. # | Nomes | Outros nomes ou grafias | Família linguística | Informações demográficas | |||||||||
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16 | Arara da Volta Grande do Xingu | Arara do Maia |
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Os Arara da Volta Grande do Xingu vivenciaram o contato com o colonizador do século XVIII, o avanço da empresa extrativista na região, os constantes conflitos com outros grupos indígenas e a abertura da Transamazônica, a qual promoveu levas de migrações e a busca de novos espaços pelos colonos e empresas extrativistas. Estes impactos na região mudaram consideravelmente as relações socioeconômica, cosmológica e política no modo de vida dos Arara, assim como de suas relações com a região e demais grupos étnicos existes em seu entorno.
Segundo os relatos dos velhos, os Arara da Volta Grande do Xingu são descendentes dos Arara do rio Bacajá. A relação de parentesco com os Arara do rio Iriri (conhecidos como apenas Arara ou Arara do Pará), se existiu, ficou num passado distante. Um dos elos entre a história passada e a história recente é o chefe do grupo, o sexagenário Leôncio Ferreira do Nascimento.
Com a chegada do mega empreendimento Usina Hidrelétrica de Belo Monte o impacto ambiental, econômico, social e cultural é de maior magnitude levando a modificações mais invasivas na forma dos Arara pensarem e conduzirem suas vidas.
A vazão reduzida provocada pelo empreendimento no trecho da Volta Grando do Xingu fará, na previsão dos Arara, que os encantados mudem para outros lugares.
Mesmo não concordando com o que está acontecendo agora na região, esperam com certa desconfiança, os programas e projetos arrolados no Plano Básico Ambiental (PBA). A perspectiva é que o Plano Básico seja cumprido pela empresa responsável pelo empreendimento Norte Energia/S/A, o qual espera-se que amenize as profundas modificações que estão paulatinamente acontecendo.
Segundo os relatos dos velhos, os Arara da Volta Grande do Xingu são descendentes dos Arara do rio Bacajá. A relação de parentesco com os Arara do rio Iriri (conhecidos como apenas Arara ou Arara do Pará), se existiu, ficou num passado distante. Um dos elos entre a história passada e a história recente é o chefe do grupo, o sexagenário Leôncio Ferreira do Nascimento.
Com a chegada do mega empreendimento Usina Hidrelétrica de Belo Monte o impacto ambiental, econômico, social e cultural é de maior magnitude levando a modificações mais invasivas na forma dos Arara pensarem e conduzirem suas vidas.
A vazão reduzida provocada pelo empreendimento no trecho da Volta Grando do Xingu fará, na previsão dos Arara, que os encantados mudem para outros lugares.
Mesmo não concordando com o que está acontecendo agora na região, esperam com certa desconfiança, os programas e projetos arrolados no Plano Básico Ambiental (PBA). A perspectiva é que o Plano Básico seja cumprido pela empresa responsável pelo empreendimento Norte Energia/S/A, o qual espera-se que amenize as profundas modificações que estão paulatinamente acontecendo.
Crianças da aldeia Arara da Volta Grande do Xingu |
Nome
De acordo com as pesquisas de Nimuendaju (1948), eles apareceram em onze lugares diferentes, em épocas diferentes e com denominações diversas, como Arara, Pariri, Timiren e Yaruma, o que pode indicar serem grupos distintos que formavam subgrupos, é possível que isolados uns dos outros e independentes.
Os Arara da Volta Grande do Xingu ficaram conhecidos com o nome de “Maias” pelos seus vizinhos. Eles mesmos não se denominam assim, se reconhecem como descendente dos Arara do Bacajá. O nome Maia pertenceu, segundo eles, a um branco que viveu naquela região e que, ao morrer, seu nome ficou para a cachoeira localizada próxima a aldeia. Os Arara são os únicos a morarem perto dessa cachoeira.
Língua
No que se refere a língua, os Arara do médio Xingu eram, segundo Nimuendajú (1948) e H. Coudreau (1977), de língua Caribe. Os Arara da Volta Grande do Xingu falam o português e reconhecem e falam palavras soltas da língua materna, a qual ficou no passado, e nas lembranças de Leôncio, chefe do grupo, “que por descuido” não aprendeu a língua.
Os estudos do linguista Isaac de Souza sobre a língua dos Arara do Laranjal e Cachoeira Seca (conhecidos como “Arara” ou “Arara do Pará”, apontaram que a ligação entre esses e os Arara da Volta Grande estão muito distantes.
O contato com os empreendimentos colonizadores foi intenso e interferiu na organização sociocultural do grupo. Diante disso, os Arara buscam fazer o resgate da língua fazendo o intercâmbio cultural com os Arara de Cachoeira Seca. Em 2010 se articularam para receber na aldeia Wangã duas famílias dos Arara do Pará. Soube-se que as famílias se instalaram por seis meses e depois voltaram para a TI Cachoeira Seca. Com isto, viveram uma experiência que dizem pretender repetir.
Localização e acesso
O deslocamento das primeiras famílias Arara que deram origem ao grupo de Leôncio Arara ocorreu do rio Bacajá para o rio Xingu em meados do século XIX.
Os Arara em questão estão localizados na parte baixa da bacia do Xingu, conhecida como Volta Grande, entre os rios Bacajá e Bacajaí (daí serem conhecidos como Arara da Volta Grande do Xingu). Habitam a confluência dos rios Xingu e Bacajá, na Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu. A região é de muitas corredeiras e ilhas. As ilhas são fundamentais para a vida dos Araras, pois as usam para pescar e caçar.
No que tange ao acesso da aldeia Wangã até a cidade de Altamira as embarcações Arara – canoa a remo - levam de 7h a 8horas de viagem para fazer este trajeto no verão. No inverno, essas embarcações fazem o mesmo trajeto em menos de sete horas. Esse acesso vem sendo utilizado desde que seus antepassados migraram para o rio Xingu no século XIX. O percurso tem sido realizado também pela navegação local, embarcação do tipo voadeira, em um tempo de cerca de três horas para percorrer o mesmo trajeto realizado pelos Arara.
De acordo com as pesquisas de Nimuendaju (1948), eles apareceram em onze lugares diferentes, em épocas diferentes e com denominações diversas, como Arara, Pariri, Timiren e Yaruma, o que pode indicar serem grupos distintos que formavam subgrupos, é possível que isolados uns dos outros e independentes.
Os Arara da Volta Grande do Xingu ficaram conhecidos com o nome de “Maias” pelos seus vizinhos. Eles mesmos não se denominam assim, se reconhecem como descendente dos Arara do Bacajá. O nome Maia pertenceu, segundo eles, a um branco que viveu naquela região e que, ao morrer, seu nome ficou para a cachoeira localizada próxima a aldeia. Os Arara são os únicos a morarem perto dessa cachoeira.
Língua
No que se refere a língua, os Arara do médio Xingu eram, segundo Nimuendajú (1948) e H. Coudreau (1977), de língua Caribe. Os Arara da Volta Grande do Xingu falam o português e reconhecem e falam palavras soltas da língua materna, a qual ficou no passado, e nas lembranças de Leôncio, chefe do grupo, “que por descuido” não aprendeu a língua.
Os estudos do linguista Isaac de Souza sobre a língua dos Arara do Laranjal e Cachoeira Seca (conhecidos como “Arara” ou “Arara do Pará”, apontaram que a ligação entre esses e os Arara da Volta Grande estão muito distantes.
O contato com os empreendimentos colonizadores foi intenso e interferiu na organização sociocultural do grupo. Diante disso, os Arara buscam fazer o resgate da língua fazendo o intercâmbio cultural com os Arara de Cachoeira Seca. Em 2010 se articularam para receber na aldeia Wangã duas famílias dos Arara do Pará. Soube-se que as famílias se instalaram por seis meses e depois voltaram para a TI Cachoeira Seca. Com isto, viveram uma experiência que dizem pretender repetir.
Localização e acesso
O deslocamento das primeiras famílias Arara que deram origem ao grupo de Leôncio Arara ocorreu do rio Bacajá para o rio Xingu em meados do século XIX.
Territorio dos Arara da Volta Grande do Xingu |
Os Arara em questão estão localizados na parte baixa da bacia do Xingu, conhecida como Volta Grande, entre os rios Bacajá e Bacajaí (daí serem conhecidos como Arara da Volta Grande do Xingu). Habitam a confluência dos rios Xingu e Bacajá, na Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu. A região é de muitas corredeiras e ilhas. As ilhas são fundamentais para a vida dos Araras, pois as usam para pescar e caçar.
No que tange ao acesso da aldeia Wangã até a cidade de Altamira as embarcações Arara – canoa a remo - levam de 7h a 8horas de viagem para fazer este trajeto no verão. No inverno, essas embarcações fazem o mesmo trajeto em menos de sete horas. Esse acesso vem sendo utilizado desde que seus antepassados migraram para o rio Xingu no século XIX. O percurso tem sido realizado também pela navegação local, embarcação do tipo voadeira, em um tempo de cerca de três horas para percorrer o mesmo trajeto realizado pelos Arara.
Aldeia Arara Volta Grande do Xingu - Foto Rafael Salazar 2009 |
Os comerciantes realizavam viagens com maior frequência entre Altamira, Ilha da Fazenda, Garimpo do Galo ou Garimpo do Itatá para realizar negócios. Desde 2002 com o processo de regularização da terra e a retomada dos estudos e discussões sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, a navegação comercial e de transporte passou a estender seu percurso até a aldeia Wangã. Portanto, a acessibilidade entre a aldeia e o centro de Altamira se intensificou.
A utilização do rio Xingu como via de comunicação e trafego tem sido o único, no entanto, com a realização do estudo de impacto ambiental - Componente Indígena da BR-230 – rodovia Transamazônica, a comunidade passou a indicar outra possibilidade de saída, qual seja o ramal do Surubim. O ramal está localizado a oeste da referida terra e se estende até a rodovia transamazônica na altura do km 100. Este acesso é utilizado pelos fazendeiros que por meio de um acordo com os Arara acertaram que o ramal pode servir as partes sem que haja conflitos. Esta via de acesso e comunicação é a saída que os Arara encontraram para não ficar limitados ao trafego no rio Xingu. O rio Xingu passará por grandes modificações após a construção da UHE Belo Monte, pois a região da Volta Grande do Xingu faz parte do Trecho de Vazão Reduzida. Diante disso, esta foi a alternativa encontrada para não ficarem reféns do acesso proposto pelo projeto de construção da referida hidrelétrica.
A TI Arara da Volta Grande do Xingu foi declarada de posse permanente dos índios em janeiro de 2011. A regularização dessa terra é um dos condicionantes da construção da Usina de Belo Monte.
Histórico do Contato
Ehrenreich (1891) mencionou que os neobrasileiros chamavam esses pequenos grupos, em suas aparições, de Araras e, sem prova disso, foram considerados idênticos a seus homônimos na região do rio Madeira e igual aos Yuma que viviam no tributário da margem direita do rio Purus. O mesmo autor ainda acrescenta que os Juruna diziam que eles viviam nos tributários da margem direita do rio Xingu, e seus deslocamentos eram motivados pelo avanço dos Kayapó. Os anos seguintes foram anos de encontro com os soldados da borracha, época que somavam 343 pessoas, segundo dados do pesquisador, sem contar com as crianças. É possível que essas perseguições os tenham empurrado para o centro da floresta e em número cada vez menor. Não se encontrou outros dados populacionais, contudo, Leôncio (65) e Ananum (73), dizem que os grupos eram pequenos e que nunca foram em grande número.
Nimuendaju (1948) relata que os Arara foram vistos pela primeira vez no “(...) baixo Xingu no ano de 1853 e em seguida sumiram na mata (...) eram populações de dentro e não da beira dos rios(...)”. Nos relatos de Leôncio e Ananum, os mesmos falam de seu grupo ser constituído de pequenas famílias. O grupo que fez o deslocamento do igarapé Sucuriju para o rio Xingu, é pequeno e constituído de avós, pais, filhos, tios e tias, todos descendentes de duas irmãs Tjelj e Tintim Arara.
O deslocamento das primeiras famílias Arara que deram origem ao grupo de Leôncio Arara ocorreu do rio Bacajá para o rio Xingu em meados do século XIX. O mais antigo Arara, tio avô de Leôncio, hoje falecido, informou em 2004 que sua avó Tjeli (yarunu) e Teodora, sua mãe, saíram de um lugar chamado Morro Pelado, no rio Bacajá, desceram esse rio em ubás até o rio Xingu, parando no lugar conhecido como Barra do Vento - ilha hoje conhecida com o mesmo nome.
Ananum recorda que os antigos contavam que a permanência nesta ilha foi curta, visto que seringueiros que habitavam o lugar fizeram com que seguissem viagem, aonde chegaram até a localidade denominada de Samaúma, no rio Xingu. As pedras que existem neste lugar possuem sinais, símbolos e marcaram a área, em suas lembranças. O local é um registro da ocupação, possivelmente, bem anterior à presença desses Araras.
Leôncio também narra esta história, mas da outra parte do grupo. Diz ele que o avô Pirá (Arara) e a avó Pipina (Juruna), pais de Firma sua mãe, se deslocaram da maloca que tinham na margem esquerda do Igarapé Sucuriju em direção ao rio Xingu. “No igarapé do Sucuriju e igarapé Queiroz, abaixo do Potikrô, foi à maloca dos velhos, eles desceram em direção ao rio Xingu e se estabeleceram no Chico Tintim perto da Maloca do Muratu”, [mencionado na relação de Coudreau como um dos lideres de 18 malocas Juruna], o qual “vivia num lugar chamado por eles de Muratá, conhecido hoje como Deserto (...), o grupo de Pirá ficou abaixo do Deserto”. Essa viagem foi compartilhada por índios Arara e Juruna. Nesta região, terra firme e ilhas foram ocupadas dando início a uma nova organização política e sociocultural.
Organização social
A aldeia tem como “chefe” Leôncio Ferreira do Nascimento, elo entre a história passada e a história recente. Ele preparou seu neto José Carlos Ferreira da Costa Arara, para liderar seu extenso grupo familiar. Essa liderança tem como atributo tratar das questões de ordem política no campo da educação, saúde, território e demais situações que possam surgir. Entretanto, sua decisão final é baseada na consulta feita a comunidade. Tal atitude é respeitada pela liderança, a qual tem a aprovação dos núcleos familiares. Assim, José Carlos consegue liderar o grupo com a autonomia a ele conferida.
Vale observar que do deslocamento do rio Bacajá para o rio Xingu e as grandes mudanças ocorridas na segunda metade do século XX, o número populacional, assim como a estrutura socioeconômica cultural se firmaram. Esta modificação possibilitou a reorganização do espaço físico da aldeia, assim como favoreceu a reprodução física e cultural.
População
Em seus relatos Ananum informou que na época do deslocamento entre o rio Bacajá para o rio Xingu, no século XIX, dos 50 indígenas que fizeram a viagem - entre homens, mulheres e crianças - somente 20 chegaram a esta localidade. A fome e a gripe dizimaram boa parte do grupo.
Em 2009/10 a aldeia com 17 famílias estava assim distribuída: 16 homens na faixa etária entre (16 a 70 anos), 27 mulheres (16 a 73 anos), 13 homens jovens (14 anos), 13 mulheres jovens (12 anos), e, por último, 43 crianças (25 meninos e 18 meninas) perfazendo um total de 112 indivíduos. Foram estas famílias que participaram dos estudos realizados entre 2009/2010 para diagnosticar as mudanças que ocorrerão com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e o asfaltamento da BR-230 Transamazônica.
Atividades Produtivas
Os Arara vivem do rio Xingu, Bacajá e da mata, os quais lhes oferecem, a sobrevivência econômica, social física e cultural. As alterações ocorridas na região não foram, até agora, o suficiente para mudar radicalmente os costumes e as tradições de cultivo da terra, coleta e utilização dos rios. As relações que mantêm com a terra e com o meio ambiente se perpetuaram por esses anos. O mesmo não se poderá dizer com a chegada de Belo Monte.
Os Arara têm um calendário organizado das atividades que desenvolvem durante o ano, mas nem sempre conseguem garantir o alimento, em quantidade suficiente para suas famílias na aldeia. A pesca, a caça e a produção de farinha são as únicas exercidas o ano todo. Portanto, dividem seu tempo com os demais trabalhos que precisam ser feitos e que trazem renda monetária.
Nos meses de janeiro, fevereiro e março fazem à coleta de castanha, pescam, caçam e fazem farinha. Na aldeia Wangã a farinha é feita para consumo e a dividem com os que não conseguiram produção suficiente. Além disso, negociam com os vizinhos não indígenas ou levam para o mercado em Altamira por $15 reais a lata ou $60 reais o saco de sessenta quilos, a troca por outros produtos pode ocorrer, dependendo das necessidades.
Em abril, fazem o cultivo da roça para o plantio do feijão e da fava, que deverão ser colhidos no meio do ano. Em junho, além da caça, pesca, produção de farinha, os Arara fazem a coleta do milho e do arroz, que vai até julho. Ainda em julho fazem a preparação da roça (limpeza ou a derrubada da mata virgem para nova roça), que vai até o mês de outubro. Em agosto, ocorre à derrubada da mata, para queimá-la em setembro. Em setembro, enquanto uns fazem a queimada da mata que foi derrubada, outros providenciam a coivara (tiram os paus, limpam a área para a plantação) e a limpeza da capoeira. Em outubro, ocorre a coivara. Em novembro, os Arara começam a plantar, arroz, mandioca, milho, cará, batata, macaxeira, banana, melancia, abacaxi, que vai até novembro ou dezembro.
Assim, a dieta alimentar básica depende do peixe apanhado no rio Xingu e Bacajá, da farinha de mandioca produzida na aldeia e de alguns produtos obtidos nos mercadinhos da vila Ressaca, ilha da Fazenda ou barcos-comércio. A principal fonte de renda monetária vem da venda das caixas de castanha, da pesca do acari, da contratação por empreitada para desmatar roças para vizinhos. Os meses de verão – junho a novembro – são considerados de fartura na aldeia, os de inverno - dezembro a maio - são considerados meses de escassez, que exige uma utilização equilibrada do dinheiro que entra. É importante considerar que nem todas as famílias pegam em dinheiro, a menos que realizem algumas dessas atividades remuneradas.
Fontes de Informação
COUDREAU, Henri. Viagem ao Xingu - 1886. São Paulo: Editora Universidade, 1977.
IBGE. Mapa – Etno-Histórico do Brasil (1964). 1981.
Parecer Técnico nº 21 – Análise do Componente Indígena dos Estudos de Impacto Ambiental UHBM. CMAM/CGPIMA-FUNAI,Brasília, 2009.
PATRÍCIO, M. M. Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da T.I. Arara da Volta Grande do Xingu. CGID/FUNAI, Brasília, 2005.
_______. et all. Estudo Impacto Ambiental - Componente Indígena da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu (VGX). Pará, 2008/2009.
_______. et all. Estudo Impacto Ambiental da BR-230 Transamazônica - Componente Indígena da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu (VGX). Pará, 2010.
A utilização do rio Xingu como via de comunicação e trafego tem sido o único, no entanto, com a realização do estudo de impacto ambiental - Componente Indígena da BR-230 – rodovia Transamazônica, a comunidade passou a indicar outra possibilidade de saída, qual seja o ramal do Surubim. O ramal está localizado a oeste da referida terra e se estende até a rodovia transamazônica na altura do km 100. Este acesso é utilizado pelos fazendeiros que por meio de um acordo com os Arara acertaram que o ramal pode servir as partes sem que haja conflitos. Esta via de acesso e comunicação é a saída que os Arara encontraram para não ficar limitados ao trafego no rio Xingu. O rio Xingu passará por grandes modificações após a construção da UHE Belo Monte, pois a região da Volta Grande do Xingu faz parte do Trecho de Vazão Reduzida. Diante disso, esta foi a alternativa encontrada para não ficarem reféns do acesso proposto pelo projeto de construção da referida hidrelétrica.
A TI Arara da Volta Grande do Xingu foi declarada de posse permanente dos índios em janeiro de 2011. A regularização dessa terra é um dos condicionantes da construção da Usina de Belo Monte.
Histórico do Contato
Ehrenreich (1891) mencionou que os neobrasileiros chamavam esses pequenos grupos, em suas aparições, de Araras e, sem prova disso, foram considerados idênticos a seus homônimos na região do rio Madeira e igual aos Yuma que viviam no tributário da margem direita do rio Purus. O mesmo autor ainda acrescenta que os Juruna diziam que eles viviam nos tributários da margem direita do rio Xingu, e seus deslocamentos eram motivados pelo avanço dos Kayapó. Os anos seguintes foram anos de encontro com os soldados da borracha, época que somavam 343 pessoas, segundo dados do pesquisador, sem contar com as crianças. É possível que essas perseguições os tenham empurrado para o centro da floresta e em número cada vez menor. Não se encontrou outros dados populacionais, contudo, Leôncio (65) e Ananum (73), dizem que os grupos eram pequenos e que nunca foram em grande número.
Nimuendaju (1948) relata que os Arara foram vistos pela primeira vez no “(...) baixo Xingu no ano de 1853 e em seguida sumiram na mata (...) eram populações de dentro e não da beira dos rios(...)”. Nos relatos de Leôncio e Ananum, os mesmos falam de seu grupo ser constituído de pequenas famílias. O grupo que fez o deslocamento do igarapé Sucuriju para o rio Xingu, é pequeno e constituído de avós, pais, filhos, tios e tias, todos descendentes de duas irmãs Tjelj e Tintim Arara.
O deslocamento das primeiras famílias Arara que deram origem ao grupo de Leôncio Arara ocorreu do rio Bacajá para o rio Xingu em meados do século XIX. O mais antigo Arara, tio avô de Leôncio, hoje falecido, informou em 2004 que sua avó Tjeli (yarunu) e Teodora, sua mãe, saíram de um lugar chamado Morro Pelado, no rio Bacajá, desceram esse rio em ubás até o rio Xingu, parando no lugar conhecido como Barra do Vento - ilha hoje conhecida com o mesmo nome.
Ananum recorda que os antigos contavam que a permanência nesta ilha foi curta, visto que seringueiros que habitavam o lugar fizeram com que seguissem viagem, aonde chegaram até a localidade denominada de Samaúma, no rio Xingu. As pedras que existem neste lugar possuem sinais, símbolos e marcaram a área, em suas lembranças. O local é um registro da ocupação, possivelmente, bem anterior à presença desses Araras.
Leôncio também narra esta história, mas da outra parte do grupo. Diz ele que o avô Pirá (Arara) e a avó Pipina (Juruna), pais de Firma sua mãe, se deslocaram da maloca que tinham na margem esquerda do Igarapé Sucuriju em direção ao rio Xingu. “No igarapé do Sucuriju e igarapé Queiroz, abaixo do Potikrô, foi à maloca dos velhos, eles desceram em direção ao rio Xingu e se estabeleceram no Chico Tintim perto da Maloca do Muratu”, [mencionado na relação de Coudreau como um dos lideres de 18 malocas Juruna], o qual “vivia num lugar chamado por eles de Muratá, conhecido hoje como Deserto (...), o grupo de Pirá ficou abaixo do Deserto”. Essa viagem foi compartilhada por índios Arara e Juruna. Nesta região, terra firme e ilhas foram ocupadas dando início a uma nova organização política e sociocultural.
Organização social
A aldeia tem como “chefe” Leôncio Ferreira do Nascimento, elo entre a história passada e a história recente. Ele preparou seu neto José Carlos Ferreira da Costa Arara, para liderar seu extenso grupo familiar. Essa liderança tem como atributo tratar das questões de ordem política no campo da educação, saúde, território e demais situações que possam surgir. Entretanto, sua decisão final é baseada na consulta feita a comunidade. Tal atitude é respeitada pela liderança, a qual tem a aprovação dos núcleos familiares. Assim, José Carlos consegue liderar o grupo com a autonomia a ele conferida.
Vale observar que do deslocamento do rio Bacajá para o rio Xingu e as grandes mudanças ocorridas na segunda metade do século XX, o número populacional, assim como a estrutura socioeconômica cultural se firmaram. Esta modificação possibilitou a reorganização do espaço físico da aldeia, assim como favoreceu a reprodução física e cultural.
População
Em seus relatos Ananum informou que na época do deslocamento entre o rio Bacajá para o rio Xingu, no século XIX, dos 50 indígenas que fizeram a viagem - entre homens, mulheres e crianças - somente 20 chegaram a esta localidade. A fome e a gripe dizimaram boa parte do grupo.
Em 2009/10 a aldeia com 17 famílias estava assim distribuída: 16 homens na faixa etária entre (16 a 70 anos), 27 mulheres (16 a 73 anos), 13 homens jovens (14 anos), 13 mulheres jovens (12 anos), e, por último, 43 crianças (25 meninos e 18 meninas) perfazendo um total de 112 indivíduos. Foram estas famílias que participaram dos estudos realizados entre 2009/2010 para diagnosticar as mudanças que ocorrerão com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e o asfaltamento da BR-230 Transamazônica.
Atividades Produtivas
Os Arara vivem do rio Xingu, Bacajá e da mata, os quais lhes oferecem, a sobrevivência econômica, social física e cultural. As alterações ocorridas na região não foram, até agora, o suficiente para mudar radicalmente os costumes e as tradições de cultivo da terra, coleta e utilização dos rios. As relações que mantêm com a terra e com o meio ambiente se perpetuaram por esses anos. O mesmo não se poderá dizer com a chegada de Belo Monte.
Os Arara têm um calendário organizado das atividades que desenvolvem durante o ano, mas nem sempre conseguem garantir o alimento, em quantidade suficiente para suas famílias na aldeia. A pesca, a caça e a produção de farinha são as únicas exercidas o ano todo. Portanto, dividem seu tempo com os demais trabalhos que precisam ser feitos e que trazem renda monetária.
Nos meses de janeiro, fevereiro e março fazem à coleta de castanha, pescam, caçam e fazem farinha. Na aldeia Wangã a farinha é feita para consumo e a dividem com os que não conseguiram produção suficiente. Além disso, negociam com os vizinhos não indígenas ou levam para o mercado em Altamira por $15 reais a lata ou $60 reais o saco de sessenta quilos, a troca por outros produtos pode ocorrer, dependendo das necessidades.
Em abril, fazem o cultivo da roça para o plantio do feijão e da fava, que deverão ser colhidos no meio do ano. Em junho, além da caça, pesca, produção de farinha, os Arara fazem a coleta do milho e do arroz, que vai até julho. Ainda em julho fazem a preparação da roça (limpeza ou a derrubada da mata virgem para nova roça), que vai até o mês de outubro. Em agosto, ocorre à derrubada da mata, para queimá-la em setembro. Em setembro, enquanto uns fazem a queimada da mata que foi derrubada, outros providenciam a coivara (tiram os paus, limpam a área para a plantação) e a limpeza da capoeira. Em outubro, ocorre a coivara. Em novembro, os Arara começam a plantar, arroz, mandioca, milho, cará, batata, macaxeira, banana, melancia, abacaxi, que vai até novembro ou dezembro.
Assim, a dieta alimentar básica depende do peixe apanhado no rio Xingu e Bacajá, da farinha de mandioca produzida na aldeia e de alguns produtos obtidos nos mercadinhos da vila Ressaca, ilha da Fazenda ou barcos-comércio. A principal fonte de renda monetária vem da venda das caixas de castanha, da pesca do acari, da contratação por empreitada para desmatar roças para vizinhos. Os meses de verão – junho a novembro – são considerados de fartura na aldeia, os de inverno - dezembro a maio - são considerados meses de escassez, que exige uma utilização equilibrada do dinheiro que entra. É importante considerar que nem todas as famílias pegam em dinheiro, a menos que realizem algumas dessas atividades remuneradas.
Fontes de Informação
COUDREAU, Henri. Viagem ao Xingu - 1886. São Paulo: Editora Universidade, 1977.
IBGE. Mapa – Etno-Histórico do Brasil (1964). 1981.
Parecer Técnico nº 21 – Análise do Componente Indígena dos Estudos de Impacto Ambiental UHBM. CMAM/CGPIMA-FUNAI,Brasília, 2009.
PATRÍCIO, M. M. Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da T.I. Arara da Volta Grande do Xingu. CGID/FUNAI, Brasília, 2005.
_______. et all. Estudo Impacto Ambiental - Componente Indígena da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu (VGX). Pará, 2008/2009.
_______. et all. Estudo Impacto Ambiental da BR-230 Transamazônica - Componente Indígena da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu (VGX). Pará, 2010.
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