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sábado, 20 de junho de 2020

Charrua

Toy Art Charrua
#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
40Charrua


UF / PaísPopulaçãoFonte/Ano
Argentina676INDEC 2004
RS27Siasi/Sesai 2012
Os charruas ou charrúas eram índios que habitavam os campos dos atuais territórios do Uruguai, do nordeste da Argentina (especialmente na Província de Entre Ríos) e do sul do Rio Grande do Sul, no Brasil.

Etimologia

Os povos charrua eram chamados de vários nomes no Uruguai, Argentina e Brasil (Rio Grande do Sul): guayantiranes, yaros, balomares, negueguianes, manchados, martidanes, mepenes, tocagues, bohanes, minuanos, charrúas etc. Os historiadores passaram a chamar todos esses povos de "charrúas". Desconhece-se a origem e o significado da palavra charrua.

Economia

No momento da conquista espanhola seu modo de produção era caçador-coletor, ainda que conseguissem, após o contato com os espanhóis, desenvolver um complexo equestre, e com este, uma rudimentar pecuária composta de equinos e bovinos. Dados ao sistema de produção caçador-coletor, eram nômades (pessoas que não tem habitação fixa, e vivem mudando de lugar o tempo todo), como também o eram quase todos os outros indígenas do pampa. Por isto, os únicos vestígios materiais de sua civilização são pequenas vasilhas de barro, assim como parte de suas armas típicas, lanças, flechas, boleadeiras.

Território ocupado

nicialmente, ocupavam as duas margens do rio Uruguai, desde Itapeiu até o seu delta, mas, já em época colonial europeia, estenderam seus domínios até as costas do Rio Paraná e ocuparam o Rio Grande do Sul. Localizaram-se na coxilha de Haedo, localizada ao sudoeste do Rio Grande do Sul, seguindo até o Rio Negro.
Território Indígena dos Charrua

Em 1730, se aliaram aos minuanos, que vinham de além do Rio Uruguai e se estabeleceram nas terras próximas à Lagoa Mirim e à Lagoa dos Patos. Os guenoas ou guanoas eram charruas setentrionais. Os três povos têm suas origens na região da Patagônia, na Argentina (a região dos índios "patagões" ou "patagones").

Tipo físico

Eram altos, com uma média de 1,70 metros para os homens e 1,67 metros para as mulheres, de aspecto sério e taciturno, porte duro e feroz. Os homens apresentavam barba como distintivo varonil, na qual os caciques usavam engastadas como adorno pedras e - após o contato com produtos da civilização europeia - latas e vidros. A tatuagem no rosto consistia em três linhas que iam da raiz dos cabelos até a ponta do nariz e duas linhas transversais que iam de zigoma a zigoma. Para a guerra e festas, pintavam a mandíbula superior de branco.
Pintura de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) retratando um charrua

Armas

Como armas usavam o arco e flecha com carcases, boleadeiras, dardo, funda e lança. As flechas tinham as pontas feitas de pedra lascada. Após o contato com os espanhóis, as boleadeiras, que eram atadas com corda de tucum, passaram a ser ligadas com tiras de couro.

Construções

As tendas charruas, primitivamente, eram feitas com quatro estacas e esteiras de palha no teto e nas paredes. Após o contato com os espanhóis, passaram a usar largos pedaços de couro e armas dos espanhóis e dos portugueses, como armas de fogo.

Hábitos

Não eram agricultores. A alimentação era caça e frutos e também foi modificada em contato com os espanhóis, passando os charruas a preferir a carne de cavalo. Em contato com os espanhóis, cobriam o corpo com uma camisa curta, sem mangas de pele curtida. No inverno, o pelo era aplicado pelo lado de dentro e no verão, ao contrário. As mulheres usavam uma saia de algodão até os joelhos. Não sabiam fiar nem tecer. Os panos de algodão que passaram a usar foram adquiridos em contato com os guaranis.

Eram polígamos. As mulheres cuidavam das tarefas domésticas e dos cavalos. O homem se dedicava à guerra e à caça. Faziam conselhos de família para decidir sobre assuntos de guerra ou outros interesses. Aprenderam a montar com os espanhóis, tornando-se exímios cavaleiros, hábeis na guerra e na caça. Em domínio espanhol, atacavam fazendas, raptavam as mulheres, castravam os meninos e os levavam como escravos, e matavam os homens adultos. Não praticavam o canibalismo, ao contrário dos tupis e guaranis não reduzidos. Os diversos grupos charruas falavam o que se convenciona chamar "línguas charruanas".

Religião

Pouca informação se tem sobre sua religiosidade, mas, durante fartas libações, invocavam um ser superior que, algumas vezes, poderia se tornar visível. Aos médicos-feiticeiros, atribuíam o poder de curar doenças, transbordar os rios, parar as feras; também havia velhas que curavam chupando a pele nos lugares doloridos. O funeral era entregue a uma velha que se encarregava de descarnar os ossos e sepultar. As mulheres de parentesco mais próximo (esposas e filhas), na perda do familiar, amputavam-se uma falange, além de cravarem, em si mesmas, flechas que tinham pertencido ao morto. O costume de amputação de falange também é encontrado em povos indígenas da Indonésia.

O filho, quando havia a morte do pai, ocultava-se por dois dias em sua cabana; após isto, à noite, dirigia-se a outro índio que lhe trespassava com pedaços de taquara a pele do braço do punho até o ombro; após isto, saía nu no bosque; cavava um buraco no chão onde coubesse até o peito e ali passava a noite; pela manhã, voltava à cabana, onde lhe tiravam as taquaras e passava dois dias sem comer e beber; nos dez dias seguintes, os meninos da tribo lhe levavam água e aves de caça; ao final deste tempo, voltava ao convívio da tribo. O marido não aparentava dor pela morte da mulher nem o pai pela morte do filho.

Os últimos charruas

Foram assim chamados os quatro indígenas enviados a Paris "para estudos científicos", remanescentes da Batalha de Salsipuedes. Eram uma mulher e três homens. Seus nomes eram Senaqué, Tacuavé, Vaimaca e Guyunusa. Sabe-se que alguns percorreram a Europa em circos, em apresentação falaciosa, como antropófagos do novo continente. Entretanto, acredita-se que a etnia charrua pura não adentrara ao século XIX. As tribos ditas charruas vitimadas pela perseguição do recém-formado Uruguai eram compostas por indivíduos já com diferentes influências raciais e culturais.

Os descendentes dos charruas

São considerados desaparecidos como povo, sem nunca terem sido catequizados. A etnia misturou-se às demais da região. Os uruguaios de hoje orgulham-se da suposta ascendência charrua, que lhes teria fornecido seu caráter indômito e indomável. Na Argentina encontram-se traços de sua descendência na Província de Entre Ríos.

Mas, em 9 de novembro de 2007, após uma luta que já durava 172 anos, sob a liderança da cacique Acuab, os charruas conseguiram o reconhecimento, quando a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou ato que reconhecia a comunidade charrua como povo indígena brasileiro.[4] Considerada extinta pela Fundação Nacional do Índio (Funai), a tribo charrua voltou a ser reconhecida em ato oficial da fundação em setembro de 2007. O evento foi organizado em conjunto pelas comissões de Direitos Humanos da Câmara Municipal, da Assembleia Legislativa e do Senado Federal.

Existem, hoje, cerca de seis mil pessoas autodeterminadas charruas nos países que compõem o Mercosul. Só no Rio Grande do Sul, são mais de quatrocentos descendentes do charruas presentes nas localidades de Santo Ângelo, São Miguel das Missões e Porto Alegre que querem ser considerados indígenas.

Representações na cultura

Tabaré - poema épico escrito por Juan Zorrilla de San Martín exaltando as origens étnicas uruguaias (a exemplo do romance Iracema, no Brasil)
Abayubá - novela indigenista que exalta um legendário chefe desta tribo que ficou conhecido pela bravura na luta contra os conquistadores europeus em 1574.
Les derniers Charruas ou quand le regard emprisonne, filme de 26 minutos de Dario Arce Asenjo, produtora Chromatiques - TLM, 2003
Referências
 Instituto Socioambiental. «Quadro Geral dos Povos». Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 17 de setembro de 2017
↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 392.
↑ Juan José Rossi. Los Charruas, p. 83.
↑ Câmara municipal de Porto Alegre. Disponível em http://www2.camarapoa.rs.gov.br/default.php?reg=2522&p_secao=56&di=2007-03-06. Acesso em 16 de agosto de 2014.
Bibliografia

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CORDEIRO, Serafin . Los Charrúas . Editorial Mentor. (Montevideo), 1960.
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KENT, Michel & VENTURA , Ricardo S. ; Horiz. Antropol. vol. 18 n. 37 Porto Alegre Jan./June 2012 : Os Charruas vivem nos Gaúchos : a vida social de uma pesquisa de "resgate" genético de uma etnia indígena extinta no Sul do Brasil
BORTOLINI, M.C. ; Horiz. antropol. vol.18 no.37 Porto Alegre Jan./June 2012; Resposta ao trabalho de Kent e Santos: "Os charruas vivem' nos Gaúchos (...)"
Los Charruas - Costumbres y uso de la piel
Víctora, Ceres Gomes; Ruas-Neto, Antonio Leite (31 de agosto de 2012). «Querem matar os 'últimos Charruas': Sofrimento social e 'luta' dos indígenas que vivem nas cidades». Revista ANTHROPOLÓGICAS. 22 (1). ISSN 2525-5223. Consultado em 6 de maio de 2019
Rodríguez, Mariela Eva (2018). «DEVENIR CHARRÚA EN EL URUGUAY:». Abya-yala: Revista sobre Acesso à Justiça e Direitos nas Américas. 2 (2): 408–420. ISSN 2526-6675. Consultado em 6 de maio de 2019
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