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quinta-feira, 2 de julho de 2020

Carijó

Toy Art dos Indios Carijó
#NomesOutros nomes ou grafiasFamília linguísticaInformações demográficas
10ACarijó
Tupi-Guarani
UF / País

PR




Ao falar sobre os primeiros exploradores que aportaram na Ilha de Santa Catarina em1504 e dos primeiros vilarejos fundados, temos que lembrar com destaque daqueles que foram responsáveis pela sobrevivência dos primeiros europeus na região, os índios Carios ou Carijós-guaranis, descendentes da raiz cultural Tupi.
Índios Carijó, gravura de Ulrich Schmidl, 1559.

Foi o povo nativo carijó da aldeia de Cotia (Acotia) ou aldeamento de Massiambu, com suas características particulares, que possibilitou a instalação dos primeiros habitantes brancos naIlha de Santa Catarina. A gênese da colonização e ocupação catarinense tem nesse fato o marco inicial de sua história, pois os nativos acolheram os primeiros viajantes europeus em suas aldeias, forneceram alimentos, moradia, segurança e estabeleceram acordos de troca e abastecimento dos navios espanhóis e portugueses, talvez tenha sido a primeira etnia a ter aprendido com os Portugueses a domesticação de animais, como galinhas para o abate ou produção de ovos.

Criadores de Aves

Parte desse trabalho de abastecimento aos Portugueses vem das galinhas domésticas comuns, ou européias, aves não são nativas do Brasil, que foram introduzidas pelos navegadores que por aqui aportaram a partir do século XVI. É preciso lembrar que os índios que aqui estavam antes do descobrimento não criavam animais com fins alimentícios. O relato do explorador espanhol Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, que esteve na região da bacia do Paraná-Paraguai entre 1540 e 1545 (mais ou menos na mesma época que Ulrich Schmidel) faz numerosas referências a grupos indígenas – desde os Guarani no litoral até outros grupos bem para interior, na região oriental do Chaco – que «criavam galinhas e patos», aves que eram sempre oferecidas como alimento aos espanhóis, quando estes chegavam a uma aldeia
O Tembetá, um artefato feito muitas vezes de osso, era usado para perfurar e ornar lábios e bochechas dos Carijó

O pesquisador Helmut Sick suspeita que as «galinhas» de Schmidel eram exemplares nativos semelhantes às aves européias, mas uma informação de Cabeza de Vaca (1999 [1540-1545], p.157) – « criavam galinhas e patos da mesma maneira que nós na Espanha » – a respeito dos Guarani na bacia oriental do rio Paraná pode sugerir que, de fato, as redes indígenas de comunicação e comércio – que conectavam todo o sul da América – encontradas pelos europeus nos primeiros tempos da conquista operavam de maneira eficiente na difusão das novidades introduzidas pelos invasores. Métraux (1928, p. 95), de sua parte, acredita que os primeiros exploradores do Paraguai recebiam dos indígenas « galinhas de proveniência européia ». Nóbrega (2006 [1549], p. 33), em carta de 1549, referindo-se aos Carijó no sul das terras portuguesas na América, relembra a criação de « gansos » (Cairina moschata) por estes índios, além da abundância de « bois, vacas, ovelhas, cabras e galinhas » que « dão na terra e há deles muita cópia ».

E a relação da viagem do capitão francês Paulmier de Gonneville – que, ao que tudo indica, esteve por seis meses entre os Carijó no sul do Brasil –, tampouco faz menção a estas aves (Perrone-Moisés 1992). Goneville esteve no Brasil em 1503 e, certamente, teria relatado a presença de galinhas domésticas, caso existissem, uma vez que seu relato, assim como o de Caminha, é riquíssimo e detalhado na descrição das aves que encontrava, com isso fica claro que os Carijós aprenderam essas técnicas de criação com os Portugueses.

A trilha do Peabiru

A Trilha do Peabiru é talvez a historia que mais inspirou os europeus em sua busca frenética por riquezas e ouro, tudo começou com um naufrágio em Santa Catarina e o acolhimento dado pelos Carijós, os chamados 'O Melhor Gentio da Costa'.
A trilha do Peabiru, que saia de três origens, São Paulo, Santa Catarina e Cananéia, se uniam Vila Velha de Ponta Grossa, seguia ate os Campos Gerais até Assuncion, de lá Subia o rio Plicomayo, segunido por Colquechaca na Bolivia ate chegar no Perú.
O grande incentivador pela historia do caminho do Peaberu em direção à civilização Inca chama-se Aleixo Garcia, um marujo português que fazia parte da armada espanhola de Juan Diaz de Solis,  morto pelos nativos Charrua, quando desembarcou nas proximidades da Bacia do Rio da Prata no ano de 1514.

Tudo começou em 1514, quando navegantes portugueses que buscavam contornar o sul da America e encontraram a foz de um enorme rio, que chamaram de 'Mar Dulce', (hoje Rio da Prata) lá eles fizeram contato com indígenas Charrua que os presentearam com um machado de prata maciça, dizendo "que o machado vinha de um rico lugar, onde esse próprio rio nasce, em uma terra alta, coberta com neve e que existia uma nação altamente desenvolvida, rica em ouro e prata", o pensamento da tripulação foi "de onde vem esse machado, tem mais".

Sabendo disso o Juan Dias de Solis, também chamado de "Bofes de Bagaço", por conta de um terrível mal hálito decorrente do consumo de muito vinho, decide fazer uma expedição ao local com duas caravelas, quando acontece o tal episódio no qual os Charruas o matam e o devoram.

Os sobreviventes fugiram e retornam pela costa brasileira até que uma de suas caravelas naufraga na Praia de Naufragados, ao tentarem entrar no canal de Santa Catarina pela perigosa ponta Sul, é então que fazem contato com os Carijós, que por sua vez diziam conhecer uma Trilha que levava ao tal lugar rico em ouro e prata, chamado de Caminho do Peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado).
Parte do Peaberu milenar na região Inca - trecho calçado com pedras
Peabirus era o nome dado à antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos, desde a pre-historia, em intricada rede de conexão de todo o conesul e pareciam ter seu epicentro em Piratininga (hoje São Paulo), desde muito antes do descobrimento, o mais importante desses peabirus, chamado de Trilha do Peabriu, iria direto ao Peru.

Essa trilha, que saia de três origens, São Paulo, Santa Catarina e Cananéia, se uniam Vila Velha de Ponta Grossa, seguia ate os Campos Gerais até Assuncion, de lá Subia o rio Plicomayo, segunido por Colquechaca na Bolivia ate chegar no Perú.
A Trilha do Peabriu tinha três pontos de partida, São Paulo, Cananéia e Vila Velha de Ponta Grossa (foto de Luiz Pagano 1981)
Empolgado com essa historia, e, 1526 Aleixo Garcia liderou um grupo com 2000 Carijós, levando farinha de pinhão e mariscos secos e mel em direção ao Peru, chegando a 150 km de Potosi, na Montanha de Prata, que deu origem à lenda da Montanha da Lua, lá eles entraram em guerra com o império Inca, saquearam e fugiram carregados de metais preciosos.

No retorno, Aleixo Garcia morre ao ser atacado pelos indígenas Payaguás ao tentar atravessar o rio Paraguai, também chamados de piratas do rio Paraguai (que deram origem aos hoje chamados Avá-Canoeiros) esses indígenas sabotaram as embarcações fazendo furos e cobrindo com barro - ao entrar na agua, os barcos começavam a verter agua e consequentemente afundavam. Dois sobreviventes dessa aventura, Henrique Montes e Melchior Ramires relataram o ocorrido, criando uma onda de iniciativas para atacar o império Inca, sem sucesso.

O império Inca só foi conquistado por iniciativa de  Francisco Pizarro e seu irmão Gonçalo Pizarro em 1539, que atravessou o Panama, levando suas embarcações desmontadas nas costas da tripulação coma ajuda de indígenas locais, remontado no Oceano Pacifico, chegando no Perú pela costa oeste, aprisionando e matando o líder Inca, Atahualpa.

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