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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Kadiwéu

Toy Art Kadiwéu

#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
72KadiwéuKaduveo, Caduveo, Kadivéu, KadiveoGuaikuru
UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
MS1346Funasa 2009


Também conhecidos como "índios cavaleiros", integrantes da única "horda" sobrevivente dos Mbayá, um ramo dos Guaikurú, guardam a lembrança de um glorioso passado. Organizados numa sociedade que tinha num extremo os nobres e no outro os cativos, viveram do saque e do tributo sobre seus vizinhos, dos quais faziam depender sua própria reprodução biológica, uma vez que suas mulheres não geravam filhos ou permitiam a sobrevivência de apenas um, quando já estavam no final de seu período fértil. Estas mulheres dedicavam-se à pintura corporal e facial, cuja especial disposição dos elementos geométricos Lévi-Strauss considerou como característica das sociedades hierárquicas. Desenhos que impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes, a que temos fácil acesso através da vasta coleção recolhida por Darcy Ribeiro, reproduzida no livro que publicou sobre os Kadiwéu.
Acima a esquerda instalação indígena no Museu das Nações Indígenas Dom Bosco - a direita, pinturas faciais femininas - abaixo, pintura equestre Kadiéu

Os capturados em guerra no passado, preferencialmente crianças e mulheres, eram incluídas nesta sociedade sob uma categoria específica, a de "cativos", ou gootagi (nossos cativos), no dizer Kadiwéu. Os Guaikurú-Mbayá fizeram cativos de diversos outros povos indígenas, sobretudo aos Xamakôko, habitantes de território paraguaio, sua mais importante fonte. Também fizeram cativos aos brancos, portugueses ou espanhóis, brasileiros ou paraguaios, conforme registrou a crônica histórica e a memória Kadiwéu.

Os Mbayá mantiveram ainda uma outra qualidade de relação, aquela que estabeleceram com os Terena (um subgrupo dos então chamados Guaná ou Txané), sociedade também dividida em estratos. Consentiam o casamento entre seus nobres e as mulheres de alta estirpe Terena, adquirindo, por meio deste, o direito sobre as prestações de serviço, sobretudo produtos agrícolas, advindos da produção deste último povo.
Toy Art da Etnia Kadiwéu original - saiba como ter a sua contato@blemya.com

Na Guerra do Paraguai, escolheram lutar pelo Brasil, razão pela qual tiveram suas terras reconhecidas, embora até hoje não estejam inteiramente garantidas. A adoção de um vestuário "country" pelos homens Kadiwéu da atualidade revela seu apego a um modo de vida apoiado no uso e criação de cavalos, de que ainda mantêm rebanhos, embora bem menores que os do passado.

 Língua

Os Kadiwéu pertencem à família lingüística Guaikurú, na qual se incluem outros povos do Chaco, que são os Toba (Paraguai e Argentina), os Emók, ou Toba-Mirí (Paraguai), os Mocoví (Argentina), os Abipón (extintos) e os Payaguá (extintos). Dentre estes grupos Guaikurú, os Kadiwéu são os mais setentrionais e o único localizado a leste do rio Paraguai, no Brasil. Alguns velhos, mulheres e sobretudo as crianças falam apenas o Kadiwéu. Um bom número dentre os Kadiwéu, contudo, se comunica com facilidade em português. Há, na língua Kadiwéu, muitas diferenças entre as falas masculina e feminina. É interessante notar que os descendentes de Terena que vivem entre os Kadiwéu usam apenas o português para se comunicar na aldeia (não usam a língua Terena nem entre si). Entretanto, mesmo que não falem, entendem perfeitamente o Kadiwéu, pois é nesta última língua que são interpelados.

 Localização

Os espanhóis colonizadores chamaram de Mbayá (termo provavelmente de origem Tupi) aos Guaikurú (nome também de origem Tupi) dos quais descendem os Kadiwéu. Com origem no lado ocidental do rio Paraguai, parte dos Mbayá atravessou, no século XVII, para a banda oriental. Com a pressão das frentes colonizadoras, deslocaram-se mais para o norte e os que ainda não tinham migrado para leste do rio o fizeram no final do século XVIII. Nessa época, o seu território estendia-se das serras que separam os rios Paraná e Paraguai até mais além da latitude de 18° sul.
Os Kadiwéu vivem hoje em território do Mato Grosso do Sul, no município de Porto Murtinho.

Os Mbayá dividiam-se em diversas hordas, cada uma com um nome específico que se associava a acidentes naturais dos locais que habitavam. Uma delas, a dos Cadiguegodis, tinha, no século XVIII, o seu território banhado por um riacho que os índios chamavam de Cadigugi. Tudo indica que esta última horda seja a dos ancestrais dos Kadiwéu atuais. A horda dos Kadiwéu foi a última a migrar para o lado oriental do rio Paraguai, e era a única sobrevivente já na segunda metade do século XIX.

Os Kadiwéu, que a literatura histórica uma vez chamou de "os índios cavaleiros", por sua condição de possuidores de um vasto rebanho eqüino e sua admirável destreza na montaria, vivem hoje em território localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, em terras em parte incidentes no Pantanal matogrossense. O seu território tem como limites naturais a oeste os rios Paraguai e Nabileque, a leste a Serra da Bodoquena, ao norte o rio Naitaca e ao sul o rio Aquidaban. Dentro deste território, a população Kadiwéu se divide entre quatro aldeias. A aldeia maior, Bodoquena, localiza-se no nordeste da Terra Indígena, ao pé da Serra da Bodoquena, vizinha à aldeia Campina, que fica já no alto daquela serra. A aldeia Tomázia localiza-se no sul da Terra Indígena. Também no sul encontra-se a aldeia São João. Habitam esta última aldeia principalmente índios Terêna e remanescentes de Kinikináo. Algumas famílias Kadiwéu vivem ainda em pequenos grupos, em localidades no interior da Terra Indígena mais afastadas das aldeias principais, onde criam pequeno gado.
Os Kadiweus descendem dos antigos Guaikurus - Ilustração de uma Guaikurú - Arquivo Nacional do Brasil saved to Povos indígenas 4 Gravura contida na obra Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão Pará Rio Negro Mato Grosso e Cuiabá de Alexandre Rodrigues Ferreira 1783 1792 Arquivo Nacional 

A Terra Indígena Kadiwéu está no município de Porto Murtinho. Bodoquena é a cidade mais próxima da aldeia maior (60 km), seguida de Miranda e Aquidauana. Campo Grande (310 km) é o centro urbano de maior importância estratégico-administrativa para os Kadiwéu. Ali está sediada a administração da FUNAI que os jurisdiciona, a associação dos fazendeiros arrendatários (ACRIVAN - Associação dos Criadores do Vale do Aquidaban e Nabileque) e a ACIRK (Associação das Comunidades Indígenas da Reserva Kadiwéu).

 Demografia

Os dados da Funai apontam como sendo, em 1999, de 1.041 o total da população Kadiwéu sob a jurisdição do Posto Indígena Bodoquena (que abrange as aldeias Bodoquena e Campina), sediado na aldeia de mesmo nome. A população referente ao Posto Indígena São João, que abrange as aldeias São João e Tomázia, seria de 551, segundo a mesma fonte e data. Cabe notar que, como já foi aludido acima, na aldeia São João vivem principalmente índios Terena e Kinikináo. Por conseguinte, a população total de 1.592 em 1999 corresponde aos índios destas três etnias que habitam a Terra Indígena Kadiwéu e inclui também os Kadiwéu que moram fora dela, de proveniência daquelas aldeias.

Não contávamos, até essa data, com outro censo atual da população Kadiwéu que não este da FUNAI, que, entretanto, não relacionava em separado as etnias habitantes do Posto Indígena São João, o que impossibilitava o cálculo total da população Kadiwéu. Segundo dados da Funasa mais atuais, em 2006 os Kadiwéu somavam 1.629 pessoas. Em 1992, época da pesquisa de Mônica Thereza Pechincha, viviam 633 Kadiwéu na aldeia Bodoquena, 39 na aldeia Campina, 60 na aldeia Tomázia e 67 em outras localidades no interior da Terra Indígena, além da aldeia São João, que, na época, contava com 170 habitantes. Para fins de observação do crescimento demográfico, apresento ainda dados de 1995, recolhidos na Administração Regional de Campo Grande, da FUNAI, que indicam como sendo 951 o número da população do Posto Indígena Bodoquena, e 388 o do Posto Indígena São João.

 Histórico do contato
A primeira notícia que se tem dos Guaikurú data do século XVI, proveniente de uma expedição européia que adentrou a região chaquenha à procura de metais preciosos no interior do continente. Muitos grupos Mbayá estiveram sob a influência de reduções missionárias a partir do século XVIII. No mesmo século e no início do seguinte, o contato com as frentes colonizadoras se intensificou com o estabelecimento de fortes militares estabelecidos pelo curso do rio Paraguai, seja de portugueses ou espanhóis, que se debatiam pela definição de fronteiras. As cidades fundadas na região fizeram parte do cenário de sua história, muitas vezes de conflito. Ou de acordo, como o celebrado em 1779 entre os Mbayá e os espanhóis, e o firmado em 1791, com os portugueses.

Um marco de peso na história do contato com a sociedade nacional, recordado com orgulho e insistência, foi a participação dos Kadiwéu na Guerra do Paraguai. Esta participação rendeu o seu registro em inúmeras narrativas históricas que lembram detalhes do evento e um desempenho heróico guardado com cuidado. Contam os Kadiwéu sua fundamental participação naquela guerra, quando lutaram em favor dos brasileiros e ganharam como recompensa o território que habitavam e onde até hoje habitam. É aí que buscam o argumento mais eficaz de sua posse incontestável, mas sempre ameaçada.

A Terra Indígena Kadiwéu esteve sujeita a um primeiro reconhecimento oficial no início do século, por ato do Governo do Estado do Mato Grosso. Houve demarcação em 1900 e expedição de decreto em 1903, que já estabelecia como limites naturais os mesmos atuais acima mencionados. Em 9 de abril de 1931, o decreto n° 54 ratificou estes limites. Mas os problemas fundiários foram uma constante em sua história e os Kadiwéu não apagaram de sua memória as tentativas de invasão e conflitos ocorridos desde o início do século. Mais recentemente, a demarcação de suas terras, concluída em 1981, cercou-se de muita tensão com invasores e deixou inclusive de fora de seu perímetro uma aldeia Kadiwéu de nome Xatelôdo, localizada na serra da Bodoquena. Em 1983 eram em número de 1.868 os posseiros que ocupavam aquela Terra Indígena. Os conflitos gerados, notadamente nos anos de 1982 e 1983, foram amplamente divulgados pela imprensa.

Esta história marcou-se também por inevitáveis conflitos com fazendeiros arrendatários. Os pecuaristas começaram a adentrar o território Kadiwéu há quase cinco décadas, havendo notícias de que o primeiro o teria feito em 1952. Desde o final da década de 50 começaram, de outra forma, a ocupar este território com autorização oficial do Serviço de Proteção ao Índio (SPI, órgão que antecedeu a atual FUNAI). Em 1961, já haviam sido efetivados 61 contratos individuais com arrendatários. Esta ocupação alterou significativamente a utilização pelos índios de seu território. No início da década de 90, eram 89 as fazendas arrendadas no interior da Terra Kadiwéu, as quais se estendiam pelo território quase que na sua inteireza, de forma a ficarem os índios espremidos nas suas aldeias.

 Organização social e política

No passado, as hordas Mbayá se dividiam em "tolderias". A tolderia, onde havia uma casa coletiva, era a menor unidade política e econômica, que reunia a parentela de um "capitão" e os seus cativos. As famílias de "capitães" compunham-se dos Mbayá de nascimento, que hoje são recordados como famílias de Kadiwéu "puros", conforme a elas se referem, ou os goniwtagodepodi ejiwajigi ("nossos senhores Kadiwéu"), sendo ejiwajigi a sua auto-denominação. Goniwtagodi, ou goniwaagodi, conforme as falas masculina e feminina, respectivamente (há distinção lingüística entre as duas), é um termo de tratamento que os Kadiwéu usam para qualquer pessoa do sexo masculino, inclusive estrangeiros. As mulheres, da mesma maneira, são interpeladas pelos termos goniwtagodo (na fala masculina) ou goniwaagodo (na fala feminina). Também abordam as crianças por estes termos, que traduzem como senhor e senhora (goniwtagodi = nosso senhor, iniwtagodi = meu senhor).

Os capitães eram todos os descendentes de capitães, em qualquer linha ou grau, inclusive os de sexo feminino (as "capitãs"). Uma vez que o núcleo de Kadiwéu "puros" era diminuto em virtude da baixa natalidade, certamente alguns cativos a ele deveriam se incorporar, possivelmente via casamento, que não era o preferencial. Pois os Kadiwéu afirmam que os senhores não se casavam, antes, com os seus cativos, regra hoje não verificável. Ainda permanece naquela sociedade a distinção hierárquica entre aqueles que se consideram Kadiwéu "puros" e os descendentes de cativos. Atualmente apenas duas famílias reivindicam o status de senhores na aldeia Bodoquena. Ambas disputam a hegemonia política no grupo. A relação de "cativeiro" se faz notar melhor nas práticas rituais. Por exemplo, quando há alguma atividade em que rapazes e moças participam pela primeira vez, precisam ser representados naquele momento por um cativo seu. De forma geral, no que diz respeito às atividades cotidianas, as famílias, qualquer uma delas, desenvolvem-nas de forma autônoma e enquanto unidade.

Em 1992, os Kadiwéu da aldeia Bodoquena se distribuíam entre 110 casas, que abrigam mais freqüentemente famílias nucleares, dispostas em geral por grupos de parentes e obedecendo preferencialmente uma regra matrilocal. São muito freqüentes os casamentos com os Terena. Nessa época, apenas na aldeia Bodoquena, em 28 famílias nucleares um dos cônjuges era Terena. Isto sem mencionar os que têm ancestrais desta última etnia.

As decisões políticas e de interesse geral do grupo estão fortemente centralizadas na figura do capitão e seus assessores. O direito de chefia é hereditário. Hoje, tal direito é reconhecido como "naturalmente" pertencente ao bisneto primogênito do Capitãozinho, um venerável líder do passado. Contudo, as regras se flexibilizaram no sentido do sufrágio, no que diz respeito à chefia. Os capitães, termo com que se referem ao chefe ou "cacique", atualmente são escolhidos dentro do grupo e, no transcurso da sua história recente, vários capitães se sucederam em curtos períodos. Estes nem sempre pertencem a "famílias de capitães" e, quando não pertencem, sua posição política não altera seu status social. O capitão é assessorado por um conselho, composto sobretudo por homens mais velhos e experientes. Cabe notar, entretanto, que é igualmente forte o papel político de líderes jovens, que alcançaram prestígio sobretudo devido ao seu grau de instrução (alguns deles possuem até o 2° grau escolar) e seu domínio da língua portuguesa, muito útil nas negociações externas.

Arte

Os finos desenhos corporais realizados pelos Kadiwéu constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.

As mulheres Kadiwéu produzem, igualmente, belas peças de cerâmica: vasos de diversos tamanho e formato, pratos também de diversos tamanhos e profundidade, animais, enfeites de parede, entre outras peças criativas. Decoram-nas com padrões que lhes são distintos, que segue a um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores. A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em barreiros especiais, que contêm o barro da consistência e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo envernizados com a resina do pau-santo.

Podemos também ver a arte Kadiwéu expressa nos cânticos das mulheres velhas, nas músicas dos tocadores de flauta e tambor, e nas danças coletivas.

Análise da arte Kadiwéu

Na sua origem os motivos ornamentais Kadiwéu tinham nomenclaturas de acordo com seu tipo ou classe, que, segundo Darcy Ribeiro, explicariam sua origem, significado e função, mas infelizmente esse conhecimento se perdeu antes de ser estudado e hoje, mesmo os Kadiwéu, já não conhecem bem o significado e a origem da sua arte, arte esta que originalmente definia a sua posição social e eram verdadeiras propriedades de família, que não podiam ser usadas por uma pessoa que não pertencesse á família proprietária do motivo ou estilo.

Já que os verdadeiros significados da arte Kadiwéu estão perdidos, ou encobertos por uma névoa na memória de sua sociedade, e portanto não podem ser estudados ou levados em consideração o nosso propósito nesse capítulo será o de estudá-las no contexto de nossa cultura, já que é para ela que usaremos o resultado desse trabalho, analisando como eles trabalham suas composições, como vêem o espaço visual e as formas, e posteriormente, como podemos utilizar seus conceitos e seu modo de resolver os problemas da composição.

Os desenhos, todos selecionados do livro Kadiwéu, de Darcy Ribeiro, estão aqui dispostos e agrupados segundo caracteristicas em comum e numa ordem de crescimento de complexidade, ou podemos dizer em níveis, apesar de muitos outros agrupamentos serem possiveis. Estas figuras se apresentam em preto em branco pois assim estavam no livro de Darcy Ribeiro, mas este descreve as cores usadas por eles, seriam um preto azulado do jenipapo, o vermelho do urucu e o branco extraído da palmeira bocaiúva ( Ribeiro - Kadiwéu p. 278/279) . E estas figuras eram aplicadas sobre o corpo ou sobre couros de animais, e assim eram usadas como obras ornamentais.

1º Nível

• Formas básicas e simples, com uma noção simples de equilíbrio e regularidade/ continuidade.
• Composição simples e aberta, ou seja, infinita.
• Notar o símbolo que se assemelha a um coração na fig. 01, que para eles não deve ter um significado especial, mas coincidentemente é um símbolo com forte significado para nós.
• A fig. 02 mostra uma simples repetição do mesmo motivo, como na fig. 01, mas alternado, mostrando uma primeira forma de articulação da composição.
• Estas espécies de motivos são do tipo mais simples encontrado.
• Posteriormente serão introduzidas curvas e outros elementos que darão maior riqueza a composição.

2º Nível

• Aqui vemos as formas circulares que saíram das composições infinitas e começam a se fechar se tornando uma unidade, a fig. 05 se mostra ainda perdida, mas ao se acrescentar a noção dos quadrantes, como na fig. 04, se encontra o equilíbrio.
• As composições começam a se tornar simétricas e ganham unidade.
• Surge o contraste entre o cheio e o vazio e a composição entre reto e curvo.
• Ao enquadrar as linhas curvas dentro de espaços retilíneos, os Kadiwéu começam a definir seu estilo.

3º  Nível

• As figuras passam a ter composição mais elaborada, deixando de ter uma única direção, com um equilíbrio dinâmico e a introdução da simetria.
• Ainda são relativamente simples, mas tem uma composição elaborada, e não apenas a repetição do mesmo motivo.
• Ainda podem estar um pouco desordenadas, perdidas, por faltar um pouco de equilíbrio, como na fig. 09 • As composições se fecham, tendo então mais unidade.
• As linhas de divisão dos quatro quadrantes passam a ser utilizadas, mais ainda podem estar ocultas, ou seja, serem apenas imaginárias como nas fig. 09 e 10. Estas linhas de construção se tornarão importantes para o equilíbrio e desenvolvimento da arte Kadiwéu, como veremos mais adiante.
• As linhas retas trazem uma composição mais complexa e bem resolvida e com a simetria dinâmica em diagonal, como as fig. 07 e 08, que são o nível mais comum da arte Kadiwéu, ou seja, o estilo Kadiwéu. Neste ponto temos uma aproximação com o estilo Art Déco, pela simplicidade, força e concretismo das formas, equilíbrio e contraste e também pela inspiração asteca do Art Déco .
• Outra característica marcante destes desenhos é o contraste entre dois planos bem definidos, negativo e positivo.

4º  Nível

• Observamos aqui a importância das linhas de construção que dividem o espaço do desenho em quatro partes, ou quadrantes, que dão equilíbrio á composição, mesmo quando invisíveis.
• Temos aqui um estilo variante, de figuras fortes, com predominância de linhas curvas, com objetivos bem definidos e resultados claros, desenhadas praticamente só com linhas, sem massas, mas linhas grossas, que tornam a figura maciça.
• São composições mais elaboradas, com simetria complexa. A fig. 11 tem uma perfeita simetria vertical, mas a simetria horizontal é invertida, ou seja, o que está para cima na direita está para baixo na esquerda. Já a fig. 12 tem uma simetria vertical simples, enquanto a fig. 13 e a 14 tem uma simetria diagonal invertida.

5º  Nível

• Estas são figuras de grande complexidade e quantidade de linhas, mas um pouco confusas, perdidas, sem noção de simetria e equilíbrio em algumas partes. Estas figuras parecem ter um objetivo diferente das anteriores.
• Percebe-se que o objetivo e a composição mais ordenados são essenciais para tornar agradáveis para nós esses desenhos.
• Temos aqui desenhos mais livres, que nos remetem á costura, estes desenhos tem a preocupação com equilíbrio e simetria em alguns trechos (como na maior parte das fig. 15 e 17), mas não em toda a composição (as fig. 16 e 18 quase não tem simetria ou equlíbrio).

6º  Nível

• Aqui vemos composições bem resolvidas, com simetrias perfeitas e
objetivos claros, são desenhos que expressam o gosto e o requinte Kadiwéu.
• A fig. 19, além de ter uma perfeita simetria diagonal inversa, é perfeitamente equilibrada, tem uma perfeita unidade, com linhas delicadas e muito bem resolvidas. O mesmo acontece com a fig. 21, apenas não sendo totalmente fechada, nota-se também a inclinação da fig. 21, da direita para a esquerda, o que nos incomoda um pouco, pois temos a preferência de traçarmos da esquerda para a direita, provavelmente por causa de nossa escrita, que nos condiciona (Dondis- Sintaxe da Linguagem Visual) .
• A fig. 20 é bastante complexa e nos parece a principio um pouco perdida pois tem um objetivo mais elaborado e difícil de concretizar , é uma figura que sugere continuidade, como se as linhas não acabassem, e sugere movimento, através das espirais que terminam dando a volta e refazendo o mesmo caminho, ou seja, toda a figura está em movimento continuo, mostrando o domínio que tinham os Kadiwéu sobre o desenho ( ver fig. 26). Notar o como a espiral termina num símbolo semelhante ao Yin Yang.
• Todas estas figuras mostram uma sofisticação e riqueza de detalhes extremamente bem resolvidas.
• Este é ,para esta pesquisa, o ultimo nível da arte Kadiwéu, é o ponto máximo que eles chegaram na sofisticação de seu estilo.

Nota sobre as fontes

A mais importante referência histórica sobre os Kadiwéu (ou os Guaikurú-Mbayá) encontra-se na obra do Pe. José Sanchez-Labrador intitulada El Paraguay Católico, considerada uma das melhores etnografias escritas no século XVIII. Vários cronistas no século XIX registraram, com mais ou menos detalhes, as suas impressões sobre estes índios, sua localização, modo de vida e relações com os colonizadores. Dentre eles, destacam-se Ricardo Franco de Almeida Serra, Francisco Rodrigues do Prado, Alexandre Rodrigues Ferreira, Francis Castelnau, Alfred d'Escragnole Taunay (que narrou episódios da participação indígena na Guerra do Paraguai) e, notadamente, Guido Boggiani. Este último autor viveu alguns meses entre os Kadiwéu no final do século passado e nos legou, entre outros escritos, o seu rico diário de campo referente àquela visita, publicado com o nome de Os Caduveos.

Boggiani recolheu um vasto material representativo da arte e artefatos Kadiwéu, cuja mais significativa coleção encontra-se hoje conservada pelo museu "Luigi Pigorini", em Roma. Pode-se obter igualmente informações históricas em relatórios de Presidentes da Província do Mato Grosso guardados pelo Arquivo Nacional. Quanto a trabalhos antropológicos propriamente ditos, Alfred Métraux nos oferece estudos etnológicos sobre os índios do Grã Chaco, sobretudo no que tange à religião. Claude Lévi-Strauss esteve entre os Kadiwéu em 1937 e escreveu sobre sua arte.

Darcy Ribeiro procedeu pesquisa de campo entre os Kadiwéu no final da década de 1940 e seus trabalhos mais importantes sobre os mesmos estão reunidos no volume Kadiwéu: Ensaios Etnológicos sobre o Saber, o Azar e a Beleza que, como já indica o título, trata de mitologia, xamanismo e arte. Escreveu também um artigo sobre "O sistema familial Kadiwéu" (1948). Mais recentemente foram defendidas duas teses de mestrado: a de Jaime Siqueira Jr. (USP, 1993), que trata da construção do tempo e espaço Kadiwéu; e a de Mônica Thereza Pechincha, intitulada Histórias de Admirar: Mito, Rito e História Kadiwéu (UnB, 1994). A língua Kadiwéu foi estudada por Silvia L.B. Braggio (1981). Quanto a relatórios técnicos, cabe mencionar os produzidos por Alain Moreau, que há vários anos freqüenta e acompanha a sociedade Kadiwéu e tem lhe prestado, mediante iniciativa pessoal, valiosa assessoria jurídica, sobretudo na condução do processo de substituição do regime de arrendamento.

 Fontes de informação

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