Toy Art Akuntsu |
# | Nomes | Outros nomes ou grafias | Família linguística | Informações demográficas | |||||||||
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3 | Akuntsu | Akunt'su | Tupari |
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Nome
As informações a respeito do nome Akunt'su, Akunsu ou Akuntsu na literatura etnográfica é praticamente inexistente, ao menos em período anterior ao contato oficial com a Funai, ocorrido em 1995.
Uma brevíssima menção é feita no livro de Frans Caspar "Tupari", em que o que se lê nada mais é que uma informação dada ao autor pelos seus informantes tupari sobre uma "perigosa" e "terrível" tribo que vive nas florestas à leste de suas terras, a qual eles jamais visitaram e que denominam "Akontsu". É bem verdade que os Akuntsu em questão localizam-se à nordeste, podendo ter sido um pouco mais ao leste, do atual território Tupari.
Akuntsu ou Akunsu, não corresponde à autodenominação do grupo. Apenas atendem por este nome por serem desta maneira chamados pelos seus vizinhos Kanoê, remanecentes dos grupos Kanoê contactados pelas frentes da comissão Rondon nos vales do rio Tanaru entre 1913 e 1914, os quais mantiveram-se isolados nas matas do Omerê até 1995, onde foram contactados pouco antes de seus vizinhos Akuntsu, pela frente de atração da Funai. Os Akuntsu, por sua vez, chamam os Kanoê pela designação Emãpriá.
Território Akuntsu |
Na língua Kanoê, Akuntsu, ao que parece, significa "outro índio". Portanto a denominação " Wakontsón" dada à tribo misteriosa por parte dos Tupari de Caspar pode ser na verdade apenas uma maneira que aqueles índios encontraram para denominar um grupo indígena totalmente desconhecido dos informantes do autor, que talvez nem mesmo os tenha conhecido, pois nos escritos de Caspar consta que pela periculosidade dos indivíduos daquele grupo nunca tiveram coragem de visitá-los, podendo apenas estar baseados em informações orais dos mais velhos, vindas de um tempo em que realidade e mito confundem-se em acontecimentos indistinguíveis.
População
Os Akuntsu constituem-se hoje num dos menores grupos étnicos do Brasil. Marcada por usurpação de terras e por massacres, sua história pouco se diferencia das de outros povos indígenas de Rondônia.
Em meados dos anos 1980, os Akuntsu viveram provavelmente o seu último grande conflito com os brancos. Provas encontradas pelas frentes da Funai revelaram que nas matas da região havia acontecido um massacre, pois foram encontrados restos de utensílios e vestígios de uma aldeia com aproximadamente trinta indivíduos. Dez anos mais tarde, quando o órgão indigenista oficial contatou pela primeira vez os Akuntsu, o relato de um dos membros do grupo, composto então por apenas sete pessoas, esclareceu aos sertanistas da Funai o que havia realmente acontecido. Kunibu reconheceu os restos de cerâmica e alguns utensílios como pertencentes à sua antiga aldeia, e revelou com clareza de detalhes, inclusive mostrando no próprio corpo as marcas, o que a seu ver tratou-se de uma tentativa de exterminá-los. Kunibu relata o ataque que ele e seu povo sofreram por parte de homens brancos que há muito queriam expulsá-los de suas terras, e lembra com pesar dos nomes dos mortos, que parecem ser mais de quinze.
Segundo informação do representante da Funai no local, Moacir Góes, em março de 2005 o grupo era constituído por Kunibu (também conhecido como Babá), homem de aproximadamente 65 anos; Ururu, mulher de cerca de 75 anos; Popak, do sexo masculino e próximo dos 35 anos; além de três índias com idades entre 18 e 30 anos.
Em janeiro de 2000, durante uma tempestade noturna, uma grande árvore caiu sobre a casa de Kunibu, matando sua filha mais nova e ferindo-o.
Em outubro de 2009, faleceu a mulher mais velha do grupo, Ururu, que tinha em torno de 85 anos.
A população akuntsu reduziu-se ainda mais, contando, em 2009, com apenas 5 pessoas.
Histórico do contato
Existe apenas uma menção à designação Akuntsu (mais especificamente wakontsón) em período anterior ao contato oficial, por meio de uma informação dada ao escritor Frans Caspar pelos Tupari, índios do rio Branco, afluente da margem esquerda do Guaporé, que estão a sudoeste do atual território Akuntsu.
Em 1985 foi instituída oficialmente a frente de atração da Funai que seria responsável pelo primeiro contato com índios desconhecidos que perambulavam na região de Corumbiara. Embora essas informações já fossem de conhecimento do órgão indigenista desde a década de 1970, relatos de 1984 reiteraram a presença de um ou mais grupos indígenas isolados na mata composta por reservas legais de algumas fazendas, mas que vinham sendo desmatadas para a comercialização de madeira e a implantação de pecuária. A presença indígena era constantemente desmentida por parte dos fazendeiros da região, pois sua confirmação colocaria em risco a disponibilidade das terras que estavam sendo preparadas para fins econômicos.
Em dezembro de 1986 a área que havia sido interditada para o possível contato com os índios foi liberada para os fazendeiros, sob a alegação do próprio órgão indigenista de que se existissem índios naquela região já teriam se retirado, pois aquela área encontrava-se completamente recortada por pequenas estradas para o escoamento da madeira tirada de dentro da mata.
O sertanista da Funai Marcelo dos Santos, responsável pela frente de atração, a despeito da desinterdição da área, durante os anos seguintes continuou sua busca de vestígios da presença indígena dentro na floresta. Muitas vezes enfrentou ameaças de morte e todo tipo de empecilhos que madeireiros, grileiros e fazendeiros puderam criar. Em 1993 o sertanista passou a contar com o auxílio de imagens de satélite, e a partir de um pequeno ponto avermelhado percebido em uma dessas imagens, interpretado pelo sertanista como uma possível roça, partiu em uma expedição definitiva de contato com os índios.
Em setembro de 1995 contataram os índios Kanoê, remanescentes dos antigos grupos Kanoê já mencionados pela comissão Rondon que habitaram regiões próximas. Em conversa com os membros da expedição de contato, os Kanoê informaram que próximo dali havia um outro grupo indígena ao qual eles chamavam de Akuntsu. Em outubro desse mesmo ano uma outra expedição, que agora incluía alguns Kanoê, alcançou não muito distante dali as pequenas malocas dos desconhecidos Akuntsu, que muito assustados receberam o grupo. Eram então sete pessoas, dois homens adultos, três mulheres (uma mais velha e duas em idade reprodutiva), uma adolescente e uma menina de aproximadamente sete anos.
A presença do medo
O medo tornou-se um elemento presente no cotidiano dos Akuntsu. Kunibu, chefe do grupo, jamais se aproxima de qualquer um sem seus sopros, benzimentos característicos em ritos xamânicos que possuem o poder, de acordo com a situação, de repelir entes maléficos, ou de limpar o corpo ou o ambiente aonde acreditam existir perigo ou entidade negativa.
Todo receio dos Akuntsu pode ser justificado quando recuperamos a história de massacre a qual foram submetidos. O chumbo dos invasores está até hoje no flanco de Kunibu e dos outros membros do grupo.
Cultura material
Como os grupos do Complexo Cultural do Marico, os Akuntsu fabricam esse saco cargueiro feito de fibras de tucum com grande esmero e aplicação. Por essa razão, o marico poderia ser um ponto de referência para se supor contatos históricos com outros povos entre os vales das cabeceiras dos afluentes da margem esquerda do Pimenta Bueno e das cabeceiras dos afluentes da margem direita do Guaporé, com quais compartilham muitos aspectos culturais semelhantes.
Fabricam peças de cerâmica e adornos corporais, como braçadeiras, jarreteiras e tornozeleiras de algodão, algumas com pequenos apliques de pedaços de pele com plumas de aves (tucano) e algumas vezes dentes de mamíferos.
Atualmente não possuem arte plumária, a não ser pela confecção de narigueiras, onde comumente são usadas penas de arara, e os apliques de plumas em adornos dos membros.
Os arcos são feitos de uma espécie de palmácea, e as flexas são em sua maioria de ponta hemorrágica ou com três pontas, decoradas com fios tingidos de vermelho, possuindo uma bela estética .
Os Akuntsu usam conchas de rio de diversos tamanhos e vários tipos de sementes que aplicam no fabrico de colares, também são usados pedaços de plástico. Estes últimos já faziam parte da cultura dos Akuntsu assim como dos Kanoê antes mesmo do contato oficial com a Funai, e são cortados em forma de trapézio ou círculos, configurando colares e bandoleiras que muito lhes agradam no uso cotidiano, e aos quais têm imenso apego, pois o plástico em tempos anteriores ao contato era referência de um saque bem sucedido sobre alguns barris de produtos químicos, baldes e outros objetos deste material, comumente esquecidos nos pastos das fazendas ou abandonados em acampamentos de forasteiros, e cujas cores lhes agradavam imensamente, tendo por preferência o azul, o vermelho, o amarelo e o branco
Tanto homens como mulheres usam uma pequena tanga com franjas de líber ao modo de vários povos já documentados pela comissão Rondon, como os antigos Kepkiriwát. Versões distintas dessas tangas aparecem bem mais à leste do território Akuntsu, entre os Rikbaktsa da bacia do Juruena, noroeste de Mato Grosso.
Os Akuntsu também confeccionam em taquara flautas de pã, e com elas compõem belas melodias.
Ritual
As sessões de xamanismo estão sempre presentes na vida ritual dos Akuntsu. Kunibu, chefe e pajé do grupo, interage com uma mulher pajé Kanoê em longos encontros que envolvem os característicos sopros e aspiração de pó de angico (rapé). Entram em transe e evocam espíritos de animais e entes fantásticos, os quais parecem incorporar.
Imagens feitas em 2002 mostram Kunibu e três mulheres em uma demonstração do que seria um ritual. Kunibu segurando seu arco e algumas flechas entoa cânticos batendo fortemente o pé direito no chão, sendo acompanhado pelas mulheres, que também seguram arcos e flechas, repeteindo o bater dos pés e a melodia que Kunibu evoca.
Atividades produtivas
O igarapé Omerê não representa para os Akuntsu uma fonte de alimentação farta. Dele retiram apenas a água que bebem e vez por outra pequenos peixinhos, que são muito comemorados e logo viram um tira-gosto quase imperceptível à boca. É da caça, coleta de frutas e de uma pequena roça em volta da maloca que suprem suas necessidades alimentícias.
A caça é encontrada com facilidade, pois a região tornou-se uma ilha onde se refugiaram os animais de áreas vizinhas, já desmatadas para a pecuária. Grandes bandos de porcos do mato, antas e pacas perambulam por ali, não demorando a encontrar o seu destino na ponta das flechas dos índios, que dentre estes apreciam em demasia o porco-do-mato.
Nota sobre as fontes
As informações deste verbete são registros coletados na forma de diário de campo durante uma brevíssima estada na Terra Indígena Rio Omerê em julho de 2002. As escassas fontes de informação sobre este povo indígena e o curto espaço de tempo do pesquisador nas malocas Akuntsu impossibilitam observações mais detalhadas sobre este desconhecido grupo indígena.
No mais, o único texto significativo publicado sobre os Akuntsu foi escrito pela antropóloga Virgínia Valadão para o volume Povos Indígenas no Brasil: 1991-1995, do Instituto Socioambiental. Nele, a autora conta o processo de contato e as poucas informações existentes sobre ambos grupos até então isolados no Igarapé Omerê: Kanoê e Akuntsu. Anteriormente, essa mesma autora fez um relatório de avaliação da área do Igarapé Omerê, porém em 1987 o grupo indígena ainda não havia sido contactado pela Funai. E, em 1995, Maria Auxiliadora Cruz de Sá Leão, redigiu o relatório de interdição da Terra Indígena Rio Omerê, que traz informações sobre os Akuntsu.
Fontes de informação
CASPAR, Frans: Tupari ( Entre os índios, nas florestas brasileiras) – Ed.Melhoramentos - São Paulo - Brasil - 1958.
VALADÃO, Virgínia. “Os índios ilhados do Igarapé Omerê”. In: RICARDO, Carlos Alberto. Povos Indígenas no Brasil: 1991-1995. Instituto Socioambiental, 1996.
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