sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Amanayê

Toy Art Amanayê
#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
4AmanayêAmanaié, AraradeuaTupi-Guarani
UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
PA131Siasi/Sesai 2012


Amanagé constitui a autodenominação atual dos índios que habitam o alto curso do Rio Capim, mais conhecidos como Amanayé. O nome significaria “associação de pessoas” e aparece nas fontes sob as variantes Manajo e Amanajo. Uma parte dos Amanayé teria assumido o nome Ararandeuara, em referência ao igarapé que habitam.

 Língua

A língua Amanayé pertence à família Tupi-Guarani, classificada pelo lingüista Aryon Rodrigues (1984) junto com as línguas Anambé e Turiwara, de grupos que habitam a mesma região. Hoje em dia os Amanayé não usam mais a língua materna devido ao intenso contato, desde a década de 1940, que ocasionou casamentos com moradores brancos e negros da região do rio Capim, sendo estes últimos oriundos de antigo quilombo do Badajós.

A despeito da língua não ser mais falada, ela é lembrada pelos mais velhos e por parte dos jovens através da articulação de alguns termos nativos mesclados ao português regional

 Histórico do contato

Os Amanayé foram mencionados pela primeira vez na região que constitui, provavelmente, a área de origem deste povo Tupi: o Rio Pindaré. Ali, resistiram por muito tempo às tentativas de aldeamento, quando, em 1755, fizeram um acordo com o Padre David Fay, missionário jesuíta entre os Guajajara da aldeia de São Francisco do Carará. Fay “conseguiu praticar os Amanaios e que se descessem e aldeassem”, junto aos Guajajara, seus tradicionais inimigos.
Território Amanayê

Pouco depois, uma boa parte do grupo mudou-se pacificamente para o Rio Alpercatas, na fronteira do Maranhão com o Piauí, estabelecendo-se perto da Aldeia Santo Antônio. Por volta de 1815, havia apenas 20 remanescentes deste grupo, misturados com negros. Outros Amanayé do Alpercatas continuaram sua migração através do Rio Parnaíba, alcançando o Piauí em 1763, não havendo notícias do que lhes ocorreu depois.

Na segunda metade do século XIX, os Amanayé dos rios Pindaré e Gurupi se situavam na área de influência das “Diretorias Parciais”, onde foram visitados pelo viajante Gustavo Dodt. As “Diretorias Parciais” foram criadas pelo Regimento de 1845 e visavam limitar os abusos praticados por regatões; na prática, porém, essas administrações locais aumentaram a sujeição dos índios, utilizados como mão-de-obra “dócil” e barata. Os aldeamentos do “Diretório”, devido à uma administração caótica, tiveram curta duração (até 1889).

Onde estão os Amanayé?

Os Amanayé estão distribuídos na região do médio rio Capim, onde se localizam as Terras Indígenas Saraua e Barreirinha. A área tradicionalmente ocupada por estes índios situa-se no alto Capim, entre os igarapés Ararandeua e Surubiju, onde foi criada, em 1945, a “Reserva Amanayé”. No entanto, os Amanayé encontram-se fora dessa área.

Encravados no território dos Tembé, os Amanayé estavam, nesse período, divididos entre três aldeias, na margem do Rio Caju-Apará, formador do Rio Gurupi; muito menos numerosos que os Tembé, sua população foi estimada entre 300 e 400 pessoas. Ali “têm muitas relações com a população civilizada, por intermédio dos regatões que os procuram por causa do óleo de copaíba, casca de cravo, rama de abuta e de algum breu”.

Na mesma época, outros Amanayé são mencionados no Rio Moju, onde também encontraram índios Tembé que migravam em direção ao Pará. A partir desse momento não se tem mais informações sobre os Amanayé do Maranhão. Instalados na região dos Rios Moju e Capim, esses índios enfrentaram aldeamento compulsório, extorsões praticadas por regatões e conflitos com fazendeiros. Foram aldeados na Missão Anauéra ou São Fidelis, no Capim. Por serem considerados mais “rebeldes”, missionários atribuiram-lhes um local separado dos Tembé e dos Turiwara.

Em 1873, os Amanayé mataram o missionário da Aldeia, Cândido de Heremence, e um engenheiro belga que transitava na região. As represálias contra os índios levaram uma parte do grupo a se refugiar no Igarapé Ararandeua, onde evitavam o contato com regionais. Segundo Nimuendajú, esses Amanayé passaram então a se identificar como Ararandeuara ou como Turiwara, para dissimular sua identidade.

Quanto aos Amanayé que permaneceram na Missão, passaram a viver sob a administração de uma Diretoria Parcial de Índios, no mesmo local. Ali, continuavam em conflito com povos vizinhos e, em 1880, os Amanayé mataram um grupo de índios Tembé e Turiwara, considerados os “índios mansos” daquela área. Essa ocorrência motivou o Presidente da Província do Pará a providenciar “armas e munições para que esses índios mansos se possam defender dos ataques dos Amanayé". Após esses conflitos, supõe-se que os Amanayé se isolaram definitivamente dos Tembé e dos Turiwara, migrando para as cabeceiras do Rio Capim. A partir do final do século XIX, notícias do grupo aparecem somente através de registros de alguns etnólogos que visitaram rapidamente a região e através de vistorias, também rápidas, do Serviço de Proteção aos Índios.

No final do século XIX, um pequeno grupo formado por índios Amanayé e Anambé, sobreviventes de uma epidemia nas aldeias do Arapari, se encontrava perto das últimas cachoeiras do Rio Tocantins. A maior parte do grupo, entretanto, teria permanecido no Rio Capim, onde o inspetor Luiz Horta Barbosa, logo após a criação do SPI (em 1910), realizou uma expedição. Encontrou um grupo Amanayé liderado por uma mulata chamada Damásia, no Igarapé Ararandeua. Damásia teria assumido a chefia do grupo ainda no final do século XIX e é mencionada como representante do grupo até a década de 1930. Nessa data, os Amanayé do Ararandeua eram aproximadamente 300 pessoas, distribuídas entre quatro aldeias. Nessa mesma área teria ocorrido, em 1941, um ataque, conforme um documento do SPI: índios “Amanajas” ainda não pacificados da região dos rios Surubiju e Carandiru, teriam atacado índios do Capim; segundo os Anambé, os índios arredios seriam cerca de 200 e já tinham aparecido no Igarapé Pimental, afluente do Rio Gurupi. O documento comenta então a necessidade de criação de um Posto Indígena na região.

A criação da Reserva Amanayé, em 1945, destinava-se, supostamente, a esse grupo de 200 Amanayé “não pacificados”, cujos remanescentes constituem, provavelmente, a atual população indígena do alto Capim. Quanto ao grupo de Damásia, a última informação data de 1942, mencionando 17 remanescentes, liderados pelo filho dela e “na maioria mestiços”. Na ocasião, esses Amanayé comentaram sobre o grupo arredio do Garrafão, afluente esquerdo do Ararandeua.

Finalmente, os Amanayé instalados na região do Rio Moju se identificavam como Ararandeuara, conforme Lange. Este viajante publicou, em 1914, a única descrição etnográfica existente sobre o povo Amanayé.

Nimuendajú, em 1926, encontrou um grupo local com a mesma autodenominação, na localidade de Munduruku, próxima do Moju. Os índios do Rio Cairari, também visitados por Nimuendajú, em 1943, foram por ele identificados como Amanayé e Turiwara, mas seriam, na realidade, um subgrupo Anambé.

Na década de 1950 os Amanayé continuavam ocupando as margens do Rio Candiru-Açu, dentro da Reserva. Foram ali visitados pelo sertanista João E. Carvalho, que trabalhava na época na Frente de Pacificação dos Urubu Ka'apor do SPI. Em 1976, havia pelo menos 10 remanescentes do grupo dispersos na Reserva, entre os rios Ararandeua e Surubiju.

 Modo de vida e demografia

Segundo Eneida Assis, as famílias amanayé são nucleares e “quem manda na casa é mulher, o homem dedica-se a assuntos externos” (2002:66). A disposição espacial das casas é formada por residências isoladas cercadas por suas respectivas roças, distribuídas em diferentes pontos da área. As casas são de pau-a-pique, com ou sem reboco. A disposição interna varia de acordo com a família, mas o centro da vida doméstica acontece na cozinha, ao redor do fogão de barro à lenha. É ali que se reúne o grupo doméstico, enquanto as visitas são recebidas na sala. Ao lado da moradia, em geral localiza-se a casa de farinha, que também pode ser um local de encontro entre os que estão trabalhando e visitantes.

A maioria das mulheres se casa entre os 15 e 18 anos, e nessa faixa têm seu primeiro filho. A amamentação se prolonga até um ano de idade, mas a partir do segundo mês são introduzidas as papas de carimã e croeira.

A aldeia da Terra Indígena Saraua é composta por seis casas onde vivem 12 famílias, num total de 72 pessoas, que, somadas a duas famílias que vivem e trabalham na Fazenda Tabatinga (fora dos limites da TI), perfazem um total de 87 indivíduos amanayé no ano de 2002. A aldeia tem uma escola que está sob a administração da Prefeitura de Ipixuna do Pará. Até o momento, não há informações sobre a localidade de Barreirinha.

 Atividades produtivas

Na TI Saraua, os rios, igarapés e lagos formam um “território das águas”, segundo expressão de Assis, pois constituem os espaços de trabalho e lazer da comunidade indígena. A mata é igualmente importante, sendo fonte de alimentos, remédios e caça. A mata derrubada e convertida em roça é considerada uma espécie de extensão da casa, na qual qualquer um pode buscar alimentos sem perigo.

Os igarapés são os lugares privilegiados para a caça, que existe em dois tipos: as grandes (como anta, porção e veado vermelho) e as pequenas (como paca e capivara). Há também muitos pássaros apreciados. Mas a exploração madeireira tem exercido grande influência nesse esquema produtivo, inclusive na pesca, que constitui a principal fonte de alimento para os Amanayé, em razão do assoreamento de lagos e igarapés. A pesca vem sendo ainda prejudicada pela atividade intensiva de pescadores de São Domingos do Capim.

 Fontes de informação

BOGLAR, Luiz. The ethnographic legacy of eighteenth century hungarian travellers in Sout América. Acta Ethnographica Academiae Scientiarum Hungaricae, Budapest, n.4, p. 315-59, 1955.
DODT, Gustavo. Descrição dos rios Parnayba e Gurupi. São Paulo : Ed. Nacional, 1939. 233 p. (Brasiliana, 88)
GOMES, Jussara Vieira. Grupos indígenas Amanayé e Anambé do Pará : relatório. Boletim do Museu do Índio, Rio de Janeiro : Museu do Índio, n. 7, 72 p., dez. 1997.
LANGE, Algot. The lower Amazon. New York : s.ed., 1914.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. v. 3. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1943.
NIMUENDAJÚ, Curt. Vocabulário da língua geral do Brasil nos dialectos dos Manajué do rio Ararandéu, Tembé do Acará Pequeno e Turiwara do rio Acará Grande, estado do Pará. Zeitschrift für Ethnologie, Berlin : s.ed., n.46, p. 615-8, 1914.
--------; METRAUX, Alfred. The Amanayé. In: STEWARD, Julian (Ed.). Handbook of South American Indians. v. 3. New York : Cooper Square, 1963. p. 199-202.
SAMPAIO, Ribeiro de. Roteiro de viagem da cidade do Pará até as últimas colônias do domínio português no rio Amazonas e Negro. Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas, Lisboa : s.ed., v.1, n.4, 1812.

Um comentário:

  1. Nós indígenas Amanaie do alto Rio capim extremo com rio Ararandewa e rio Surubiju somos donos de uma grande soma de terras mas vivemos isolados e ilhados quase empurrados pelos tratores dos fazendeiros invasores para dentro dos rios que nos deixaram dentro de uma área de 1080 equitares que são as beiras dos rios conquistados com muitas lutas e sem apoio algum da Funai de Marabá vivemos cercados por uma grande indústria madeireira por nome cikel que não nos dá nenhum apoio só nos infectam com os seus venenos que usam nos seus plantios de madeira para matar pragas que lançam de aviao,matando também a produção dos acaizeiros e bacabeiras e invenenando os nossos rios e nos sufocando com suas grandes carvoaria que produz muita fumaça.Somos também muito humilhados por fazendeiros invasores e até chamados de sem terra ,eles não nos ajudam em nada ,nem nos deixam utilizar suas pontes para ter acesso a cidade de Goianésia do Pará onde buscamos os postos de saúde ,escolas para os nossos filhos e outras atividades.Nao temos ajuda da prefeitura do municipio ,só nos procuram em época de política tentando nos enganar com falsas promessas e tentar comprar os nossos votos com bebidas alcolicas.

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