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terça-feira, 23 de junho de 2020

Jenipapo-Kanindé

Toy Art Jenipapo-Kanindé

#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
67Jenipapo-KanindéPayaku
UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
CE302Siasi/Sesai 2012


A Lagoa  Encantada, onde habitam os Jenipapo-Kanindé, é o espaço sagrado onde se depositam suas histórias e mitos. O ambiente ecológico formado por ela e a mata circundante é central na cosmologia e unidade grupal. A memória dos antepassados, a "raiz de índio", a "terra dos índios", "o mato", o pertencimento a "uma família só" são sempre evocados.

 Nome, população e localização

O nome Payaku designa uma etnia numerosa que, no século XVI, habitava toda  a faixa sublitorânea dos atuais estados do Rio Grande do Norte e Ceará.
Aldeia Jenipapo-Kanindé

Hoje, o grupo que ficou mais conhecido como Jenipapo-Kanindé são descendentes dos Payaku que viviam na mesma região. Habitam a Lagoa da Encantada, no município cearense de Aquirás. Possuem títulos individuais dos terrenos onde vivem, mas a terra é compartilhada coletivamente. Em 1997 a Funai começou o processo de demarcação da terra indígena Lagoa Encantada [para informações atuais veja à direita em "Terras habitadas"].

Sua população, que em 1982 era de 96 pessoas, chegou a 180 em dezembro de 1997 e em 2010 alcançava 302 pessoas, segundo a Funasa.
Terra Indígena Jenipapo-Kanindé

Paiacú ou  Baiacú é o nome de um peixe dotado de glândula venenosa, comum no litoral nordestino. O nome Payaku permaneceu na  memória dos mais velhos  e dos líderes do grupo mas, até o final da década de 1980, os índios costumavam atender apenas pela alcunha de "cabeludos da Encantada",  modo como eram chamados por seus vizinhos não-indígenas.

A denominação Jenipapo-Kanindé, até então desconhecida por eles, foi-lhes aplicada com base em pesquisas históricas pouco aprofundadas, confundindo-os com antigos povos vizinhos, quando o grupo começou a participar dos movimentos indígenas. Mas o grupo adotou essa designação e é como Jenipapo-Kanindé que se auto-designam.

Os Payaku falam unicamente o português, não havendo registros de sua língua original, que talvez se assemelhasse à dos antigos Tarairiú, povos da caatinga que habitavam o Nordeste do Brasil.

 Histórico do contato

Até o século XVIII, os Payaku habitavam os rios Açu, Apodi, Jaguaribe, Banabuiú e Choró. Por sua vez, os Jenipapo e  Kanindé,  semelhantes aos Tarairiú em língua e cultura, tal como os Payaku, viviam nas várzeas do Apodi, Jaguaribe e Choró. Como outros povos não-Tupi, eles ficaram conhecidos pela denominação genérica de "tapuias do Nordeste".

Fontes históricas registram que, no Ceará, os primeiros contatos dos portugueses com estes povos ocorreram entre 1603 e 1608. Arredios e resistentes à colonização, eles  sofreram violências, foram escravizados e perderam progressivamente suas terras. Rebelaram-se seguidamente até serem submetidos e quase totalmente dizimados, no decorrer da chamada "Guerra dos Bárbaros", entre 1680 e 1730.

Em 1707 os Payaku foram aldeados por missionários jesuítas no rio Choró, em Aquirás, próximo de onde vivem hoje. Em 1764 a  Aldeia dos Paiacús passou a chamar-se Monte-Mor-o-Velho, nome que perdurou até 1890. Na sede da aldeia criou-se a vila de Guarani(1890-1943), hoje município de Pacajus. Os Jenipapo e os Canindé  foram aldeados  entre 1731 e 1739 no rio Banabuiú, reunidos na Aldeia da Palma e depois em  Monte-Mor-o-Novo-d'América (1764-1858), atual município de Baturité.

 Aspectos socio-economicos

Sua economia está baseada na agricultura, pesca e coleta. Plantam mandioca o ano todo e no período das chuvas cultivam milho, feijão, batata-doce, jerimum, maxixe e hortaliças. A coleta de caju, murici, manga, coco e outras frutas é sazonal. Os homens fazem trançados de cipó e palha de carnaúba, na forma de cestos, chapéus e caçuás (cestos longos para cargas), além de tarrafas e redes de pesca. As mulheres são exímias rendeiras e fazem louça de barro.

Quase não há casamentos interétnicos, apesar da convivência com os regionais. O casamento preferencial se dá entre primos (cruzados ou paralelos) e a maioria nasceu e se criou na Lagoa da Encantada. O êxodo populacional é pequeno e a entrada de pessoas de fora na localidade raramente acontece.

 Nota sobre as fontes

Ainda não há obras que tratem exclusivamente dos Jenipapo-Kanindé/Payaku, a não ser o Censo da Lagoa Encantada, relatório de pesquisa de Maria Sylvia Porto Alegre, e a dissertação de mestrado, em preparação, de sua aluna Roselane Gomes Bezerra. Trabalhos recentes, de âmbito regional, como "Aldeias indígenas e povoamento do nordeste no final do século XVIII", da primeira autora, e "Documentos para a história indígena no Nordeste", da mesma com colaboradores, incluem informações sobre esse grupo. Fazem-no também outros trabalhos mais antigos, como o capítulo que Robert Lowie escreveu sobre os Tarairiu para o "Handbook of South American Indians", o artigo "Tapuias do Nordeste"de Pompeu Sobrinho, os livros "Os aborígenes do Ceará" de Carlos Studard Filho, "Algumas origens do Ceará" de Antonio Bezerra e a "História da Companhia de Jesus no Brasil", de Serafim Leite.

 Fontes de informação

BEZERRA, Roselane Gomes. O despertar de uma etnia : o jogo do (re)conhecimento da identidade indígena Jenipapo-Kanindé. Fortaleza : UFCE, 1999. (Dissertação de Mestrado)
PINHEIRO, Joceny (Org.). Ceará, terra da luz, terra dos índios : história, presença, perspectivas. Fortaleza : MPF ; Funai, 2002. 166 p.

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