9av0gTZEKzB1Z7mA3dDHVqW8G0ZnKJjT9F7Rx8Tr6Xv_XABrZ2q-gZQ9-iiHNYPbMm0Q/s1004/pipipa+m.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="643" data-original-width="1004" height="410" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQVGYfiiAZR-hViq7CA2MXFrHIzqIkISIsaC7r7lcebIfcyu6msKBbfA1V2IqhorxZJJX1NVH9av0gTZEKzB1Z7mA3dDHVqW8G0ZnKJjT9F7Rx8Tr6Xv_XABrZ2q-gZQ9-iiHNYPbMm0Q/w640-h410/pipipa+m.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: white; color: #4d5156; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; text-align: left;">Toré </span><span style="background-color: white; color: #5f6368; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; font-weight: bold; text-align: left;">Pipipã</span><span style="background-color: white; color: #4d5156; font-family: arial, sans-serif; font-size: small; text-align: left;"> Kambixurú</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Entre os Pipipã, já no século XXI, tanto o seu território quanto a composição das aldeias estão em processo de definição, decorrente do fato de separarem-se dos Kambiwá e estabelecerem-se dentro do território demarcado como área indígena daquele povo. Fala-se, entre os Pipipã, da existência de cinco aldeias:</div><div><br /></div><div>A Aldeia Travessão do Ouro está situada próxima à Serra do Periquito, no km 29 da BR-360 em Floresta-PE. Aqui, um conglomerado de casas em alvenaria e de taipa ou pau-a-pique perfila a estrada principal. Nessa aldeia há uma escola, um posto de saúde e duas associações: Pau Ferro Grande dos Índios a Associação de Mães, e dois terreiros ativos. Sua população é de aproximadamente 324 pessoas e um total de 72 famílias.</div><div><br /></div><div>Capoeira do Barro é uma aldeia onde viviam não-índios dentro de um projeto de assentamento do INCRA, com duas fileiras de casas frente a frente; um grande pátio ao centro, em que se realiza a Dança do Toré; essa área foi recentemente ocupada pelos Pipipã. Na aldeia, ficou morando o cacique mais um de grupo de índios vindos das aldeias Travessão do Ouro, Faveleira e Serra Negra, dentro do território demarcado como área Kambiwá, e autodemarcado como território tradicional dos Pipipã.</div><div><br /></div><div>Na aldeia faveleira, convivem índios e não-índios e há muitos posseiros dentro da área. Ë nessa aldeia que está instalado o Sistema de Abastecimento de água que distribui para o travessão e Capoeira do Barro; nela também funciona uma escola, uma creche e recentemente um posto de saúde.</div><div><br /></div><div>A aldeia Serra Negra está em processo de esvaziamento, sendo ocupada temporariamente durante o ritual do Aricuri. Situada nas proximidades da serra de mesmo nome, reúne aproximadamente treze famílias, totalizando 67 pessoas.</div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPAJorOko0ujRjg46ti3-btq3DSPetsr_JsQ2hbETRaAi1YkboFQVV9oVIwIr_ppTjbYgYk6VhmFXT89-jCVob3HJxIrdwpb3OZFkJUUE7Dp1bz74Bf6QVDvva7kmGYhfLKXLBAXckvyc/s2570/Territorios+indigena+Pipipa%25CC%2583.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1224" data-original-width="2570" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPAJorOko0ujRjg46ti3-btq3DSPetsr_JsQ2hbETRaAi1YkboFQVV9oVIwIr_ppTjbYgYk6VhmFXT89-jCVob3HJxIrdwpb3OZFkJUUE7Dp1bz74Bf6QVDvva7kmGYhfLKXLBAXckvyc/w640-h304/Territorios+indigena+Pipipa%25CC%2583.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Terra Indígena Pipipã</span><br /></td></tr></tbody></table><div><br /></div><div>A aldeia Caraíba fica situada próxima à Serra do Taiado e ao Serrote do Tamanduá. É a única aldeia que se define Pipipã fora do território dos Kambiwá. A terra não é demarcada e nem reconhecida oficialmente como área indígena. Seus moradores possuem título de propriedade. Nela existem quinze casas dispersas pela caatinga, com 19 famílias um total de 100 pessoas. As principais lideranças são Antônio Xavier e o Velho Manoel Francisco Xavier Filho. Dentro dessa área, que os Pipipã estão definindo como Caraíba, há três outras localidades tais como: Jaburu, com quatro casas dispersas de propriedade de Aloízio Filho, Manoel José, Bartolomeu José e Pedro José; em Lagoa Rasa encontramos três casas onde moram Joaquim Antônio, Antônio Francisco e Alaíde Maria; no lugar chamado Vassoura há mais três casas pertencentes a Manoel Idelfonso, Antônio Alves e Cícero Alves; por fim a Caraíbas lugar de maior concentração, porém não há aglomeração de casas. Estas encontram-se dispostas entre a caatinga, interligadas por pequenas trilhas. Ao todo, são treze, pertencentes a Antônio Xavier, Pequena, Serafim, Basílio, Benedito, Marleide, José Antônio, Antônio Henrique, Manoel Firmino, Ulisses, Luiz Manoel, Terezinha, Manoel Francisco. Nessa aldeia existem dois terreiros e vários limpos (o limpo é um terreiro natural em que os Pipipã realizavam a Dança do Toré, geralmente está situado a uma certa proximidade de suas roças ou no trajeto entre as Caraíbas e a Serra Negra, percurso que eles fazem a pé), um escolar, uma cisterna coletiva que é abastecida por carros-pipa e onde a população se abastece com galões, carros de mão e latas.</div><div><br /></div><div>Hoje os Pipipã se afirmam em 2.050 índios espalhados na ribeira do Pajeú, entretanto, os dados atuais da Funasa registram uma população de 1.312 índios.</div><div><br /></div><div>Dados sobre a população Pipipã têm sido sempre imprecisos como entre a maioria dos povos indígenas. Não foram computados os dados populacionais de Capoeira do Barro depois dos deslocamentos de famílias para aquela aldeia. Há uma outra aldeia chamada Alfredo.</div><div><br /></div><div><br /></div></div>Luiz Paganohttp://www.blogger.com/profile/08268156299973205226noreply@blogger.com0